terça-feira, 30 de dezembro de 2014

CPF NA NOTA?

Já repararam nos atendentes de caixa das lojas? 
Eles perguntam se queremos Nota Fiscal Paulista, e daí ficam parados, com a mão no teclado, olhando para a nossa cara, esperando o número do CPF. 
Eu sempre fico tensa quando isso acontece. A pessoa fica te olhando como se fosse um duelo. Só esperando para ver quem saca a arma primeiro. 
Então eu começo a falar os números. A pessoa digita rapidamente, sem tirar os olhos de mim. Tipo, tenso! Só dá para ouvir o "tec tec" no teclado. Aqueles dedos super ágeis, e a pessoa nem olhou para baixo um segundo. Ela quer que você saiba que ela pode fazer aquilo de olhos fechados.
Eu começo a gaguejar. "1... er, meia... 4...". A pessoa bufa. Eu gaguejo muito devagar para a velocidade de digitação. E não dá nem para piscar. O caixa está lá, olhando fundo nos seus olhos. Nada de sorriso, nada de nada. Só aquela exibição pública de destreza.
Eu fico nervosa. Não gosto de gente que eu não conheço me encarando. Na verdade eu não gosto de gente que eu não conheço, ponto. E sinto um incomodo gigantesco com intimidade.
Então eu falo o restante dos números bem rapidinho, sem respirar, quase sem fôlego, só para acabar logo com aquilo. E depois fico repassando mentalmente para ver se dei meu CPF corretamente, ou se dei o número de telefone. Confundo os dois o tempo todo.
Eu prefiro quando as pessoas olham para o teclado. Ou para o celular. Ou para um espaço vazio além da minha cabeça. Tenho um problemão com gente olhando para mim. Mas acredito que isso faça parte de algum ritual sádico ao qual os atendentes de caixa se permitam. Algo que eu faria também se fosse eles. Só para experimentar ver quanto tempo as pessoas demoram para olhar para o outro lado.

sábado, 27 de dezembro de 2014

SÁBADO


Há 10 dias eu recebi uma notícia que virou minha vida de cabeça para baixo. Uma notícia maravilhosa, coisa que eu estava esperando e torcendo para acontecer. Mas ainda assim, tirou o chão de baixo. Com um email todos os meus planos recentes, meus projetos, tiveram que ser deletados e eu precisei tomar fôlego e reestruturar totalmente minha vida. Na verdade eu tomei um porre de tequila e não fôlego. Troquei o dia pela noite, parei de malhar, comi um monte de porcaria, fumei. Baguncei completamente a minha rotina, porque não fazia ideia de por onde começar o tanto de mudança que vou ter que fazer na minha vida. Agora acalmou. Caiu a ficha de que um ciclo se fechou. Foi um ciclo maravilhoso. Voltar para São Paulo, construir uma nova carreira, reencontrar um círculo social. Os primeiros anos foram bem difíceis. Me senti muito solitária, um pouco desgostosa com a vida. Depois vieram algumas provações, problemas de saúde, corações partidos. Esse ano foi o encerramento de um ciclo extremamente dolorido. Fechei questões que me acompanham desde que nasci e, pela primeira vez na vida, me senti livre. Esse ano cumpri um dos meus karmas, e dá um alívio danado conseguir isso. Agora me preparo para um novo ciclo, uma nova vida, um novo sonho. Estou empolgada e feliz como não me sentia desde a adolescência e entrei na faculdade de cinema. Passei a fase do medo. Resisti à tentação de ceder à minha vontade de controlar o mundo, e estou aceitando as etapas desse processo como elas se apresentam. Até por isso hoje acordei às 12h30, demorei na cama jogando poker no celular, desci de calcinha e passei o dia em frente à TV vendo filmes no Netflix e comendo frutas da geladeira. Mentira. Comi uma caixa de chocolate também. O que também é bom. Sinto falta da minha rotina, de reencontrar meu equilíbrio. Mas ele volta, naturalmente. Ainda tenho muitas estruturas para destruir antes de começar meu novo ciclo. Uma nova rotina para construir depois. Faz parte. A vida é feita dessas coisas. Dos começos e finais de ciclos, das coisas que perdemos e desconstruímos para que possamos iniciar sempre novas coisas. Não dá para saber onde a vida vai nos levar. Eu torço, faço minhas apostas, mas no final do dia são escolhas e merecimento. Nem que de vez em quanto eu só queira merecer terminar um dia preguiçoso com vinho, deitada na minha cama com a janela do quarto aberto, pensando que o calor todo do verão (que também eu não controlo agora), será uma grande saudades em breve.