quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O MOMENTO PERFEITO


Hoje eu não queria levantar. Não estava em um dia perfeita. Estava sonhando com pessoas que me deixam intrigada e curiosa, e tinha dormido pouco. Fiquei fumando e tomando vinho até tarde com a Keka no Skype. Meu olho estava inchado, parecendo que tinha areia, da alergia à gata. O dia escuro e cinza, e eu só pensava se eu poderia ir à reunião na editora de tarde usando um moleton. Então eu desci, troquei amenidades com a empregada. Tomei café com leite, a manteiga estava dura na geladeira. Não dava para passar no pão. Fiz um ovo quente que esqueci no fogo e virou ovo cozido. Abri o computador, sentei no sofá. Olhei os emails, respondi perguntas. Assisti ao jornal na TV, mais sobre a tragédia do incêndio e sobre a mulher que esquartejou o marido. Contei para a Jô, minha empregada, sobre o meu próprio incêndio. Depois levantei, briguei com a gata. Abri uma caixa de cápsulas de Nespresso. Enviei emails. Corrigi alguns erros. Fiquei triste por ter errado. Sentei para escrever. Parei no meio. Achei que estava ruim. Fiz um chá. Aqueci o mel para ele descristalizar. Tirei a gata de cima da alface que estava de molho. Voltei a escrever. A empregada ligou o aspirador de pó. Briguei com a gata novamente. Coloquei de castigo na varanda. Desliguei o telefone. Escrevi. Liberei a gata do castigo. Tirei a gata novamente de cima da alface. Voltei a gata para o castigo. Subi para buscar um livro. Voltei a escrever. Tomei chá. Subi para buscar o dicionário analógico. Acabei com uma caixinha de lenços. Tomei um Allegra. Bufei por não achar uma palavra. Reli o texto. Achei ruim. Escrevi XXX no lugar da palavra que eu não encontrava. Me distraí lendo termos no dicionário. Chequei a grafia de “abdômen”. Escrevi. Escrevi. O chá esfriou. Escrevi. Li o texto em voz alta. Li outra vez. Fechei a janela que fazia corrente de ar. Encontrei a palavra. Substituí o XXX. Li o texto mais uma vez. Acho que ficou ok. Soltei a gata do castigo. Pinguei colírio. Me despedi da Jô. Desisti de ir ao ballet para continuar escrevendo. Abri outra caixa de lenço. Reli o texto. Salvei em doc. Enviei. Esquentei mais chá. Sentei. Então, pela primeira vez hoje parei. Meu computador aberto, o chá ao meu lado. A gata dormindo (finalmente quieta) no meu colo. A casa em silêncio. Os passarinhos cantando na árvore do vizinho. E é isso. O momento perfeito. Eu, no meu dia de não me sentir perfeita, vivendo o momento perfeito. O momento do dia pelo qual eu não sucumbi no edredon de manhã. Aquele momento pelo qual nos levantamos. A sensação de terminar um texto, sentar com uma xícara de chá e a gata no colo. Olhar o computador e abrir mais uma folha em branco. Felicidade para mim são várias folhas em branco. Escrevi.

domingo, 27 de janeiro de 2013

AMOUR

Eu nunca tive medo de envelhecer... Até assistir a esse filme. Agora tenho medo de envelhecer, e tenho medo de envelhecer sozinha. A nossa imagem de amor acaba sempre sendo associada a juventude. A vida inteira pela frente. Mas como é depois que a vida inteira está atrás? É preciso um amor sem tamanho, absoluto, onipresente, para nos preservar da nossa própria condição humana. Amor esse que talvez nossas mães tivessem, caso estivessem vivas quando chegamos nesse ponto. Amor incondicional. Capaz de amar sempre e mais, quando vivemos o lado B da vida. É bonita a vida. É linda. Mas você há de querer chegar ao final dela, esgotá-la assim. Com alguém que te ame assim. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

DIÁLOGOS COM Y

No WhatsApp:

Eu - Sonhei que eu estava casando...

Y - Ahhh! Tem uns sonhos que dão uma sensação tão boa, né!?

Eu - Só que eu estava casando com um cara que eu sei que é gay. Eu não tinha a mínima intimidade com ele. Meu vestido estava inacabado e era horrível. Depois da cerimônia, meu cabelo despencava, e eu ficava sozinha. Não tinha ninguém comigo. Nenhuma amiga. Nem o noivo. Você não ficou lá me ajudando. 

Y - Ai, fudeu!


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O MELHOR MACARRON DO MUNDO


Sabe que eu comecei uma nova fase nesse ano. Virei uma “mulher de Chico”. Quando digo isso espero que você imagine aqueles olhos azuis e a voz aveludada cantando “Folhetim”:

Se acaso me quiseres,
Sou dessas mulheres
Que só dizem "sim!",
Por uma coisa à toa,
Uma noitada boa,
Um cinema, um botequim.”



Daqui algumas linhas você vai desejar muito um desses...

Em síntese, essa nova fase consiste em dizer “sim” para qualquer convite, proposta, sugestão que me façam. É uma tentativa de resgatar minha vida social, já que 2012 foi de silêncio e ostracismo. Então no sábado eu disse “sim” para o convite da Isa de correr no parque, emendar com almoço vegetariano, exposição no White Cube e café para fechar a tarde. Como eu amo cafeterias, eu disse “sim” também para conhecer uma cafeteria nova na Vila Nova Conceição. Não é bem uma cafeteria, mas uma “boulangerie” - ou seja, uma padaria chic. Dos bairros caretas de São Paulo, a Vila Nova Conceição é o que eu tenho mais simpatia. É do lado do parque, cheio de ruazinhas charmosas e muito arborizado. O Marie Madeleine nem fica na rua mais charmosa da Vila Nova Conceição, mas ainda assim a gente esquece que a Santo Amaro fica logo ali do lado assim que entra e encara o balcão de doces. Tão lindos, que eu concordaria em colocar dentro de caixinhas azuis e dar de presente. De cara me senti na Le Fauchon, com aqueles doces que a gente nem sabe por onde começar a morder. Mas não é segredo que eu sou bem conservadora e tradicional, então fui direto nos macarrons. Todo mundo sabe que, da mesma forma que sabemos se alguém cozinha bem pelo arroz com feijão, identificamos uma boa pâtisserie pelo seu macarron. Os sabores já me intrigaram. Nada do quarteto habitual das padarias brasileiras chocolate-café-pistache-morango. Depois de me debater nas opções escolhi três: amêndoas com recheio de nutella, champagne e violeta (sim, a flor). Comecei com o de violeta e... incrível! Casquinha crocante, que se desmanchou perfeitamente assim que coloquei na boca. Foi derretendo, enquanto um aroma de flores inundava meu paladar. Um sonho. Depois o de nutella, que surpreendentemente não era doce em excesso, e repetiu a combinação perfeita de textura. Então o de champagne... É público e notório os meus sentimentos por champagne. Aquele macarron era simplesmente Di-vi-no! Tão suave e delicado, assim como um primeiro gole de Veuve Clicquot no final de uma tarde alaranjada de outono. É. Eu fico poética com comidas. A equipe também é de primeira. Um atendimento tão gentil e atencioso, que a gente se sente habitué depois de 5 minutos. Além dos doces, o croissant, a baguette, até o pão de queijo é divino. Aquele tipo de comida que te faz gemer a cada mordida. Toda essa expertise sensorial não é frescura minha. Depois descobri que os chefs do Madeleine foram treinados pelos ninjas do Lenôtre, e o lugar ainda oferece cursos de culinária, boulângerie e pâtisserie sempre que esses chefs vêem ao Brasil para fazer reciclagem da equipe e atualização do cardápio. Não sei quanto tempo vou continuar nessa fase “mulher de Chico”, só sei que, até agora, as experiências que dizer “sim” têm me proporcionado, vêm surpreendendo meus sentidos. Todos. 


Marie Madeleine
Av. Afonso Bráz, 511 - Vila Nova Conceição
Tel - 2387.0019

http://marie-madeleine.com.br

sábado, 12 de janeiro de 2013

CONSULTA NA DERMATOLOGISTA

Eu - Doutora, eu ando com muita celulite...
Dra. - Hum!
Eu - ... Não que eu não tivesse antes, eu sempre tive celulite. Mas é que está demais. Não era desse jeito. Sabe? Não reconheço mais minhas pernas. 
Dra. - Você engordou, Adriana?
Eu - Então, engordei. 10Kg desde que voltei para o Brasil. 
Dra. - E você está namorando?
Eu - Não. Tirei um ano sabático de homens. 
Dra. - Sei... Adriana, arruma um namorado! Vai fazer sexo, que emagrece e acaba com a celulite. 
Eu - ....

Recomendações médicas, minha gente! Recomendações médicas...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A SENSAÇÃO LIBERTADORA DE ACEITAR AS COISAS COMO ELAS SÃO


Christina Hendricks - nenhuma Miss Universo.

Eu queria ter o corpo da Gisele Budchen. Não é clichê não. Queria mesmo. Queria também a conta bancária dela, mas eu até que estou feliz com a minha. Também estou feliz com o meu corpo. É o que temos para hoje, fazer o quê!? Acho que todo mundo tem aquele desejo secreto (ou não tão secreto) de espelhar alguma insatisfação em outra pessoa. A gente queria ter o cabelo da atriz, o corpo da atleta, a inteligência da intelectual, o sucesso da celebridade, a grana da milionária. Como se a solução de todos os problemas do mundo estivessem nessas coisinhas. Nos detalhes que achamos imperfeitos. Só porque em algum momento alguém colocou um padrão e estabeleceu o que era ideal e o que não era. A gente começa a sentir necessidade de coisas que nem sabíamos que precisávamos. No final do ano passado eu tava assistindo ao Miss Universo (é público e notório que amo programas trash de TV) e acompanhando pela minha timeline do twitter. Então alguém retweetou um comentário qualquer em inglês: “Não sei porque fazer um concurso de Miss Universo depois de Christina Hendricks”. Eu sorri. Para quem não conhece, Christina Hendricks é a Joan de Mad Men (minha atual série favorita). Ela é uma bombshell, linda, voluptuosa. Uma unanimidade dentro e fora da trama. A única coisa curiosa é que Christina Hendricks é gorda. Dentro dos atuais padrões de “beleza”, ela é o que chamam de “plus size”. Sempre gostei dela. Gosto da sua interpretação bem discreta e do tom de ruivo do cabelo. Então fui pesquisar e descobri que, com 1,71m e 70Kg, embora seja considerada “melhor do que uma Miss Universo”, Christina Hendricks vive se debatendo com a mídia por causa de suas medidas. E sofreu durante o começo de sua carreira por não atender aos padrões de abdomen negativo exibido pelas Misses no concurso. Não é muito engraçado!? As mulheres que estavam se candidatando a serem as mulheres mais bonitas do universo exibem formas tão artificiais e plásticas que geravam comentários de pena e repulsa, enquanto aquela que era endeusada como uma “Miss universo óbvia”, sofre em sua intimidade porque não tem aquelas formas. Continuando a pesquisar descobri que Mariska Hargitay (a detetive Benson de L&O SVU e filha de Jayne Mainsfield) tem 64Kg. Descobri ainda que Marilyn Monroe tinha praticamente minha altura (1m66 - eu 1m68) e sofria com o efeito sanfona exatamente na mesma abrangência de peso em que eu vivo me debatendo (53-64Kg). Agora pensa aqui comigo, se é para se projetar em alguma imagem de atriz ou celebridade, porque eu queria ter o corpo da Gisele Bundchen, se eu tenho o corpo da Marilyn Monroe, a mulher mais bonita e sexy que já existiu!? Jeniffer Lopes pesa 65Kg e tem 1m64. Kate Winslet pesa 63Kg e tem minha altura, também as mesmas medidas de Marilyn. Não é mais fácil aceitar a coisa do jeito que é!? Aceitar que as pessoas são belas e especiais por serem como são!? É tão libertador aceitar as coisas como são e descobrir a beleza disso. Aceitar que seus amigos são daquele jeito, que nosso nível de genialidade é aquele mesmo. Aceitar que a cidade tem trânsito, e as pessoas não seguem muito bem as regras de civilidade. Aceitar que seus pais vão te enlouquecer de vez em quando, e a empregada nem sempre vai lavar a louça direito. Aceitar que tem dias que o texto não sai muito bem, e a gente fuma um cigarro porque deu vontade. Aceitar que nesse mundo nada é perfeito, e é exatamente na “imperfeição” que ele fica maravilhosa, intrigante, interessante, surpreendente. Brigar para colocar as coisas na idealização de uma expectativa de “perfeição” é inútil, é doloroso. Só traz sofrimento. A gente vive decepcionado. Vive reclamando que a cidade é ruim, que as pessoas são mal educadas, que os amigos pisam na bola. Para quê!? Eles são o que são. E também existe beleza nisso. Às vezes a gente precisa parar de perseguir o corpo da Gisele Bundchen, e aceitar que se tem o da Marilyn Monroe. Vamos todos concordar? A realidade é muito melhor!