quarta-feira, 26 de março de 2014

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Ontem eu estava falando do André Gravatá com uma amiga em comum. Dizia que tenho certeza de que, quando ele chega em casa, tira a camiseta, e duas enormes asas de anjo saem de suas costas. Tenho certeza absoluta disso. Ontem também eu estava chateada porque tenho desistido de tomar algumas atitudes, de tentar algumas ações, porque não existe interlocução. As pessoas estão tão cegas com suas próprias verdade, tão preocupadas em cuspir suas certezas na sua cara que não se dão conta do quão violentas e abusivas são. Pior, não possuem os ouvidos abertos ao que o outro diz, porque estão esbravejando, preocupadas demais em ter a última palavra. Eu aprendi a deixar os outros terem a última palavra. Faz mais bem a eles, do que a mim. E tenho vontade em manter minhas manifestações no superficial, no que não gerem em ninguém a vontade de ter a última palavra. Então aparecem os anjos da nossa vida, que servem para escrever textos como esse aqui. Coisa que anjo escreve. Eu já passei por tudo isso aí que ele descreveu, já testemunhei as mesmas coisas. E quando a gente tem vontade de deixar o presente se afastar, seja por covardia, por fraqueza, ou por humanidade, vem o André me lembrar que a gente não pode deixar isso acontecer. Então respira, e vai agarrar o dia com as duas mãos. 

(Se você tiver que ler um único texto hoje, apenas um, leia esse.)


terça-feira, 25 de março de 2014

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Uma coisa que me deixa cansada é histeria. O que é bem complicado, já que estamos vivendo tempos histéricos. As pessoas vomitam suas ideias e opiniões, já repararam. Não existe nenhum nexo ou contexto. É uma coisa meio impulsiva. Sai de dentro, descontroladamente em quem estiver na frente. Jorra para todos os lado, suja o sapato. Mas o importante é ter opinião. É defender seu ponto de vista. É calar a boca do outro. Nisso perde a interlocução, o diálogo, a reflexão. Ganha quem grita mais alto. E estou falando isso com culpa assumida. Já fiz muito disso. Muito mesmo. O importante era esbravejar minhas certezas ao mundo. Ter a última palavra em tudo. Ficava toda pimpona por “vencer” uma discussão. Ainda caio nessa esparrela vez em quando. Mas não me sinto mais vencedora. Saio derrotada. Com a sensação de só ter causado incomodo, dor, desconforto, e não ter mudado nada. Tenho exercitado a arte de largar a batalha no momento em que ela vira exatamente isso: uma batalha. Gosto de conversar e discutir e pensar. Mas a partir do momento que vira batalha, me retiro de campo. Não se discute com quem está vomitando. Acaba-se com os sapatos sujos. Machuca. Não se chega a lugar nenhum. Dou um passinho para trás e silencio, esperando ver o histérico sair de campo com o peito estufado de quem ficou com a última palavra. No final é isso a única coisa que se leva. A última palavra. 

segunda-feira, 24 de março de 2014

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Uma vez a Noemi falou que se você praticar 5000 horas de alguma coisa, você vira expert nisso. Por exemplo, se você praticar 5000 horas de uma música no piano, vai virar expert nela. Ou praticar a escrita, um movimento de ballet, O que seja. Mas precisa ser uma prática dedicada, consciente. Então resolvi virar uma expert também. Em cupcakes! Há mais de um ano eu comprei um livro da Martha Stewart sobre como fazer cupcakes. Na época comprei também as foras e detalhes de decoração. Nunca saí da intenção. Nesses dias em que tenho sentido uma vontade violenta de reclusão e trabalhando muito na escrita, sempre rola aquele momento em que preciso relaxar um pouco. Quando o capítulo emperra e é hora de tomar um chá, fazer algo para distrair, antes de retomar o trabalho. Pois eu tenho feito bolos. A ideia é chegar à supremacia do cupcake. Lindos e decorados, como aqueles que vendem nos quiosques do shopping e eu desejo a morte do inventor sempre que me rendo e compro quatro de uma vez. E como os quatro de uma vez, sem um pingo de culpa. Pois bem, fiz hoje muffins de fubá orgânico, com farinha de trigo integral e.... o resultado foi decepcionante. Ficaram secos e estranhos. Mas gostosos, se comidos junto com o café. Acho que a farinha de trigo integral exige um pouco mais de leite, ou de manteiga. É muito pesada, deixa bem ressecado. De qualquer forma, como meu prazer está em fazer os bolinhos, distribuí todos por aí. Levei na redação da revista, na escola da minha mãe, fiz sacolinha para a Jô. Todo mundo comendo muffing ressecados de fubá e achando gostoso. Foram muito bem orientados a mentir na minha cara. Nada de jogar no lixo na minha frente. Disfarça, espera eu ir embora. Já sei quais serão as próximas experiências. Um pão de mel com cobertura de chocolate meio-amargo, e bolinhos prestígio, cheios de coco. A expectativa está boa. Vamos ver a realidade. 

domingo, 23 de março de 2014

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5h da manhã foi quando eu terminei de editar o primeiro vídeo dos mergulhos de Bonaire. Tudo ainda com muita cara experimental. Primeiro vídeo que edito na vida! Fiz cinema, mas sempre fui produtora. Nunca tive a destreza, e a curiosidade, que a Maya tinha por exemplor. A Maya faz tudo, e por isso é uma cineasta de verdade. Eu acabei escrevendo. Mas, fiquei lá quebrando a cara, sofrendo horrores. Perdi todo o trabalho às 2h da manhã e tive de começar tudo do zero. Deu vontade de desistir, mas bateu a teimosia (que, segundo minha mãe, vira perseverança) e fiquei no computador até ter o filme pronto. Essas imagens foram as primeiras que fiz com a GoPro, então estou descobrindo também com a câmera funciona, quais os recursos e o resultado, para poder ficar mais à vontade e explorar melhor a ferramenta. Também ainda não tenho muita noção do que estou fazendo com o IMovies, todos os recursos que posso usar, então o resultado é bem amador. Mas eu amei! Hahahahaha! Adorei finalizar esse primeiro episódio e dar de presente para meus parceiros de mergulhos de Bonaire. Conheci um pessoal tão legal, tão gostoso de estar junto. Essa é uma forma de devolver para eles o carinho que me deram. Subi no youtube, mas deletaram a música que tinha usado no clip por causa de direitos autorais (!!!). Direitos autorais em vídeos caseiros... Bom, não vou discutir. Estou usando o Vimeo que é muito mais legal! Olha só o resultado!



Bonaire pagando deco - Episódio: Hilma Hooker from Adriana Rossatti on Vimeo.

sábado, 22 de março de 2014

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Eu ando curtindo muito essa coisa de me cuidar. Estou falando das coisas básicas que terceirizamos como manicure, pedicure, massagem, hidratação. Quando era adolescente fui fazer intercâmbio nos EUA, com a Y e a MH. Lembro que as host-sisters da Y, que morava na frente da minha host-family, faziam mega produções logo cedo para ir à escola. Não estou falando de prender o cabelo e borrar a cara com batom, não. Mega produções, com cara de “vou ser madrinha de casamento”. Sem entrar na questão do bom gosto dessas produções, eu ficava secretamente pensando: “Como diabos elas fazem isso!???”. Eu mal sabia prender um rabo-de-cavalo! Esse hábito de brasileiro de consumir muitos serviços, afinal até recentemente serviços sempre foram extremamente baratos por aqui, faz com que não criemos algumas habilidades que são naturais para mulheres em outros países. Minhas amigas européias acham uma extravagância essa coisa de manicure toda semana, cabeleireiro o tempo todo. Elas se viram e fazem perfeitamente muitas dessas coisinhas que nem sabemos por onde começar. Uma tinge o cabelo da outra. É cultural. Não tem nada a ver em ter ou não condições de pagar pelo serviço. Tenho amiga que é diretora de marketing de multinacional e nunca fez manicure com uma profissional na vida. É o tipo de serviço que não passa em sua cabeça adquirir. Morando em Zúrique, na bolha do primeiro mundo, ela acha extremamente exótico quando digo que temos serviços de valet em qualquer restaurante de São Paulo. “Como assim? Você vai jantar e alguém estaciona o carro para você!?”. Me olha com cara espantada. Faz a gente questionar algumas pequenas coisas da rotina que temos como normal. Tem coisas que ainda não consigo mudar, ou talvez não faça sentido mudar. Mas hoje passei a manhã fazendo auto-manicure e pedicure. Arranquei uns bifes, mas fiquei felizona com o resultado. Rolou um sentimento meio estranho, de não dirigir até o salão, sentar nas cadeiras juntos com outras clientes, ouvir as histórias de novela e namorados que as meninas sempre contam. Mas rolou também uma sensação de liberdade, de auto-suficiência. De ter uma vida mais simples, sem precisar abandonar alguns pequenos hábitos de vaidade. 

sexta-feira, 21 de março de 2014

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A Vi disse que o ano novo começou somente ontem. Rolou uma mega conjunção especial no céu. Saturno e a Lua estiveram bem atípicos e, embora o calendário tenha mudado quando a gente estava juntas no Rio, o ano só mudou mesmo ontem, enquanto a gente falava de energia, confabulava sobre anos sabáticos e os planos para 2014. Seja pelo que for, sinto na pele a mudança. Produzi absurdamente esses últimos dias. Escrevi muito, organizei muitas coisas que estavam para trás. Sinto uma vontade e uma energia que há meses não aparecia por aqui. Se é um ano novo, já estou gostando dele. Já estamos enchendo de amor. Porque acreditamos que, sim, e o amor que transforma, e ele que oferece o melhor de nós. Amar de forma complexa, absoluta, incondicional. Tudo e todos e o que se faz. Ter fé que a vida nos oferece amor, aceitar e ser grata. Essa é a promessa de ano novo. Um feliz ano novo astral para vocês! 

quinta-feira, 20 de março de 2014

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Canso de falar isso, a gente se perde muito fácil. O mais difícil de mudar é a segurança que criamos de que o estado é permanente. Nunca, nada é permanente. Nem a mudança, nem as contrariedades. Fé, para mim, tem sido manter a calma e aceitar que esse é o lugar que eu devo estar. Muita da minha ansiedade e stress vem das decepções de a vida não sair como o planejado, da falta de controle que insisto em ter sobre o dia que vem depois de amanhã. Fato é que, estou onde deveria estar. Na verdade é muito libertador me dar conta disso. Olhos abertos para aproveitar cada detalhe, cada segundo. É o agora que me interessa, ele é que é real e me pertence. Ainda que seja doloroso, confuso, desgastante. Bora! Aqui é o meu lugar.

quarta-feira, 19 de março de 2014

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Estou apaixonada por Chimamanda Ngozi Adichie. Li essa semana “Hibisco Roxo” e já vou emendar “Meio Sol Amarelo”. Contando os dias para chegar por aqui seu novo “Americanah”, que ganhou o National Book Critics Circle Awards de 2013. Chimamanda é uma moça linda, nigeriana radicada nos EUA, virginiana como eu. Dona de uma pele escandalosa e de um sorriso mais iluminado ainda. Fazia muito tempo que eu não me identificava tanto com uma escritora. Fazia tempo que eu não sentia que a vida de uma personagem era minha, e ainda, que essa personagem era melhor do que eu na mesma história de vida. Acho que literatura tem que ser uma pouco assim. Fazer a gente ser melhor. Sempre me incomoda como as editoras ainda cultuam uma literatura que é demasiada masculina, branca, hétero e ocidental. Acho extremamente desinteressante essa profusão de livros, com essa moda de “auto-ficção”, cheia de homens héteros, brancos e chatos, destilando seu machismo latente e remoendo suas superficiais questões existenciais. Sério. Quanto mais a gente consegue ler de homens perturbados, incomodados com seus papéis sociais, tomando cerveja ou conhaque pelas ruas de metrópoles, flertando com o submundo mas mantendo suas pseudo-intelectualidades intactas!? Eu fico enfadada só de ler a orelha desses livros, e já há algum tempo tenho evitado novos autores. Raro encontrar alguém que realmente tenha algo a dizer. E quando o mercado todo está viciado no mesmo modelo... a gente chega até a perder o tesão de ler. A gente, bem... eu, no caso. De qualquer forma, li uma entrevista de Chimamanda há algumas semanas no Estadão e fui correndo para o site da Livraria Cultura. Os livros chegaram antes do Carnaval, mas eu procrastinei até essa semana. Melhor. Seria difícil dividir com a paixão do mergulho, que me tomou todos os dias em Bonaire. Fiquei 100% submersa, mesmo quando estava na superfície. E eu sou uma garota monogâmica. Não consigo ter paixões concomitantes. Ah, que delícia encontrar uma boa escritora, mulher, negra, que pinta um mundo sob uma ótica tão diferente da que prolifera por aí. Muito mais delicada, muito mais sutil, mas exatamente por isso bem mais cruel e sobrevivente. Leiam! Corram, leiam!


terça-feira, 18 de março de 2014

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Descobri a origem de todo sono! Antialérgicos!!! Sim, troquei de antialérgico por um que comprei em Miami. Lendo a bula hoje descobri que ele não deveria ser usado para fazer crianças dormirem. Imagina só o nível de desespero dos pais!? Entoxando antialérgico na molecada para ter uma noite de sono em paz. Anyway, as danadas estavam me fazendo dormir em reunião, bocejar na cara das pessoas e cochilar na fila do banco. Pois é, voltemos ao bom e velho Allegra, que não dá sono, não solta tiras e nem dá cheiro.

segunda-feira, 17 de março de 2014

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Acho que minha maior dificuldade hoje é não conseguir impedir que uma única questão da minha vida paralize todo o resto. Não consigo controlar os prejuízos e acabo sem forças, estagnada na vida. Como tenho reagido? Com muito sono e um tanto de agressividade. O que também não me agrada. Por um lado sinto que deveria respeitar o tempo, e de repente até me permitir passar uma segunda-feira inteira deitada e dormindo. Por outro me sinto frustrada por não conseguir impedir que esses problemas me afetem de forma tão definitiva. Talvez me falte um pouco de paciência e compaixão comigo mesma. Talvez me falte enxergar algo que está no meu nariz e eu não quero ver. De qualquer forma ainda tenho um dia depois do outro. E eu sei que amanhã vai ser melhor do que hoje. Precisa ser. 

domingo, 16 de março de 2014

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Dei um pulo hoje na Feirinha Gastronômica com as gêmeas e encontrei o Kqui que veio me agradecer pela entrevista que fizemos para a Vida Simples no ano passado. Eu sou tão pastel que nem vi a entrevista. E olha que eu leio a revista inteira de cabo à rabo todos os meses. Saiu na edição de dezembro, em que lançamos a campanha #chegadedieta. Acho que fiquei tão hipnotizada com a matéria de capa que nem me dei conta. De qualquer forma, fui lá no meu acervo de VS e fiquei feliz. O Kqui é um cara muito legal, um agitador cultural. Acho incrível a força que ele tem para criar projetos que dão certo. Conseguiu transformar a Praça Benedito Calixto em point paulistano também aos domingos. No dia da entrevista ficamos mais de uma hora falando sobre democratização, cultura de rua e a nova lei que - finalmente - legaliza a comida de rua. Uma pena que tínhamos um espaço pequeno, ele tem muito o que falar sobre o assunto. É inspirador. Dá vontade de experimentar mais, e de também fazer algo para deixar essa cidade melhor. 

sábado, 15 de março de 2014

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Alana me chamou para um show hoje, uma amiga dela do Rio que está participando do projeto Natura Musical, a Karla da Silva. Sabe aqueles shows delícia, que você fica do começo ao fim com um sorriso na boca? O seu primeiro CD chama-se “Quintal”, e o palco estava todo decorado como se fosse o quintal de alguma casa. Tudo muito fofo e feminino, mas ainda bem contemporâneo. Gosto dessa nova safra da MPB. Uma moçada boa, fazendo música boa, e com uma energia muito boa. Minha energia que estava baixa ficou melhor. Preciso de programas assim. Andar à pé pelo centro, tomar suco natural e ouvir boa música. 

sexta-feira, 14 de março de 2014

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Hoje tive uma grande lição sobre energia, respeito ao nosso próprio tempo e organização de foco. Verdade que a lição veio em forma de trabalho - muito trabalho - mas ainda assim me sinto mesmo uma privilegiada por trabalhar com coisas interessantes. Tive uma imersão com o autor de um ghostwritting que estou terminando. Foram 10 horas de trabalho, conversas e muitos cafés. Ao final saí com várias estratégias para minha vida pessoal. Entendendo melhor como funcionam pessoas invejosas, e porque me sinto bem em afastar algumas pessoas da minha vida. Entendendo que não posso priorizar completamente um único aspecto da minha vida como tenho feito, esperando todo o resto para fazer depois. Entendendo que eu preciso respeitar melhor o meu tempo, e me permitir parar, respirar. É melhor uma longa pausa que me recarregue por completa, do que ficar em stand by e funcionar sempre com 70% da potência. Uma grande aula para me resgatar. Já cansei de falar por aqui, é fácil a gente se perder. Acho que essas coisas funcionam como bússolas. Nos ajudam a encontrar o norte. 

Esse será um final de semana para recarregar energias. Voltar com a carga cheia. 

quinta-feira, 13 de março de 2014

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Mais uma amiga querida me contou hoje que está grávida. É um verdadeiro baby-boom. Ano passado foi uma profusão de novos sobrinhos postiços nascendo. Estamos começando a quaresma e duas amigas já me contaram que estão esperando bebês. Fora minha irmã e a Lulu que tiveram dois meninões lindos. Quando você tem 37 anos e todas as suas amigas estão procriando, você deveria pensar se não está chegando a sua hora também. Mas eu ando tão ocupada com tantos problemas e tantos planos que eu ainda não fiz para minha vida, que não deu tempo de levar meu relógio biológico trocar a bateria. 

É o fim de uma era, e talvez eu seja apenas um dinossauro resistindo. Ou um esquilo neurótico, correndo atrás de uma noz.

quarta-feira, 12 de março de 2014

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Às vezes tenho a sensação de estar no meio de uma tormenta. Acho que viajo tanto para conseguir tomar ar na superfície. No geral a vida me deixa mareada. Sempre balançando, tirando meu senso de equilíbrio. E quando eu tomo um tanto de ar, vem uma onda gigante  e me derruba. Então eu me arrependo de ter tomado um pouco de ar, porque afinal de contas, eu deveria ficar na superfície, esperando a tempestade passar. Arrumando as coisas destroçadas do barco. Quando eu vejo, já se forma 70 dias e eu ainda não vivi minha vida direito.  Verdade que acabei de voltar de uma viagem incrível. Mas ela já parece um sonho. Não tem mais muita concretude. Eu estou pagando débitos. Foi só o que fiz hoje. Correr atrás de coisas atrasadas. Fui em banco, paguei contas. Resolvi pendências. Passei horas arrumando o home-office (de novo!) e trabalhando. Estou um mês e meio atrasada com um ghostwritting. Morrendo de vergonha do cliente. No meio do livro ainda. O problema é exatamente esse. Me falta fôlego. É preciso fôlego para terminar tudo o que eu comecei, porque eu não quero virar a pessoa que não termina as coisas a que se propões. Não quero me tornar a pessoa cheia de boas intenções e projetos interminados, naufragados. Pessoa incompleta. Eu me atropelo, porque quero que a parte boa da vida aconteça. Quero a viagem planejada, a tranquilidade presumida, o amor da minha vida. Só que eu estou no meio de uma droga de tormenta, e o vislumbre de calmaria foi adiado. Eu agora só saio do barco quando tudo isso acabar. Respira.