sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

SAMBA CALCINHA

Como 90% das minhas roupas ainda estão encaixotadas esperando eu finalmente assinar um contrato de aluguel, eu tenho usando mais ou menos a mesma dúzia de roupas no último mês. Hoje cedo eu abri a mochilona e a única coisa que tinha para colocar era um soutien horroroso que eu comprei antes de ir para a Europa. Ele é super confortável, ótimo para mochilar ou fazer trilha, mas juro que podia estar na gaveta da minha avó. Situação complicada essa. Embora ninguém esteja vendo meus soutiens ultimamente, dá uma deprê. Fiquei me sentindo tão anti-sexy. Sentei agora em frente ao computador e resolvi entrar no site da Dani, o Samba Calcinha. Conheci a Dani por intermédio da Cí nesse final de semana. Dani é uma fofa, querida, linda e mega talentosa. Dona de uma confecção de lingeries super descoladas, daquelas que fazem a gente se sentir mulherzinha e não figurante do filme "Bruna Surfistinha". As peças são feitas à mão, com estampas exclusivas e em pouquíssimas quantidades. Ou seja, a possibilidade de você cruzar com alguém usando a mesma calcinha no vestiário da academia é de 2 em 19 milhões. J Quem mora em Sampa pode dar um pulinho no atelier dela na Vila Madalena, tomar um café e escolher uma sacolada de peças. Para quem mora longe, ela vende por site e entrega na sua casa. Eu pirei nos soutiens (que de vó não tem nada) coloridos e sem bojo. A coleção é super democrática. Atende as guerreiras de plantão (com os irresistíveis porta-camisinhas), e as que já penduraram as chuteiras, (uma linha toda de gestantes e pós-parto). O link da Samba Calcinha está aqui e eu roubei algumas fotinhas que seguem abaixo.
 O porta-camisinhas que é um charme,
 calçola de tule super girlie,
o suti dilícia, mim qué!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CISMINE NEGRO


Quando eu era pequena uma das minhas histórias favoritas era a do “Patinho Feio”. Não tanto pela transformação do pequeno e feio patinho em um lindo e elegante cisne (eu era pequena e não conseguia dizer “cisne”. Sempre dizia “cismine”). Mais pelo sentimento de inadequação do patinho que ia descobrir depois que estava na família errada. Eu entendia aquele patinho. Às vezes não era uma questão de ser feio, apenas de estar no ambiente errado. Talvez por isso eu tenha passado a minha vida procurando a minha turma. Há três semanas atrás eu assisti “Cisne Negro”. Três motivos para não perder esse filme nem se fosse sexta-feira, véspera de feriado, com tempestade na Rebouças: Ballet. Natalie Portman. Os figurinos. Ouvi algumas pessoas falando mal desse filme. Muitos homens. Talvez seja um filme feminino demais. Toda menina já quis ser uma bailarina. Já ensaiou passinhos na ponta dos dedos com os bracinhos levantados. Acho que toda menina em algum momento da vida se derreteu com um par de sapatilhas. Mesmo que hoje elas sejam Marc Jacobs e cheias de tachinhas. Existem coisas que só sendo mulher mesmo para entender. A gente passa vontade do nosso doce favorito só porque enxergamos coisas que ninguém mais enxerga no espelho. A gente esconde defeitos invisíveis embaixo da roupa. Passa uma cor de batom diferente para tentar ser outra pessoa. A pressão em ser perfeita. A disputa. A constante ameaça de nós mesmas. Como ser cisne em meio a patos? Faz três semanas que eu tenho pesadelos todas as noites com esse filme. E juro que durante o dia sinto as penas brotarem na minha pele. Coisa de louco mesmo! Uma parte da minha pele está com a mesma textura da personagem da Natalie Portman. Coça, enche de bolinhas. E eu escondo das pessoas durante o dia. Claro que é só uma alergia. Vou passar muita pomada e me entupir de Allegra e vai ficar tudo bem. Ainda assim, não consigo deixar de pensar que vou virar um cisne de verdade. Desde que voltei das viagens estou tentando virar cisne. Trabalhando 12 horas por dia tentando organizar o caos que a minha ex-assitente deixou o departamento. Tentando ganhar um pouco de peso para parar de ouvir as pessoas me chamarem de cadáver. Passando por um momento vegetariana. Procurando um apartamento perfeito. Tentando ser uma boa tia, uma boa filha, uma boa irmã. Tentando virar uma Bresson da fotografia. Fracassando retumbantemente em tudo isso. Me sentindo culpada por ter deixado o blog abandonado, por ter me afastado dos amigos, por não conseguir escrever um email decente para meus amigos além mar. Coçando o meu pulso embaixo da mesa para ver se sai alguma pena. A lista é infindável e eu sei. Só eu vejo. Ser perfeita é uma loucura. A gente nunca vai chegar lá. Nunca vai deixar de tentar também. Porque somos meninas, e meninas fazem essas coisas. Apesar da dor, da loucura, da crueldade, a gente espera um dia virar cisne. Acho que o segredo é aceitar que é assim e não fazer muito drama com isso. Eu continuo meditando todos os dias. Talvez isso me ajude a me afastar um pouco das cobranças. Talvez me ajude a ser uma pessoa melhor (IHHH! Mas isso também não faz parte da busca da perfeição? Ser desencanada, saber não se deixar levar pelas cobranças sociais também não é uma cobrança social hoje?). Eu sonho com cisne todas as noites. O que vai me trazer tudo isso? Talvez nada. Do mesmo jeito que não me traria nada a perfeição. De resto decidi. Vou voltar para o ballet. Jogar minha obsessão de perfeição em algo produtivo. E acho que já decidi também minha fantasia de Carnaval.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

BEAUTY

Voltei para São Paulo e para minha situação homeless forever. Eu tenho provavelmente os piores corretores da cidade. Fui visitar alguns apartamentos. Um maravilhoso, com vista para as torres da Paulista. Um luxo paulistano. Só que o maluco do Sr. Patrocínio desapareceu e nem me passou os valores para o aluguel. O Sr. Patrocínio é o meu corretor maluco que desapareceu antes do Natal e desapareceu antes do Reveillon e me deixou completamente na mão com os documentos todos entregues, quase na assinatura do contrato de um outro apartamento que eu tinha adorado (até parece que quem ganha dinheiro com isso sou eu!!!). E resultou em todas minhas coisas mais uma vez encaixotadas e largadas em um depósito enquanto eu carregava minha mochila para o aeroporto mais uma vez. Eu acho que esse apartamento que eu vi ontem vai ficar mais caro do que pode o meu orçamento. De qualquer forma a nova regra do ano é “Neuras Zero”. Não esquento mais a cabeça. Não adianta mesmo. Vou esperar a semana começar, ver o que aparece. Esperar respostas de alguns corretores, e se der certo deu. Mudo. Se não der certo eu vou continuar procurando até achar algo que funcione. Continuo morando na mochila. Não é nada muito diferente do que foi os meus últimos 12 meses. A semana passei na casa da minha irmã. Festa completa para os meus sobrinhos. Eu adoro como a lógica infantil é simples. “Tia Dri. Já que você está sem apartamento, fica morando com a gente para sempre.” Eu estou adorando os dias. O negócio é entrar na rotina deles. Nove da noite todo mundo na cama. Acordar cedo para ir para a escola, uniforme, lição de casa. Eles tem uma rotina toda certinha. Cardápio equilibrado, horários de lição e lazer. Fui buscar minha sobrinha no colégio. Ela está quase uma adolescente, é bonito de ver. Ele é tão inteligente e espontânea. Anda com o apetite dobrado por causa da idade e está aprendendo espanhol. Sozinha. Fica me pedindo para falar em espanhol com ela e repete as palavras que não conhece. Me fez milhares de perguntas sobre a Guatemala e depois ficou quieta com o cenho franzido. Deprimida com a situação das crianças que eu ensinava lá. Levei-a a tarde no salão para fazer as unhas comigo. Parecia uma mocinha sentada com a coluna reta, pintando as unhas de rosa. Os meninos, deixo brincarem na minha Farmville (embora eles tenham “acidentalmente” vendido um castelo que eu tinha e que me deixou muito infeliz). Tem sido uma experiência muito boa viver um pouco da vida de uma parte da minha família. Minha irmã tem muita certeza da vida que tem e que escolheu. É tão oposta a minha. Esses dias só tive mais certeza que não estou preparada para essa vida família ainda. Talvez nunca seja minha escolha e se algum dia eu tiver uma família com casa-carro-cachorro-marido-crianças, dessas como manda o figurino, de comercial de margarina. Se algum dia eu escolher ter família assim, com certeza não vai ter cara de margarina. Não deixa de ser bonito, porque eu acho que beleza está na autenticidade das coisas. Quando as coisas são carregadas de certezas. E isso a minha irmã tem, eu não. Eu tenho certeza da minha mochila. E ela continua jogada no chão de um quarto completamente solta na vida. No final de semana vim ficar na casa da Kika. A gente foi em uma festinha ontem, só para passar a noite toda bocejando e descobrir que estamos velhas. E conversamos por horas já que não conversamos direito desde que voltei da Europa. Em seguida ela foi para a Alemanha e quando voltou eu estava na Guatemala. Daquelas belezas da amizade. Não importa a distância, a gente se pertence. A mãe dela mora com ela agora. Ficou muito doente no ano passado enquanto eu estava fora. Uma barra que eu me sinto culpada por não ter estado perto para ajudá-la. Conheci a mãe dela alguns anos atrás. Sempre foi uma mulher excepcional. Vibrante, cheia de vida, independente. Agora a doença lhe roubou todos os anos do rosto, a força física, a agilidade de movimentos. Está completamente dependente da filha. É bonito ver a paciência e o amor com que Kika vive o dia em função dela. Eu estou aqui só de expectadora. Mas emocionada. Ela tira a espinha do peixe, pede para a mãe passar batom. Controla os medicamentos, passa creme antirrugas no rosto. E a mãe dela é completamente vidrada nela. Toneladas de amor no ar. Ontem falei para minha amiga, enquanto a gente estava no quintal fumando um cigarro. “É bonito o que você está fazendo pela sua mãe. É muito bonito.”. A vida é cheia de coisas imperfeitas, mal planejadas. É tudo, menos ideal. Mas como é bonita. Tão cheia de beleza.