sábado, 31 de julho de 2010

Nesse final de semana, DriDri está curtindo LondonLondon e não vai publicar posts nesse blog.
;-)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

MINHA REDE DE PROTEÇÃO

Agora eu tenho companhia aqui na vida de fazenda. Chegaram dois outros Helpx essa semana. Um canadense e um espanhol. O espanhol é um catalão de 18 anos que ainda não entendi porque ele veio se enfiar aqui. Meio mala, fica tentando puxar conversa quando eu estou escrevendo à tarde. Eu dou umas “chuchadas” nele (CHIIIIIUUU!!!). Tadinho, está só entediado, eu entendo. Mas eu ando Tolerância Zero para algumas coisas. Aprendendo a me impor um pouco. Nas refeições o moleque faz muuuito barulho para comer. Muuuito mesmo. E toda vez que ele bebe, qualquer coisa, rola um GlubGlubGblub muito alto. Tenho vontade de matar. Está sendo uma novidade. Não sabia que esse tipo de coisa me incomodava tanto. O canadense deve ter uns 40 anos, muito gente boa. É o terceiro ano que ele vem para cá e ajuda na colheita. E ele só faz isso da vida. Helpx. Cada época do ano ele ajuda em um lugar diferente. Acabou de vir da França. A colheita aqui vai ser só no final de setembro, mas ele vai ficar até outubro. Três meses nesse lugar... eu acho que eu me matava. Resolvi ficar três semanas, mas estou no final da segunda já achando que deu. Vou passar o final de semana em London até, só para desestressar dessa vida no campo. Bom, mas o canadense, gente boa. Muito tranquilo. Assiste TV tomando café de manhã. Faz perguntas interessantes sobre o Brasil e a América do Sul, e acabou tornando os dias mais legais. Porque rola um clima entre o Steve e a Penny, e estava meio chato ficar assistindo no meio. A gente nem conversa muito, mas tem uma cumplicidade rolando. Eu, que gosto de inventar histórias e tenho imaginação de criança de seis anos e meio, acho que ele passou por uma enorme decepção amorosa. Teve o coração esmigalhado em vários pedacinhos. Então resolveu se enfiar nessa vida de Helpx pelo mundo. Talvez ele tenha sido abandonado no altar, e agora seu coração endureceu e se fechou para sempre para o amor. Enquanto a gente podava as parreiras, eu ficava ouvindo ABBA no meu Ipod e cantando baixinho. Depois ele vinha comentar sobre as músicas comigo. Aliás, ontem e hoje a gente só podou as vinhas. No começo super divertido. Me sentia o “Edward Scissors Hands”. Depois de uma hora começou a ficar chato. Na hora do almoço eu tinha duas bolhas nos dedos, as costas doloridas e uma sensação nos ombros que deve ser o estágio seguinte da dor. Porque dor por si só é muito pouco. A boa notícia é que estou emagrecendo horrores. Outra vez. Compensar os kilinhos que ganhei na França. Subi em uma balança aqui pela primeira vez em meses. 54Kg e descendo. Quase um recorde! Sinto minhas costelas no colchão na hora de dormir. Faz muiiiitos anos que não sinto isso. Faz muitos anos que não sinto uma porção de coisas que eu não sentia. De qualquer forma, correspondendo ou não às expectativas, tenho mais uma semana na Farmville e têm servido para colocar ordem em um monte de coisas. Não estou lendo, nem escrevendo o tanto que eu gostaria. Mas deu para organizar muito trabalho. Ganhar fôlego para a última parte da jornada. Resgatar uma porção de gente que estava em stand by. Lembrar que eu tenho uma rede de segurança gigante e poderosa. Não importao quanto meu coração se encolha, ele se encolhe por no máximo um par de horas. Até que tenha alguém conectado ou seja um horário conveniente para ligar para o Brasil. Meus amigos são lindos, amados, soberanos. Não se cansam de estender a mão, de me segurar. De passar a mão na minha cabeça e me tranquilizar. De ouvir a mesma coisa milhões de vezes. Eu sou uma pessoa que processa as coisas falando. Talvez por ter feito terapia a vida inteira. Talvez por ser prolixa mesmo. A questão é que eu preciso falar. E eles me ouvem. Quantas vezes por dia for preciso. Pelo tempo que eu precisar. Eles puxam minha orelha, me pegam no colo. Às vezes só me explicam o que a minha cabecinha complicada custa a complicar mais. Mas em todas as vezes me ouvem. Me ouvem muito. E salvam minha vida um milhão de vezes por minuto. Eu amo cada um deles. Com minha vida. Eu sei que eu nunca vou ficar abandonada. Nem vou precisar fugir para uma vida de Helpx permanente. Já disse isso aqui antes e repito. Tenho uma rede de proteção do tamanho do mundo. É o item mais valioso de toda minha bagagem.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

JOGO DA VIDA

Hoje deu um bode de brincar de Farmville. Acho que faz parte do processo de iluminação, não? Dar um bodezinho de vez em quando? Não teve não sei quem na Bíblia que perdeu a razão e saiu socando todo mundo em um templo? Mas eu não soquei ninguém não, minha gente. Foi só um bode grandão, um sensação de estar sendo explorada. Tem um monte de coisa para fazer. A casa é grande, está toda descuidada. Mas o principal motivo de eu ter vindo para cá era ter tempo para escrever. O problema é que eu não estou escrevendo nada. Eu acordo de manhã e tento cumprir minhas horas de trabalho rapidinho, para poder ficar com o resto do dia livre para trabalhar. Só que no resto do dia sempre aparece “alguma coisinha”, entendem... “Oh, would you mind to feed the pigs?”. “Would you like to come get some vegetables with me?”. “Sweetie, would you take these bottles to the winery?”. “Would you bother to do the ironing as well?”. Assim vai indo, indo, e todo mundo sabe que a gente cozinha um sapo esquentando a água devagar. Hoje eu acordei meio avessa. A pessoa já não está em uma plenitude emocional. Vou fazer sessão virtual com o Victor (meu terapeuta) amanhã. Daí bateu um bodezinho. Eu acho que o caminho da iluminação não é uma rodovia asfaltada, duplicada, com acostamento e sem pedágio. Rola umas curvas, uma buraqueira. Tem hora que fica bloqueada por uns dias. Não é brincadeira não. Então querer socar o povo no meio do caminho faz parte. O que define se você continua ou volta 2 casas é como reagir a essa vontade. Eu reagi assim: Ipod no último volume ouvindo Madonna a manhã inteira. E trincando os dentes. Muito, muito os dentes. Ficava repetindo para mim mesma: “Eu calmo. Você calmo. Respira. Estou em uma proposta de doação. Doação a gente não olha para quem. Não pode julgar. Doa e esquece. Não se doa esperando algo em troca. Sublima o ego, Sublima! Ó! Vou contar até três. Um. Dois. Tr... FALEI PARA SUBLIMAR O EGO! Pode parar com isso já!!!” Terminei o dia sem conseguir me organizar tanto, mas um pouco melhor e sem vontade de socar os “infiéis do templo”. Afinal quando a gente se predispõe a se doar, não pode colocar condições. É como comprar um bichinho. “Ah! Ok! Eu quero um poodle, mas um que não tenha pulgas e não faça xixi no sofá.”. Não funciona assim, né. A gente sabe. Resolveu fazer uma coisa, aceita com tudo o que vem. Não é porque eu estou me doando que vão me agradecer e me encher de elogios. Ou que vão reconhecer que estou me dedicando. E talvez as pessoas sejam apenas muito carentes, muito desacostumadas a receber. Quando vêem que alguém está dando, querem pegar um monte com medo de ficarem sem. Mas eu acho que se você vibra abundância, vai ter abundância. Se vibra escassez, vai ter escassez. Então eu estou doando, porque tenho de sobra. Pode pegar, pode abusar. Vou colocando alguns limites devagarinho para conseguir manter minha corrida e escrever. De resto é só um exercício. Preciso ver agora se consigo avançar algumas casas depois disso tudo.

terça-feira, 27 de julho de 2010

DEDO PODRE

Eu sempre disse que eu tenho um “dedo podre” para coisas caras. Quando eu estou passeando em um shopping, em frente a uma vitrine, pode ter certeza de que eu vou gostar do item mais caro que estiver exposto. Sem ver o preço antes. Funciona assim, eu aponto o dedão e falo “Ah, gostei dess... NOSSA!”. Em joalheria é pior. Pode ter certeza que eu vou apontar algo que custe um belo de um carro zero (às vezes alguns carros zeros...). Mas agora eu estou explorando a “Simple Life”. Vida na roça. A gente colhe os legumes do almoço na horta, acorda cedo. Algumas caminhadas pelo campo. Depois do jantar fica em silêncio na sala lendo. Ouvindo os grilos e cigarras do lado de fora da janela. A vida aqui é muito simples mesmo. Nem tenho usado meu kit para o rosto da Shiseido. Não combina, entende? De certa forma eu acabei resgatando uma sensação que tive no deserto no Marrocos. Uma consciência da nossa pequinez na imensidão do universo. E quando a gente alcança esse lugar, é muito claro que o preço astronômico de algumas coisas embute também um pagamento por status, vaidade, insegurança. Coisas que precisam mesmo de bastante dinheiro para serem alcançadas. Nesse final de semana não tive folga. Penny pediu para eu acompanhá-la em uma feira que ela ia participar em Whitstable. Uma cidade aqui do lado, também litorânea. E lá fui eu na Farmer´s Market de Whitstable. A gente tinha uma barraquinha no Centro Comunitário da cidade, onde todos os finais de semana fazendeiros e pequenos produtores da região levam seus produtos para levantar uns trocadinhos. Muita coisa orgânica, pão, linguiça caseira. E a gente com os vinhos. Oferecendo degustação e tentando vender. O povo inglês tem um orgulho muito grande da produção nacional. Vamos combinar que a Inglaterra não é famosa pelos seus vinhos, né!? Então cada vez que alguém parava na barraca, ficava todo surpreso e contente de descobrir que existia vinho inglês. Outra coisa de consumidor de primeiro mundo, eles sempre perguntavam se era produzido na região de Kent. Não por um protecionismo de mercado, não senhores. Existe uma cultura que está ficando muito forte no UK de controlar a emissão de carbono das refeições. Consumindo produtos da sua região, você poupa o meio ambiente da emissão de carbono de navios, aviões e caminhões usados no transporte de alimentos . Fala? Dá até uma vergonhinha, não é? Eu, em São Paulo, não controlava minha emissão de carbono nem para tomar café no Suplicy! É legal pensar que existe um mundo em que as pessoas estão tentando, pelo menos em parte, dar uma força. Contribuir para a coisa ser melhor. Penny então me disse para dar uma volta na cidade, que era uma cidade muito bonita, cheia de lojas, que tinha uma doca, e era muito charmosa. Hummmm! Saí do Centro Comunitário e desci pela rua principal. Neste final de semana estava acontecendo o Festival da Ostra de Whitstable. Cheio de gente pelas ruas, as lojas todas fervilhando. Uma vida! O Sol gelado do verão daqui. Crianças lindas fantasiadas, desfilando na Parada que atravessou a cidade no final da tarde. Assim que pisei na cidade tive a sensação de estar naquele filme Pleasantville. Só que depois que todo mundo começa a ficar colorido. As casas são lindas. A atmosfera despretenciosa, mas cool. Em cinco minutos eu comecei a fazer “filminho” (eu preciso um dia colocar um post só com a definição de “filminho” aqui!). Eu saltitando por aquela calçada. Rabo de cavalo na cabeça (no meu filminho eu tenho cabelo comprido). Então eu cumprimento os velhinhos sentados na pracinha em frente à Igreja Anglicana e atravesso a rua para dar bom dia para o dono da loja de vinhos que é vizinha ao meu café. “Good Morning, George. Lovely weather today!”. Então eu abro a porta do meu café, que tem esquadrias brancas hexagonais e cortininha fofa na janela, e começo a arrumar as coisas para os primeiros cliente. Meus clientes são pessoas tranquilas, que lêem o jornal, antes de voltar para seus trabalhos. E não tem nada da frescura de cidade grande não. No meu café sou eu quem faz tudo. Nada dessa coisa de franquia, gerente. Tudo muito caseiro mesmo. À tarde me ajuda uma estudante part-time. E meu marido lindo (no meu filminho eu tenho um marido lindo) passa na hora do almoço para me dar um beijo e deixar a minha Cavalier marrom que eu vou levar no veterinário à tarde. Cinco minutos andando pela avenida principal e eu decidi que queria morar em Whitstable. Abrir um café e escrever livros olhando as pessoas e o mar. Cidade pequena, mas como toda estrutura de comércio. Restaurantes legais. Bares. Spas. Segurança. Uma mísera hora de distância de London. Dá para assistir um show e sair para dançar na “capitar” se der vontade. Eu quero morar em Whitstable!!! YEAHHHH! Achei o lugar em que eu quero morar, e eu quero morar em Whitstable!!! UHUUU! Voltei para casa e dei um google. Porque a primeira coisa que a gente deve fazer quando resolve morar em uma cidade fofa onde já fez até filminho, é dar um google! Dei um google e... descobri que Whitstable é um dos lugares mais “posh” da Inglaterra. Lugar de veraneio de todos os endinheirados de Londres. Uma fortuna para morar. Tipo: Emma Thompson tem um “studio” de frente para o mar. Ok! Entendeu o que eu disse sobre dedo podre? Eu me matando aqui para me elevar, parar de surtar, de fazer besteira. Para ser uma pessoa melhor, mais tranquila. Eu toda crente que estava conectada com as coisas básicas da vida. Despegada no último. Acontece que nessa “Simple Life”, eu estou a própria Paris Hilton!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

TESOURO


Às vezes parece que é febre alta. Delírio. Alucinação. Eu perco a noção de quem eu sou e de onde eu estou. Viro do avesso. Nem é o meu avesso. Quase não me reconheço. Eu abro muito aqui. Escancaro mesmo. Faz parte da proposta. De quem eu sou. Furando a carne, para ver o osso. Eu sou um vulcão. Às vezes entro em erupção. Sobra lava para todos os lados. Cinzas durante dias no ar atrapalhando o tráfico aéreo. Eu falo muito aqui. Estou decidindo falar menos. Decidindo agora. Talvez eu fale mais depois. De uma outra forma, em outro lugar. Mas tem uma coisa que é preciosa demais para mim agora, e eu estou sentindo que ela precisa ficar guardadinha a sete chaves. Decidi hoje. Não falo mais sobre S no blog. Se eu tinha alguma dúvida, não tenho mais nenhuma. Nesse momento isso é entre eu e ele. Com licença, mas eu vou fechar essa porta aqui.

domingo, 25 de julho de 2010

GIVING

De volta à Farmville… vamos falar rapidinho porque está acontecendo um churrasco lá fora. O filho de Steve veio passar o final de semana com três amigos super legais. Uma delícia o fim de tarde com Sol, espumante gelado rodando a taça de todo mundo. E um churrasco delicioso sendo preparado. A minha experiência aqui têm sido melhor do que a encomenda. Embora o trabalho seja maior do que o esperado (todos os dias acabo extrapolando as 5 horas de trabalho combinado) eu estou me sentindo muito bem, mas muito bem mesmo, de pode ser útil. Sabe quando a sua presença realmente faz diferença na vida das pessoas? Tenho me sentido assim. No geral meu trabalho é basicamente fazer o que for necessário. Os dois últimos dias dessa semana eu fiz só faxina. E descobri que adoro fazer faxina. Arrumar, organizar. Transformar um lugar depois de passar por ele. E a casa estava um caos, então nem é difícil “transformar depois de passar”. Muito mais do que uma Stepford Wife, estou me descobrindo uma Monica Geller. Quem nunca assistiu Friends, que atire a primeira pedra. Embora tenha momentos que bate um bode, uma raivinha de estar trabalhando, o que sobra no final do dia é amor, compaixão e uma felicidade enorme de poder ajudar essas pessoas. Mais especificamente uma. Penny. Que me lembra minha mãe algumas vezes, e enche meu coração de ternura. Penny é uma dessas mulheres que batalham em silêncio. Ela acorda super cedo, lava roupa da família inteira, cuida da casa, é motorista da filha adolescente, tranquiliza o ego do marido (que isso, vou falar, é universal. Todos eles precisam de egos tranquilizados.), trabalha nas vinhas, na vinícula, fecha vendas, divulga os vinhos, organiza as refeições da família, planeja a rotina da semana, cuida da cachorra, da gata, dos porcos, das ovelhas. E ainda acha tempo para ser voluntária na criação de uma criança. Um programa que eles têm aqui no UK em que famílias se voluntariam para serem melhores influências para crianças com dificuldades de aprendizagem. Então Sasha, uma fofura de 7 anos, passa metade da semana aqui com a gente. Meu trabalho aqui tem sido aliviar a carga de Penny. Ela já disse que me ama e que não quer que eu vá embora tão cedo. Eu tenho procurado servir, em silêncio. Impressionante que, quanto mais a gente dá, mais parece que a gente fica preenchida. E eu acho que a minha estadia aqui está mudando a vida dessas pessoas para melhor. Ok, não é uma mudança do tipo “Supimpa! Mudou minha vida!”. Mas eu ajudo os dias serem mais suaves de serem vividos. Dou uma aliviada no peso da cruz. Mesmo porque a gente sabe que o peso da cruz é invenção e responsabilidade de cada um. Então nada de piedade também. Só compaixão mesmo. Me enche de alegria só de saber que ela entra em casa no final do dia e olha com alívio para mim. Então o silêncio e a doação. A gente nem sabe quem está ajudando mais a quem. A vida não é um reality show. Não é uma disputa de futilidade para ver quem fica famoso e ganha um milhão. A vida, acho, é feita de coisas assim. De acordar de manhã e deixar o mundo melhor por onde você passar. De fazer coisas práticas, simples, comuns. De chegar no final do dia sabendo que foi útil em algum momento. Tanta gente se poupando. Tanta gente miguelando por aí. Eu não quero miséria. Eu quero abundância. Então agora eu estou doando. Dando tudo o que posso e que tenho. A gente só dá o que se tem de sobra. Isso é o que eu falo, quando falo de amor.

sábado, 24 de julho de 2010

ELEFANTE


Acho que a coisa mais difícil, e a mais fácil, que aprendi nessa jornada de auto-conhecimento é que estar bem não quer dizer estar feliz o tempo todo. Explico. Existem épocas que estou feliz o tempo todo. Exercito amor. Exercito a capacidade de olhar com compaixão para as pessoas. (Acho inclusive que compaixão é uma das maiores conquistas que se pode alcançar). Nessas épocas o mundo se abre. As cores são mais saturadas, os dias possuem um cheiro diferente. Minha capacidade de aceitação fica enorme. E quando eu digo aceitação, digo não apenas de tudo o que a vida oferece, sinto, cheiro, tato. Mas principalmente aceitação de mim mesma. Porque o mais difícil é a gente se aceitar. Sempre gostaríamos de ser mais magras, ou mais altas, mais calmas, mais lindas, mais espertas, mais tranquilas, ou menos falantes, menos ansiosas, menos medrosas, menos atrapalhadas, menos bobas... e por aí vai. E quando estamos nesse estado de felicidade todas essas coisas são aceitas e amadas como características preciosas de nós mesmas. Mas não existe felicidade o tempo todo. Bom, até existe, mas ainda não cheguei lá. Então existe também a época em que todas essas características se tornam pedras de vidro. Perdem a preciosidade. Eu me sinto enfadada com a as pessoas. Marco consulta com o cirurgião plástico. Estouro meu cartão de crédito. Porque nessas épocas a gente também acredita que uma roupa, um sapato, uma maquiagem, vai nos tornar uma pessoa melhor. (Concordo que apenas UMA não, mas quem sabe juntando tudo não dá um upgrade...). É tudo uma questão de auto-estima, insegurança e medo. O que acontece na verdade é que nada muda. Apenas a maneira de nos aceitar. E se eu sou a mesma pessoa que eu era ontem, porque hoje está sendo tão difícil de me amar? Ontem eu estava tão pequenininha que cabia no bolso. Parecia um chaveirinho. Eu peguei meu diário, fui virando as páginas. Lá estavam os dias em que meu coração explodia, parecia um arco-íris. Agora eu era a mesma pessoa. Com alguns dias de diferença. Porque não tinha arco-íris? Eu descobri que o segredo é dar um passo para trás. Conhecem aquela parábola dos Cegos e do Elefante? (Seis cegos são colocados em frente a um elefante. Cada um deles toca uma parte diferente do elefante, e a partir dessa experiência concluem estarem tocando coisas diferentes.) Eu só vou ser um elefante dando um passo atrás e enxergando o todo. Não posso me julgar por uma pata, uma tromba ou uma orelha. Essas são só as partes de quem eu sou, não o todo. Existe uma parte de mim que é feliz, solidária. Uma parte em que o coração explode em um arco-íris. Se eu estou em um ângulo em que eu perdi a visão disso, então eu vou dar um passinho para trás e voltar a enxergar. Porque mesmo que eu não esteja feliz, exultante, eu consigo me enxergar. Ver os fogos de artifício explodindo do outro lado. E eu sou complexa demais para ser uma coisa só o tempo todo. Complexa demais para me aceitar bidimensional. Hoje eu dei um passo para trás e meu coração sossegou. O que eu vi é que eu sou só uma garota assustada, que está completamente apaixonada por um cara. Ele está longe de mim agora, e não saber quando eu vou vê-lo novamente me deixa triste. Eu também não sei se ele está apaixonado por mim (provavelmente não ainda). E isso tudo me deixa triste. Então eu não estou em uma fase feliz o tempo todo, pelo contrário. Estou triste. Muito triste. Eu acordo triste, e passo os dias triste. Eu trabalho triste, e almoço triste. E fico em silêncio no meio da tarde porque por dentro eu estou muito triste. De vez em quando eu choro escondida no cantinho. Porque tristeza a gente não segura. Eu vim procurar um monte de coisas nessa jornada, e parece que elas estão todas aqui na minha frente. Mas eu não posso tocar. Ou talvez essas não sejam as coisas que eu procurava... Ou talvez esse tipo de coisa não seja para tocar mesmo. Ainda assim, é só um elefante. Olhando de longe é isso. Olhando de longe eu tenho milhões de coisas boas. Mesmo triste. Eu tenho uma fonte inesgotável de amor. Então eu aceito tudo isso. Eu aceito a dor, a incerteza, as lágrimas escondidas no cantinho. E descubro que no fundo eu estou bem. Só triste. Muito, muito triste.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

MEDO

Eu já falei aqui algumas vezes. De como eu acredito que o único jeito de vencer o medo é através do amor. Nem sempre isso é simples. Deveria ser, mas não é. Às vezes o amor desaparece da minha vida. Fica fraquinho. E o medo toma conta de tudo, como erva daninha. Se alastra. Domina tudo. Então minha vibração vai lá para baixo. Fico obsessiva, chata. Acabo me torturando e me machucando. O problema é que é um círculo vicioso. Ontem fiquei um tempo conversando com o Kallel depois de um dia bem puxado de trabalho. K é a pessoa que mais me ensina amor (e olha que a gente se estapeia de vez em quando). Eu falava para ele onde eu estava (emocionalmente, não fisicamente), de como eu estava ansiosa, em dúvida. E tudo isso tem um só nome. S. Eu me entreguei e agora estou me arrependendo. Com voltade de voltar para o trampolim. O problema é que não se volta para o trampolim sem sair da piscina. Depois que pulou, pulou. Aproveita a água. Ou lambe os azulejos. O que vier primeiro. Meu coração se espreme todo com milhões de questões que a minha cabecinha insiste em correr atrás. Milhões de “e se”. “E se ele conhece outra pessoa?”. “E se ele virar para mim e disser que não está preparado para um relacionamento agora?”. “E se eu pulei, mas ele nem subiu no trampolim?”. “E se eu nunca mais vê-lo?”. “E se...” Tudo o que K me respondia era “Isso não lhe diz respeito”. HEIN!??? Como não? “Se vocês vão ficar juntos , ou não. Não depende de você. Isso é com Deus. Você vive.” Mas eu não quero me machucar. Eu não quero ser abandonada. Eu não quero que doa. “Se doer, é porque tinha que doer. É porque você precisava aprender alguma coisa. Daí você vive a dor e agradece o ensinamento.” Ah, tá bom! Estou cansada de histórias de dor. Gato escaldado... e todo mundo sabe que eu sou uma cat person. K já estava me irritando com esse zen budismo todo, já estava com vontade de tacar o skype na parede. Eu preciso de respostas, de controle... “Você está com medo”. Ahááá!!! Verdade. Estou vivendo medo. Nem vi como ele foi entrar. A pior coisa do medo é que ele deixa nossa alma pequenininha. A gente começa a se debater, tentando controlar as coisas, tentando segurar um rio com a palma da mão. A idéia de controle cria uma ilusão de segurança. Então vem o ciúmes, a auto-estima vai pro chinelo. É nesse ponto em que a gente começa a machucar as pessoas. Principalmente a nós mesmos. Sabe porque a gente pula do trampolim? Porque é gostoso. Porque é um sensação incrível de entrega, de liberdade. Porque é muito triste ver um trampolim e só ficar olhando. Ver um trampolim e não saltar. O medo congela a gente. Nos impede de viver, de aproveitar. Gera intolerância. Gera muito mais dor do que pular em uma piscina vazia. Acredite em mim. Eu tinha feito um trabalho muito bom em tirar o medo da minha vida. Relaxei só um pouquinho e cá está ele de novo. Um deserto de medo, e eu parada bem no meio. Agora é achar um caminho para sair daqui. Achar um caminho que me leve de volta para onde haja amor, aceitação, entendimento (em vez de medo, dúvida, angústia). É difícil. É doloroso. Eu nem sei por onde começar.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

MEU CARO AMIGO

Às vezes fica tudo uma bagunça. E só quem já ficou muito tempo longe de casa (e muito tempo sem casa nenhuma) é que vai entender como um email como esse faz o dia da gente ficar mais lindo. Obrigada Eva! De coração.

"Nos últimos 2 dias me pus a ler seu blog; resultado: viajei com você por um mês no seu Promance até sua vinícola! Senti meio que invadindo, espiando pelo buraquinho dos seus campos de lavanda, mas acalmei a sensação dizendo que afinal, os blogs devem ser pra isso mesmo, né? Muito bacana; você consegue mesmo ir contando, vivendo, de um jeitinho bem humorado e a gente vai indo, indo, quando vê, foi. Tô aqui torcendo pelo próximo capítulo da novela S, fiquei íntima da história.
Percebi que a falta da referência diária do Brasil, mesmo sendo exatamente o que você foi atrás, contem uma certa vontade sua.

Muito bem, como diria o santo Chico,

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Não deve ser de notícias que você tem falta, afinal existe o UOL, a Veja, a família, amigos, telefone, etc.

Então, umas coisas que tão por aí:
- um inverno esquisito, poucos dias bem frios como gosto; mesmo estes cheios de chuva, depois de 1 mês sem, enchendo os fins de tarde daquelas cores tão lindas quanto poluídas.
- a vingança da colonização está acontecendo: o Serra está com um vice, um tal deputado Índio da Costa, que só abre a boca pra falar besteira e deixar o negócio pior do que já está a favor da fofa da Dilma.
- o visual que o Celso Kamura fez pra Dilma está arrasando. Tem fila na porta dele pra fazer igual.
- o Bruno, goleiro do Flamengo é mais notícia do que tudo; só se fala nos depoimentos, em onde enfiou a moça Eliza, se os pit bulls realmente comeram a carne da dita cuja e por aí vai.
- a situação econômica do país é relatada como maravilha, só não encontro ninguém que pense isso quando olha a própria vida.
- a novela das 9 (vulgo 8) é um saco, mas a Mariana Ximenes está dando um banho de vilã.
- o Dunga sumiu, escafedeu-se, ninguém ouve falar nem tem saudade; espera-se ansiosamente o anúncio do novo mágico. Será Felipão? Será Mano Menezes?
- o trem bala vai e vem na imaginação de muitos e nada rola.
- o Largo da Batata está ficando lindo, quase nem parece mais aquele lixão.
- a Marina Silva e seu vice, Guilherme Leal (Natura) combinam tanto quanto goiabada com brócolis.
- o JB deixará de circular em versão impressa, fica só na @. Triste.
- as manicures brasileiras continuam arrasando.
- parece que a Noemi vai dar um curso sobre literatura, num sábado por mês, neste semestre. Que tal?
- o gordo (Ronaldo) continua gordo.
- o baixo Augusta continua bombando nas nights.
- os restaurantes continuam enchendo o saco com "espumas" de tudo.
- só se fala na %$#@ da Copa de 2014, como se fosse amanhã.

Beijo, curta o rosé por mim.
Eva."

Ah, para constar. Essa é minha música favorita do Chico....

quarta-feira, 21 de julho de 2010

FARMVILLE

Howdy Farmers!!!!!!!
YEAP! Eu já andava de bode monstro do Facebook, pensando muito em abandoner minha fazendinha do Farmville. Agora é que não faz mais sentido mesmo ficar perdendo meu precioso tempo em uma fazendinha virtual quando eu tenho uma de verdade pra brincar. Parece mesmo uma farmville. A gente fica na Manor, que é grande, tem duas salas com lareira, uma sala gigante de jantar junto com a cozinha. A pia fica de frente para uma janelona que dá para o quintal e para a winery. Tem um barn (mas é dos vizinhos). Um Pond. Com um pequeno deck para sentar e patinhos nadando. Os patinhos são os melhores. São bebês-patinhos e saem todos desesperados se batendo na água para acompanhar a mãe. Um barato. Ao lado do pond, uma árvore grande com um pneu fazendo a vez de balanço. Uma mesa grande de madeira com bancos e uma churrasqueira de metal. Descendo um pouquinho tem uma estufa de vidro. Lembro que demorei tanto para comprar a minha no FV. Então entramos nas vinhas. Todas enfileiradinhas. Mas a propriedade não é muito grande. Tanto que são os dois quem cuidam sozinhos de tudo. De plantar e colher, a fazer o vinho, engarrafar e vender. Ontem eu salvei a vida de um coelho. Era um bebê coelho, tão fofinho. A gente estava trabalhando na “lavoura”, e a Jesse (a cachorra doidinha que segue a gente para todos os lados) estava igual louca brincando com alguma coisa nos arbustos ao lado. Então Kate (uma outra adolescente, garota da cidade, que é voluntária aqui e ajuda a gente todos os dias) comenta, “Ah, Ela achou uma toca de coelho.” Hein!??? Lá estava a cachorra jogando um filhotinho de coelho para cima e para baixo. Então eu saí correndo, porque o coelhinho estava vivo. Penny disse que na verdade eles queriam que o coelhinho estivesse morto, porque coelhos comem uvas. (E são como uma praga por aqui, estão para todos os lados) Mas eu não resisti, e peguei o filhotinho no colo. Era tão fofinho, todo marrom. Com o coraçãozinho disparado de tanto medo. Abracei o coelhinho, e esfreguei meu nariz no focinho dele. Penny ficou morrendo de dó da minha cara e me deixou devolver o coelhinho para dentro da toca. No almoço ela comentou com Steve. Steve todo contente de se ver livre de pelo menos um coelho comedor de uvas. Quando ela disse que eu soltei, Steve olhou para mim como quem diz “Meu Deus! O que eu vou fazer com essa brasileira maluca!”. Então eu sorri e encolhi os ombros. “Eu tenho certeza de que, quando ele crescer, vai ser bem saboroso... Mas agora é ainda um bebê!”. Então a gente mudou o assundo para o sabor da carne de coelho, e como o final de semana vai ser frio e com chuva. Muito bom. Tenho vários livros para ler e alguns capítulos para acabar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A SIMPLE LIFE

Eram 20h ontem quando Penny levou nossos pratos para a mesa do lado de fora da casa. A cozinha tava toda perfumada com o pedaço de porco assado que ela tinha feito. Alguns legumes e batatas salteados. Sentamos Ela, Steve e eu. O clima um pouquinho pesado porque eles tinham acabado de ter uma discussão sobre o espumante rosè que tomávamos na refeição. Parece que o espumante não estava dentro dos padrões de qualidade de Steve, mas eu e Penny gostamos. E tomamos a garrafa inteira. “Isso não é comum, viu! Jantar do lado de fora, à essa hora aqui em Folkestone.” Steve disse isso porque o tempo tem estado agradável e quente até à noite. Folkestone costuma ter noites frias. Depois arrumamos a cozinha, fizemos um chá. Subi para o meu quarto e fiquei lendo um livro até 23h30, quando meus olhos já não se aguentavam sozinhos. Foi assim que terminou meu primeiro dia de Helpx na vinícula de Penny e Steve. Antes disso eu ajudei na winery durante a tarde. Lavando garrafas, selando a rolha e etiquetando. Separamos alguns pedidos que iam para restaurantes e organizamos em caixas. Ainda tive tempo de trabalhar um pouco no livro, conversar com S pelo Skype, trocar mensagenzinhas rápidas com os amigos e responder emails. A vinícula de Penny e Steve fica em Folkestone, Sul da Inglaterra. É uma propriedade pequena e nada longe da cidade. Dá para dar uma caminhada, andar de bicicleta. Bem menos meio do mato do que eu estava me preparando. A casa é grande, cheia de quartos, super confortável. Eu estou no quarto que era do filho de Penny. (Ele aparece aqui todos os dias, mas saiu de casa e foi morar sozinho). No fundo da propriedade ficam as vinhas, depois tem mais um pouquinho de terra, o mar, e a França. Juro que dá para enxergar daqui. Além dos dois, mora aqui Rose. A filha adolescente de Penny. Que é linda (mas é adolescente). Passa quase o dia todo fora de casa e quando chega, se tranca no quarto e ouve heavy metal no último volume. Tão alto que consigo ouvir daqui da cozinha. Parece que semana que vem ela vai para um acampamento de verão. Hum! E semana que vem também chega um outro Helpx que vai ficar por aqui. Um canadense, que vem todos os anos ficar com eles. Hoje o trabalho foi diferente. Depois do café da manhã fomos para as vinhas. Houve muito vento nas últimas semanas e as parreiras estão parecendo umas couve-flores. Todas abertas. A gente passou a manhã amarrando os galhinhos das parreiras, porque Steve precisava pulverizar hoje à tarde. No começo foi divertido. Eu sou meio obsessiva com padrões estéticos, então era como ligar no piloto automático e fazer um mantra. Até terapeutico. Depois de algumas horas eu já estava achando um bode. Penny dividiu as tarefas da cozinha. Cada dia eu, ela ou Steve somos responsáveis por cozinhar. Hoje é o meu dia. No almoço não rola uma culinária. Como eles voltam para o lerêlerê, preferem fazer um lanche, comer coisas leves e frias. Então eu basicamente abri um monte de potinhos com saladas, cole slaw, feijões, grãos de bico, ervilhas, salmão defumado, couscous gelado. E botei tudo em cima da mesa. Para não dizer que não cozinhei, peguei o resto da carne que Penny assou ontem para o jantar, dei uma refogada com tomate e pimentão, e tcharã! Mega sucesso da culinária brasileira! Adoraram, me elogiaram. E eu fiquei toda pimpona! Tão pimpona que liguei a Stepford Wife no 220, fui até a horta e colhi cenouras. Lavei, cozinhei com vagens. Fiz uma maionese e deixei na geladeira para o jantar. E como eu tô pimpona que nem me aguento, saí fuçando nos armários para ver o que tinha e o que não tinha e resolvi assar um bolo. Bolo de laranja. Bati a massa na mão, do jeito que minha avó me explicou. As apostas estão de 250 para 1 de que o bolo vai solar. Eu não tenho dúvidas. Vai solar! Daqui à pouco começo a cuidar do jantar. Tô me adorando toda dona de casa! Quero ver quanto tempo vai durar. Amanhã talvez eu acorde mais cedo. Dar minha corridinha matinal. Hoje eu tava de bóia-fria. Não rolou. Acho que fiz a escolha certa vindo pra cá. Ainda não senti muito como vai ser a rotina, o trabalho. Quanto vai ser produtivo para mim. Mas em 24 horas eu já me sinto outra. Estou calma, serena. Feliz, e amando denovo. É uma vida simples. Coisas simples. Não importa muito qual o trabalho que eu tenha de fazer, aqui eu sinto que eu posso simplesmente ser.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

TO THE COUNTRYSIDE

Último dia em London, e fez um domingo lindo de Sol. Eu cheguei aqui achando que ia me espreguiçar nos parques, fazer picnic. Mas foi uma semana inteira dando 15-18 graus. Todos os dias nublados e meio úmidos. Hoje não tinha cara de verão. Mas estava quente e bonito. E o céu estava bem azul. Eu fui almoçar com a Flo em Hampstead. Foi como se London me pedisse uma trégua. Como se ela estivesse falando para mim que era uma metrópole sim. Que era uma baita de uma cidade. Mas que também guardava lugares gostosos e agradáveis. Ruas lindas, cheias de lojinhas e mercados escondidos. Onde pessoas também lindas passeavam com seus amigos e seus filhos, igualmente lindos. Daí fica tudo com cara de fofo. Com cara de “Kings of Convenience”. A gente comeu mexilhões e tomou vinho rosè. Eu estou com essa coisa de tomar vinho rosè desde a França. Mentira. Desde novembro do ano passado. Fez tanto calor no Brasil que eu mudei todos meus vinhos da adeguinha para rosados. Gosto do tinto só no inverno. Sozinha, a luz de velas. Ouvindo Bob Dylan. No resto do tempo gosto de champagne e rosé. E gosto quase nada dos brancos. Nunca tomo. Hoje tomei rosè. Depois a gente andou pelas lojas. Summer Sales em London. Juro que ganha um certificado de elevação espiritual quem voltar para casa sem nem uma sacolinha que seja. Eu quase consigo. Mas é que precisava comprar algumas coisas mesmo. Um moleton, para ficar mais confortável no campo. Camisetas de manga comprida, que eu não comprei ontem porque a Oxford Street parece final de micareta. Com o chão cheio de urina e cerveja, e gente bêbada pelo canto. Simplesmente não vale a pena. Tão difícil achar coisas básicas. Básicas, confortáveis, simples. Hoje tem tanta gente criativa, tanta gente querendo por tanta personalidade em tanta coisa. Que difícil mesmo é comprar uma simples camiseta de manga comprida cinza. Sem uma costura, ou laçarote, ou nheco-nheco que algum estilista (de ego enorme e modéstia mínima) achou que seria legal colocar. Acabei na GAP. As coisas são simples lá. Sai com uma sacolinha na mão e muito feliz de estar básica, simples e confortável hoje. Comprei 3 livros também outro dia na Stanfords em Covent Garden. Minha livraria favorita aqui, de longe. Tudo bem que ela é especializada em livros e artigos de viagem, guias e mapas e etc (já falei dela aqui em “Três lojinhas para amar em Londres”). Mas eles são tão incríveis que possuem prateleiras de livros para ler durante as viagens também. (AHÁÁÁ!!!) Uma seleção de romances que combinam com a viagem que você quer fazer. Tem até um setor dividido por países. Ou seja, se você vai viajar para o Brasil a sugestão deles é “Cidade de Deus” de Paulo Lins. (Mas eu acho que eu não ia querer viajar para o Brasil depois de ler esse livro... pior ainda ir lendo enquanto está esticando as objetivas por aí!) Mas eu comprei três livros aleatórios. E a quantidade foi só porque havia uma promoção de “Compre 2. Leve 3”. Eu não resisto à promoções. Ainda mais de livros. Então eu tenho combustível para as próximas semanas. Roupas confortáveis. Livros. Bastante material para escrever. Ainda não tenho nenhuma informação sobre como vai funcionar a coisa no Helpx. Se vou ter conexão wi-fi no lugar que eu escolhi ficar. Então é possível que eu tenha dificuldades em postar por aqui. Descubro em algumas horas. Agora vou terminar de empacotar. Ir para a estação de St. Pancras. Fazer a experiência que eu escolhi. Ao meio dia minha hostess vai me pegar. Não vejo a hora de chegar. Estou indo bem. Estou indo com vontade. Melhor, fiz as pazes. London, não é nada pessoal. É só que talvez eu não seja uma garota cosmopolita. Que eu não seja uma garota de cidade como eu sempre achei. Talvez eu seja de lugares pequenos e pessoas com vidas comuns. De vida em comunidade. Amizade com vizinhos, bolo caseiro e chá às 17h. Talvez eu seja mais low profile. De brincar com border colies. Talvez eu seja isso. Não sei. Eu brinquei bastante tempo de cidade grande. Pelo menos nas próximas semanas vou brincar diferente.

domingo, 18 de julho de 2010

HARUKI


Outro dia eu estava falando de correr aqui e lembrei agora desse livro que eu li há alguns meses atrás. Li em inglês, mas eu acho que já foi lançado no Brasil. Provavelmente com uma tradução literal do título. É um livro de memórias do escritor japonês Haruki Murakami. Bem gostoso de ler, mesmo que você sinta calafrios só de olhar para um tênis de corrida. Enquanto treina para a Maratona de NY ele vai lembrando de como a decisão de virar escritor fez com que ele começasse a correr. E como o hábito de correr longas distâncias ajudou-o a construir seu caráter e dar consistência a sua carreira de romancista. Afinal, escrever um livro é uma maratona. Uma lição de vida. Ajuda a gente a rever várias coisas. Muito sábio, Sr. Murakami!
Antes que dê preguicinha, o livro em si não é nenhuma maratona de 600 páginas. Bem compacto, dá para ler em uma sentada. ;-)

LONDON, LONDON

Às vezes a gente precisa dar uma volta inteira para ver como nossa percepção de nós mesmos mudou. Explico. A primeira vez que eu estive em London foi logo no começo da jornada. Eu tinha passado um tempo com minha irmãzinha Carol, viajado um pouco por Portugal, e estava começando a me colocar no ritmo da jornada. Quem já teve gato vai entender o que eu estou falando. Quando você muda de casa e leva um gato para uma casa nova ele demora um tempo para se soltar. Cachorros não. Cachorros saem correndo para todos os lados, se batendo, babando, cheirando, fazendo xixi nos cantos. Mesmo porque eles nem fazem muita idéia de onde estão ou porque. Gatos são diferentes. Gatos se escondem em um canto em que se sentem seguros e ficam observando o espaço por um tempo. Depois eles arriscam atravessar o cômodo. Ainda encolhidinhos, até alcançar algum outro buraco. O importante para eles é que estejam em lugares que se sintam protegidos. “Entocados”. Até se sentirem seguros no ambiente novo, eles arregalam os olhos e ficam atentos. Só depois de terem certeza de que estão em casa é que começam a circular alegremente de um lado para outro. Eu sou uma cat person. Eu me entoquei, e quando eu vim para London foi quando eu comecei a circular de um lado para o outro. E London teve cara de casa. Porque me trazia tanto de São Paulo. Porque é uma cidade grande, cosmopolita. Sem o trânsito caótico. Com tanto mais acesso e civilização. Com mais respeito nas ruas. Sem tantos dos defeitos que dava dó em São Paulo. Então eu viajei. Fui para Dublin, voltei para Portugal. Fui para Espanha. Tive a experiência fantástica de Marrocos. Então Itália, e tanto amor na Itália. O test-drive na França, (que só chegando aqui é que eu fui me dar conta de que foi um turbilhão, e foi intenso, e me afetou muito mais do que eu estava imaginando). Então chegar em London foi como voltar para casa. O problema é que eu não quero voltar para casa. Mesmo melhorada. Mesmo sem tantos defeitos. Londres é uma cidade grande. Maravilhosa, irresistível, cosmopolita. Tudo o que São Paulo também é. Mas é também uma Plaza de Toros. E eu já falei aqui como estava saindo das Plazas de Toros. Não existe nada lá fora que eu não conheça. Nada que possa me maravilhar. Não da maneira que eu quero ser maravilhada. Hoje combinei de almoçar com a Flo. Estou aqui enrolando para tomar um banho depois da corridinha. Tenho taquicardia de pensar no tube. Ontem fui comprar camisetas de manga comprida para o friozinho que tem feito. Oxford Street e eu com vontade de chorar. Nem consegui comer o resto do dia. Eu sei, é até pecado. Me sinto no fundinho um pouco culpada. Estou em uma das cidades mais incríveis do mundo, e eu não quero ficar aqui. Ainda bem que já comprei minha passagem. Amanhã pego o tube pela última vez. Para uma estação de trem.

sábado, 17 de julho de 2010

HELPX

Ah, para quem se animar também com a idéia. Tiver afim de passar as próximas férias cuidando de lhamas na Escócia, ou dando aula de inglês para crianças no Quênia, ajudando a reformar um casarão do Séc. XVIII no Sul da França, trabalhando em um hostel no Peru, ou ainda cuidar de kangurus na Austrália; só se inscrever no site:
http://www.helpx.net/
Alguns anúncios são bem malucos (Tem bastante gente maluca no mundo!), mas na maioria são experiências que a gente adoraria tentar. Nem que fosse só por uma semaninha na vida.

DÚVIDAS, DÚVIDAS...

É sempre assim na vida. A gente sempre tem alguma minhoquinha na cabeça para deixa a gente louca. Primeiro eu cheguei aqui em Londres, sem ter a menor idéia de para onde ir. Eu sabia mais ou menos o que estava procurando, mas não sabia direito onde encontrar. Até que essa situação de stand by por uns dias foi bom para mim. Me fez pensar em um monte de coisa. Me fez dar risada de algumas coisas também. Eu troquei idéia com vários amigos. Ouvi sugestões. Minha vontade sempre foi sair de Londres, ir para algum outro canto. Mas eu também não queria ficar pulando igual macaco. 2 dias aqui. 3 dias ali. 5 dias acolá. Deus! Uma hora alguém precisa parar com essa loucura. Tenham uma coisa em mente. Tirar férias é completamente diferente do que eu estou fazendo. Tirar férias a gente pode até pular de galho em galho. Mas a gente se planeja para isso. Geralmente com meses de antecedência. Arruma mala, lê todo o guia. Compra ingresso para os shows. E depois faz o pula-pula. Mas dura umas duas semanas. Vinte dias no máximo. Eu estou fazendo isso há quase cinco meses agora. E essa coisa de fazer planos eu já descobri que não é uma boa idéia uns três meses atrás. Então o que eu mais quero agora é uma experiência diferente. Nada de tour, de fotos na frente de igrejas. Nada de restaurantes e bares. Eu estou procurando por outro tipo de experiência. Então resolvi fuçar no Helpx. Ouvi sobre o Helpx pela primeria vez em Maio. No avião, indo para Marrakech, sentei do lado de uma francesa bem doida que estava me contando que vinha de 30 dias colhendo frutas em uma fazenda no interior da Espanha. (Hein?) Funciona assim. O Helpx é uma entidade de help exchange. Um site (na linha Couch Surfing) onde pessoas que precisam de ajuda para as mais diferentes tarefas oferecem estadia e alimentação para viajantes que estão afim de dedicar um pouco do seu tempo ajudando no trabalho e convivendo com eles. Existe no mundo inteiro e tem de tudo. Muitas das ofertas são no campo, ajudar em fazenda, ordenhar vaca, alimentar porco. Ou em reformas de casas. Pintura, jardinagem, etc. Eu passei a semana inteira fuçando e fuçando. Mandando solicitação para alguns hosts no interior da Inglaterra. Recebi algumas respostas dizendo que não tinham disponibilidade. Alguns silêncios. E algumas pessoas bem empolgadas em me receber por um par de semanas. Daí veio a questão crucial (e para a qual eu não tinha me preparado). Escolher. Mandei solicitação para uma meia dúzia de hosts, mas imaginei que como está meio em cima da hora, se tivesse sorte arrumaria um lugar. Não imaginei que teria várias opções para escolher. Então fui pro eliminação. E sobraram dois. Dois que estão me dividindo ao meio. O primeiro é uma vinícula ao norte de Londres. Montanhas, caminhadas. Paisagens absurdas. Bastante contemplação. E vinho nas refeições. Esse era meu host favorito quando mandei as solicitações. Mas o que me deixou com um pé atrás é que ela precisa de alguém para fazer serviços domésticos. (Lá vai Maria!) Limpeza, ajuda na cozinha. Lavar, passar. Não vai rolar muito trabalho nos vinhedos ou na vinícula. Verdade que tem o vinho nas refeições, mas... O segundo me pegou de surpresa. É uma mulher super astral. Ela tem uma escola de inglês e faz intercâmbio... com crianças! Na verdade foi ela quem entrou em contato comigo quando viu meu perfil. Eu nem tinha visto o anúncio dela antes. Ela precisa de ajuda para arrumar as camas de manhã, dar uma mão no breakfast. E cuidar das crianças, em excursões para Canterbury e London. Fica na costa Leste, na região de Kent. Verdade que não tem vinho, e que a criançada pode sugar minha energia. Mas é na praia, e eles são super esportivos, e tem toda a promessa de diversão e adrenalina. Então eu preciso mandar um email, para um desses hosts, e tomar minha decisão logo. Porque, seja para uma vinha ou para a versão disney, eu preciso estar lá na segunda-feira com a minha mochilona. Embora sejam experiências completamente diferentes, meu coração está no meio. Tem uma parte de mim que quer me enfiar no meio do mato e ficar em silêncio. Uma outra parte que acredita que me jogar no meio da criançada vai ser revigorante. Eu fico olhando para os dois emails e não sei o que fazer.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Eu gosto do OSHO...

"O mundo é como você é. É complicado se você for complicado. É muito simple se você for simples. Por outras palavras, você é o mundo. A mente torna tudo complicado. Até a coisa mais simples se torna complicada pela simples razão de que a função da mente é lutar contra as complexidades e ganhar em terrenos que ela própria projectou. Mas, para o coração, tudo é simples. O coração aceita simplesmente o mundo como ele é. E se conseguir ir um pouco mais fundo, para o ser, até a palavra é demasiado complicada. As coisas são como são. E nesta experiência, a existência passa a ser a sua casa - não uma luta para resolver problemas, não uma confusão de emoções, mas um lugar para descansar, relaxar e deixar as coisas serem como são."

Então tá!

COISAS QUE EU ADORO NAS MINHAS AMIGAS

Atualizando a vida ontem no Skype, uma amiga me contando do date da noite passada...

"Agora, Cara! ODEIO quando eles não fazem a barba. Eu estou usando ácido. Fica tudo sensível!!!"

BOUTIQUE

Mudei de hostel na quarta. Estava em um super bem localizado (em frente ao Hyde Park), mas daí achei esse e foi melhor coisa que eu fiz na vida. E é o melhor hostel que eu já estive na vida. O Hillspring Lodge. Para começar que eles se auto-denominam “Boutique Backpackers”, o que já bota um respeito. Neguinho vira para você e diz que está em uma “Boutique Backpackers”, a gente até levanta a sobrancelha. O lugar parece um hotel. Extremamente limpo, super confortável. Os quartos são espaçosos, cheios de lugar para desempacotar (coisa rara em hostel). Tudo funcionando a cartão. Porta do quarto, de acesso ao corredor, do locker. O café da manhã é até melhor do que eu tive em alguns hotéis. E fica todo cercado de árvores, em um bairro residencial super tranquilo. Lógico que é mais afastado. Pegando a Jubilee Line, depois de Swiss Cottage, quase Zona 3. Mas eu não pude resistir em soltar um sorrisinho e agradecer milhões de vezes ao astral quando cheguei aqui. É como ficar em Londres, sem ter a loucura da cidade grande. Eu sou mesmo muito sortuda e abençoada, porque tudo o que eu peço a vida se encarrega de mandar. Quando quero dar uma volta, o metrô é do lado e dá para passear, ver lojas, etc. E quando eu quero ficar ostra, o hostel tem bastante espaço e áreas comuns. Wi-fi para todos os lados, um bom lounge, um bar legal, mesa de bilhar. Os dias aqui tem estado com cara de outono/ inverno em São Paulo. Garôa fina, nada de Sol. Aquele friozinho gostoso que dá vontade de ficar na cama e assistir DVD com pipoca. Então eu estou pegando leve. Vou correr no parque aqui perto. Me entupo de canecas de café. Escrevo. Escrevo. Exatamente o que eu queria fazer. Ainda não sei se continuo ou não em Londres. Se vou ou não para o interior. Mas por enquanto está confortável ficar aqui. E eu não passo de uma preguiçosa folgada. Fico sempre onde está confortável.


Ah, para vocês verem: http://www.hillspringlodge.co.uk/

quinta-feira, 15 de julho de 2010

RUN LOLA RUN

*aquele pontinho no fundo sou eu correndo da tempestade de raios em Gorges du Verdon.

Eu comecei a correr com 28 anos. Quase seis anos atrás já. Um dia acordei, olhei no espelho e tinha uma boêmia lá. Olheiras profundas reforçadas pelo rímel da noite em claro. Inchada de cerveja. Uma ressaca moral de virar o quarteirão. Daí tocou uma sirene na minha cabeça. “Atenção Senhores Passageiros: Última chamada para quem quer chegar aos 40 inteirona. Embarque imediato.” E foi ali que eu decidi que ia embarcar e mudar todo meu estilo de vida. No começo foi bem radical. Sumi da noite, entrei em uma dieta espartana. Desinchei 7Kg, e em poucos meses já estava correndo 4Km todos os dias. Nunca tive a intenção de correr exatamente. Comecei caminhando. Eu grunhia, de tanto mal humor. Pensava em desistir todos os dias quando o relógio despertava. Mas como a gente sabe que perspectiva é tudo (e MH sabe das coisas!), falava para mim mesmo que eu só precisava fazer aquele dia. Um dia de cada vez. (AH! A gente precisa se tratar como uma dependente química de vez em quando.) E fui andando, andando. Bufando e andando. Até que andar ficou fácil. Então eu comecei a correr e andar. Correr e andar. Até que um dia eu só estava correndo. Acordava, caía na pista e corria. Meus dias começaram a mudar completamente. Era nítido. Eu tinha os melhores dias quando acordava cedo e corria. Como a motivação estava em alta, me matriculei e frenquentei direitinho uma academia pela primeira vez. (Até então eu era a tradicional turista. Sempre me matriculava, ia duas semanas e sumia, perdendo cheques que eram depositados todos os meses por donos de academias felizes!) Nessa época também resolvi participar da minha primeira corrida de rua. A Nike 10K. Essa é uma corrida bem legal. Rola no mesmo dia, em várias cidades do mundo. Tem um clima bem festivo, muita gente bonita e animada. Mas até aí, eu nunca tinha corrido 10K na minha vida e estava com medo. Comecei a treinar, conversava com o professor da academia. Na véspera bateu um medinho. Quase desisti. Meu professor me ligou no celular e me deu um dos maiores sermões que eu já ouvi. “Tá louca? Você está treinando há tanto tempo. Se esforçou tanto, tá preparada. Vai desistir porquê? Por que é boba?” Então eu fiquei com vergonha, acordei no domingo cedo, amarrei bem forte os cadarços dos tênis e corri 10K. O mais incrível? Foi fácil! Conforme eu cruzei a linha de chegada, mesmo cruzando depois de milhares de outros corredores, não importa. Quando eu cruzei a linha de chegada, eu tinha conseguido aquilo sozinha. Eu tinha me proposto a fazer uma coisa e conseguido. Daí para virar rata de academia foi um pulinho. Durante um bom tempo eu acordava 5h30 todos os dias. Corria 8K, fazia musculação, aula de jump, step, GAP, abdominal, alongamento. Ficava pelo menos 3 horas na academia todos os dias. Tive o melhor corpo da minha vida. Sério! Dá vontade de chorar só de lembrar. Sabe aquelas barrigas tanquinho? Eu tinha! Comprei até um biquini de lacinho branco. Tamanho P. Mas acho que o segredo é encontrar a medida das coisas. Encontrar o equilíbrio. E eu não queria ser boêmia barriguda, mas também não queria ser rata de academia. Então fui fazendo adaptações. Liberando a dieta, cancelando academia. Voltando a sair mais vezes. E o que sobrou foi onde eu comecei. A corrida. Verdade que eu não tenho sido das mais disciplinadas. Não tenho corrido nada durante a viagem. Mas correr faz parte da minha vida, mesmo quando eu não tiro os tênis da mochila. Como agora estou querendo dar uma pausa e resgatar o que é importante para mim (para ver se eu me acho no meio de tudo), a primeira coisa que eu fiz chegando em Londres foi retomar a corrida todos os dias. Estava em um hostel em frente ao Hyde Park. Era só atravessar a rua. Então eu acordei e fui correr. Dava a volta na Serpentine olhando os cisnes descansando nas margens. Eu e todos os londrinos saudáveis, com seus Ipods e cachorros a tira colo. E o resultado é que esses dias têm sido muito mais produtivos do que todos os outros até agora. A corrida é um elemento essencial de saúde para mim. Me aterra, me deixa mais calma. Mais confiante. Relaxada. Aprendi muito correndo. Aprendi a ser tartaruga. Que sempre vai dar vontade de desistir, mas daí a gente lança mão da filosofia da tartaruga e da lebre “Devagar e sempre!”, então eu vou no meu ritmo e tento me manter constante. Aprendi que eu posso sempre me superar. Que a sensação de chegar no final faz a gente se sentir capaz de qualquer coisa. Que os momentos em que eu passo com meus pensamentos, enquanto meu corpo corre, são os em que eu estou mais consciente em todo o dia. Que muitas vezes é dolorido, ou exaustivo, mas passa. Sempre passa. E a endorfina se espalhando pelos músculos quando a gente termina uma corrida é sublime. Que eu não preciso ser a melhor, ou a mais rápida, ou a mais resistente corredora do mundo. Que não adianta colocar metas absurdas (Vou correr 10K em 35´!!!), porque as conquistas são feitas aos poucos. Um pacinho de cada vez. Não estou dizendo que corrida é o melhor esporte do mundo, ou que “Só a Corrida Salva!”. Só que, correr funciona para mim. Cabe na minha mochila. Tem épocas que corro sempre, tem épocas que rola uma preguiça. Mas nos últimos seis anos, com tudo o que eu mudei, que eu fui e deixei de ser, a corrida é sempre uma constante. E cada vez que eu me entrego a ela, sinto minha vida mais inteira. Então agora que eu estou em um gap. Que eu não sei direito o que fazer ou para onde ir. E que meu coração está na Irlanda. Tem sido uma salvação encontrar a corrida novamente. Porque ela me ajuda a ter certeza de que vai passar. E depois, é nesses momentos em que a corrida fica “pesada” que a gente conquista o melhor trabalho cardio-vascular.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

SHAKESPEARE AND COMPANY

Pois é. Eu estou em London, mas a Shakespeare and Company que eu quero falar fica em Paris. É uma dessas dicas legais que a gente só ganha porque está com um guia. A fofa do Free Tour de Paris que nos levou lá. Essa livraria fica no Quartier Latin, do lado oposto ao rio da Notre Dame. O fundador, Sr. George, mochilou por anos pela América do Sul e sempre ficou tocado com a hospitalidade das pessoas que ofereciam hospedagem e comida para ele. Quando voltou à Paris ele abriu uma livraria, e resolveu devolver o favor. Hospedando escritores e artistas. No andar de cima, no meio das prateleiras, tem essas camas onde mais de 50 mil escritores repousaram suas cabecinhas pensantes durante a noite. Figurinhas como Henry Miller, Anaïs Nin (meu casal favorito) e Allen Guinsberg viviam por lá. Nessas prateleiras também ficam livros que não estão à venda, e contam um pouco da história da livraria. Uma delícia se perder entre os volumes e ver as dedicatórias escritas nas folhas amareladas pelos autores à Shakespeare and Company. Tem também um piano e uma máquina de escrever antiga, que fica à disposição dos clientes. Entre, escreva o que quiser, pendure na parede. Faz tudo parte do clima de liberdade de expressão que se respira por ali. Hoje a livraria é comandada pela filha do Sr. George. Há ainda um festival realizado todos os anos. Eu, que sou empolgada e penso muito pouco antes de fazer qualquer coisa, já queria me inscrever e ficar por lá mesmo. Mas S é ponderado, e não me leva à sério (Sorte dele!). Só virou para mim e disse “Tem certeza que você quer passar meses dormindo aqui, no meio de estranhos que nem devem tomar banho?”. Baixou a princesinha e eu deixei o projeto para os autores atormentados dos anos 50. De qualquer forma, a gente baba. Vai o link:
http://www.shakespeareandcompany.com/


Se inscrever no newsletter não arranca pedaço.

FREE TOUR

Eu falei do Free Tour em Paris e resolvi fazer o de Londres também. Pena que só exista Free Tour na Europa. Acho uma idéia tão genial. Os guias são divertidos, bem humorados. Eu sempre fico impressionada com a quantidade de informações e a precisão que eles dão para a gente. Eles respondem qualquer pergunta, por mais esdrúxula que você resolva fazer. Sempre misturam fatos históricos com fofoquinhas que a gente adora saber. Tipo, a vez que o Palácio de Buckingham foi invadido por um bêbado irlandês (Eu sei. É pleonasmo.) que ficou meia hora conversando com a Rainha, sentado na cama dela, até que ela conseguisse chamar a segurança. Contam as deliciosas citações de Winston Churchill, e dão pinceladas de cultura inútil no meio do caminho. Curiosamente são essas informações que a gente acaba guardando depois (Você sabia que os pelicanos de St. James Park comem pombos???). O melhor é que é assim. Você não precisa agendar, só aparecer no lugar marcado todos os dias. E paga quanto quiser no final (se quiser). Quem estiver planejando um pulinho pela Europa vale checar o site:

http://www.neweuropetours.eu/

Minha dica pessoal: geralmente tem bastante gente, então eles dividem em vários grupos. Tente ficar com os guias mais esquisitos, que se vestem estranho, em vez dos gatinhos. Os esquisitos são mais engraçados, empolgados e cultos. ;-) E uma vez que o tour começar, grude no guia. Vá andando de um ponto ao outro ao lado dele, fique próximo nas paradas. Além de ouvir melhor (muitos deles não sabem projetar a voz e vivem roucos), você vai puxando conversa e ganhando várias dicas de lugares, bares, restaurantes ou o jeito de assistir aquele show imperdível por um terço do preço.

E para quem não acredita que pelicano come pombo, segue aqui embaixo o vídeo do youtube. É um pouco longo porque dá trabalho pro bichinho, tá achando o quê? Mas é divertido. Parece desenho animado.

terça-feira, 13 de julho de 2010

LONDON CALLING 2

Meu primeiro dia de volta a Londres. Adivinha só o que eu fiz??? (Ah, Y vai me matar!) NADA! Necadipitibiriba. Ando tão cansada, que tudo o que eu fiz foi arrumar um monte de fotos no computador, escrever um pouco, atualizar alguns registro, um pouquinho de trabalho.E assistir um monte de filme no lounge do hostel. Para não dizer que eu não pisei na calçada, eu saí para comprar um sanduiche no supermercado e um caramel macchiato no Starbucks. Só. A França é tão cara que a primeira coisa que eu pensei quando cheguei aqui foi “Deus! London é barata!”. Daí dá para a gente ter uma idéiade como eu ando sem referência nenhuma. Ainda não sei o que vou fazer, se vou ficar por aqui. Para falar a verdade estou evitando pensar. Eu precisava sair da Comunidade Européia. Nada demais. O visto de turista permite que você fique 90 dias na Comunidade Européia. Eu estou bem mais do que isso. Pensei que quando eu saísse para o Marrocos essa conta fosse zerar, mas quando passei pela imigração em Madrid denovo, me explicaram que são 90 dias em 180. Na verdade verdadeira não pega nada, mas eu não estou afim de arriscar. E como existem alguns lugares que não entram na conta da imigração e eu ainda quero visitar, resolvi seguir para cá. Lógico que se o curso de Escrita Criativa tivesse rolado tudo seria mais fácil. Mas uma coisa às vezes não é boa, nem ruim. É apenas diferente. E eu ainda estou aqui tentando descobrir o que fazer de diferente. Uma possibilidade é assentar por aqui durante um tempo. Não é nem um pouco difícil ficar em Londres. Outra (que é a que eu quero mais) é procurar algum buraco no interior da Inglaterra e fica por lá um tempo. Eu gosto mais dessa hipótese. Ando bem cansada de cidades grandes. De ter de fazer coisa. De conhecer lugar. Ando louca por um pouquinho de rotina. Ficar em um lugar que não tenha nada para fazer. Acordar, dar minha corridinha. Escrever. Contemplar. Gosto muito de ócio e contemplação. E depois eu cheguei à conclusão de que, vai ser muito difícil me encontrar pulando como uma macaco de lá para cá. Com tanto barulho por todos os lados. Até o final de semana fico em London. Em hostel. O que não é propriamente silêncio. Enquanto escrevo isso tem um bando de pós-adolescentes, todos por volta dos 25 anos. Assistindo “Jackass 2”, tomando cerveja e dando risada a minha volta. Eu amo muito Londres. Mas acho que vai ser bem difícil ficar aqui agora.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

COISINHAS DE PARIS

Mega onda de calor esses dias. Tirando sábado, que estava abafado e quente, mas um pouco menos quente, então deu para a gente passear sem ter vertigem de desmaios. Todos os outros dias foram de um calor abominável. Isso quem está falando é uma paulista que nasceu para ser nordestina, de tanto que sou sensível ao frio. Os relógios eletrônicos na rua avisavam para a população ficar em alerta, e redobrar a atenção com crianças e pessoas de idade. Paris é pouco afoita ao ar condicionado. Culpa dos terraços, das mesinhas nas calçadas. Das portas de todos os restaurantes e bistrots escancaradas para o dia que nunca acaba. Resultado que a gente acabou comendo muitas vezes em redes de fast food. Só porque lá tinha ar condicionado. É também mais barato. Bem mais barato. €4 por uma garrafinha de Coca-Cola é caro. Mais caro ainda é €2,5 por um simples café espresso. Se enfrescar e pedir cappuccino, ou mocha, daí sobe para €5. Comer no terraço é charmoso, mas é mais caro. E nem se come tão bem assim. Não com o orçamento viajante da gente. Precisa ficar esperto com a bolsa. Muito trombadinha nas mesas nas calçadas. Também as mesas são bem minúsculas. Certamente a pessoa da mesa ao lado vai estar com o cotovelo no seu peito, e fumando em cima da sua comida. E o serviço é revoltante. S está acostumado aos USA, onde a excelência do serviço determina a gorjeta. Eu sou paulistana. A gente sempre é bem atendido em restaurante paulistano. Então a hora das refeições eram meio estressantes. Virou piada. Mas a coisa é bem assim: os garçons não estão nem aí. Talvez seja essa a fama de grossos e metidos que as pessoas tem dos parisienses quando vêm para cá. Não adianta levar para o pessoal. Não é nada com você. O serviço é ruim mesmo. E ponto.

O hotel que a gente ficou era terrível. A gente tem uma limitação de orçamento. Não queríamos gastar mais de €40 por cabeça. Não tinha ar condicionado, o encanamento era velho. O segundo quarto para o qual nos mudaram tinha bed bugs, e eu estou parecendo que tenho catapora agora. S ficava teimando que estava cansado de ficar procurando hotel, e amaldiçoando as paredes do quarto. E nessas horas é que pesa a gente não se conhecer tão bem assim. Eu fui aguentando, porque não sabia como ele ia reagir. Até que tudo tem limite e decidi. Mudamos de hotel, mesmo perdendo diária. Corri para o primeiro Ibis que achei. Virei para S e avisei “Agora sou eu quem decide. Vamos fazer do meu jeito e pronto”. Ele empacotou a mochila e foi meio resmungando. Pagamos um pouco mais por cabeça, mas dormimos bem, com ar condicionado e internet decente. Ele passou os dois últimos dias me agradecendo por termos mudado de hotel. Mas não pense que foi azar o hotel não. Viajar com pouco orçamento para Paris é quase sinônimo de ficar em uma pocílga. Encontramos casais que estavam em situações piores e mais revoltantes. Uns canadenses nos disseram ontem que estavam pagando €30 por cabeça, para ficar em um hostel, um quarto minúsculo e escuro, cheirando à mofo, com banheiro compartilhado que ficava do outro lado do corredor. E o quarto ainda ficava no sétimo andar. Não tinha elevador.

Brasileiros. Estão por todos os lados, em todos os lugares. Parece uma invasão. Algumas vezes até me esquecia que estava na França de tanto ouvir o português com nosso sotaque. Todos os restaurantes, tours, atrações, cafés. É impossível não notá-los. Famílias, adolescentes, grupos e mochileiros. Parece que nós todos amamos Paris. Mais um motivo para eu ficar revoltada de nenhum, NENHUM, folheto de informação nos pontos turísticos virem com tradução em Português. No Louvre você tem à disposição o guia do museu em cerca de 10 línguas diferentes. Mas não em Português. Têm até em holandês! Holandês!!! Ah, vamos combinar? Quantas pessoas no mundo falam Holandês??? O Português é falado por muito mais pessoas no mundo todo (e considerando a quantidade de brasileiros tirando fotos da Monalisa, aposto que a saída de folhetos em português seria maior até que a de espanhol).

Louvre aliás, não vale à pena. Ok! Ok! Eu sei. Parece blasfêmia. Mas não vale. Tem fila. É caro. É cheio de coisa que nem tem graça. Você se mata o dia inteiro, anda, sobe escada, se engalfinha com gafanhoto. E no final, tudo só para ver a Monalisa, a Vênus de Milo e uns dois quadros do Veermer (que nem são os mais icônicos). Sabe o que é melhor? Senta em uma das fontes em volta da pirâmide, tira os sapatos e se refresca na água. Depois vai no Musèe D´Orsay (que eu acabei não indo, porque cansei tanto no Louvre e fiquei de bode de museu por um tempo). Bem que a guia do Free Tour tinha aconselhado. “Se você tiver de escolher apenas um museu para ir em Paris, vá ao D´Orsay”. Eu sou teimosa e não ouvi.

Mas se é para ir em algum lugar óbvio. Algum lugar bem gafanhoto. Então é a Torre Eiffel. Que podem dizer o que quiserem, mas é a Torre Eiffel. Eu tirei acho que umas 200 fotos dela. Linda. De noite ela brilha. Solta faíscas. A gente até deitou bem no meio, e ficou olhando para cima. Verdade que tem um monte de coisa que não é perfeita. Que a cidade não é a mesma dos meus escritores dos anos 30. Nem dos meus filmes dos anos 60. Mas é ali, olhando a Torre, que Paris é Paris. E nesse sentido, eu vou ser cafona até dizer chega!

domingo, 11 de julho de 2010

BYE BYE PARIS...


Acho que o que eu mais gostei em Paris foram as Catacumbas. A fila era insana, mas a gente ficou conversando e acabou passando rápido. Então você desce mais de cem degraus de uma escada em caracol e passeia por ruas subterrâneas que guardam um número impressionante de ossadas da época da peste. S estava tão empolgado para ver, que parecia um menininho. “I want to see Dead French People. Dead French People.”À primeira vista é bem impressionante. A quantidade de caveiras e o número de ossos... Rola um arrepio na espinha. Depois a gente acostuma. E os ossos estão todos empilhadinhos. Com as caveiras formando desenhinhos nas paredes. Bem doente esses franceses. Fazer desenhinho com caveiras de verdade? São 2Km de corredores gelados e úmidos, que seriam cenários perfeito para brincar de RPG (do tempo que eu era adolescente e Nerd).Depois de ter acostumado, eu ficava fazendo voz de criança e cantando musiquinhas infantis para assustar S. Funcionava! Depois a gente pegou o metrô e ficou abraçado nos Jardins de Luxembourg, que são lindos e roxos. E tinha todos os parisienses nos gramados aproveitando o verão e o sábado. Eu gosto muito dessa atitude européia. Todo mundo vai para os parques, se espreguiça nos gramados. Muitos picnics, vinho e música. Parece que o mundo inteiro está ao ar livre. Muito gostoso. Eu morava ao lado do parque mais gostoso de São Paulo, e não tinha muito disso não. Um desperdício. Agora estou empacotando para ir para Londres. Vou ficar em um hostel ao lado do Hyde Park e tenho planos de aproveitar muito o verão por lá também. Pois é, acabou. Eu aqui falando de "french dead people" e de "gramados no verão", só para ignorar que nesse momento estou sozinha no quarto do hotel. Fim oficial do test drive. O vôo de S para Dublin era mais cedo hoje. Eu vou de Eurostar no final da tarde para Londres. Eu estou completamente esmigalhada de ter de me separar dele. A gente acordou muito cedo hoje. Nenhum dos dois conseguiu dormir muito bem. Ficamos abraçados por horas. Eu ouvindo o coração dele. Ontem ele me levou para jantar em Montmartre, prometeu que vai assistir Amélie Poulain por mim. E eu cheguei a conclusão que não moraria em Paris. É linda. Vou voltar milhões de vezes na minha vida. Mas não moraria aqui. Não sei porque. Não sei dizer. É só que estou buscando algo mais calmo, mais seguro. Mais estável. Também não sei como voltar de onde eu vim... Mas isso não é coisa para se pensar agora. Agora eu estou sozinha denovo. Depois de um mês acordando com S ao meu lado. A única coisa que consigo pensar é como algum dia eu consegui acordar sem ele ao meu lado. Enquanto ele fechava a mochila, eu desabei. Olhava a cena com as lágrimas caindo, sem conseguir fazer nada. Ele, que é menino e não chora, e que tem dificuldade de mostrar emoções, me olhava quieto com os olhos vermelhos. Me beijou. Me beijou denovo. E quando estava na porta, eu o chamei e ele voltou para me beijar mais uma vez. Me abraçou e disse “Eu não sabia que seria tão difícil ir embora”. Eu também não.

sábado, 10 de julho de 2010

HEAT

Eu reclamo da temperatura o tempo todo. Ou porque está muito frio, ou muito calor. A única coisa que tenho vontade de fazer hoje é ficar parada, pelada, com a janela aberta. Hoje não está dando nem para reclamar. A voz não sai. Pelo menos no Brasil a gente tem aquela típica chuvinha de verão para dar uma refrescada no fim do dia. Aqui o tormento se arrasta até 21h30, quando ainda tem luz de dia. Paris é romântica, mas não tem dado para tocar um no outro. Os dois derretendo. Uma pena, porque tem algumas coisas que eu gostaria de fazer pela cidade antes de ir embora. Adoraria bater perna pelo Marais, me perder mais pela cidade, andar de bicicleta. Mas não dá. É completamente inviável. A gente leva uma garrafa de água para a rua e em meia hora ela já está morna. Morna de verdade. Outro dia S até jogou uns saquinhos de chá dentro da garrafa e deu certo. Para ajudar ontem a gente foi no Pub Crawl. Também é um tour organizado nas principais cidades européias. Basicamente um bando de molecada de 20 e poucos anos, seguindo uns guias loucos de bar em bar. Em cada bar a gente tomava um pint e ganhava um shot. Lógico que isso não é uma boa idéia, e é lógico que a gente ficou muito bêbado. Loucura mesmo foram as coincidências da noite. Reencontramos um australiano que tínhamos conhecido no hostel em Nice. Uma garota me reconheceu de Veneza (Bizarro! Ela disse que lembrava de mim, compenetrada, torcendo para o Brasil no Pub... Isso foi há quase um mês atrás, no exato dia que eu e S nos encontramos em Veneza...). E a única brasileira que também estava no grupo, era a garota que deixou Florence na roubada no Carnaval na Ilha do Cardoso. (Isso foi ainda mais bizarro!!!) Mas apesar de tantas coincidências a gente acabou ficando a noite inteira com um casal de dinamarqueses da nossa idade, e fofos até dizer chega. Nos demos tão bem que acabamos abandonando o Pub Crawl na última casa noturna e sentando em um bar para bebermos mais irresponsavelmente o resto da noite. Estou colecionando amigos pelo caminho. Acabo conhecendo um monte de gente, mas tem sempre algumas pessoas que a amizade bate mais forte. A gente acaba cultivando e mantendo o vínculo depois. Eles, com certeza, vão ser um desses. Uma hora que os dois estavam comprando bebidas no balcão, S me disse que ele ia pedí-la em casamento. Quer coisa mais fofa? Fofo mesmo foi a realidade batendo na cara da gente de manhã. Um dia de ressaca e uma sensação muito forte de estarmos velhos. Fomos visitar o túmulo do Jim Morrisson. Não consegui encontrar o da Piaf, porque o cemitério parecia um labirinto e a gente não tinha um pingo de força física. O metrô é uma tortura. Cheio, velho. Bem fedorento. Parece que ninguém toma banho nessa cidade. Punk! Verdade que é prático e te leva para exatamente qualquer lugar da cidade. Mas precisa estar preparado. Atravessar a cidade dentro daquelas caixas de metal abafadas, sem ventilação. Será, certamente, um dos piores tormentos que você vai experimentar na vida. Agora estou deitada, pelada e não entra nem um ventinho pela janela. Para variar sem conexão de internet. Ainda tenho de fazer reserva em algum lugar para dormir em Londres. Comprei minha passagem do Eurostar hoje cedo. Uma fortuna, doeu no bolso. Domingo eu vou para Londres. S vai para Dublin. Fim do Test Drive. Estou evitando pensar nisso. Acho que vai ser muito bom para nós dois ficarmos um tempo longe depois dessa overdose um do outro. Vai ser bom sentir saudades. Eu resolvi pular de cabeça só agora. Só depois de quase um mês. Parece bobeira, mas não é. Estou calma. Algo me diz que está tudo certo. Tudo perfeito. Vai ser o fim do Test Drive, mas o começo de uma outra coisa. Vai ser triste não ter ele por perto todos os dias. E para falar a verdade não conversamos muito sobre “depois de domingo”. A gente sabe que vai se encontrar denovo. Não sei onde, nem exatamente quando. Mas vamos nos encontrar. Sinto que agora já nos pertencemos. Um ao outro. E quando é assim, a distância não muda nada.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

BORBOLETAS EM PARIS

Me joguei em Paris. De alma aberta. Respirando, sentindo, cheirando. Fizemos o Free Tour como introdução. Eu tinha feito em Dublin, e as maiores cidades sempre têm. O Free Tour é um bom jeito de se introduzir a uma cidade com tantas coisas. Como o próprio nome diz, é um tour gratuito. O guias trabalham apenas pelas gorjetas dadas ao final. Geralmente são universitários, descolados, gentis e engraçados, que saem andando com um grupo pela cidade e contando curiosidades, fatos históricos e todos os detalhes de cada monumento. E ainda te dão um monte de dicas, como por exemplo, uma entradinha secreta para o Louvre para evitar as filas, ou os lugares onde os parisienses fazem picnic durante a semana. O verão chegou com tudo aqui na França. Foram 3h30 de free tour embaixo de um Sol de rachar! Depois sentamos em um café (também sugestão da guia, onde dava para tomar vinho e comer queijinhos por um valor acessível no coração de Paris) e ficamos conversando com algumas outras pessoas do tour. De lá, fui fazer a coisa mais obrigatória em Paris. Eu sei. É coisa de gafanhoto, chega até ser cafona de tão óbvio, mas eu fiz S me levar até a Torre Eiffel. Na verdade ele estava mais empolgado do que eu. Tinha me proibido de subir na Torre sem ele. Primeiro compramos um vinho rosé gelado e uma caixa de framboesas. Deitamos no gramado e improvisamos um picnic nos pés da Torre. Depois subimos. À pé. Pelas escadas. Porque a gente acha que não tem graça nenhuma vir à Torre Eiffel e não subir pelas escadas, não sentir embaixo dos pés cada centímetro daquela maravilha. Tiramos fotos fazendo caretas, fizemos um monte de piadas. Depois corremos para o telão que fica em frente e tem passado todos os jogos da Copa. Eu que disse que não ia mais ver Copa, acabei gritando e torcendo com um monte de espanhóis, só porque foi na Espanha que eu e S nos conhecemos. E de lá, a gente se perdeu. Ficamos igual bobos olhando a Torre iluminada, linda, brilhando. E nos perdemos pelas ruas, virando pelas esquinas charmosas. Pelas mesas dos cafés, todas nas calçadas. Pela magnitude do Arco do Triunfo alaranjado de luz. Caimos não sei como em um restaurante tailandês. Comendo maravilhosamente, trocando algumas confidências e descobrindo que nossos passados também têm muito em comum. Que éramos adolescentes bem parecidos, e talvez seja uma pena não termos estudado na mesma escola... Dá um frio na barriga. Um pouco de medo de me perder. A gente tem tanta coisa diferente, mas tanto mais em comum... Eu, que estava durona, que estava até cética com esse Test Drive. Cheguei à Paris achando que não havia muito mais o que descobrir. Mas Paris é tudo, menos óbvia. Menos cética. Menos dura. Eu que procurava tanto as borboletas, resolvi naquela noite. Sentada em um restaurante tailandês. Que não era frio o que eu sentia na barriga. Eram elas mesmas. Estou em Paris, e estou pulando de cabeça.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

OK! Paris e linda! Eu estou transbordando nessa cidade. So que estou ha dois dias sem internet, digitanto um lembrete pelo computador de S (por isso a falta de acentos...) e prometo atualizar e falar tudo daqui assim que resolver esse problema. Por enquanto so digo que Paris e linda. E e a coisa mais romantica do mundo, e agora vou pegar esse mocinho fofo que esta do meu lado, passar o dia no Louvre e sair para dancar a noite...

terça-feira, 6 de julho de 2010

UM DIA


AHHH!!! O stress… Cheguei em Paris ontem. Numa empolgação só. Foi um pouco doloroso devolver o carro. Eu estava bem habituada à Christine. Christine é o nome que demos ao carro porque toda vez que o GPS falava com a gente era meio creepy, então a gente ficava brincando que parecia aqueles filmes de terror trash (Christine, O Carro Fantasma), e que o carro iria criar vida e nos trancar em uma jornada de morte pelas estradas francesas... (eu falei que a gente tinha um senso de humor peculiar.) Carregamos nossas mochilonas até Montmartre, mas o hotel que eu tinha reservado estava lotado. Segundo a recepcionista se você faz uma reserva e ninguém te manda um email de volta, é porque a reserva não foi feita. (HUM!) Então S já ficou meio nervoso e desesperado para se registrar na primeira pocilga que a gente encontrasse. Eu não ligo tanto para isso, porque sei também que a gente nunca fica na roubada. Ainda mais em Paris. Mas de qualquer forma a gente saiu em busca de um outro hotel. Acabamos achando um a poucas quadras, ao lado do metrô Anvers, mas que só tinha vaga no quarto duplo para uma noite, e nas outras noites deveríamos mudar para um quarto triplo. A diferença de preço nem era tanta, então resolvemos ficar ali mesmo. Hotelzinho simples, meio velho, mas a gente já ficou em tanto lugar, de tanto jeito diferente, que nem ligamos mais. Hoje S precisava tirar o dia para trabalhar. Uma vez por semana ele fica fechado no hotel trabalhando. Acho ótimo, porque tenho um dia por semana para mim. E eu tinha planejado um dia inteiro sozinha. Eu estava super ansiosa por isso. Passar um dia sozinha, sem ter de falar com ninguém. Olhando as pessoas na rua, tomando café. Ficando um pouquinho em silêncio com a minha cabecinha complicada. Respirando Paris pela primeira vez, inteirinha para mim. Só que logo de manhã já foi um tormento, porque a topeira da recepcionista fez uma bagunça com a agenda, e disse que só teríamos o outro quarto por mais uma noite e não sabia o que poderíamos fazer depois. Eu já comecei a ficar nervosa com a idéia de ter de mudar de quarto só por uma noite, e reempacotar, para mudar de quarto denovo... Na verdade comecei a sentir calafrios de imaginar nossa semana em Paris tendo de empacotar mochila para mudar de quarto ou de hotel todos os dias de manhã. Ando desesperada para tirar tudo da mochila. Assentar um pouco. Lavar minhas roupas. Todo mundo me fala “Nossa! Que inveja de você. O ano inteiro de férias.”. Mas vai fazer, vai! É exaustivo. É desesperador. Eu já perdi as referências, já nem sei direito onde estou. Cada dia acordo olhando para um teto diferente. Conversei com S e falei que queria ir para algum lugar que a gente não precisasse empacotar até sair de Paris. Ele, que é um anjo e calmo até dizer chega, concordou comigo e resolvemos procurar outro hotel definitivo pela internet antes de sair desse. O que acabou se tornando em uma jornada de uma hora, cada um no seu laptop, bufando e xingando. Só achávamos hotéis disponíveis por valores absurdos, ou disponiveis em parte dos dias que vamos ficar. Ou hotéis na periferia de Paris, ou que tinham as referências mais bizarras do mundo. Fazendo reservas erradas, cancelando reservas erradas. Até que a topeira da recepção avisa que conseguiu resolver o quarto para a gente, e que a gente só precisava aguardar meia horinha até a camareira terminar a limpeza e mudarmos. Eu tento não me deixar afetar pelas coisas, e eu sei que dias como esses fazem parte de uma jornada assim (ainda mais com o planejamento mínimo que temos feito). É um grande exercício de paciência, tolerância, adaptação. Resolvi sair para dar uma volta, andar um pouco pela vizinhança. Voltei, desempacotei no novo quarto. Falei para S que nós dois precisávamos passar o dia sozinhos. A gente está na estrada juntos há 3 semanas e não brigamos nem uma vez. Hoje, se eu ficasse perto dele, isso ia mudar. Eu me conheço e, até eu recuperar a paciência, a tolerância, a adaptação... Melhor me deixar longe! Larguei ele lá no quarto, trabalhando ou fazendo sei lá o que, e saí para a rua. Pensei em aliviar meu stress fazendo uma coisa que com certeza fosse me animar. Fui almoçar no Deux Moulins, a brasserie onde foi filmado “Amèlie Poulain”. Comida média. Serviço lixo. Tive quase de sapatear em cima da mesa para conseguir pedir a conta. Quando eu já me empurrava de volta para a rua, para tentar me convencer a melhorar de humor na marra, a me obrigar a ficar feliz e animada e saltitante só porque eu estou em Paris; lembrei que sempre que forço a barra com a vida acabo me arrependendo. Cheguei em Paris, e vou viver e sentir Paris. Mas não hoje. Hoje sentei em um Starbucks, do outro lado da rua do Moulin Rouge. Pedi uma água, um caramel macchiatto e trabalhei. Trabalhei em um monte de pendências que eu estava empurrando com a barriga.  Atualizei meu diário. Escrevi. Não tirei uma única foto se quer. Agora vou encontrar com a Jana, que mora aqui desde que terminamos o Célia e de quem eu tenho uma saudade que dói o peito. Vou sentar na casa dela, tomar um vinho e conversar sobre tudo o que não conversamos nos últimos anos. E depois que eu estiver cansada, que esse dia finalmente estiver acabando, daí então eu volto para casa. Avisei S que precisava sumir por um dia. Engraçado que, não importa qual hotel, ou o quão topeiras são as recepcionistas. A gente sempre chama o lugar onde ficamos de casa.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

QUATRO MESES

Acabou passando e eu nem dei muita atenção. Quatro meses. Quatro meses de estrada e agora cruzei oficialmente a metade da jornada. Às vezes dá uma canseira. Um desespero de acordar cada dia em um hotel diferente. Em Cavallion tivemos bed bugs. Eu saí ilesa, mas S parece que tem catapora agora. E eu sinto que perdi referências de muitas coisas. Já não lembro mais dos preços das coisas no Brasil, da rotina que eu tinha todos os dias. O último mês passei em lugares bem pequenos. Vilarejos, cidadezinhas. Passarinhos cantando na janela. Hoje, pensando em casa para escrever esse post, não conseguia lembrar da sensação de estar na 23 de Maio às 17h. Eu sei como é. Mas não lembro. Engraçado com a memória começa a mudar de cor. Mudar o tom, o tônus. Vou confessar que às vezes me dá um desânimo. Pensar que é só metade do caminho. Que ainda têm quatro outros meses pela frente. (um pouco menos, já que esse post está atrasado.) Passei por tanto. Congelei em Dublin, fiquei homeless, amei pessoas, dormi no deserto, aprendi uma língua, lembrei de outra, comi horrores, emagreci, fiquei doente, encontrei minha irmãzinha depois de 16 anos, encontrei uma prima perdida, encontrei... Podia até voltar para casa. Mas faltam coisas ainda. Coisas para decidir. Lugares para conhecer. E, principalmente, uma pessoa para encontrar. Falta ME encontrar. Eu me escapo, sempre que sinto que estou perto. Não dá para saber se vou conseguir me encontrar em mais quatro meses. Não sei se algum dia vou conseguir me encontrar. Mas continuo tentando. A proposta é ficar na jornada até outubro. Então ninguém desiste antes. Ninguém fica para trás. É só o meio do caminho. E eu ainda estava em busca de uma outra coisa. Eu ainda quero me apaixonar. Sim. Me apaixonei por alguns lugares, e um certo tanto de experiências. Mas quando se trata daquela paixão, aquela que a gente sabe qual é... Essa eu ainda não senti. Mas tudo bem. Ainda temos quatro meses para tentar.

sábado, 3 de julho de 2010

CHEIRO DE LAVANDA

Então acabou, né? Eu chorando sozinha no meio de um bar de uma vilazinha francesa. S tentando pedir lenços de papel para a dona através de mímica. Fiquei arrasada e amaldiçoei todos os holandeses do mundo (que nem são tantos assim...). Depois retirei, porque a gente não pode levar para o pessoal. Para mim acabou a Copa do Mundo. Não quero ver mais jogo. Estou em Cavallion. Uma cidadezinha ao norte de Aux en Provence. Perto da rota da lavanda. Hoje acordamos, eu fazendo a maior cara de paisagem, ignorando o chororô e o vexame de ontem. Pegamos o carro e seguimos atrás de campos de lavanda. Na minha fantasia (Ai, lá vem!!!) haveriam milhares de campos de lavanda super floridos, e eu ia correr entre as flores. Meus cabelos voando ao vento. O Sol batendo na minha pele. Passarinhos levantando vôo por onde eu passasse. Então na outra ponta estaria S. Todo lindo, em uma camisa branca. Ele me abraçava e me rodava. E nós dois ficávamos deitados no meio da paisagem de Provence, trocando beijos apaixonados e tomando um vinho gelado. Sim. Essa era a minha fantasia. Na prática... A gente viu vários campos de lavanda, mas não dava coragem de sair do ar condicionado do carro, porque o calor que tem feito aqui é desumano (Lembra São Paulo em janeiro? Então. Sem as chuvas no final do dia.). Até que, enfim, resolvemos parar em um campo e andar entre as flores. Não dá para correr. O terreno é meio acidentado e é cheio de arbustos secos que pinicam o pé e a perna. E ficam umas abelhas voando em volta do seu olho. Não rolou de protagonizar uma cena “Sound of Music” e, como não tinha banheiro, eu tive de fazer xixi escondida com um matinho pinicando minha bunda. Daí paramos em uma destilaria, que tinha tudo de tudo feito com lavanda. Sabonete, sachet, óleos essenciais, bolachinhas, mel e uns syroups para misturar com água bem legais. Fui provar um e derrubei o vidro inteiro em cima da minha saia e do chão. A vendedora, que era um anjo, deu risada comigo, disse para eu não me preocupar e me ajudou a arrumar a bagunça. Nessa hora S estava do outro lado da loja rolando de rir. Para variar eu estava suja e descabelada, e agora toda melecada de syroup de lavanda. Então S vai até o balcão e compra um vidro de syroup, “Acho que depois dessa, é melhor eu comprar um né!?”. É minha gente! Sabe aquelas propagandas de perfume? Que tem sempre alguém fresco e lindo correndo pela relva florida? Tudo mentira! A gente pulava entre os arbustos, e a camisa de S (que era cinza e não branca) estava toda molhada nas costas, e ele andava de um lado para o outro com os chinelos dele (que são horríveis e cafonas, e faz ele parecer um pato andando, mas que ele adora e diz que não troca por um par de Havaianas nem que eu importe a coleção inteira para ele). Na maior parte do tempo a gente ficava olhando igual idiota para o mapa das estradas e para as plaquinhas nos acostamentos, tentando adivinhar como chegar onde a gente queria... Mas como a vida é linda, e as coisas às vezes são engraçadas, outras vezes são apenas caóticas, mas tem muitas vezes que são fofas e balançam a gente. Quando a gente abria a porta do carro no meio de um campo de lavanda e recebia nos poros, nas narinas, na alma; aquele perfume doce e absoluto de flores e vida. E a gente tirou os chinelos e deitou no gramado de uma vilinha no pé de uma montanha, e ficamos olhando o Sol abrindo caminho entre as folhas de uma árvore, e tiramos um cochilo de conchinha (Big spoon, little spoon). Às vezes fazíamos uma piadinha que só nós dois entendíamos enquanto esperávamos em uma fila para comprar cartões postais para meus sobrinhos. E S quebrou um raminho de lavanda e me deu de presente com um beijinho. E teve também o momento em que, o Sol finalmente se pondo, já passando bem das 20h. Estávamos os dois sujos, descabelados. Eu comendo cerejas dentro do carro e cuspindo as sementes pela janela. Passei minha mão pelo braço dele. Pela sua barba ruiva que está crescendo, e agradeci por ele ter dirigido para mim. Por ter me trazido aos campos de lavanda. E S, que é sempre tão educado e tímido, fica meio vermelho, sorri e diz “Thank you, for bringing me with you”.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

EM ROMA, COMO...

Tenho estado na estrada a um tempo considerável. Existem algumas coisas que ficam enraizadas. Que a gente até se acostuma. Saudades é uma delas. Tenho tantas saudades de tanta gente, que já nem sinto mais. Mas de vez em quando, tem uns dias que dói mais. Que bate mais na alma. E dá vontade de chorar. Hoje por exemplo foi um dia desses. Uma saudades doída. Que me fez chorar, surtar, comer chocolate e fumar um cigarro. Saudades da Geisa. Minha manicure. Explico. Chegamos em Aux en Provence na terça. Caí de amores pela cidade instantaneamente. Hoje depois de caminhar pelas ruas, tirar fotos, quase derreter embaixo do calor, eu queria muito ficar um pouco sozinha. Tirar uma horinha só para mim. Eu gosto de S. Gosto mesmo. Mas à vezes não aguento mais olhar para a cara dele, então eu fujo. Vou tomar um café. Vou escrever meu diário em algum lugar. Hoje larguei ele sentado em uma boulangerie com ar condicionado e fui procurar uma manicure. Gente, eu precisava me sentir mulher! Nem lembro mais quando minhas unhas viram uma profissional. Quando o esmalte foi bem aplicado e não descascou horrorosamente depois de um dia. Depois de tanta aventura, trilha, corredeira. Ficar descabelada debaixo de chuva. Eu queria muito um Dia da Noiva. Sabe aqueles dias que a gente tira para dar uma geral no salão? Fazer pé, mão, depilação. Mesmo porque eu gosto de S. Mas quero que ele continue gostando de mim. E mulher é mulher. Precisa manter o charme, manter o mistério. Então lá fui eu, em busca de uma manicure francesa. Vou dizer uma coisa, antes de tudo. Esse tipo de serviço aqui é caro. Bem caro. Tipo, três vezes mais do que eu pago no Brasil. Mas eu estava afim de uma extravagância. Cheguei no salão. Que aqui não é salão, porque os salões de cabelereiros não possuem manicures não sei porque. Quem faz cabelo, faz cabelo e mais nada. Quem faz unha, faz unha, depilação, massagem, bronzeamento... Eu chego no salão e depois de me matar com meu Francês Tarzan sou informada que há uma espera de 30 minutos para ser atendida. Ah, ok! Vou dar uma volta e venho no horário marcado... Não Senhora! Espera de 30 minutos no local. Senão perde a vez. Humpf! Sento ao lado de uma adolescente, e uma mulher de 40 (cor de laranja de tão bronzeada). Espero, espero. Me chamam. “Ah! Sim! Gostaria de fazer depilação do buço, manicure e a beautè de pièds (é o jeito chic de dizer pedicure por aqui)”. Me levam para uma cabine. A depilação do buço foi ok. Do jeito que estou acostumada no Brasil. Então vem a parte tortura-você-está-sendo-assaltada. Entra na cabine uma pós-adolescente loira, maquiada de sombra verde (Deus! Que moda é essa de sombra verde por aqui...!). Bota meus pés em uma bacia que fica borbulhando (Hum! Gostoso!) e começa a fazer minhas mãos. Vou explicar como é o sistema de manicure por aqui. Ela pega uma lixa e passa 3 vezes em cada unha (TRÊS!!!!!). Depois ela coloca um monte de hidratante, enrola um pouco de algodão no palitinho de madeira e fica esfregando o palitinho com hidratante nas cutículas até todas as peles serem varridas para debaixo do tapete. Então ela pega o alicate e encosta (LITERALMENTE ENCOSTA!!!!) em cada lado da unha e TCHARÃ!!!! Manicure feita. Pincela uma base com bastante cuidado para pegar só a unha e não borrar (porque se borrar ela não vai limpar), e lá vamos nós para os pés. Ok. Uma pausa. Eu costumava ser bem viciada em manicure em São Paulo. E bem viciada em podóloga também. Então nessa altura do championship eu já estava surtando na maca de imaginar a qualidade do serviço da moça chegando aos pés. Ela tira meus pés da bacia borbulhante e faz exatamente a mesma coisa que fez nas mãos, só com uma diferença. Nos pés não rola lixa e ela nem finge encostar o alicate. Daí eu estou vermelha, bufando, soltando fumaça pelo nariz. E sem domínio Tarzan suficiente para soltar uns esporros em todo mundo laranja daquele salão. Visto minhas sapatilhas nudes (aquelas que foram arrasadas pela chuva em Veneza) e me arrasta com raiva e indignação até o balcão para pagar. A adolescente de sombras verdes digita umas coisinhas no computador, me informa que será cobrado um extra pela aplicação de esmalte nas mãos (CUMA?) e.... OK! Não vou dizer o valor astronômico, indecente e revoltante que foi debitado do meu cartão de crédito essa tarde. Não vou. Nem sob tortura. Juro! Tenho vergonha! Voltei para a boulangerie querendo trucidar o primeiro que eu encontrasse. E o primeiro que eu encontrei foi S. Ele veio tentar me consolar e eu grunhi “Nem encosta!!!”. Comi um pain au chocolat, um donut de chocolate e ainda fiz o coitado dirigir até o supermercado antes de voltarmos ao hotel para me comprar uma cerveja bem gelada. Tá com dó do moço? Pois fiquem sabendo que ele fez tudo isso rindo da minha cara. “Sorry, dear! You look so funny when you are grumpy...” Pior é que eu sei que ele tem razão. Viro um clown quando estou de mal-humor. Vou falar uma coisa. Eu tento, verdade que eu tento me adaptar a cada lugar. Fazer como diz o ditado, “Em Roma, como os romanos.” Mas posso pedir uma coisa? Enquanto eu estiver na França, será que rola uma manicure brasileira?