terça-feira, 6 de julho de 2010

UM DIA


AHHH!!! O stress… Cheguei em Paris ontem. Numa empolgação só. Foi um pouco doloroso devolver o carro. Eu estava bem habituada à Christine. Christine é o nome que demos ao carro porque toda vez que o GPS falava com a gente era meio creepy, então a gente ficava brincando que parecia aqueles filmes de terror trash (Christine, O Carro Fantasma), e que o carro iria criar vida e nos trancar em uma jornada de morte pelas estradas francesas... (eu falei que a gente tinha um senso de humor peculiar.) Carregamos nossas mochilonas até Montmartre, mas o hotel que eu tinha reservado estava lotado. Segundo a recepcionista se você faz uma reserva e ninguém te manda um email de volta, é porque a reserva não foi feita. (HUM!) Então S já ficou meio nervoso e desesperado para se registrar na primeira pocilga que a gente encontrasse. Eu não ligo tanto para isso, porque sei também que a gente nunca fica na roubada. Ainda mais em Paris. Mas de qualquer forma a gente saiu em busca de um outro hotel. Acabamos achando um a poucas quadras, ao lado do metrô Anvers, mas que só tinha vaga no quarto duplo para uma noite, e nas outras noites deveríamos mudar para um quarto triplo. A diferença de preço nem era tanta, então resolvemos ficar ali mesmo. Hotelzinho simples, meio velho, mas a gente já ficou em tanto lugar, de tanto jeito diferente, que nem ligamos mais. Hoje S precisava tirar o dia para trabalhar. Uma vez por semana ele fica fechado no hotel trabalhando. Acho ótimo, porque tenho um dia por semana para mim. E eu tinha planejado um dia inteiro sozinha. Eu estava super ansiosa por isso. Passar um dia sozinha, sem ter de falar com ninguém. Olhando as pessoas na rua, tomando café. Ficando um pouquinho em silêncio com a minha cabecinha complicada. Respirando Paris pela primeira vez, inteirinha para mim. Só que logo de manhã já foi um tormento, porque a topeira da recepcionista fez uma bagunça com a agenda, e disse que só teríamos o outro quarto por mais uma noite e não sabia o que poderíamos fazer depois. Eu já comecei a ficar nervosa com a idéia de ter de mudar de quarto só por uma noite, e reempacotar, para mudar de quarto denovo... Na verdade comecei a sentir calafrios de imaginar nossa semana em Paris tendo de empacotar mochila para mudar de quarto ou de hotel todos os dias de manhã. Ando desesperada para tirar tudo da mochila. Assentar um pouco. Lavar minhas roupas. Todo mundo me fala “Nossa! Que inveja de você. O ano inteiro de férias.”. Mas vai fazer, vai! É exaustivo. É desesperador. Eu já perdi as referências, já nem sei direito onde estou. Cada dia acordo olhando para um teto diferente. Conversei com S e falei que queria ir para algum lugar que a gente não precisasse empacotar até sair de Paris. Ele, que é um anjo e calmo até dizer chega, concordou comigo e resolvemos procurar outro hotel definitivo pela internet antes de sair desse. O que acabou se tornando em uma jornada de uma hora, cada um no seu laptop, bufando e xingando. Só achávamos hotéis disponíveis por valores absurdos, ou disponiveis em parte dos dias que vamos ficar. Ou hotéis na periferia de Paris, ou que tinham as referências mais bizarras do mundo. Fazendo reservas erradas, cancelando reservas erradas. Até que a topeira da recepção avisa que conseguiu resolver o quarto para a gente, e que a gente só precisava aguardar meia horinha até a camareira terminar a limpeza e mudarmos. Eu tento não me deixar afetar pelas coisas, e eu sei que dias como esses fazem parte de uma jornada assim (ainda mais com o planejamento mínimo que temos feito). É um grande exercício de paciência, tolerância, adaptação. Resolvi sair para dar uma volta, andar um pouco pela vizinhança. Voltei, desempacotei no novo quarto. Falei para S que nós dois precisávamos passar o dia sozinhos. A gente está na estrada juntos há 3 semanas e não brigamos nem uma vez. Hoje, se eu ficasse perto dele, isso ia mudar. Eu me conheço e, até eu recuperar a paciência, a tolerância, a adaptação... Melhor me deixar longe! Larguei ele lá no quarto, trabalhando ou fazendo sei lá o que, e saí para a rua. Pensei em aliviar meu stress fazendo uma coisa que com certeza fosse me animar. Fui almoçar no Deux Moulins, a brasserie onde foi filmado “Amèlie Poulain”. Comida média. Serviço lixo. Tive quase de sapatear em cima da mesa para conseguir pedir a conta. Quando eu já me empurrava de volta para a rua, para tentar me convencer a melhorar de humor na marra, a me obrigar a ficar feliz e animada e saltitante só porque eu estou em Paris; lembrei que sempre que forço a barra com a vida acabo me arrependendo. Cheguei em Paris, e vou viver e sentir Paris. Mas não hoje. Hoje sentei em um Starbucks, do outro lado da rua do Moulin Rouge. Pedi uma água, um caramel macchiatto e trabalhei. Trabalhei em um monte de pendências que eu estava empurrando com a barriga.  Atualizei meu diário. Escrevi. Não tirei uma única foto se quer. Agora vou encontrar com a Jana, que mora aqui desde que terminamos o Célia e de quem eu tenho uma saudade que dói o peito. Vou sentar na casa dela, tomar um vinho e conversar sobre tudo o que não conversamos nos últimos anos. E depois que eu estiver cansada, que esse dia finalmente estiver acabando, daí então eu volto para casa. Avisei S que precisava sumir por um dia. Engraçado que, não importa qual hotel, ou o quão topeiras são as recepcionistas. A gente sempre chama o lugar onde ficamos de casa.

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