quarta-feira, 30 de junho de 2010

3x0

Segunda foi aniversário de S. O moço agora tem 35 anos. Fizemos um dia cheio de coisas que ele gostava, com direito à filé com fritas no jantar e várias cervejas. Pela manhã fizemos hiking em uma bela trilha de Castellane que nos levava pedra acima até uma igrejinha linda, e uma vista do Vale mais linda ainda. Depois fizemos cannyoning à tarde, e meus niveis de adrenalina foram às alturas. Eu gosto muito desses esportes radicais, turismo de aventura. Quando era mais nova (bem mais nova, aliás) tinha um grupo de amigos que costumávamos descer de rappel alguns viadutos da Rodovia dos Bandeirantes e fazer expedições por grutas e cavernas. Acho que se é para acordar às 5h da manhã, que haja uma boa dose de adrenalina envolvida. E acho inclusive que sou mais animada com a idéia de adrenalina tremendo nas veias do que S. Durante o cannyoning ele estava mais preocupado em se prender nas rochas, enquanto eu olhava as corredeiras para deslizar e gritava “UHUUUU!!! JACUZZI!!!”. Mas S é americano, de uma família de irlandeses e alemães. Tem bastante dificuldade de mostrar emoções. Isso, obviamente, já foi tema de algumas conversas. Não discussões, porque a gente não discutiu ainda. Mas conversas. S não manifesta emoção. Eu sou o extremo oposto. Quando estou feliz, dá para ver até pela unha do pé. Triste, o povo sente pela maneira como eu mando um email. Angustiada, bom, geralmente estou roendo unhas. Surtada... ok, já deu para entender. Acho que isso tem um pouco a ver com a criação. Ser brasileira, de um país que acha todas as emoções bonitas. E ser criada dentro de uma família italiana. Onde as pessoas gritam, e falam, falam, falam, e se metem um na vida do outro, e te dão uns tapas que deixam seu braço roxo nos almoços de domingo. S é mais contido. Bem mais. Não gosto de pensar nisso como um defeito, mas como uma característica. Mas é uma característica que não sei se me agrada. Por um lado dá uma sensação de estabilidade e constância. Por outro faz as coisas parecerem sempre mornas. E no quesito temperatura, eu sou mais Anaïs Nin quando ela diz “I want to burn, even if I break myself”. Verdade que eu reclamo quando me quebro, mas eu prefiro assim. Toda remendada de durepox, do que uma superfície intocada e imaculada. Afinal, porque uma garota de 30 e poucos ia resolver mochilar pela Europa por tanto tempo senão para viver emoções, e viver emoções fortes, intensas. Para viver a vida de forma superlativa. Então à noite o Brasil fez bonito naquele jogo e mandou o Chile para casa. Nós dois vibramos em um barzinho da cidadezinha-fofa-com-cara-de-cinderella e eu fiquei feliz de mostrar para S o que era que se esperava do meu time na Copa. (Porque ele achava que o jogo contra Portugal foi um bom jogo) Que no Brasil a gente não fica satisfeito com aquela coisa meia boca. Que a gente gosta de ver o suor espirrando quando o cara bate na bola, gosta de ver os jogadores se matarem na grande área. Que no Brasil a gente não desiste. Vai testando a barreira de defesa até achar uma brecha e marcar um gol maravilhoso, pulando em cima do goleiro e tudo. S (que agora é fã do Brasil e conhece mais os jogadores do que eu) ficou olhando o jogo e me dizendo “Não entendo. Os jogadores dos USA jogaram direito, mas vendo vocês jogarem, vocês parecem tão melhores, parece que a gente era um bando de amadores.” É que de vez em quando a gente bota todas as emoções em campo, S. A gente escancara e mostra tudo o que tem. Daí é lindo. Daí é intenso. É arte. 3x0, e manda os vizinhos mais cedo para casa. O problema é que os USA jogaram direitinho. Só isso. Em futebol, não adianta apenas fazer direitinho. É como eu já disse aqui, o importante é saber o que você espera para sua vida. O que você quer. Eu sou corintiana, brasileira, paulista. Gosto da emoção. De ver o jogo virar aos 45 do segundo tempo. Gosto das coisas pegando fogo. Eu tenho pensado bastante, e eu não sei se alguém que faz tudo direitinho é suficiente.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

NO VERDON

Sabe aquele clima bucólico? Aquela calma e romantismo que estava rolando até agora? Então, esquece tudo. Chegamos na região de Gorge du Verdon, que é um Parque Natural da região de Haute de Provence. Uma das entradas para o parque é a cidade de Castellane. Já está na minha lista de cidadezinhas-com-cara-de-cinderella que eu gostaria de morar por um tempo. Aliás isso tem sido uma vontande cada vez mais crescente desde que saí de Roma. Vontade de ficar em uma cidade minúscula por um tempo... Mas assunto para posts futuros também. Chegamos e já nos enfiamos em uma trilha para fazer um pouco de hiking. No meio do caminho começou a cair uma tempestade. Qualquer pessoa que já fez algum tipo de esporte outdoor sabe que fazer hiking em tempestade é uma péssima idéia. Principalmente com raios e trovões. Meio do mato, você molhado e raios caindo. É uma combinação bem estúpida na verdade. Eu e S ficávamos olhando um para o outro, meio do tipo “Ok! O que a gente faz agora?” e continuamos pela trilha. Completamente encharcados e com lama até o tornozelo. Então os raios começaram a ficar bem próximos. Encontramos uma fazendinha que vendia queijo de cabra e nos enfiamos na garagem para nos protegermos dos raios e esperar a chuva passar. O casal de velhinhos que morava na casa abriu a janela e só viram aqueles dois malucos molhados dos pés à cabeça, encolhidos e morrendo de frio na garagem deles. Eu tentei com meu Francês Tarzan explicar o que estava acontecendo, mas acho que nossa condição era tão digna de pena que eles só acenaram com a cabeça e disseram que não tinha problema. Nos meus devaneios o casal de velhinhos nos trazia toalhas secas e canecas com leite de cabra morno para nos aquecer... mas esses são meus devaneios. Na realidade a gente começou a congelar e resolvemos que era melhor voltar para o hotel correndo embaixo da chuva mesmo para ver se aquecia um pouco. Ontem foi dia de rafting. Foram 3h30 descendo pelo Le Verdon em cima de uma bóia. Alguns trechos foram meio entediantes, na maioria das vezes a gente remava, se molhava. A água absurda de congelante. Mas a paisagem... Faz valer qualquer coisa. Passamos pelo meio do Gorge du Verdon, que é o maior cannyon da Europa. Eu olhava aquela imensidão de rochas refletida na água verde clara do Verdon... Mais a adrenalina, o medo. O frio. O cabelo todo ressecado dentro do capacete. E quando enfim a gente chegou do outro lado, ainda tinhamos de carregar a bóia morro acima até a van que nos esperava. Quando eu tirei o wet suit, eu estava fedendo. Queimei um monte de calorias, tava feliz para burro. Mas fedendo. Então S também tirou a wet suit dele e soltou um grunhido. Os dois fedendo. Eu olhei para ele e disse, “Ok, olha bem para mim. Se você não achar que eu estou sexy agora a gente tem um sério problema.” Então ele deu risada (e ele sempre diz que conhece uma armadilha quando vê uma), olhou para mim e disse, “Você sempre está sexy para mim.” Um pouco de intimidade demais, pode ser. Temos camisetas nojentas e cuecas molhadas penduradas nas maçanetas do quarto, e o estado do tênis dele é algo a se refletir, estou sendo sincera... Mas sabe que eu estou gostando desse momento adrenalina-aventura? Fica melhor ainda depois que a gente janta famintos, vai para o hotel e toma um banho quente. Sempre caímos na cama depois de um banho quente...

domingo, 27 de junho de 2010

LA VIE EN...

Antes de começar essa jornada eu tinha colocado como um dos objetivos conhecer a região de Provence. Eu queria alugar um carro, fazer a região e depois subir até Paris. Esse era meu plano. Só que a pessoa aqui é pouco distraída e conseguiu a façanha de obter 80 pontos na carteira de motorista. Eu vim para a Europa, mas minha carta está de castigo no Detram até começo de agosto. Aliás, foi assim que S e eu caímos nesse test drive antes de qualquer outra coisa. Ele se ofereceu para dirigir, já que eu não poderia alugar um carro sem carta. Então estamos aqui, fazendo o roteiro que eu sempre quis. Vir a Provence para ver os campos de lavanda floridos (Ainda não vi, mas estamos chegando lá!!!). Enquanto estamos aqui, porque não explorar um pouco a região? Aproveitar que estamos com um carro e podemos nos dar ao luxo de rodar pelas estradas, parar em vilarejos. A gente saiu de Grasse ontem. Uma cidadezinha sem muito fascínio, mas cheia de perfumarias. No caminho, subindo para a região de Haute de Provence a gente já foi encontrando umas cidadezinhas hiper charmosas. Todas com cara de conto de fadas, sabe? Paramos em St. Vallier de Thiey. Uma igrejinha no centro, uma torre com um relógio e um monte de casinhas apinhadas entre ruelinhas medievais. Uma vontade de sair pelo meio brincando de Cinderella. Dia de grandes acontecimentos por ali. Um grupo de crianças encenava pequenas historinhas em um palco, no que eu imaginei que fosse uma Festa Junina da escola local. Famílias com seus cachorros pelos gramados. Um mercado de pulgas na calçada, no melhor estilo “Família Vende Tudo”. (Sorry Y! Não tinha nenhuma caixinha de porcelana como aquela... Juro que volto em Lisboa e encontro para você.) Depois eu fui caçar um pouco de cafeína para a manutenção do meu vício, e S. foi comprar bolachas e framboesas para comermos no carro. Essa é minha idéia de road trip. Largar o tênis jogado no banco de trás. Comer frutas com o vidro aberto, embaraçando o cabelo no vento. Brigar para ver quem tem no Ipod a trilha sonora mais interessante. E parar no acostamento quando se deparar com uma vista de cair o queixo. Às vezes só ficar em silêncio. Sentindo o asfalto passando embaixo dos pneus do carro e pensando, “Como a França é linda!”. Bem diferente do que eu esperava. Mais crua, mais viva. Mas é a França, a França de verdade. Das pessoas comuns. Daquelas que investem em uma vida em comunidade, trabalham no comércio local. Gente com carrinhos de bebês nos gramados e cães pulguentos atravessando as ruas. E quando eu acho que estou quebrando todos os clichês. Que nenhum galã de bigode ralo e camiseta navy vai aparecer e me falar de “amour”. Que nenhum senhor de boina vai cruzar a rua em uma bicicleta levando baguetes de pão e uma garrafa de vinho na cestinha da frente. Quando eu estou bebendo meu café na França de verdade, a voz de Edith Piaf ressoa pelo terraço da boulangerie cantando “La Vie en Rose”. Então eu começo a rir. Porque é obvio. Porque é mágico. E porque, por mais que a gente faça planos na vida. Nem nos nossos mais delirantes sonhos, eles são tão perfeitos do que quando a vida se encarrega de fazer do jeito dela.

sábado, 26 de junho de 2010

S

Nunca falei direito de S. Só que ele tem adoráveis olhos azuis e que a gente se conheceu em Sevilla, de lá ele me seguiu até Granada e acabamos combinando de nos encontrar na Itália para esse Test Drive. Foram alguns dias só, e dois malucos se jogam em uma jornada de semanas e intimidade extrema muito rápido. Porque será que duas pessoas fazem isso? Porque foi especial em Granada, isso é verdade. E porque é difícil e raro encontrar alguém com tanto em comum. S possui um negócio na internet. Trabalha algumas horas por semana virtualmente. Pode trabalhar de qualquer lugar do mundo, só precisa de um computador e conexão com a internet (alguma semelhança?). Ele também tirou esse ano para viajar pela Europa de mochila. Temos praticamente os mesmos países na lista para conhecer. E ele também se desfez de tudo antes de vir. Fechou apartamento, doou o carro. É um homeless como eu, com algumas caixas guardadas em algum depósito de New Jersey. Tanto eu como ele temos um senso de humor sarcástico, gostamos de dar risadas de coisas que não é todo mundo que acha engraçado. Também gostamos de ficar sozinhos e em silêncio (essa talvez foi a melhor coisa do test drive até agora, descobrir como ficamos bem em silêncio um com o outro). Nós nos jogamos nesse test drive porque é tão difícil encontrar alguém como você mesmo. Alguém com as mesmas ambições de vida. Os mesmos valores. Que também topa passar perrengue em estação de trem, e dormir em hostel, e se enxergar carregando mochila até na terceira idade. Alguém que pensa como seria legal criar filhos assim. Que em vez de achar uma loucura, acha que seus filhos cresceriam com uma incrível noção de vida. Toda noite dorme de conchinha comigo (em inglês é “Big spoon, small spoon”). Pois é, ele é minha Big Spoon. Só que a gente tem tanto em comum, que ele também tem uma monstrinha. Uma história que o machucou e tirou sua capacidade de confiar. Ele está aqui, fazendo sua parte, se esforçando para se deixar envolver. Eu consegui dizer adeus ao meu monstrinho. Ele está tentando dizer adeus a dele. Mas nesse exato momento, no nosso test drive, tem uma monstrinha sentada no banco de trás.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

VILLA SAINT EXUPERY

Quando a gente mochila, ficar em hostel não é apenas econômico, como uma grande mão na roda para se organizar na cidade. Viajando sozinho não existe opção mais barata do que ficar em hostel. Agora no test-drive, S e eu escolhemos muitas vezes hotéis baratos, que ficam o mesmo preço de um hostel mas nos dão mais conforto e privacidade. De qualquer forma, resolvemos ficar em um hostel durante nossa estadia em Nice. O Villa Saint Exupery. Nice tinha opções de pequenos hotéis, melhores localizados e tudo, mas esse hostel era tão bem cotado que não podíamos resistir. Sim, tem alguns inconvenientes. Escolhemos um quarto privado, então não precisamos lidar com seis outras pessoas roncando nas beliches a nossa volta. Mas ainda assim o banheiro era compartilhado, e isso eu acho que é a pior parte de ficar em hostel. Levar sua necessaire, o chão todo molhado. Não poder espalhar meus cremes e frescurinhas em cima da pia. E qual é o lado bom de ficar em um Hostel? Os bons hostels possuem uma grande estrutura e pessoal treinado para te dar dicas, agendar passeios, integrar com outras pessoas. Hostels sempre possuem uma agenda legal de atividades, coisas divertidas para fazer. O Villa Saint Exupery fica em Nice Nord, subindo o morro da cidade. Um pouco afastado da cidade, mas eles tinham um sistema de shuttles que nos levavam até o tram, e do tram para a praia e para a cidade velha era um pulo. O hostel também foi instalado em um antigo mosteiro. Na decoração várias menções ao Pequeno Príncipe, e seu planetinha. Cheio de quartos e escadarias labirínticas, tinha uma grande área de lazer comum, cheia de computadores, sofás e um bar com a irresistível proposta de “Cerveja à €1”. Sim! Vááários pós-adolescentes de 20 e poucos bebendo muita cerveja e paquerando nas áreas comuns. Lembra daqueles acampamentos que a gente ia com a escola na adolescência? É como passar uns dias em um lugar assim. Divertido. Mas só por uns dias. Na primeira noite sentamos com a molecada para tomar cerveja barata e assistir ao jogo. Acabamos conhecendo um grupo de trintões e conversando até tarde. S ficou aliviado de saber que não era o único se hospedando no meio da molecada de 20 e poucos. Eu só dou risada! Dentro das ofertas de atividades, além do mergulho que fizemos, podíamos fazer cannoying, velejar pelo Mediterrâneo. Excursões à Cannes, Antibes, Saint Tropez, Mônaco. Aulas de yoga e alongamento pela manhã, e toalhar e esteiras de praia para empréstimo sem nenhum custo adicional. Em nossa última noite, voltamos para o hostel depois de um dia lindo, um longo jantar romântico regado à champagne e longos olhares; e acontecia na Capela (a antiga capela que foi transformada em lounge) uma festa temática. “Qualquer coisa, menos roupas”. O pessoal todo fantasiado de sacos de lixo, lençóis, papel alumínio. Juro que tinha um que “vestiu” a própria mochila. Foi tema de tese durante a noite. Viajando é praticamente impossível manter o conforto que a gente tem na própria casa. Ainda mais viajando por tanto tempo, e não tendo casa como nós dois. Mas é delicioso sair da zona de conforto, arriscar outros esquemas, experimentar o diferente. Às vezes a experiência não é boa. Outras dá um gostinho de saudades, um gostinho de algo que já vivemos. Mesmo que seja só de assistir, tomando uma cerveja, como era paquerar o gatinho na festa e mal ter dinheiro para o lanche. Como o Pequeno Príncipe, todos nós acabamos saindo por aí. Alguns de nós procuram outros planetas. Outros sempre retornam para cuidar da rosa, tirar os baobás pelas raízes. Mas no fundo, com 20, 30, 40... somos todos crianças tentando nos descobrir.
http://www.villasaintexupery.com/

quinta-feira, 24 de junho de 2010

AZUL DA COR DO MAR

Tim Maia tinha um medo danado de avião. Nunca veio até a Riviera Francesa para ver a cor do Mediterrâneo. Mas ele devia estar imaginando esse mar quando escreveu a música. O Mediterrâneo é lindo. Lindo! Lindo! Lindo! Não vou cansar de dizer isso. Porque quando a gente se depara com aquela imensidão, com aquela cor que parece até pintada de canetinha, as palavras somem, a língua trava e é a única coisa que sai. Lindo! A Van me disse que é lindo e único assim por causa das pedras. As praias são todas de pedras e é esquisito, porque a gente cresceu fazendo castelinho de areia e correndo onde as ondas quebram. Aqui nada disso. As crianças vão pulando para não machucar os pés e jogam pedrinhas umas nas outras. Imagina aquelas vezes que você está deitada tomando Sol e tem sempre um grupo de pentelhos jogando areia na sua perna... é machuca! Também, não dava para ter tudo. O que mais eles queriam? Eu já estou com uma meia dúzia de hematomas daqueles bem redondinhos, de ficar deitada e virando igual frango assado em cima das pedras. Mas eu sou café com leite. Fico roxa até com vento forte. Então depois de torrar no Sol da Riviera, eu pulo naquela água surreal, que é geladinha e refrescante. Sem uma onda que seja. Como uma enorme piscina natural, que deixa o corpo todo salgado depois. S é meio hiperativo. Precisa estar se mexendo o tempo todo. Corre todos os dias, não para quieto muito tempo. Então ele queria mergulhar terça-feira. Não foi preciso muito esforço para me convencer. Mergulhar nesse mar aburdo??? Ah! Quem não quer? E fomos. Passeio de barco pela costa de Nice, então colocamos os wetsuits e caímos na água. Cada um teve um instrutor acompanhando. Eu achei que ia ficar apavorada com o respirador e a idéia de depender de um tanque de oxigênio para minha vida, mas me saí bem como se tivesse nascido para isso. Passeei entre os recifes de corais. Vi uma moréia linda. Coloquei a mão em uma anêmona e, embora o som não se propagasse embaixo do mar, juro que gritei quando ela grudou no meu dedo. Depois, era babar. Nadar entre os cardumes de peixes multi-coloridos. De vários tamanhos, de todos os formatos. Uma aventura que eu só tinha visto em filmes. E eu estava ali. Inteira. Vivendo. No meio do Mediterrâneo, nadando com os peixes. Eu que queria tantas maravilhas, mal estou acreditando nas que estou vivendo. Como eu disse, tem coisas que só há um jeito de descrever: Lindo!

terça-feira, 22 de junho de 2010

FRENCH RIVIERA

A saída de Ventimiglia foi um pouco stressante. Ficamos quase meia hora, eu tentando discutir em italiano com um senhor mal educado da bilheteria da estação. Na Itália eles têm umas maquininhas automáticas para comprar bilhete de trem, o que é até confortável já que em toda estação as filas da bilheteria são kilometricas. Eu tentei várias vezes comprar nossas passagens para Nice, mas a máquina travava toda vez que ia finalizar a compra. Então eu fui até o guichê, e o tal do signore ficava insistindo que não dava para comprar na bilheteria, que nós devíamos comprar pela máquina automática. Nice é bem próxima, dá uma hora de trem. Você precisa pegar um trem de Ventimiglia até Montecarlo e depois mudar para um até Nice. Trens partem a cada meia hora para Montecarlo, mesmo assim, ninguém quer perder tempo esperando trem quando se está indo para a Riviera Francesa. Daí eu comecei a ficar nervosa. Explicava para o signore que a máquina estava quebrada e ele, “No, No, No.”. Ahhhhh! Vontade de matar um. Por precaução S. até ficou a uma distância segura. A idéia dele era de a gente entrar no trem sem comprar as passagens mesmo, e o fiscal nos abordasse pagaríamos a multa. Claro que ele só sugeriu isso de leve, e com o tamanho da minha rosnada ficou quietinho cuidando das mochilas até tudo ser resolvido. No final acabamos conseguindo comprar os bilhetes no guichê 3 minutos antes do trem partir. Corremos com todas as mochilas penduradas, eu ainda carregando um saco cheio de kiwis que S. comprou no sábado, porque ele adora kiwis, então agora a gente tem de carregar esse saco enorme de kiwi para cima e para baixo.Mas ninguém está reclamando não. Eu carrego o saco de kiwi, e ele carrega minha mala extra, então eu acho que é uma troca justa. A viagem de trem é rápida, mas maravilhosa. O trem vai cortando as montanhas e, a cada curva, vão se desdobrando baías de mar hiper azul, rochas com mansões encrustadas. E vai caindo a ficha de que eu estou na Riviera Francesa. Toda a lenda, o charme, tudo tem mesmo um porque. Acho que essa é uma das regiões mais lindas do mundo. O Mediterrâneo deslumbrante aos nossos pés. O Sol lindo e puro no céu. O Verão chegando exatamente hoje na Europa. Não sei se esse vai ser o ponto alto da minha viagem, mas com certeza vai ser o mais hedonista. Aliás, vou encerrar por aqui. Tem uma praia maravilhosa aqui do lado, e um gatinho de olhos azuis me esperando.

domingo, 20 de junho de 2010

QUATRO LOJINHAS PARA AMAR EM VENEZA (OU TRÊS LOJINHAS E MEIA...)

Ah, sim! Saí de Veneza e nem postei minha garimpada habitual de lojinhas fofas que eu gosto tanto. Mesmo postando de Ventimiglia, acho que ainda vale, porque tenho certeza de que as lojinhas continuam lá em Veneza.

GIOVANNA ZANELLA


Shoe addicted, run for your life! Essa loja faz valer a pena a viagem, o investimento e todo o stress de subir e descer escadinha de canal nessa cidade. A bonita é uma artesã de sapatos. Daquelas pessoas doidinhas e super criativas. Já estampou páginas da Haper´s Bazaar e da (Claaaro!) Vogue. Eu parei na frente da vitrini dela e tive um xilique! Quase não dei conta que estava babando e lambendo o vidro da frente. Sapatos cheios de personalidade, em cores e formatos lúdicos, para quem gosta de exclusividade. Tem scarpin em formato de gôndola, sandália à la “Era Venenosa”, e modelos com ar de época e cores super contemporâneas. Como as criações são únicas e exclusivas, dá vontade de entrar e ficar levantando cada um dos modelos para ver se algum é o seu número... mas Giovanna, que é doidinha e temperamental, fica no cantinho da loja (que é também seu atelier) trabalhando nos modelos novos e com o maior ar de “Ne touchè pas!”. Se eu comprei algum? Não tive coragem nem de perguntar o preço! Talvez nem seja tão caro, mas a mochila está transbordando.

Giovanna Zanella
Calle Carminati, 5641
30122 – Veneza
giovannazanella@yahoo.it
+39 041.5235500


CAMPO MARZIO DESIGN


Quando eu era criança, colecionava papel de carta. Não sei se foi isso, ou se faz parte do mesmo gene que faz mulheres babarem por sapatos e bolsa, e adorarem chocolates. Mas eu tenho uma coisa com papelarias. Sou babona, doente. Não posso entrar em uma que me esqueço por um bom par de horas. Quando a gente tromba com uma gracinha como essa então. A Campo Marzio surgiu em 1933 em Roma quando um artesão desconhecido abriu sua lojinha em que se dedicava a confecção e personalização de canetas, cardenetas e todo tipo de material de escritório. Depois da Segunda Guerra Mundial a técnica se popularizou e a Campo Marzio Bottega se espalhou por toda Itália. Eu não tinha achado essa loja em Roma, mas fui achar aqui em Veneza. A delicadeza e a quantidade de canetas, era uma coisa de enternecer o coração. Pena que eu estou com a mochilona nas costas, senão dava para entupir de mimos cada um dos meus amigos. Hoje em dia a loja já está no mundo inteiro, e entrando no site dá até para se informar em como abrir uma “bottega” na sua cidade. E aí? Pensando em ter um negócio próprio? Me chama de sócia!

Campo Marzio Design
Calle della Mandola, 3654/A
San Marco 30124 Veneza
+39 041.8122697
http://www.campomarziodesign.it/


ATELIER MAREGA E L´ATELIER (1 lojinha e ½)

Um bom motivo para voltar para Veneza? Para mim seria o Carnaval. Queria mesmo poder experimentar a festa por lá. A cidade é repleta de ateliers e lojinhas, e dá até para fazer uma oficina e voltar para casa com uma máscara “fui-eu-mesma-que-fiz-mamãe”. Mas tem gente que não tem tanto saco para artesanato (e virginianas que preferem a perfeição de quem sabe fazer), então o melhor mesmo é comprar ou alugar seu vestidão e sua máscara e sair fazendo a linha Casanova por entre os canais. Das centenas de ateliers pelos quais eu tropecei, o Atelier Marega com certeza seria onde eu me montaria para o Carnaval. As roupas e as máscaras eram todas tão luxuosas, que eu estava só esperando o Hether Ledger aparecer de trás de algum biombo. A proprietária ainda tinha a maior paciência com meu italiano tarzan e me deu uma aula de mascaras e costumes do Carnaval de Veneza, enquanto terminava lindamente de colocar penas em mais uma máscara perfeita.

Atelier Marega
Fondamenta dell´Osmarin, 4968
+39 041.5223036
http://www.marega.it/

E o L´Atelier entra como ½ lojinha. Porque é minúsculo e aconchegante e quase escondido demais. Mas a proprietária faz acessórios lindos, e o vestido de noiva que estava na vitrine me fez ter vontade de virar anoréxica para entrar nele. Suspiro...



L´Atelier
Fondamenta San Giorgio dei Schiavoni
30122 – Veneza
latelier@hotmail.fr

sábado, 19 de junho de 2010

VENTIMIGLIA


Ventimiglia é a cidade que fica na fronteira da Itália com a França. Na verdade na fronteira com Mônaco, mas a gente sabe que é tudo a mesma coisa. Como eu vim parar aqui? Bom, na verdade a gente estava procurando um jeito de sair de Veneza e chegar na França. Em Nice, mais especificamente, que é a maior cidade francesa logo próxima à Itália. Acontece que Veneza é do outro lado do país. Fazendo costa com outro oceano. Depois de pesquisar por horas e sites e possibilidades sem fim, descobri que a melhor maneira para chegar em Nice seria de trem. Aliás, de vários trens. Um até Milão. Um até Ventimiglia. E um até, enfim, Nice. Como nenhum dos dois aqui está com pressa (já que eu não tenho mais data para estar em Londres), resolvemos fazer uma quebra nessa, que seria uma torturante viagem de trem de mais de 10 horas. Ontem pegamos o trem de Veneza para Milão e outro até Ventimiglia. E reservamos um hotel aqui na intenção de seguir para Nice no dia seguinte. Acontece que Ventimiglia acabou sendo uma deliciosa surpresa. Se eu for contar, a cidade não tem nada de nada. Cidade pequena litorânea. Uma extensa praia de pedras, cercada por um encosta montanhosa. Como se fosse um aperitivo de tudo o que vamos encontrar em Cotê D´Azur. S. e eu decidimos em uníssono que seria uma boa idéa desempacotar as mochilas e esticar por aqui mais uns três dias. Estou grata. Fico angustiada de pensar que vou ter de pular igual macaco por cidades denovo. Quero fazer as coisas devagar, saborear melhor cada pedaço. E S. está na mesma vibe. Hoje fiquei andando pela cidade, me derretendo por cada cachorro que eu cruzava (Sim! Vários Cavaliers por aqui!!!). Depois coloquei meu biquini e fiquei um tempão deitada nas pedras da praia, assistindo o dia e me perdendo em pensamentos de céu, mar, estradas que desaparecem em montanhas. Depois encontrei S. e fomos até o Mercado Central (que fica algumas quadras do nosso hotel). Compramos frutas, alguns queijos, pão e suco. Sentamos na praia e fizemos picnic até começar a chover. Esfriou e chove por todo o Norte da Itália. Eu estava ouvindo nas notícias hoje que a culpa é da chegada do Verão. Com chuva e friozinho, nos trancamos no hotel. É sempre muito bom ficar na cama com o barulho de chuva na janela. Agora parece que não chove mais. Abrimos a janela e deixamos o som das ondas entrar e dormir com a gente. Hoje durante o jantar, na varanda de um restaurante a beira mar bem charmoso, soltavam fogos de artifício. S. disse que essa cidade o lembra um pouco de New Jersey Shore. Me lembra um pouco também alguma coisa de casa. Embora eu nunca tenha morado em praia... Talvez porque aqui não há gafanhotos, e seja cheia de pessoas simples, que vivem suas vidas de maneira autêntica todos os dias. Eu poderia morar em uma cidade assim por um tempo. Sinto inclusive que precisava morar em uma cidade assim por um tempo. Enquanto eu suspirava pela pracinha central, e pensava em como eu estava apaixonada por essa cidade. Surpreendida, encantada, sem ter colocado a menor das expectativas; S. vira para mim e diz “I really like this city!”. Eu soltei um sorriso de “Eu também” e segurei sua mão. Eu sei que a gente devia procurar ver os defeitos. É a tolerância a eles que vai nos fazer ficar juntos. Mas fica impossível não sucumbir quando a gente continua encontrando as coisas em comum.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

VENEZA

Ok, parem de suspirar. Todo mundo fala de Veneza, de como é romântica, de como é isso e aquilo. Mas para ser sincera eu ainda não sei o que achar dela. Minha experiência de Veneza é bem surrealista para falar a verdade. Aquele amontoado de becos e ruelinhas labirinticas, os canais para todos os lados, os preços astronômicos. Às vezes eu me derretia com a paisagem, outras me sentia em um hotel temático de Las Vegas. Tivemos chuva quase todos os dias. Consegui um tempo de Sol ontem para aproveitar a cidade, me perder pelas ruas e conversar com as pessoas. S. ficou trabalhando no Hotel quase o dia todo. Fizemos um acordo logo de cara. Como os dois trabalham virtualmente, e precisam de sua própria dose de silêncio e privacidade, combinamos que teríamos nosso tempo para ficar sozinhos e evitar que um mate o outro antes de chegar em Paris. Isso é uma coisa legal que nós temos. A capacidade de ficar em silêncio juntos. De respeitar a individualidade do outro. Assim posso trabalhar nos posts do blog, me perder tirando fotos por horas, escrever, ler; sem me preocupar em como ele se sente em relação a isso. Mesmo porque S. detesta se perder, e eu adoro. Ontem voltando para o hotel, depois de termos tido a "brilhante" idéia de tomar cerveja com um grupo de 20 e poucos anos, ficamos quase uma hora subindo e descendo escadas de canais e sem ter a menor idéia de onde estávamos. Até eu, que sou mais desencanada para esse tipo de coisa, estava stressada. Cansada, com frio, vontade de fazer xixi. Até entendo que a cidade foi projetada assim exatamente para confundir os invasores, mas poxa! Eu queria matar quem teve a idéia. E não sei quem disse que é um bom lugar para passar Lua de Mel. Após pagar uma obsenidade por um passeio de gôndola e se perder naquelas ruelinhas sem fim, mesmo com os inúteis mapas, tenho a sensação de que qualquer casamento já começa desgastado. Bom que tanto eu quanto S. conseguimos rir de nosso próprio mal-humor. No final Veneza é toda romântica também. A gente se apertava para passar nos becos que se perdiam um atrás do outro, tomamos prosseco em um jantar delicioso a luz de velas em algum restaurante que descobrimos (e provavelmente nunca seremos capazes de voltar), até tentamos pegar um Concerto de "As Quatro Estações" de Vivaldi. Mas como não conseguimos achar o teatro no meio de tanto canal, sentamos em um bar e assistimos ao jogo de França x México. E voltando para o hotel, perdidos e bêbados. Quando enfim aliviados nos descobrimos no meio da Piazza S. Marco, S. me tirou para dançar. No meio da madrugada, do nada, sem música. Lógico que na vida real a gente mais tropeçou e pisou um no pé do outro do que qualquer outra coisa. Ainda assim, era noite em Veneza, e o garoto que eu tô afim me tirou para dançar.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

ADEUS MONSTRINHO!!!



Era uma vez uma garota que conheceu um monstrinho. Eles tentaram namorar, não deu certo. A garota seguiu sua vida e o monstrinho casou com outra pessoa. Alguns anos depois a garota e o monstrinho se reencontraram. Ele havia se separado e quando a encontrou, se declarou: “Já te perdi uma vez. Não vou te perder de novo.”. Esse monstrinho estava morando em Nova York, então ele mandou uma passagem de avião, e a garota largou tudo e foi atrás dele, para que eles pudessem viver um grande amor. A garota jogou-se de corpo e alma nessa história. Acontece que alguns meses depois o monstrinho disse para a garota que tinha de fazer uma viagem, viagem essa que ela foi descobrir (um pouco tarde demais) ter sido uma segunda lua de mel com a ex-mulher. A garota ficou arrasada. E como diz o ditado, “gato escaldado tem medo de água fria”, desde então, toda vez que ela conhece um novo cara, ela tem certeza de que ele também é um monstrinho. Então ela sofre, e pensa sempre no pior, e procura sarna para se coçar, e passa o dia imaginando que esse novo cara está viajando para Paris com a ex-mulher.
Parece uma típica história de trauma de cafajeste, como tantas outras que a gente já ouviu por aí. E para ser sincera, a garota aqui, durante muitos anos se escondeu atrás dessa história para justificar todos os medos e inseguranças de começar um novo relacionamento. Semana passada, além dos meus surtos habituais, eu estava surtando com a idéia de S. também ser um monstrinho. Mas como eu sempre gosto de ver o lado bom de cada coisa, toda essa overdose de surto, insegurança, dúvida e medo, acabou se tornando numa grande análise desse episódio da minha vida. E sabe o que eu descobri? Que ter um monstrinho na vida é algo que nós escolhemos para nós mesmas. Verdade. Não que um dia eu tenha acordado e pensado, “Hum! Tô com uma vontade de quebrar a cara com um cafajeste hoje...”, mas eu fui completamente complacente com a entrada desse monstrinho na minha vida. Eu explico. O monstrinho era uma pessoa horrível. Não apenas fisicamente (porque ele era feio de doer), mas como pessoa. Arrogante, aproveitador, racista, preconceituoso, machista. Só que eu fiquei tão obcecada com a possibilidade de viver um grande amor, que comecei a fazer concessões em tudo. Cedi ao ciúme infantil dele. Acabei virando uma ciumenta controladora insuportável eu mesma. Fui passando em cima de tantos valores, tantas coisa que para mim eram importantes, tudo pela possibilidade de estar com alguém. E acabei esquecendo de prestar atenção em uma única coisa. O que eu QUERIA. Sim, eu queria uma grande história de amor (ainda quero!). Mas, será que eu queria uma grande história de amor COM UM MONSTRINHO? Com uma pessoa que não confia em ninguém, nem na própria mãe? Que não tem um único amigo sincero, todos por interesse? Um materialista, racista, homofóbico, capaz de soltar os comentários mais atrozes na frente de todo mundo? É claro que uma pessoa como essa vai destruir meu coração. Então porque muitas vezes nós mulheres nos prendemos em relacionamentos com monstrinhos mesmo quando sabemos que aquilo que nos é oferecido não chega nem perto do que buscamos para nós mesmas? Mesmo sabendo que eles não correspondem àquilo que esperamos de um homem? Conforme a data de vir para Veneza foi se aproximando, mais e mais eu me vi obcecada com a idéia de que S. “iria para Paris com a ex-mulher”. Lá estava eu novamente, no limbo que eu permiti que aquele monstrinho me deixasse. Então eu parei e comecei a analisar toda minha história emocional. Desde antes do monstrinho. Desde minha adolescência até agora. E o que eu descobri foi que eu NUNCA me perguntei o que EU queria de um relacionamento. Eu praticamente fui deixando que os homens moldassem e adaptassem as formas de relacionamento em que eu me encontrava. Claro que minhas experiências não poderiam ter sido diferentes. Mesmo quando nós não somos coerentes, a vida é. Então eu vim para Veneza no zero a zero. Completamente nova para começar uma partida. Antes de ficar obcecada em viver uma grande história de amor, eu vou descobrir se eu QUERO viver uma grande história de amor COM S. Antes de mais nada, tenho já uma grande história de amor comigo mesma, e é essa pessoa que precisa vir em primeiro lugar. Tenho conversado com tantas amigas, e garotas de todas as idades. Claro que o azar de achar um monstrinho no meio do caminho não é assim tão popular, mas todas elas esbarram nessa mesma questão. A de se deixar cegar pela possiblidade de alguém, e esquecer de olhar para esse alguém. Nós mulheres, adoramos ficar obcecadas pela idéia de um relacionamento e esquecemos de perguntar o que nós realmente queremos. “Ah, mas ele é tão bonito, e quer ficar comigo...” Ok! Problema dele. E VOCÊ? O que VOCÊ quer? “Não sei o que eu faço, porque eu acho que ele está saindo com outra.” Great! Você QUER alguém que esteja saindo com você e com outra? Então problema resolvido. “Acho que esse cara só quer me comer...” Se você QUISER luxúria, qual o problema? Fica muito mais fácil quando a gente começa a olhar para nós mesmas e descobrir o que queremos. Um grande amigo meu me disse esses dias que começou a sair com uma garota e ela já virou para ele e disse “Escuta, eu sou do tipo casadoira, viu!”. Tudo o que eu consegui pensar foi, “Meu Deus, essa menina está desesperada!”. Ela nem conhece o cara ainda, está começando a sair com ele, e já está obcecada com a idéia de uma relação tradicional. Ela não está nem um pouco preocupada se ele é o tipo de cara com quem ela quer casar. Só se importa com a idéia de que alguém case com ela. Descobrir o quanto eu vinha me ignorando esses anos todos foi a coisa mais importante para me dar calma e paz nesse episódio. Antes de ter um colapso de imaginar S. fugindo com a ex-mulher assim que a gente pise em Paris, resolvi que vou descobrir antes se ele é o tipo de pessoa com quem eu quero ficar DEPOIS de Paris. Demorou um pouco para eu conseguir enxergar isso, e durante alguns anos eu achava que essa história do monstrinho nunca me traria nada de bom. Mas hoje estou muito feliz e aliviada de ter finalmente me despedido dele. Monstrinhos só aparecem na vida da gente, quando a gente está distraída demais de nós mesma.

TESTE DRIVE - PARTE VENEZA

Então eu acabei conseguindo chegar em Veneza. Alguém mais tinha dúvidas além de mim? Alguém mais achou que eu ia surtar e simplesmente pegar o primeiro trem que estivesse no caminho e sumir pela Itália? Ok! Pessoas de pouca fé! Cheguei em Veneza ontem e não parou de chover até agora. S. chegou um pouco depois de mim e qual não foi minha surpresa ao vê-lo e perceber que estamos no mesmo lugar onde estávamos há um mês e meio atrás. Os sentimentos, a vontade. Tudo do jeito que estava quando nos despedimos na estação de Sevilla. Acho que isso é bom. Tinha muito medo de olhar para cara dele e ver apenas um estranho. Acho que a idéia agora e virarmos cada vez menos estranhos. Estou sem conexão de internet aqui, então vim correndo em uma lan house por dois minutinhos só para dar esse update. Chove muito em Veneza hoje e eu estou calma. Eu calmo. Você calmo. Todo mundo calmo. Brasil me decepcionou um pouco no jogo de ontem (mas S. torceu direitinho!). Queria muito que fizesse Sol amanhã, porque Veneza é linda e eu quero muito poder explorá-la direito. Hoje tudo o que conseguimos foi encharcar os cabelos e destruir minha sapatilha. Então é oficial. Test drive começou. Ficamos aqui até sexta. Ainda não decidimos para onde vamos depois e como vamos chegar na França. Mas nenhum dos dois está com pressa. Ontem conversando com S. eu disse "Tive medo de não chegar aqui. Tive medo que você não chegasse aqui.". Ele, com aqueles olhinhos lindos azuis, me respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, "Eu prometi para você que ia dirigir para você na França. Foi a primeira coisa que te prometi. É claro que eu ia chegar aqui.". Acho que ele também está calmo. :-)

domingo, 13 de junho de 2010

POST IT

Sabe que Shakespeare nunca saiu da Inglaterra. Mesmo assim a maior parte de suas peças se passam fora de lá. Verona é cenário de, talvez, uma de suas peças mais famosas (não sei se Hamlet é a mais famosa...), “Romeu e Julieta”! A história dos dois adolescentes apaixonados que se matam por amor. E a cidade tem cara de peça de Shakespeare. Só que com um monte de turistas. Um MOOONTE! A arena é toda charmosinha (cá entre nós, achei mais charmosa que o Coliseu!!!) e estavam montando o cenário para uma série de óperas dirigidas pelo Franco Zeffirelli que vão estreiar dia 18. Achei tão chic. Assistir “Aida” na Arena de Verona, com esse céu absurdo daqui... Hoje eram 21h e ainda estava claro. Muito calor, quase não dá para andar na rua. Fiquei até tarde ontem com os nigerianos assitindo futebol e conversando em um bar onde todo mundo que trabalhava era brasileiro. Engraçado isso. Onde vou descubro um barman brasileiro. Eles são os melhores. Te dão dicas da cidade, te contam quais as roubadas, o que vale a pena. E te dão drinks de graça. Ajuda a matar as saudades que têm estado tão grandes. Fiquei 45 minutos com a minha avó hoje no telefone. Ela chorava toda vez que dizia que sentia saudades, tadinha. Tem esse lado que é tão difícil também. Para os dois lados. Hoje fiquei o dia no meu quarto. Conversei um monte, com um monte de gente. Respondi alguns emails, trabalhei. Vou dar uma geral na mala agora. E fiz pesquisas para idéias do que fazer daqui para frente. Realmente a vida é muito sábia. Achei a melhor opção de todas e estou extasiada. Ainda bem que meu curso foi cancelado, porque quero bem mais fazer isso agora do que queria fazer o curso. Só esperar para ver se dá certo agora. Coisinha bonitinha que achei aqui de Verona. Ontem fui na Casa da Julieta. A gente sabe que é de mentirinha, e que se nem Shakespeare esteve aqui, imagine seus personagens de ficção. Mas a vida não tem graça se a gente não liga o faz de conta de vez em quando e entra na brincadeira. O museu da Julieta em si não tem muita graça. Meio vaziozão, com algumas peças de cenários usados em montagens e filmes da peça. Um balcãozinho que todo mundo se debruça e chama por Romeu. E uma estátua de bronze de Julieta, onde sempre tem um engraçadinho tirando foto apalpando os seios da moçoila. Mas o que me derreteu, e me trouxe lágrimas aos olhos, foi o túnel de passagem na entrada da casa. Todo coberto com bilhetinhos e post its e declarações de amor em todas as línguas e do mundo inteiro. Impossível ficar cético em frente disso. Sentei em frente, fiquei olhando para cima. Legal que post it é um negócio que a gente usa para deixar lembrete. Para não esquecer de coisas importantes. Fiquei imaginando os milhões de batimentos cardíacos que continham aqueles bilhetes. Tem tanta gente amando no mundo. Parece que Verona existe só para nos lembrar disso.


sábado, 12 de junho de 2010

BAD, BAD NEWS!!!

Semana de emoções intensas. Depois da frustração de ter meu curso de Escrita Criativa cancelado, ontem descobri uma coisa estarrecedora. Ainda estou chocada e não sei como reagir a isso. A pessoa aqui, (que já foi loira) conseguiu deletar sem querer todas (eu disse TODAS!!!) as fotos que tirou de Roma... Outro dia dei uma limpada na lixeira do desktop. Nem olhei o que era, só cliquei em "limpar lixeira". Vi o computador deletando "187 itens" mas não dei muita atenção. Ontem à noite, procurando as fotos para colocar no post do gelatto e da vespa.... Sim! Foi-se a pastinha de Roma. Tenho algumas que baixei no facebook e só. O resto, nunca mais. Ai que dor!!!!!!! Eu sempre acho que as coisas têm algum significado oculto. Fico aqui tentando imaginar qual o "significado oculto" disso. O que a vida está tentando me mostrar, tentando me ensinar. Será que inconscientemente eu também acho minhas fotos um lixo (engraçado que eu postei o diálogo com a Y e um monte de gente me mandou email dizendo que achavam mesmo uma boa idéia eu fazer um curso de foto. Será que todo mundo acha minhas fotos um lixo???) Para ajudar estou quase me arrependendo de ter marcado a viagem com S. Quase achando uma loucura, achando que ele não é o cara. (Qual o significado disso? Intuição? Auto-boicote?). A gente teve uma experiência especial em Granada, mas faz um tempo. Muita coisa aconteceu. Já se perdeu em mim tudo aquilo que a gente sentiu. Talvez fosse só encantamento com a novidade também... Estou achando que podemos ter muito mais ilusões em relação um ao outro, do que realmente correspondem à realidade. Somos dois estranhos na verdade. Para não surtar denovo, ou estragar tudo como eu sempre faço, tomei uma decisão. Resolvi que não vou falar com ele, ou escrever para ele, até chegar terça-feira e a gente se encontrar cara à cara. Daí eu decido o que eu faço. Se eu continuo com os planos e embarco no "test drive". Se eu decido apenas viajar por um tempo com um amigo. Ou se eu pego minha mochila e sigo para a França sozinha.  Nesse exato momento o que eu decidi foi mudar de hotel aqui em Verona. Hotéis são bem caros na Itália inteira (Ai! Dói o bolso!!!), e eu vim para o HI Hostel, que em todo lugar costuma ter uma certa qualidade de hospedagem. Pelo visto não aqui na Itália. Vou para um Bed & Breakfast agora e depois passear pela cidade do meu Tataravô. À tarde vou torcer contra a Argentina com uns nigerianos que conheci ontem à noite em um Bar. Copa do Mundo por aqui é bem morna, nada daquela emoção que eu estou acostumada. Grupos de amigos nos bares gritando e torcendo, e cerveja e buzinas... Acho que não existe lugar no mundo em que se curte a Copa como nós no Brasil. Será que isso também quer dizer alguma coisa?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

AS PAIXÕES DE ROMA

Estou deixando essa cidade, mas não sem antes falar das duas grandes paixões de Roma. Gelatti e a vespa.

Il Gelatto

 


Cada lugar que tenho passado estou criando um vício e carregando comigo. Em Portugal foram as “natas” que, embora eu não tenha acesso em outros lugares, traduzi pelo maravilhoso hábito de sentar em uma pastisserie e comer um doce e um espresso no meio da tarde. Um respiro e uma qualidade de vida que realmente muda seu dia. Em Dublin foi o hábito de sorrir e ser gentil. Tudo bem que isso não é um vício, mas é um hábito que eu tento praticar todos os dias, mesmo quando estou rabugenta e mal-humorada. Londres, a capacidade de “olhar” a vida. Foi a cidade que despertou novamente minha curiosidade... mas eu não posso falar de Londres ainda. É um assunto desconfortável. Espanha foi a cultura de tapas. Maravilhosa! Isso devia ser sancionado pela ONU e adotado em todos países do mundo. Petiscar pequenas porções de comida enquanto se toma uma cerveja gelada e conversa-se com os amigos. Acho um mega hábito saudável. Marrocos foi insano. Ainda não me recuperei de Marrocos. De lá trouxe o cheiro do chá de hortelã, que roubou o posto do Earl Grey como meu favorito, e o suco de laranja. Quase todo dia me pego correndo atrás de um copo de suco de laranja fresco e espremido na hora. E em Roma, a grande obsessão pelos sorvetes. Tem mais sorveteria aqui do que padaria em São Paulo. E todos (TODOS!!!) são divinos. Aveludados quando chegam a boca, de explodir o paladar. Eu fiz uma pesquisa intensiva de gelatti por aqui. Todos os dias tomava pelo menos um. Sagrado. Como escovar os dentes ou passar rímel. Meus favoritos de longe: Tiramissú, Panna Cota, Pistacchio e o (preparem-se porque isso faz gritar até a mais controlada das mulheres) Nuttella! Ahhhh! Acho que o gelatto é o elemento gastronômico mais presente na vida dos romanos. Mais do que a pizza, a pasta, o vinho, ou qualquer outra coisa que a gente tem como referência. As sorveterias vivem apinhadas, em todos os bairros. Crianças, velhos, casais adolescentes, executivos, emos, metaleiros, freiras, famílias, gays, estudantes e escritoras brasileiras perdidas por Roma. Todo mundo sai pelas ruas lambendo cones de sorvete. Depois de um tempo você começa até a sentir que o seu dia não está completo se não tomou um gelatto ainda. Até por isso acho que as sorveterias ficam abertas dia e noite. Super comum ver baladeiros de plantão no meio da madrugada de Trastevere fazendo fila para comprar um gelatto. Eu tive uma chefe que, sempre que eu surtava com o trabalho (o que era bem frenquente já que eu surto sempre e por tantos motivos) virava para mim e dizia: “Adriana, vai dar uma volta, tomar um sorvete, depois você resolve isso.” E sempre funcionava. Fazer uma pausa no dia, lamber aquela maravilha gelada, deixar escorrer pela mão e melecar os dedos como criança. Comer a casquinha depois ouvindo o “crunch”. São coisas que sempre nos remetem a um tempo de infância em que tudo era fácil e as certezas muitas. Um sorvete por dia, e a gente começa a entender porque os italianos têm tanta fama de saber aproveitar a vida. Não esqueça de pedir o seu com “panna” em cima (chantilly caseiro). Quando se pára para tomar um sorvete, tem-se direito à tudo.


La Vespa



Verdadeira obsessão, Roma é toda movida a elas. Gosto muito daquele filme do Nanni Moretti, “Caro Diário” (ai! Quem nunca viu esse filme, pega no final de semana e sinta por duas horas o que é Roma!). No filme ele fica passeando o tempo todo por Roma com sua vespa. É a maior tradução da liberdade, do savoir vivre e do péssimo sistema de transporte público da cidade. As vespas são abundantes, baratas e pode-se comprar até nas agências do correio. Todo romano tem um capacete em seu kit de sobrevivência básico. Mesmo aqueles que não têm vespa. Se não têm vespa, estão sempre de carona com alguém que tenha. Elas dominam os espaços de estacionamento, ocupam quase todas as faixas das ruas. E, diferente de São Paulo em que a gente deseja a morte dos motoboys toda vez que desce a Rebouças, respeitam muito o trânsito. Adoro ficar vendo as pessoas em suas vespas paradas no farol. Mulheres elegantíssimas, de salto alto e capacete, dirigindo suas lambretinhas espertas. Homens de negócio, jovens, senhores e senhoras em um estágio bem avançado da terceira idade. Alguns tem até um protetor que vai por cima da perna e evita que suas roupas de grife fiquem sujas da poluição da cidade. Uma curiosidade que faz tudo mais charmoso ainda é que as vespas não possuem marcha. É só ligar e acelerar. Mesmo as maiores. Sem marcha. Tipo, minha sobrinha de 10 anos é capaz. Nada de complicação, nada de drama. Suba em uma vespa e aproveite a viagem. Existem vários lugares que alugam vespas para turistas, por hora ou pelo dia. Claro que eu tive oportunidade de dar uma volta. De garupa, porque continuo sem carta de motorista por causa da minha obscena pontuação no trânsito de São Paulo. Marianna, uma amiga de Ivan aqui em Roma, me levou uma noite para uma volta. Vou contar que, dar uma volta de vespa por Roma à noite é uma experiência obrigatória. Essa cidade (Que já é um desbunde!) fica indescritível toda iluminada. A Piazza Venezia surgindo atrás de uma esquina foi um dos momentos de maior maravilha que vivi até agora. Tipo de coisa que faz a gente abrir os braços e gritar “La vita è bella!”. Vou contar um segredo: Ela é mesmo. Prá caramba!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

TUDO, POR ENQUANTO...

Hoje eu peguei o metrô de Roma pela última vez. Ficava repetindo isso na minha cabeça o tempo todo. “Última vez, última vez dessa jornada”. Não que o metrô de Roma seja uma coisa incrível que a gente queira guardar na memória para sempre. Muito pelo contrário. As duas linhas que atendem Roma são bem precárias e anos luz distantes dos metrôs das principais capitais do mundo. São Paulo inclusa. A linha azul é mais antiga. Atende o Coliseu, o Circo Máximo. E é minha escolha para chegar ao charmoso Monti. A linha vermelha, que é laranja na verdade, é melhorzinha. Tem trens mais novos, mais limpos, e atende Piazza Spagna, Barberini (Fontana di Trevi), Piazza del Popolo e Vaticano. Ambas linhas são um saco no final da tarde. Sério. Carnaval na Bahia. Vontade de cortar os pulsos. Um bando de gente se empurrando, e turistas cutucando as lentes de suas máquinas fotográficas nas suas costas. Nada charmoso. Sabe a Estação da Sé às 18h? Igualzinho. O transporte público romano é tão deficiente que está sempre lotado. Acaba com o glamour. Lógico que encontrar pencas de brasileiros pelos vagões é de praxe. Muito fácil identificar brasileiros. Eles sempre falam muito alto. Muito mesmo. E fazem comentários sobre as pessoas à volta em português, porque têm certeza de que ninguém pode entedê-los. E eles estão sempre tentando tirar fotos dos lugares que são proibidos (como a Capela Sistina, por exemplo). Sempre tem um, com cara de espertinho, apontando a camera para o teto e fazendo cara de malandro para o amigo. Dá uma vergonha que nem te falo. Olho bem para a cara deles, para ver se eles se desintegram com a força do meu pensamento. Não funcionou até agora, uma pena. Ok, então eu peguei o metrô pela última vez hoje para jantar com o Evandro (meu amigo padre que mora aqui há 12 anos) perto da Piazza del Popolo. E eu estava pensando como aquela talvez fosse a última vez que eu descesse aqueles degraus por um bom tempo. Vou voltar à Roma, é certo. Mas nunca se sabe onde a vida vai nos levar até lá. E eu estou toda irritada, porque estou atrasada para variar. E os turistas ficam olhando embasbacados, perdidos nas placas da estação de Termini, e eu meio que dou cotoveladas pela multidão e chego até as maquininhas de comprar tickets. Em dois segundos compro meu ticket para pegar o metrô, enfio a moeda, pego o bilhete impresso, desapareço pela catraca, e... E me lembro surpreendida dos meus primeiros dias em Roma. Quando fiquei cerca de 15 minutos tentando imprimir um bilhete desses de metrô na máquina. E não fazia idéia de onde enfiar a moeda. Me dava vontade de chorar, estava mais frio, bem mais frio do que agora, e eu ficava olhando a minha volta para ver se uma viva alma me ajudava a conseguir comprar o maldito bilhete de metrô. Cidade nova, mapa de transporte público novo, e eu sem saber onde me enfiar em tudo isso. E depois perdida nas direções das duas míseras linhas de metrô de Roma. Foi um tempo até eu me apropriar disso tudo. Um bom tempo até conseguir comprar um bilhete em dois segundos. Um outro tempo para conseguir expressar minha indignação por uma espera demorada em uma loja de telefonia na Via del Corso. Tudo em Italiano Tarzan lindo! Acho que isso era tudo o que eu procurava por aqui. Não é o bastante. Não é suficiente. Mas é tudo por enquanto. Então melhor arrumar a mochila e procurar o próximo. Amanhã assisto minha última aula na Dilit. Fiquei um pouco insatisfeita com o método da escola. Irritada toda vez que tinha de cavar (juro que até suava para conseguir alguma interação!!!) uma conversação com alguma russa esquisita de sombras azuis até a testa, mas vou para minha última aula de italiano amanhã também completa. Fiz muitos amigos. Alguns de alma. Alguns para sempre. E depois me jogar em um trem até Verona. S. me escreveu hoje. Está passando pelo inferno astral, o coitado. Faz aniversário dia 28. Preso em Sardenha, sem um tostão no bolso, sem cartões de crédito funcionando. Engraçado que ele é o que gosta de ter tudo planejado. Eu tava surtando essa semana por ter meus planos mudados, mas é assim. Toda vez que se planeja muito, a vida dá uma rasteira e te deixa de castigo. Melhor rir. É o que eu acho. Ele tem alguma dificuldade para rir ainda. E vão aparecendo as diferenças.... De qualquer forma, terça nos encontramos em Veneza, se ele conseguir sair do enrosco onde se meteu. Pode ser que ele chegue depois. Estou incrivelmente calma com tudo. Acho que fiquei tão nervosa nos últimos dias que acabou o estoque. Não sobrou nada. Estou calma. Levando um dia de cada vez. O importante é ter perspectiva. Saber o que se quer para si mesma. O que os outros são ou fazem, não está em nosso poder. É mesmo responsabilidade de cada um. Eu vou cuidar da minha. Vamos ver até quando dura. Pode ser que em menos de 48h eu esteja surtando denovo....

quarta-feira, 9 de junho de 2010

DIÁLOGOS COM OS MEUS AMIGOS

EU - Tô surtando. Tô super surtando aqui.
Y - O que foi?
EU - Meu curso de Escrita Criativa. O que eu ia fazer em Londres. Foi cancelado. Parece que só eu queria fazer esse curso... Tô surtando Y! (batendo os dentes...)
Y - (blasè) Dri, desde que eu te conheço você surta. Qual a novidade?
EU - (tom profundo de drama) Agora é sério. Não sei o que vou fazer da minha vida daqui a três semanas. Tinha tudo organizado já, não sei o que faço, não sei para onde vou daqui três semanas!!!!
Y - (blasè) Há três meses atrás você estava surtando porque tinha chegado na Europa e não tinha idéia do que ia fazer da sua vida em três semanas.
EU - (tom normal, frustrada porque ela não comprou minha chantagem emocional) Não tá ajudando...
Y - (alegre e surpresa) Ah, já sei! Porque em vez disso você não fica em Londres e faz um curso de fotografia? Ia te fazer bem porque, sinceramente, suas fotos são horríveis!

E eu amo meus amigos!!!

terça-feira, 8 de junho de 2010

EU CALMO, VOCÊ CALMO, TODO MUNDO CALMO...

 Me preparando para deixar Roma. Muito mais psicológicamente do que nas questões práticas. Fiquei tão acostumada que estou parecendo cego em tiroteio de me imaginar fora dessa cidade. Consegui costurar Roma na pele. Não vi nem metade das cidade da Itália que eu gostaria, mas vou sair daqui com muito mais completude do que saí de qualquer outra cidade. Hoje fiquei quinze minutos olhando a porta do guarda-roupas aberta só para tentar fazer uma imagem mental de como seria ter tudo aquilo dentro da mochila denovo. Uma caixa grande está indo para o Brasil também. Estou bem na fase de decidir o que eu vou continuar carregando e o que não vai fazer mais parte da minha bagagem. Cada dia mais descobrindo que não cabe tanta coisa assim. Ou melhor, que a gente não precisa de tanta coisa assim. O que se leva na bagagem é basicamente o essencial. E isso não é muito não. Não precisamos mesmo de tantas coisas. Claro que para completar o cenário, sempre tem um caos de leve. Porque não me lembro de nenhum momento de verdade da minha vida, sem um caos de leve. Recebi notícias horríveis ontem. O curso de Escrita Criativa que eu estava doente para fazer em Londres em julho foi cancelado. Falta de quorum. Hum. Quando eu acho que tenho minha vida um pouquinho planejada, vem alguma coisa me mostrar que não dá para controlar nada. Eu deveria rir. Talvez eu ria. Só que não agora. Agora está caos, e eu não faço idéia do que fazer da minha vida daqui três semana. Para ajudar estou surtando em dúvidas do que fazer da minha vida nessas três semanas que vem. Teoricamente vou encontrar S. em Veneza terça-feira que vem e vamos fazer Provence e subir para Paris de carro. Não vejo S. desde Granada e, embora a gente se fale sempre por email e skype, eu não tenho mais certeza disso também. Eu quero que dê certo, mas não consigo nem me achar no meio de mim, quanto mais ele. Chegou a véspera e eu estou surtada. Apavorada talvez seja a palavra correta. Ainda bem que eu tenho amigas sensatas que mesmo do Brasil são capazes de dizer “Eu calmo, você calmo, todo mundo calmo!”*, e eu dou uma respirada e salvo umas calorias em barras de chocolate. Porque o medo é tão forte, né? Eu vivo falando que a única coisa capaz de vencer o medo é o amor. Eu pratico muito amor. Exercícios práticos, todos os dias. Treinar meu coração a enxergar a vida e as pessoas de outras formas. Mas nem sempre dá tudo certo. Às vezes eu fico insegura. Pra caramba! Às vezes eu tenho medo. E daí parece que todo aquele amor que eu consegui acumular na minha vida por tanto tempo desaparece. Eu gostaria tanto de ser uma pessoa calma, ponderada, equilibrada. Que consegue aceitar que um dia passa de cada vez, e que nada como a maravilha de um dia seguinte para nos tornar melhores e maiores. Mas eu não sou assim. Eu sou caótica, insegura, superlativa. Sou ótima para dar conselhos, mas vai ver se a pessoa segue os próprios!? Toda complicada. O mais difícil é conseguir me amar sendo tão diferente do que eu gostaria de ser. Aceitar que eu sou esse poço de defeitos, e que as pessoas também vão me amar exatamente por tudo isso. (ou vão tentar, porque vou te falar... às vezes é difícil!!!) Na verdade eu tenho um medo danado de que as pessoas um dia descubram como eu sou uma pessoa imperfeita, descubram tudo isso e me abandonem para sempre. Talvez por isso eu esteja tão apavorada de ter de arrumar um jeito de chegar em Veneza daqui uma semana. Tenho medo de que quando a gente chegue em Paris, S. descubra tudo isso e me abandone para sempre. Ah, a gente nunca sai do jardim de infância. Só quero que meus amiguinhos brinquem comigo no recreio. Todo mundo calmo? Então eu calmo também. Roma está me escapando pelos dedos em mais uns dias. E à partir daqui, não faço a mínima idéia do que vai acontecer.

* "Eu calmo. Você calmo. Todo mundo calmo." é uma piada interna. Mas o sentido é esse mesmo aí... ;-)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

TRÊS LOJINHAS PARA AMAR EM FIRENZE

MAESTRI DI FABBRICA



O legal que essa não é só uma lojinha só, mas várias lojinhas. É uma cooperativa de artesãos da região da Toscana. Eles estão em um galpão super descolado no centro da cidade, e cada sala expõe o trabalho de um artesão. Peças de arte, pottery, cremes e sabonetes super delícias, molduras, móveis e coisinhas para casa. Tudo com jeitinho de exclusivo, que ainda dá para esnobar e dizer “Comprei de um artesão de Firenze...”. Isso é luxo, tá!?

Borgo degli Albizi, 68r
50122 Firenze
+39 055 242321
http://www.maestridifabbrica.it/



A.N.G.E.L.O VINTAGE CLOTHING



Eu não uso roupa de brechó. Sempre que precisava colocar alguma peça para alguma filmagem, ficava imaginando que a dona da peça já estava morta, e não acho muito legal ter de pensar nesse tipo de coisa (a pessoa tem imaginação, difícil evitar!). Mas eu babo em coisinhas vintage. Acho lindo. E acho demais quem tem coragem de adotar no visual. A A.N.G.E.L.O. é de fazer surtar qualquer figurinista ou produtora de moda. O dono ainda tem o orgulho de te anunciar que eles são conhecidos “Worldwide!!!” (Tá, benhê!?). Os vestidos anos 60-70 e os de festa mega conservados quase me fizeram mudar de opinião a respeito de brechós. E o mais legal é que no mezzanino tem tipo de um saldão com peças mais do dia-a-dia que são vendidas por kilo. Claro que a balança que pesa tudo também é vintage. A unidade de Firenze é filial da A.N.G.E.L.O. VINTAGE PALACE de Lugo (que tem um acervo mais fantástico ainda.... humm!)

A.N.G.E.L.O. VINTAGE CLOTHING
Via DEI Cimatori, 25/r
+39 0055 214916
http://www.angelo.it/


PINEIDER

Essa é fresca até dizer chega. Aquele tipo de lojinha que a gente entra para babar, e jura que um dia vai ficar milionário só para poder sair com uma sacolinha dali. Especializados em bolsas, malas, carteiras, bagagens e.... papelaria de luxo. Hum!!!! Imagina uma parede inteira dos mais delicados convites de casamento que você já viu na vida... Imaginou? Agora imagina também uma coleção (Caréééérrima!!!!) de bolsas para bebês e lembrancinhas de batizado, toda em tons pastéis (Ah, se eu fosse milionária, comprava tudo para a MH...). E eles tem alguns artigos em prata que eu acho um luxo (mas só vi gente rica de verdade usando) como abotoaduras, prendedor de notas... Tão fino que nem me deixaram tirar foto!

FRANCESCO PINEIDER S.P.A.
Negozio di Piazza Della Signoria, 13, 14R
50122 Firenze
+39 055 284655
http://www.pineider.com/

domingo, 6 de junho de 2010

PERSPECTIVA E OS TRAVESSEIROS DOS HOTÉIS

Final de semana em Firenze. Karin (uma suíça do meu novo nível na aula de italiano, e uma garota linda, especial e doce como ninguém) também estava com vontade de fugir no final de semana, e foi minha desculpa perfeita para criar coragem e sair um pouco de Roma. Pegamos um trem depois do almoço na sexta-feira e estamos voltando agora, domingo à noite. Foi adorável. Em todos os sentidos. Se tivéssemos planejado alguma coisa não teria sido tão bom. Apenas compramos as passagens e nos jogamos na cidade. Para não dizer que foi perfeito, não conseguimos entrar no Ufizzi. Sim, falta grave. Fiquei muito desapontada, queria mesmo ter entrado. Uma das coleções mais importantes do mundo, afinal. Mas foi a falta de planejamento, e a bobeada de não ter agendado horário pela internet com antecedência. Teríamos de ficar pelo menos duas horas em uma fila. Com um final de semana apenas para aproveitar Firenze, quem quer ficar em uma fila? Final de semana lindo. Sol forte e céu azul até às 20h. Com direito a Pôr do Sol alaranjado na Ponte Vecchio. Uma das cenas mais lindas dessa jornada, sem dúvidas. Firenze é como uma casinha de bonecas. Linda, irresistível e charmosa. Prédios e ruelinhas medievais, que fazem a gente se sentir em um cenário de algum filme. Beleza por todos os lados. Antes de ter escolhido Roma para o curso de italiano, pesquisei algumas escolas em Firenze também. Acabei escolhendo Roma, porque Roma é Roma e é muito difícil competir com isso. Mas passei os últimos três dias pensando se não seria uma boa idéia fazer uma faculdade de História da Arte por ali. Não me incomodaria em nada. Embora eu não tenha certeza se quero fazer outra faculdade ou estudar História da Arte. De qualquer forma, o que eu quero dizer é que, se isso é o que você quer para sua vida, não consigo imaginar um lugar melhor. Estudar História da Arte no berço da Renascência, pelas ruas que Micchelangelo e Botticelli gastaram as solas dos sapatos, beber garrafas de chianti e adentrar a noite com o perfume de costelas grelhadas, queijo pecorino, azeite trufado e cantuccini molhadas em vinho santo. Karin e eu nos acabamos nas lojas ultra charmosas, mesmo porque é muito charmoso fazer compras em Firenze. E nos consideramos as garotas mais sortudas do mundo porque conhecemos alguns ragazzi incríveis que foram nossos anfitriões por todo o final de semana. Nos levaram aos melhores restaurantes. Aqueles escondidinhos que os turistas não conhecem, e não custam os olhos da cara. Nos contaram curiosidades da cidade, nos ensinaram tradições toscanas e nos ajudaram a praticar muito italiano, aumentar o vocabulário e corrigir pronúncia. Então é isso mesmo que você está entendendo. Final de semana em Firenze com tudo o que a gente teve direito, refeições incríveis e a companhia de italianos mega charmosos. Sim, eles eram quase irresistíveis. Só digo quase porque resistimos. Batemos com as cabeças nos travesseiros chegando ao hotel, mas resistimos. Claro que eu sou uma mulher solteira. Sou livre e bem crescidinha. Isso é fato. Ainda. Mas estou tentando essa coisa nova de ter “perspectiva” na vida. Parte primordial disso é agir de acordo com o que se quer para si. Alguns anos atrás eu estava em uma mesa tomando uma cervejinha com uma querida amiga, que me contava que ia casar. Estávamos comemorando, e celebrando e muito felizes porque ela esperou bastante para encontrar o atual marido dela. Então chegou uma conhecida em comum, uma garota que tem um comportamento sexual bem agressivo em se tratando de homens. Nada contra, pelo contrário. Ela sempre me pareceu uma pessoa autêntica e coerente com suas atitudes. Admiro mulheres que têm a coragem de assumir uma vida sexual super ativa e plural, sem se importar com a opinião geral da sociedade. Mas é claro que esse estilo de vida não condiz com uma pessoa que quer casar, ter filhos, constituir família. Então essa garota soltou uma frase que me chocou muito mais do que as peripécias sexuais que eu estava acostumada a ouvir da boca dela: “Ah, eu também quero tanto casar! Ter filhos, uma casa, cachorro...” Peraí! Quer casar com qual dos??? Eu não pude evitar de comentar incrédula, “Nunca imaginei que você quisesse casar!”. Porque, pelo menos para mim, é incoerente que alguém que dorme cada noite com uma pessoa diferente e ainda faz questão de bradar aos quatro cantos do planeta sua intimidade, tenha intenção de construir um relacionamento nos moldes mais tradicionais. Não dá para encontrar estabilidade e comprometimento no meio de luxúria explícita (Sei lá! De repente até dá, mas é o último lugar que eu ia procurar...). Sem juízo de valores, entendam bem. Não gosto muito de limitar as coisas em bom ou mal. Existe apenas o que você quer, o que te faz bem, e o que você não quer. Mas é preciso ser coerente. O fato de a gente poder fazer algo, não significa que a gente tenha de fazer algo. Eu poderia ter beijado aquele italiano lindo e charmoso. Sim. Eu poderia. Mas eu não era obrigada a isso. Nós tomamos champagne, e jantamos, e eles nos levaram para andar pela cidade, e nos mostraram Firenze linda iluminada da Piazza Micchelangelo à noite, e ele falava em italiano comigo (que é uma língua muito romântica, confesso!), e se eu for parar para pensar não existe nada que me impeça de beijar um italiano lindo e charmoso às margens do Rio Arno em uma noite quente de primavera. Mas não é isso o que eu quero . Não é isso o que eu busco. Não quero um beijo perdido no meio da noite seguido de uma passagem de trem já comprada para sei lá onde. Houve uma época que isso era exatamente o que eu procurava. Hoje para mim, é só mais do mesmo. Não me acrescenta mais nada. Eu quero o velhinho que estará segurando minha mão na Terceira Idade. Quero alguém que faça planos comigo. A casa, os filhos e o tal do cachorro. E para chegar até lá eu já me dispus a dar uma chance para outra pessoa. Pode ser que não dê certo. Não tenho como saber sem antes viver, um dia de cada vez. Por mais que eu tenha de socar minha cabeça no travesseiro voltando para o hotel à noite. Estou aqui fazendo a maior força para ser coerente.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

IO HABLO LE ITALIANO!

Passou! Só um pouquinho, mas passou o bode de ontem. Normal rolar um bode de vez em quando. E estou super orgulhosa de mim mesma porque consegui canalizar toda aquela energia em pura produção. Trabalhei, li, escrevi, respondi emails, estudei. Faxina geral. Igual época de Ano Novo e a gente dá uma rapa no guarda-roupa. Mó orgulho! Eu resolvi virar uma “brava” estudante de italiano, e arrasar nas aulas. Joguei toda minha energia essa semana nisso. Comprei um livro de gramática. Me mato na escrivaninha do quarto todas as noites fazendo exercício, repetindo os textos em voz alta, copiando tudo no caderno. Eu nunca fui CDF, então na verdade nem sei como se estuda direito. Sempre tive a sorte de tirar notas boas só com o que lembrava das aulas. Mas eu estou tão decidida a sair daqui falando o máximo de italiano que eu for capaz, que às vezes tenho vontade de gravar um vídeo só para minha mãe ficar orgulhosa de mim. Daí eu fico toda pimpona, me sentindo a garota mais dedicada do mundo. Hoje cedo fui para a escola mais cedo, fazendo “filminho” na cabeça. No meu “filminho” minha nova professora chega na sala dos professores e diz para todo mundo ouvir “Nossa! Mas essa Adriana é uma aluna muito dedicada, é impressionante como ela evoluiu tão rápido e em tão pouco tempo. Vamos mudá-la de nivel novamente!”. E eu saio saltitante pela cidade tagarelando com o meu italiano fluente com todas as pessoas na rua. Só que a realidade é um pouco diferente, sempre é. Hoje depois da aula, eu esperando os elogios do meu cúmulo de dedicação, e vem a professora me dizer, “Olha Adriana, você está acompanhando bem o nível, ótimo, vamos continuar assim, mas... você precisa prestar atenção e parar de falar português.” Hein? Como assim? Eu crente que estou arrasando com o melhor do meu sotaque “novela-das-oito-do-Benedito-Rui-Barbosa” e ela vem me dizer que eu estou falando português? Ahhhh! Verdade. Dá tilt nessa cabecinha que já foi loira. Atualmente quando eu abro a boca sai uma salada de palavras em italiano, português, espanhol e francês. O italiano é a língua que eu acho que estou falando. O português é língua materna, e a semelhança às vezes é tão grande que chega a ser covardia. O francês porque já estudei por dois anos, e o Tico-e-Teco às vezes buscam automaticamente quando entram no modo “falar língua estrangeira latina”. Agora, me explica o que o espanhol está fazendo no meio disso, já que eu não sei falar espanhol e nem gosto da língua? Talvez porque todo brasileiro também nasça falando portunhol. Só pode ser. Verdade que não tenho muitas orportunidades de praticar. Na escola a gente se encontra, fala umas três frases de small talk em italiano, mas na hora de fofocar precisa de mais fluência, né? E ninguém está em um nível assim ainda, então tenho falado muito mais inglês do que italiano. A boa notícia é que eu compreendo. Enrrosco na hora de falar, mas estou compreendendo muito bem o italiano, e isso é uma grande conquista. No final acabo sempre me virando. Evandro (meu amigo padre que está em Roma há 10 anos) disse que ficou dois meses sem abrir a boca quando chegou aqui porque morria de vergonha. Disse que admirava minha cara-de-pau. Acho que isso é uma coisa para eu me orgulhar também. Outro dia eu estava no supermercado e queria comprar peru fatiado, mas não fazia a menor idéia de como era “peru” em italiano. Então eu fiquei fazendo mímica, pulando, batendo asas e fazendo “Glu-Glu-Glu” para o atendente, em frente ao frigorífico, até ele dizer “Ah! Tacchino!”. Pergunta se eu me esqueci dessa palavra de novo? Nunca mais! A professora podia ser mais cordial com os meus esforços. Estou até pagando mico em público por aqui! (Ok, Ok! Eu vivia pagando mico em público em São Paulo também...) De qualquer forma ainda tenho uma semana de curso. Vou continuar a fazer “filminho”, exercitar minha cara-de-pau. Deixar alguém orgulhoso, nem que seja eu mesma.

PINUP YOURSELF IN THREE LESSONS

Essa nova geração tem uma sorte danada. Quando eu era adolescente, para trocar dicas de cabelos e penteados, a gente precisava marcar na casa de alguém depois da escola, e os resultados eram algumas coisas bem duvidosas, que invariavelmente me davam vontade de chorar (como a vez em que eu resolvi cortar uma “franja falsa” com a tesoura da cozinha... tava na moda.). Hoje é tanta informação, tanta tecnologia, que é só dar um pulinho na web e pegar dicas passo a passo com a melhor amiga de alguém. A primeira foi “roubada” da Micaela que publicou no FB. As outras duas garimpadas em seguida. Fun!





quarta-feira, 2 de junho de 2010

AHHHH!!! AGORA TÁ EXPLICADO...



Tô tão mais tranquila! De saber que o Brasil vai ganhar a Copa. Tipo de coisa que tira um peso das costas da gente, né? O tal do curandeiro nigeriano passou dois dias olhando em um espelho e foi a essa revelação que ele chegou. Não é emocionante? O país dele não tem nenhum outro problema mais urgente precisando de resposta, né? E não existe nada mais importante acontecendo no Brasil esse ano para a TV UOL reproduzir isso, olha só! (Antes que alguém diga alguma coisa: Não! Não tem nada mais empolgante acontecendo na minha vida hoje para eu acabar postando isso. Tô cansada e entediada, já falei.)
Estou exausta. Completamente exaurida de energia. Vontade de dormir por uns dois anos. Arrumar minhas malas e voltar para casa. Até fui com as meninas assistir a parada de manhã. Feriado em Roma. Dia da República. Eu queria ver o Berlusconi! Acabei vendo só o presidente da Itália. Um cara com cabelo branco que eu nem sei o nome (Ok, eu poderia dar um google e parecer mais culta e informada aqui, mas não tô afim!). Muitos homens de uniforme pela rua. Meu Deus, Porque homens em uniformes são tão empolgantes para nós mulheres? Alguém sabe me explicar isso? Quando eu era adolescente a moda era contratar cadetes do exército para dançar nos bailes de debutantes. A gente ficava toda ouriçada. Hoje me senti com 14 anos. Cochichando com as amigas e trocando sorrisinhos com os homens de fardas. Ah, mas nem isso me animou de todo. Deu uma esfriada no final da tarde, e eu que tinha de estudar e trabalhar e correr atrás de aprender italiano porque estou gastando uma grana nesse curso, só tenho vontade de me enfiar embaixo do edredon e me anestesiar no sono. Nem todos os dias são 100%. Às vezes é assim, mas é legal também. Quero todas as emoções, viver intensamente todas as emoções. Tédio, cansaço, insatisfação, fazem parte do pacote. Por isso é legal também. Só preciso ficar atenta. Ser paciente também. Agora à pouco estava com vontade de deletar para sempre o arquivo de word do meu livro. Hoje estou achando tudo o que eu faço um lixo. É o tal do pacote. Vou estudar gramática de italiano, ouvir o OSHO no youtube, comer uma barra de Lindt pra ver se passa. Talvez eu devesse mesmo me enfiar embaixo do edredon. Dormir até que seja outro dia.

terça-feira, 1 de junho de 2010

SÈSSO I LA CITTÀ

Era uma vez… quatro garotas lindas, mas muito diferentes entre si. Uma noite elas colocaram suas melhores roupas, um certo tanto de maquiagem, e se encontraram em um endereço famoso de uma grande metrópole mundial para pegar um cineminha e estender a noite em um jantar e cocktails... Você teve a impressão de já ter ouvido essa história, hum? Só que a metrópole em questão é Roma, e as ragazze: Erna, Karin, Rachna e titia aqui. Colocamos as melhores roupas que tinhamos em nossas bagagens (o que nem quer dizer muita coisa, ok) e fomos saltitantes até a Piazza della Reppublica assistir ao segundo filme. Estar sem um parzinho que seja de saltos me fez falta, juro. Mas valeu a intenção, e nem me venham dizer que o inferno está cheio delas porque é mentira. Eu estava com medinho de ver o filme e ser uma porcaria. Vamos combinar que o primeiro não foi grande coisa assim. Mas vou ser completamente parcial (as usual!) e digo que esse é lindo sim, e tem amor. Amor de verdade. Coisa que eu não sentia no primeiro, e que muitas vezes faltava no seriado. Deixando todas as observações perfeccionistas de lado, e aceitando o filme como ele é, o publico já sabe mais ou menos o que vai encontrar. Carrie vai aparecer com alguns looks duvidosos, algumas coisas que a gente se pergunta “Quem foi que teve a idéia de colocar um ser humano vestido desse jeito pela rua?”. A experiência que elas tiveram no deserto foi way different da minha. A cena de Lisa Minnelli cantando e dançando “Single Ladies” da Beyonce é impagável e faz o cinema inteiro gritar e aplaudir. Os homens e os “peitorais” ao longo do filme também fizeram o cinema vir abaixo em suspiros empolgadíssimos (Karin até imitava um cachorrinho! Hilário!!!) Sarah Jessica Parker está muito magra. Demais. Mesmo mesmo. Está feio até. Às vezes fica apavorante de ver na tela. Aliás, tirando Kristin Davis, todas magras demais para a idade que possuem. Uma pena. Para aguçar só um pouquinho, Aidan aparece (AAAHHHH! Alguém me explica como é que Carrie deixou Aidan escapar, não entendo até agora!!!) E as situações que elas se metem são glamurosas em um tom completamente irreal, dá aquela aura de conto de fadas contemporâneo que, na minha opinião, é o grande segredo do sucesso da franquia. Todas as mulheres do mundo estão colocando suas melhores roupas e indo ao cinema com as amigas para ver esse filme, e isso é uma coisa que só mulher entende. Eu já falei várias vezes aqui em como eu acredito que o amor é uma força poderosa e transformadora. Na verdade o filme, como toda a série, é a história de quatro mulheres procurando amor. Cada uma ao seu modo, com a sua verdade. Mas é amor. Tem uma pessoa linda e que eu amo (que aliás encontrou o amor do jeitinho que procurava e está vivendo uma história perfeita, do jeito que ela merece), me ensinou que perspectiva é tudo. Saber o que se deseja é essencial. A gente busca o amor, a gente trabalha o amor na nossa vida. E o que recebemos é exatamente aquilo que pedimos. Exatamente. Sem mais, nem menos. Quando falo de amor, não falo apenas do amor de homem e mulher. Esse a gente também busca. É quase o Santo Graal! A gente procura amor, romance, às vezes só alguém para dormir de conchinha. Eu procuro uma grande história de amor. Que supere todas as fronteiras, que redefina minha existência. Aquele tipo de amor de deixar a perna bamba, de fazer tudo na vida fazer sentido. Amor besta, bobo mesmo. De dar frio na barriga só porque ele disse “Saudades!”. Mas também busco o amor que gera vida. O amor incondicional, humano e fraterno, que nos torna espelho de todos os outros. Amor que faz nossa vida absoluta, completa. Aquele que me dá a certeza de que nada de mal pode me acontecer, e que serei sempre amada, protegida e acompanhada. Essa é a força da vida. Ela que pratico todos os dias. Não é uma coisa fácil, visto que na maior parte das vezes eu tenho vontade de matar algumas pessoas. Mas é algo que se cria hábito. Como todas as demais coisas vitais na vida. Higiene emocional. Escolho amar, confiar e respeitar, antes de qualquer outra coisa. E o que eu ganho são noites como essa. Uma taça de prosseco rosè em Monti e as conversas mais profundas sobre exatamente esses assuntos. Sempre que converso com meus amigos do Brasil, me perguntam “Muitos italianos? Tem saído com os italianos?”. Mas a minha experiência romana tem sido totalmente mulherzinha. Tem sido sobre mulheres, amizade, e como todas elas, de tantos países diferentes, estão todas comigo em uma coisa: “Eu procuro amor.”. É importante ter perspectiva. Porque o amor também nos trás pessoas como Erna, Rachna e Karin. Completamente diferentes entre si. Cada uma procurando amor ao seu modo. Como eu estou longe de casa, sentindo falta da voz e dos abraços das minhas pessoas queridas, são elas que me abraçaram no final da noite de hoje, agradeceram por tudo e me garantem “Você vai encontrar, tenho certeza!”. Também tenho certeza de que cada uma delas vai encontrar amor. Mesmo porque, sem saber, já estão me dando tanto do que procuro.