segunda-feira, 28 de junho de 2010

NO VERDON

Sabe aquele clima bucólico? Aquela calma e romantismo que estava rolando até agora? Então, esquece tudo. Chegamos na região de Gorge du Verdon, que é um Parque Natural da região de Haute de Provence. Uma das entradas para o parque é a cidade de Castellane. Já está na minha lista de cidadezinhas-com-cara-de-cinderella que eu gostaria de morar por um tempo. Aliás isso tem sido uma vontande cada vez mais crescente desde que saí de Roma. Vontade de ficar em uma cidade minúscula por um tempo... Mas assunto para posts futuros também. Chegamos e já nos enfiamos em uma trilha para fazer um pouco de hiking. No meio do caminho começou a cair uma tempestade. Qualquer pessoa que já fez algum tipo de esporte outdoor sabe que fazer hiking em tempestade é uma péssima idéia. Principalmente com raios e trovões. Meio do mato, você molhado e raios caindo. É uma combinação bem estúpida na verdade. Eu e S ficávamos olhando um para o outro, meio do tipo “Ok! O que a gente faz agora?” e continuamos pela trilha. Completamente encharcados e com lama até o tornozelo. Então os raios começaram a ficar bem próximos. Encontramos uma fazendinha que vendia queijo de cabra e nos enfiamos na garagem para nos protegermos dos raios e esperar a chuva passar. O casal de velhinhos que morava na casa abriu a janela e só viram aqueles dois malucos molhados dos pés à cabeça, encolhidos e morrendo de frio na garagem deles. Eu tentei com meu Francês Tarzan explicar o que estava acontecendo, mas acho que nossa condição era tão digna de pena que eles só acenaram com a cabeça e disseram que não tinha problema. Nos meus devaneios o casal de velhinhos nos trazia toalhas secas e canecas com leite de cabra morno para nos aquecer... mas esses são meus devaneios. Na realidade a gente começou a congelar e resolvemos que era melhor voltar para o hotel correndo embaixo da chuva mesmo para ver se aquecia um pouco. Ontem foi dia de rafting. Foram 3h30 descendo pelo Le Verdon em cima de uma bóia. Alguns trechos foram meio entediantes, na maioria das vezes a gente remava, se molhava. A água absurda de congelante. Mas a paisagem... Faz valer qualquer coisa. Passamos pelo meio do Gorge du Verdon, que é o maior cannyon da Europa. Eu olhava aquela imensidão de rochas refletida na água verde clara do Verdon... Mais a adrenalina, o medo. O frio. O cabelo todo ressecado dentro do capacete. E quando enfim a gente chegou do outro lado, ainda tinhamos de carregar a bóia morro acima até a van que nos esperava. Quando eu tirei o wet suit, eu estava fedendo. Queimei um monte de calorias, tava feliz para burro. Mas fedendo. Então S também tirou a wet suit dele e soltou um grunhido. Os dois fedendo. Eu olhei para ele e disse, “Ok, olha bem para mim. Se você não achar que eu estou sexy agora a gente tem um sério problema.” Então ele deu risada (e ele sempre diz que conhece uma armadilha quando vê uma), olhou para mim e disse, “Você sempre está sexy para mim.” Um pouco de intimidade demais, pode ser. Temos camisetas nojentas e cuecas molhadas penduradas nas maçanetas do quarto, e o estado do tênis dele é algo a se refletir, estou sendo sincera... Mas sabe que eu estou gostando desse momento adrenalina-aventura? Fica melhor ainda depois que a gente janta famintos, vai para o hotel e toma um banho quente. Sempre caímos na cama depois de um banho quente...

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