terça-feira, 28 de agosto de 2012

Birth...

Falei que não ia mais reclamar da vida, então não vou falar sobre o meu aniversário.
A única coisa que importa é que agora eu tenho 36 anos. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

PRECISO muito disso!



1001 maneiras diferentes de cozinhar melanzane


Acho que viajei mais nesses últimos 3 anos do que na minha vida inteira. É legal sim. É um puta privilégio. Um pouco cansativo também. Na minha última viagem eu ficava me perguntando como consegui ficar aquele tempo todo na mochila em 2010. Sem dúvida que os amigos que me abrigaram por jornadas mais longas no meio do caminho foram essenciais. Por mais maravilhoso que seja viajar, se você não tiver a mínima referência de casa, vai enlouquecer. De verdade. Trombei com vários que estavam bem fora da casinha. Cruzaram a linha. Ficaram tanto tempo fora que talvez nunca mais sejam capazes de voltar. Eles possuem uma certa ânsia nos olhos, e ficavam largados pelos hosteis. Estavam 2-3 anos fora de casa. Já não sabem mais nem definir suas nacionalidades. É muito sedutora a vida na mochila. Ela te chama, te clama. Você quer muito ir, mas depois de um tempo dá medo de não voltar. Eu sempre fico maquinando maneiras de descobrir o meio termo. Sempre disse que quero criar meus filhos na mochila, trocando fralda em aeroporto. Já não tenho mais essa ilusão. Pela simples razão de que não acredito mais ser possível encontrar alguém com o mesmo pique. Alguém que goste da mochila, sem ter dreads e ser hippie; ou que ame a cidade e todas as frescuras que eu gosto nela, sem ser um coxinha empertigado. De qualquer forma, não vem ao caso. Tirei umas férias esse mês e, embora em um primeiro momento meu impulso tenha sido de narrar a viagem como sempre faço por aqui, dessa vez senti que precisava de fato ficar em silêncio. Tenho sentido a vida me fechando tantas portas, e eu precisava ficar quietinha para poder ouvir onde as outras estavam se abrindo. Foi ótimo. Achei foco. Achei o que eu queria no meio da balburdia que eu sou. Voltei com o olho na bola. Decidida também a cortar o cabelo e fazer uma tatuagem. É. Viajar pode ser perigoso também. Dessa vez dei uma passada em Portugal, só para ver pessoas que eu amo e que não posso ver todo dia porque o mundo é muito grande e coloca pedaços da minha alma espalhados entre oceanos. Talvez por isso eu sinto que preciso sempre partir. Depois eu e a Keka embarcamos para a Itália. Primeiro porque ela não conhecia. Segundo porque em Roma foi um dos lugares onde eu fui mais feliz. E é sempre legal voltar para lugares onde se é feliz. O mais gostoso é descobrir que aquele lugar te desperta ainda mais amor do que você tinha pensado. De uma forma que eu só conseguia suspirar pontualmente ao longo do dia “Eu amo Roma!”. Sim, e Roma é amor ao contrário. Ela estava lá, do jeitinho que eu lembrava. Com o metrô caótico, as ruas cheias de turistas. O calor escaldante, os nasonos jorrando água. Os melhores gelatos do mundo. Depois descemos para Nápolis, que foi bem decepcionante. Feia, suja, perigosa. Totalmente dispensável. E de lá, Erna nos encontrou e embarcamos em um Panda pela Costianera Amalfitana até Réggio di Calábria. Foi lindo. Foi como viver em um filme. Aquela costa deslumbrante, de mar azul e seixos quentes. A água salgada e transparente. Os dias intermináveis à 40o e spritz ao final da tarde com aperitivos. Vilas medievais. Vielas que nos imploravam por fotos. Na Calábria encontramos Schilla. Uma vilazinha de pescadores que foi paixão imediata das três. Víamos o Sol se pondo quase na Sicília, e jantamos sobre pallets com uma lua cheia gigante refletida na água. O melhor de ter feito tudo isso, foi ter feito sem a neurose de mandar emails, trabalhar, verificar mídias sociais, falar em skype. Sem nenhuma interferência que me tirasse da viagem. Apesar de ter viajado tanto ultimamente sempre estou com interferências me deixando incompleta na viagem. Isso devo muito à Itália. O italiano vive o momento. Ele é muito inteiro no que ele faz. Se ama, ama. Se chora, chora. Se está vivendo aquele momento, ele vive o momento por inteiro. Acho que a vida cosmopolita nos impele a ser multitarefados demais. Não basta tirar férias, é preciso atualizar status de FB, twittar a previsão do tempo, mandar email pro povo do escritório. Eu resolvi assumir o italian way of life e quando chegamos em Schilla eu já tinha certeza de que, embora eu seja feliz na minha vida e goste das coisas que eu faço, eu não estava vivendo a vida que amo. Porque existe uma diferença entre gostar e amar. Sim, eu gosto do meu trabalho. Não, não é a coisa que mais amo. Acho que se não tivesse feito essa descoberta tão óbvia até Schilla, não teria tido uma experiência tão formidável na Sicília que estava para vir. Erna se despediu em Catânia. Eu e Keka continuamos na Sicília, seguimos para as Ilhas Eólicas e depois encontramos Fran em Palermo para seguir para Trapani e as Ilhas Égadi. Talvez seja a baixa expectativa, já que eu esperava da Sicília uma paisagem desgastada e maltratada. Talvez seja porque aquelas ilhas são mágicas mesmo. Mas eu me rendi, me bronzeei. Descobri mil maneiras diferentes de comer melanzane (a nossa berijela). Me fartei em comidas, cheiros, vinhos. Tudo encharcado de azeite (e que azeite!), de molho de tomate tão fresco e tão doce. Tardes engolindo azeitonas. Longas caminhadas, mergulhos entre água-vivas. Desencanei do peso, das manchas na pele. Das roupas sujas de tanto tempo de mochila. Tem algo dentro de mim que é italiano. Tem algo que mora ali, naquele mar mediterrâneo. Voltei mais cedo. Quando se resolve o que quer da vida, não temos muito mais vontade de enrolar. Naquele mar resolvi o conflito do meu livro, reconquistei minha vontade de me apaixonar. Resolvi também a trama para mais dois livros e inspiração para um outro. Assim, em algumas semana, quatro livros. Quatro tatuagens. Eu nunca comprava berinjela em casa. Nunca sabia o que fazer com ela. Essa semana fui à quitanda. Na geladeira tem dois tipos diferentes de berinjela. Manjericão, limão siciliano, abobrinha, cogumelos. Só o tomate que não deu certo. Tava feio e tão caro! Eu, particularmente, gosto da vida com sabores frescos. Muitas vezes é só descobrir o que fazer com os ingredientes. 

(PS.: eu ainda vou voltar para a Sicília, aprender a cozinhar e escrever um livro com esse nome: “1001 maneiras diferentes de cozinhar melanzane”)

sábado, 4 de agosto de 2012

Eu estou fazendo brainstorm aqui com a Keka, tentando descobrir que filme nacional termina com uma cena de duas pessoas se encontrando em uma rodoviária, em um aeroporto, ou em uma junção de caminhos...

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Dolce far niente


Embora eu viaje mais do que o Lula na época do governo, estou no meio das minhas férias oficiais. Minha ânsia por conhecer o mundo antes de morrer queria carimbar o passaporte com outros países inéditos no álbum de figurinha, mas daí entre conversas com a Keka, planos de visitar a Carol no Porto, acabei pegando as milhagens guardadas e investindo tudo em uma volta ao Velho Mundo. Passei uma semana em Portugal revendo amigos e embarquei de volta a Roma, um dos lugares onde fui mais feliz durante meu ano sabático. Existe uma coisa curiosa quando você revisita um lugar que lhe é importante. Nos damos conta do tempo, da jornada. De tudo o que eu buscava quando estive na Itália pela primeira vez. A Itália foi um lugar em que eu amei. Amei em toda complexidade do verbo. Amei lugares, amei prazeres, amei amigas, amei um garoto. Mas uma das coisas que eu havia esquecido, é que foi na Itália que eu mais me amei. Foi um pouco chocante voltar e descobrir em mim como tem escapado tudo o que eu fui em busca e conquistei. Como eu deixei a vida me engolir novamente e me perdendo de mim mesma. Verdade que encontrei muitas outras coisas. Algumas de forma dolorida, outras alentadoras. Eu engordei. Perdi tantos amigos. Mas voltei ao vegetarianismo com uma propriedade enorme, e encontrei o budismo. Virei mãe de uma gata. E descobri que posso ser boa profissionalmente em tantas coisas. Fui capaz de reconstruir uma rotina e montar uma vida. Só que não é exatamente a vida que eu queria. Não estou reclamando. Tenho uma vida muito boa. Mas será que depois de ter ido tão longe, abdicado de tanta coisa, era essa a vida que eu buscava. Eu tive a sorte de ganhar um bilhete em branco, para ser o que eu quisesse. E é isso que eu estou fazendo com ele? Porque é tão fácil se perder de nós mesmos? Sempre achei que o mais difícil era largar tudo e pular. Porque então eu insisto em voltar para o mesmo lugar? Eu penso se talvez nossas frustrações pessoais não venham exatamente do medo de se reinventar de verdade. E se não agora, quando? Se existe um lugar no mundo onde eu me sinto inteira é na Itália. Talvez porque ela vá sempre permanecer. Talvez porque entre a bagunça e o barulhos dessas cidades, as pessoas vivem. Eles falam, gritam, brigam, comem. Mas de todas as pessoas no mundo, os italianos são os únicos que estão inteiros no momento. É o “dolce far niente”. A capacidade de aproveitar o momento com calma, de absorver a vida com tudo o que ela tem. Mesmo carregando o peso de toda a história da civilização ocidental, as coisas são no momento. Nunca deixaram de ser. Por isso a Itália vai permanecer. Mesmo com a crise, mesmo que o Euro quebre semana que vem. A Itália é um país eterno. E se você não é capaz de ser inteira aqui, não será em nenhum lugar. Nós descemos de Nápoles pela Costa Amalfitana, comemos kilos de pizzas, risotos e pasta. Tomamos vinhos, graniti di limone, gelato todos os dias. Como se cada dia fosse o único que nos sobrasse. No budismo acredita-se que você deve meditar sobre a morte. Sobre a possiblidade da morte. Somente sentindo verdadeiramente que a morte pode acontecer a qualquer momento, daremos o valor e a importância que o dia de hoje tem. A vida é uma benção. Não é glamurosa, nem extraordinária. Não vem repleta de aventuras mirabolantes como filme hollywoodiano. Mas é uma benção e acontece em um só momento: agora. Por isso é pouco passar os dias sendo quem você não quer ser. E se não agora, quando?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Ando precisada de esvaziar-me. Passei o último ano procurando sentido para justificar minha vida e acabei perdendo tudo aquilo que fui em busca. Só agora, à distância, começo a enxergar que não tenho nada que me segure. Nada na minha vida. Embora eu tenha passado os últimos meses sentindo como se isso fosse uma perda enorme, começo a entender que é uma grande liberdade. Busquei tanto me encontrar e quando voltei me perdi na ideia do que eu pensava possuir. De São Paulo só sobra o amor que sinto pela cidade. A família, que sempre será minha não importa onde eu vá ou o que eu faça. As portas estão se fechando. Tenho apenas uma última missão para terminar. Depois, vou cortar o cabelo, comprar uma passagem e nunca mais voltar. Esse é o plano.

Ando precisada de esvaziar-me. Passei o último ano procurando sentido para justificar minha vida e acabei perdendo tudo aquilo que fui em busca. Só agora, à distância, começo a enxergar que não tenho nada que me segure. Nada na minha vida. Embora eu tenha passado os últimos meses sentindo como se isso fosse uma perda enorme, começo a entender que é uma grande liberdade. Busquei tanto me encontrar e quando voltei me perdi na ideia do que eu pensava possuir. De São Paulo só sobra o amor que sinto pela cidade. A família, que sempre será minha não importa onde eu vá ou o que eu faça. As portas estão se fechando. Tenho apenas uma última missão para terminar. Depois, vou cortar o cabelo, comprar uma passagem e nunca mais voltar. Esse é o plano.