domingo, 31 de março de 2013

INTOCÁVEIS



Eu sei que estou atrasada. A Gi me chamou para ver esse filme umas 10 vezes no cinema. Sempre acontecia alguma coisa e não dava. Geralmente era minha preguiça de sair de casa, mas chegamos a ir ao cinema umas duas vezes e perder o horário. Enfim, ontem resolvi pegar no Now e fazer uma sessão pipoca particular. Que delícia de filme! No budismo sempre falam sobre o “saber apreciar o outro”. Vi muito disso nesse filme. Quando conseguimos tirar da frente nossos preconceitos, nossa bagagem cultural, nossos fantasmas e limitações, e dos outros também, conseguimos enxergar o verdadeiro ser humano. Deixando de lado toda a maluquice de cada um descobrimos que no fundo somos todas pessoas inseguras, com medo, querendo ser amada e sem saber direito como fazer isso. Mais do que isso. Somos todas pessoas capazes de um grande poder de amor. E descobrir isso no outro é ouro. Faz com que a gente rejuvenesça 15 anos. É aí que a vida acontece. Às vezes sinto que estou passando pela vida sem viver. Talvez porque são poucos os momentos que realmente paro para enxergar o outro. É um longo caminho até evoluir. Não basta apenas a meditação. A vontade de ajudar os outros. É preciso olhar, apreciar. Eu sei muito pouco disso. Mas acho que, assim como o amor, é questão de prática. 

sábado, 30 de março de 2013

NA OSTRA



Eu passo longos períodos na ostra. Outro dia um amigo meu até me falou que isso era problema de autoestima. Não é não. Gosto de ficar em casa. Gosto de ficar reclusa, sozinha. Ler, trabalhar, escrever. Elaborar planos mirabolantes. Bundar no sofá vendo besteira na TV. Ficar enroscada com a gata na cama. Fazer roteiros para minha próxima viagem. Às vezes coloco uma música e fico horas olhando pela janela. Outras, abro o aplicativo de algum jogo bobo no celular. Dependendo do que eu esteja estudando, tiro diversos livros de ordem da estante, desço todos para a sala. Vou folheando aleatoriamente. Quando canso, levanto para descascar uma fruta. Fazer um chá. Então me distraio com uma revista ou com um livro de receitas sonhando em realmente um dia fazer todas. Eu realmente gosto muito da minha casa e da minha companhia. Chego às vezes até a ficar irritada se o telefone tocar. Como se alguém estivesse atrapalhando a incrível simbiose minha comigo mesma. Hoje, no final da tarde, resolvi ir à pé até a Livraria Cultura comprar um livro de roteiro que estava faltando para minha pesquisa e um presente de aniversário para o meu sobrinho amanhã. Quem sabe um novo CD com um concerto de Rachmaninov. Pensei em dar um passeio, respirar ar puro depois de dois dias de computador e livros. Tomar um café olhando a rua. Os primeiros minutos foram até revigorantes. Me senti animada em ver as pessoas. Pegar metrô, ouvir conversas. Fiquei pensando comigo mesma como eu deveria me obrigar a sair mais, a fazer mais coisas à pé e na rua. Gosto tanto da cidade e há tanta diversidade. Desci na Paulista e tinha um grupo de bailarinas dançando na ponta para ganhar uns trocados. Mais a frente um senhor tocava clarineta. Ah, que delícia de cidade! Então eu entrei na Livraria Cultura, no final da tarde de um sábado de feriado. E me lembrei porque eu detesto gente. Aquele caos, a cacofonia. Gente aos montes, falando alto, tropeçando, esbarrando no meu ombro. Pessoas que param para conversar no meio da passagem, e outras lerdas que sobem escadas pensando na morte da bezerra. Filas enormes. Crianças chorando. Uma falta de educação coletiva revoltante. E asssim, de repente, foi-se toda minha predisposição em fazer parte do mundo um pouquinho. Corri para o primeiro vendedor que achei, comprei os livros protocolarmente, e desisti do CD ou do café. Já sou ansiosa demais no meu íntimo. Tanta bagunça me deixa nervosa. De volta a ostra me sinto tranquila novamente. Vou ler, fazer algo para comer e quem sabe depois alugar um filme no Now. Sábados são terríveis para sair da ostra. Eu até gosto de fazer parte do mundo, mas fora dos horários comerciais. 

quinta-feira, 28 de março de 2013

MEDO, MEDO, MANO VELHO.



Impressionante que por mais que a gente se esforce, medite, tente ser uma pessoa melhor, existem algumas características que são muito difíceis de serem mudadas. Vira e mexe, cá estou eu esbarrando nas minhas falhas. Isso é para provar que se livrar de alguns traumas não é tão fácil. Se eu fizer uma busca de quantos textos já escrevi sobre meu medo de relacionamento nesse blog e no meu anterior, acho que dá para escrever um livro. Todas as vezes eu quero fazer diferente, eu quero passar por cima desse medo. Mas lá vou eu de novo me autoboicotar. Eu sempre estrago tudo. Eu fujo, ou mostro o pior de mim para o cara fugir, ou surto, ou menosprezo o moço, ou ignoro, ou sufoco, ou machuco, ou... Eu sempre dou um jeito de acabar com qualquer chance da coisa dar certo de forma irremediável. É como se eu tivesse dizendo o tempo todo “olha, eu sou uma baita de uma encrenca”, porque daí, quando o cara vai embora, ou quando eu consigo fazer o cara perder o interesse, eu posso voltar para a tranquilidade da minha solidão e dizer para mim mesma: “Viu só! Eu tinha razão!”. Completamente isenta de culpa. Meu modelo de relacionamento não é saudável. Também não quero entrar em detalhes aqui. Mas eu sempre acho que homens vão me machucar, me julgar, me humilhar e me abandonar. Invariavelmente eu acabo contribuindo para que eles reforcem  esse modelo e eu possa sempre falar, “Viu só. Eu sabia.”. Por que será que é tão difícil fazer a ponte da consciência racional para o comportamento prático? Por que será que esse medo nunca vai embora? A Keka e a Carol brigam comigo. Dizem que eu sou muito corajosa, e de fato não tenho medo para um milhão de coisas que botam medo nas pessoas. Viajo pelo mundo sozinha. Encaro o monstro da solidão. Mas daí é que entra a picareta. Eu me sinto segura na solidão. Meu medo é quando tem mais alguém. A minha coragem é só de fachada. É só porque eu me sinto segura no que dá medo aos outros. Daí não é coragem. Coragem é quando a gente encara o desafio apesar de. E não quando o desafio não nos custa nada. Essa semana saí para almoçar com uma amiga. Ela me contava sobre o relacionamento dela com um cara que talvez nunca tivesse imaginado que ela ficaria. No meu caso acho que nem aceitaria um convite para jantar. Mas ela, não só está com ele há mais de um ano como pensando em morar junto. “Dri, ele não é nada do que eu sempre sonhei ou quis, mas eu não acredito em coisas perfeitas. Eu vou até o fim.”. Se for pensar assim talvez eu tenha sim sido corajosa em algumas coisas. Nas vezes em que me via chorando no meio da mochilada sem saber o que estava fazendo ali. Ou depois de 9 horas de trilha carregando uma mochila de 15Kg e desejando por um helicóptero que me tirasse dali. Nas vezes que tive vontade de deletar meu livro e jogar o computador pela janela. Ou quando eu me vi em trabalhos com pessoas completamente sem caráter e me senti impotente. Em todas essas vezes eu disse exatamente a mesma coisa, “Vai demorar, vai ser sofrido, mas eu vou até o fim.” Eu tive medo, mas empurrei um pouco mais os limites da minha zona de conforto e ganhei experiências incríveis como resultado. Talvez eu precise começar a fazer isso nos relacionamentos. Nas horas que eu perceber que estou começando a boicotar, a desejar um helicoptero que me tire dali, me propôr a ir até o fim. Me propôr a ver onde a coisa vai dar. Dessa vez eu fiz uma coisa inédita. Engoli meu orgulho, pedi desculpas e pedi para voltar. Não sei se funcionou. Mas eu empurrei o limite da zona de conforto. Resolvi que vou esperar para ver o fim. Se o fim chegar, prometo não usar para reforçar minhas certezas de medo e abandono. Mas se ele não chegar... quem sabe eu não vivo uma experiência incrível. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

UM SHOW PERFEITO


Ontem fui arrastada ao Show da Bluebell e Blacktie no Auditório Ibirapuera. Não que fosse um peso para mim, mas é que passei o dia me sentindo muito mal, com dores no corpo, um princípio de gripe e a noite estava chuvosa. A vontade era continuar na cama lendo até que meu corpo fosse encontrado pela empregada na segunda-feira de manhã. Mas como já havia combinado com a Kika e ela tinha comprado os ingressos, eu me arrastei até o Ibira para não deixar ninguém na mão. Melhor coisa que eu fiz. Eu gosto da Bluebell, gosto do timbre dela. Ela consegue agudos invejáveis. Mas é uma voz perigosa, pode se tornar irritante ou enjoativa. Acho que ela sabe disso e conhece muito bem o instrumento que tem, porque o repertório que escolheu para o show é perfeito para ela. Com Cole Porter, Piaf, The Who e Nelson Cavaquinho. Ainda convidou para participações Laura Lavieri, Mariana Aydar (mega grávida) e o sempre apaixonante-casa-comigo Zeca Baleiro em versões de Beatles. Para finalizar cantou “It’s Oh So Quiet”, que foi gravada pela Bjork (foi minha mensagem de caixa postal no celular por anos), mas que parece ter sido composta para a voz dela. Some a isso que a garota é um fofa, super carismática e com presença de palco impecável e pronto. Um show impecável e um domingo que se salvou pelo gongo. A gripe acabou me pegando de verdade, ajudada pela chuva que tomei do estacionamento até o auditório. Mas junto com o chá de gengibre, mel e limão que estou tomando agora, estou também caçando o CD da parceria da cantora com os músicos do Blacktie. São dessas músicas que fazem a vida parecer mais linda e leve. :-)




domingo, 24 de março de 2013

O CAOS, MINHA GATA E O PARADOXO DA DEPENDÊNCIA

Uma das minhas grandes lutas é trabalhar minha mania de controle. Eu sou uma pessoa controladora. Perfeccionista. Cheia de manias. Tenho momentos em que a virginiana bate forte. Gosto de ordem e método. De planejamento, organização, rotina. De saber com antecedência das coisas para poder organizar da maneira como eu acho mais adequada. Gente assim sofre, eu sei. Nunca satisfeita. Acho que por isso de tempos em tempos sinto uma necessidade tão grande de sair da zona de conforto. Ir para o caos, para o inseguro. E depois volto e tenho períodos de mania extrema, onde arrumo o homeoffice, jogo fora sacos de papéis (às vezes alguns importantes) e organizo os livros em ordem alfabética. Na minha casa eu tinha manias que beiravam o TOC. A ordem das almofadas no sofá, o alinhamento dos livros de foto em cima do rack. Até a maneira de dobrar o paninho da pia. A Kika me enchia o saco porque parecia que ninguém morava na minha casa. Fica aquelas salas congeladas, com cara de novela, de revista. Totalmente sem vida. Até que, um ano atrás, eu tive um desses meus momentos impulsivos. Saí para dar uma volta, passei em uma feira de doações e trouxe a Holly para casa. Lindinha, toda bebezinha. Até que ela crescesse o suficiente para subir em todos os móveis e descobrisse como afiar as garras na minha poltrona retrô, a casa ainda refletia meus distúrbios de organização. Não demorou muito para eu entender que quem manda na casa é ela. Enche de pêlos, derruba CDs, quebra enfeites, desaparece com anéis que eu amo. Nunca sei para o que vou acordar, ou voltar para casa. A casa sempre se transforma com ela. De certa forma me ajuda a relaxar. A aceitar um certo caos incontrolável no meu íntimo. Hoje acordei tarde com dor nas costas, porque a gata estava estirada bem no centro da cama, me jogando para escanteio. Levantei e pisei descalça na bombinha de asma que ela tinha transformado em brinquedo no meio da noite. O chão cheio de lenços de papel. No banheiro o tapete estava revirado, dois potes de gel para cabelo no chão e diversos cotonetes jogados dentro da pia. Ela, sem cerimônias, foi pulando os obstáculos e parou em frente ao box miando para eu abrir a porta. Holly agora deu para só beber água no box. Na sala, um furão de pelúcia está em cima do receptor da NET, sacolas que usei para comprar vinhos ontem estão destroçadas pelo chão, marcas de patas em cima da mesa e mais uma mancha no sofá porque ela derrubou suco ontem à noite. Como eu fiquei fora o dia todo ontem e voltei bem tarde de madrugada, Holly achou legal também jogar um tanto de areia para fora da caixa. A poltrona jangadeiro está com fios puxados, existem rolhas nos vãos do sofá e bolinhas de amendoim japonês que ela pegou para brincar embaixo do puff. Holly está em cima da pia, tentando pegar os pingos d’água que caem da torneira. Com a mudança da ordem eu também já deixo louça suja dentro da pia e livros espalhados pela casa. O IPAD carregando no chão, o celular embaixo da mantinha da TV e caixinhas de lenço em cima dos móveis. Me abrir para o caos que outro possa criar me faz ser mais humana. Deflagra minha fragilidade e imperfeição, e é exatamente isso que me faz inteira. Ainda não sinto que tenho muito espaço para viver com outra pessoa. Mas permitir que um ser vivo entre em minha vida e desconstrua meus ideais controladores, me ajuda a ficar mais aberta para o que a vida traz. Amplia minha zona de conforto. Deixa as fronteiras mais largas. Quem sabe assim quando eu tiver que fugir, que buscar o inseguro, eu possa ousar mais. É a maior beleza desse paradoxo. Quanto mais crio vínculos, dependências no meu íntimo, mais livre me torno para ousar. Ganho mais independência. Por enquanto é uma gata que entra e domina minha vida. Ando pensando em fazer agora um jardim, ou uma horta. Quem sabe no final do ano comprar um cachorro. - O Cavallier que sempre sonhei. - Aos poucos vou me deixando depender de outros seres vivos. Se uma gatinha está me deixando tão livre de mim mesma, imagine quando eu for enfim capaz de depender de alguém. Acho que então vou poder conquistar o mundo. 

sexta-feira, 22 de março de 2013



Acho bom quando a vida me coloca em situações para confrontar o que eu realmente quero. Reforça minhas crenças. Ao mesmo tempo é frustrante. Secretamente fico pensando se não busco algo que não existe. Acho que estamos vivendo uma época de superficialidades. Uma época sem comprometimento. Sem verticalização em nada. Somos milhões de pessoas sozinhas, tentando se convencer de que a auto-suficiência é nossa única saída. Nos forçando a viver sozinhos, a nos adaptar. Não existe mais o "junto", o ensemble. Vive-se ao lado. Em paralelos. Não quero isso. Quero mais. Quero aquele nivel de cumplicidade que só temos quando nos conhecemos por inteiro. Quero a disponibilidade completa e apavorante de se perder em outra pessoa, até um ponto em que não se pode achar um caminho de volta. Talvez eu seja a pessoa certa, na época errada. Uma época onde tudo deve ser leve, suave, despretencioso. São coisas boas também. Mas eu sou intensa. Quero tudo. Quero o pesado, o ríspido, o apegado também. A ideia de ter algo em frações, de ter algo meia boca, me dá uma aflição terrível de não estar vivendo. De desperdiçar. Eu preciso me maravilhar. Preciso queimar, mesmo que eu me quebre. Nessa época de gente morna. De gente com medo de fogo. Com medo de gosto. Com medo de vida. 

terça-feira, 19 de março de 2013

"Quão feliz é o destino de um inocente sem culpa. O mundo em esquecimento pelo mundo esquecido. Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Cada orador aceito e cada desejo renunciado."
Alexander Pope



Pensando em coragem hoje. Pensando em fazer o que é certo ao invés do que é conveniente. Pensando que ninguém é uma ilha, embora a gente não escolha quem participa da reunião de condomínio. Pensando em como eu estou triste hoje. Tristeza faz parte. Como disse em um conto meu, “dói até em dente de leite”. Acho horrível essa coisa de auto-suficiência. Não quero ser auto-suficiente. Não quero ser só eu resolvendo toda a bagunça. Não precisa ajudar também, mas só de ficar ao lado... De dizer que dá tudo certo no final, já estava bom. Às vezes eu acho que São Paulo é muito cruel. Nessas horas tenho vontade de fugir, de hibernar. Morar em Roma, ou na Tailândia, ou nas Ilhas Maurício. Ou em algum lugar onde minha bagagem pudesse ficar longe. Extraviada. Apagar as memórias como no filme do Michel Gondry. Virar um donut, sem nada no meio. Mas não é São Paulo o problema. É a história que construí aqui. A necessidade tão angustiante de ser amada. Hoje dói tudo. Doem todos os meu músculos.

segunda-feira, 18 de março de 2013

COMO ENTENDI QUE O APEGO É MINHA MAIOR FORÇA



Em dezembro o João Luiz Vieira me convidou para escrever para o Paupraqualquerobra.com.br. O site é um projeto antigo dele, um portal que fala sobre sexo, relacionamento, comportamento e direitos de gênero. A princípio fiquei com medo, porque tenho uma pegada bem careta e tradicional. Meu texto é de mulherzinha. Mas era exatamente isso que ele procurava, então lá fui eu, achando que seria bombardeada. Em três meses o site alcançou 50mil acessos diários. É um fenômeno. E minha coluna, que entra todos os sábados, é super bem recebida. Virou uma diversão procurar assuntos e temas para a coluna da semana. Fuço pela internet, converso com amigos, ouço histórias. Às vezes o tema cresce sozinho e a coluna repercuti muito bem. Outras nem tanto. Mas é assim mesmo que funciona. Estou me divertindo tanto com a nova temática que tenho feito muitas pesquisas bibliográficas. Uma vez por semana dou um pulo na livraria e ataco a sessão de livros de “autoajuda”. Ali a gente encontra 90% do que está errado nas expectativas de relacionamentos das pessoas. Ainda se acredita que um relacionamento interpessoal pode ser conduzido como receita de bolo. Faça isso, não faça aquilo. Sem levar minimamente em consideração as nuances de personalidade de cada pessoa, suas necessidades emocionais, sua base afetiva. Ler livros do naipe de “Como fisgar um homem em 50 lições”, ou “Tudo o que você queria saber sobre as mulheres (mas nunca teve coragem de perguntar)” me ajuda a entender e conversar na coluna sobre as angustias dos relacionamentos. No geral somo todas pessoas carentes, querendo encontrar o amor de alguma forma. Sempre acreditei nisso. Mas nem sempre essas referências bibliográfica são pataquadas caça-níqueis. Vez ou outra eu esbarro com um livro que realmente aborda questões pertinentes sobre relacionamentos e sobre a forma das pessoas se relacionarem. Semana passada esbarrei em um livro que me trouxe luz e clareza sobre as necessidades de apego (sobre as minhas inclusive): Apegados - Um Guia Prático e Agradável para Estabelecer Relacionamentos Românticos Recompensadores, de Amir Levine e Rachel S. F. Heller. A dupla de psicólogos pegou a teoria do apego desenvolvida nos anos 50 por John Bowlby e passou a aplicar estudos com esse foto em relacionamentos românticos. O resultado é fascinante, entendendo as maneiras de se relacionar de forma autêntica e colocando por terra todas as teorias de regras para estabelecimento de intimidade e comprometimento. Eu particularmente adorei o estudo, porque coloca por terra a eficiência dos joguinhos românticos. Odeio jogos e nunca fui praticante, mas já tive dúvidas sobre se não deveria praticá-los. Se eu não deveria me mostrar menos disponível, ou “me fazer de difícil”. Se eu não deveria evitar manifestar minhas necessidades emocionais, porque não queria ser considerada frágil. São crenças cada vez mais em voga na nossa sociedade, que exalta a autossuficiência como um grande mérito. E vai acabar levando uma geração inteira a envelhecer solitária e infeliz. Eu sempre achei que a força vem da união, da capacidade de se entregar, de se submeter, de criar intimidade e vínculos profundos com outra pessoa. A maior descoberta para mim, no entando, foi finalmente entender que, para algumas pessoas, isso é completamente impossível. Que a intimidade é violenta e sufocante para algumas pessoas e elas terão muitas dificuldades para realmente construir uma relação de cumplicidade e apoio mútuo, constantemente criando armadilhas inconscientes para afastar o outro. Daí vem a infindável gama de relações infelizes que vemos por aí, onde pessoas se sentem sufocadas, ou frustradas, inseguras, carentes. É tudo uma questão de saber entender a linguagem afetiva do outro e assumir se somos capazes de falar a mesma língua. 

segunda-feira, 4 de março de 2013

NÃO VIOLENTA


Está fazendo um ano que eu adotei o budismo como religião. De todas as linhas religiosas, o budismo foi o que eu me reconheci mais. E mesmo dentro do budismo, até encontrar a Ordem Kadampa, de origem tibetana, eu passei por uns lugares que não me senti nada a vontade. Faz parte. Não acredito que exista ideologia perfeita. Exista aquela em que você se reconhece. Até por isso não faço muito alarde. Faço minhas meditações, minha sadhana diária, estudo e apareço no templo quando tenho vontade. Mas isso diz respeito somente a mim. Quando alguém se interessa, respondo às perguntas, até dou o site, mas fico na minha. Duas coisas que aprendi: As pessoas só vão de encontro a alguma religião quando sentem real necessidade, e aquilo que para mim faz sentido, pode não fazer para outra pessoa. Sei que é bem possível que se algum amigo se mostrar interessado na minha ordem e for comigo ao centro, vá achar tudo uma maluquice. Ou não. A verdade é que religião é algo muito pessoal, e por isso cada um encontra a sua. Para mim foi uma das melhores coisas que aconteceu em 2012. Hoje acabo me encontrando em situações muitas vezes que em outros tempos teria reações de muita angústia, tomaria atitudes precipitadas. Mas sinto que estou bem mais calma, centrada e relaxada. Eu sei que devo isso ao budismo. Tenho muitas coisas para trabalhar e conquistar ainda, mas eu me sinto melhor e mais feliz depois que passei a praticar. Claro que isso não muda minha natureza. Eu continua uma pessoa sensível, reclusa. Mas tem sido mais fácil lidar com alguns confrontos do dia a dia. Uma das maiores descobertas foi o sentimento real de não-violência. Ele primeiro foi se manifestando de força mais física, e agora tenho conquistado suas outras acepções. Eu nunca fui uma pessoa violenta, fisicamente. Mas sempre fui bem violenta na maneira de pensar e de opinar. Pensar na não-violência através do vegetarianismo, das influências que recebo, foi fácil. Eu não assisto a lutas na TV, por exemplo. Esses UFC da vida. Não vejo, não gosto. Me faz mal. Hoje não mato nem barata com inseticida. Acho bem fácil praticar a não-violência quando estamos defendendo cachorrinhos fofinhos, mas é um grande exercício respeitar o direito à vida de uma barata nojenta. Eu fico feliz de conseguir seguir a risca aquele ditado “não faz mal a uma mosca”. Agora tenho buscado outras formas de não-violência. A pela palavra é mais difícil. Falamos coisas agressivas o tempo todo e nem nos damos conta disso. É preciso me policiar o tempo todo e geralmente tenho perdido mais do que ganhado. Ainda assim, é com o exercício e a intenção que vou chegar lá. Esse ano me deparei com um novo desafio: a não-violência comigo mesma. Depois de experimentar a dizer “sim” para tudo, comecei a perceber que algumas situações me violentam. Temos uma tendência a suportar mais a dor quando ela é submetida a nós mesmos. Porque tenho mais cuidado com a violência ao outro e me permito ser violenta comigo? Talvez o segredo não seja dizer “sim” ou “não”, mas se permitir viver o que não lhe cause violência. E dizer “não” para qualquer coisa que lhe violente. Nessa horas tem muita gente que vem dizer “ah, deixa disso”, ou “não dê tanta importância”, e normalmente achamos que é por aí mesmo. Não damos tanta importância para a violência que estamos sentindo e continuamos com relações e situações que nos agridem. Para algumas pessoas, um local com música alta, repleto de gente bêbada pode ser muito violento. Relacionamentos protocolares em ambientes cheios de fofoca podem ser muito violentos. Tudo o que vai contra nossa natureza mais íntima, pode ser muito violento. Essa semana fui colocada a prova, em uma situação muito difícil de escolher. Talvez se fosse em outra época da minha vida, minha decisão seria diferente. Talvez quando eu for mais forte e tiver mais prática, eu consiga tomar outra decisão. Nesse momento eu decidi não me violentar. Me preservar. Me retirar. Não por que eu tenha medo, ou rancor. Mas porque eu não vou me submeter a qualquer coisa que possa me causar dor. 

sexta-feira, 1 de março de 2013

O QUE APRENDI QUANDO ESCREVI SOBRE O QUE APRENDI POR AÍ


Nasceu. Saiu semana passada meu primeiro texto em uma revista. O processo foi um tanto doloroso. Primeiro, porque não sou jornalista. E respeito muito a profissão de jornalista. Então sentia um medo danado de escrever algo que não estava a altura dos profissionais que geralmente escrevem nessa mídia. Segundo porque era sobre um tema pessoal. Verdade que só sei escrever sobre meu umbigo. Sou capaz de uma abertura em texto que não tenho na vida real. Mas uma coisa é me abrir aqui no meu blog, onde só meia dúzia de amigos entram de vez em quando. Outra coisa é se abrir com uma tiragem de mais de 50 mil exemplares. Ainda tenho muito medo de pagar mico. Não sou tão desprendida assim. Quando a Ana Holanda me pediu para escrever sobre minha experiência de voluntariado na Guatemala, levei um susto. Eu tenho muita sorte de trabalhar para a Vida Simples, e lógico que intimamente sonhava em escrever para a revista, mas até a coisa concreta... Aflora em mim toda minha insegurança de bichinho do mato. Pois é. Sou uma pessoa imperfeita. Tenho medos, angústias, e inseguranças. Hoje em dia não tenho mais problema nenhum em manifestá-los. O que eu fiz na verdade foi enrolar a Ana por três longos meses até sentar minha bunda no computador e escrever. Quando terminei, enviei o arquivo tremendo por email, acompanhando de uma carta explicativa pedindo “desculpas por qualquer coisa”. Para minha surpresa a Ana me ligou 15 minutos depois dizendo que tinha amado o texto e que estava emocionada. Emocionada é bom, embora eu sempre tenha receio de ficar piegas com essa do povo sair se emocionando com meus textos. Então veio a segunda parte mais difícil. Como sou prolixa e superlativa, meu texto tinha 20 mil toques. Eu tinha o desafio editorial de cortar pela metade. Uma semana de sofrimento e 8 mil toques a menos, devolvi o texto para a Ana e falei “fiz o que consegui, pode cortar o que quiser”. Primeira conquista que escrever um texto para um veículo de massa me trouxe: desapego! É bem difícil exercitar o desapego com trabalhos intelectuais, ainda mais com relatos pessoais. Nessa hora entrou minha voz interior pedindo a mim mesma para ter confiança nos outros. Foi. Ana me retornou com o texto editado algumas semanas depois, lindamente. Tanto que eu quase não percebia as edições. Não é a toa que ela tem o cargo que tem, e é tão boa no que faz. A Ana é, antes de tudo, uma pessoa gentil e generosa, e isso é muito bom para bichinhos ressabiados e ariscos como eu. Então o texto entrou na pauta da edição de março. Continuei com a minha vida. No fechamento, Ana estava de férias e era a Jeanne quem estava revisando a edição final. Ela me mandou um email com duas dúvidas sobre meu texto e sugeriu uma alteração. Alterações são coisas que me deixam alterada. De imediato não recebi muito bem, acho que nem fui muito legal com a coitada que só estava querendo me ajudar. Mas depois pensei com calma, lembrei de aprender a confiar. Lembrei que precisava aprender a desapegar, e afinal de contas, a Jeanne é jornalista, tem muito mais experiência do que eu, está naquela revista desde sempre. Se ela sugere uma alteração é óbvio que vai ficar melhor. No dia seguinte fui lá, mandar um email pedindo desculpas e dizendo que confiava nela. Eu acho importante às vezes nomearmos as coisas. Hoje em dia fica tudo subentendido. Dizemos em alto e bom som tudo que odiamos, mas achamos que emoticons dão conta dos sentimentos positivos. Eu sou a prova viva de que, por mais que a casca de fora aparente segurança e auto-confiança, no fundo precisamos ouvir coisas boas a nosso respeito. Dizer com todas as letras “confio em você”, “você é bom no que faz”, “sinto orgulho de você”, “eu te amo” pode mudar o dia de alguém. E Jeanne me respondeu para eu ficar tranquila, que a matéria ficaria legal. Ela tinha razão. Ficou. Ainda ganhei de presente algumas ilustrações lindas da Lydia Megune e voilá! Estreei lindamente com um texto para revista. Melhor, ganhei uma consciência mais completa de como funcionam esses veículos de massa. Como o resultado é sempre um esforço entre escritores desapegados e editores generosos. Certamente se eu fosse mais arrogante e cabeça dura do que sou, não teria ficado tão perfeita. Então é isso. Estou pimpona. Estou aliviada de ter dado certo. Eu sei que para muitas pessoas isso nem é grande coisa, e não merece atenção de grande feito. Mas, dentro na minha nova proposta de ser generosa comigo mesma, eu comemoro a superação das minhas fraquezas. O entendimento de que, mesmo tão avessa e imperfeita, ainda dá para fazer alguma coisa certa. 

PS.: se você é um dos meus “meia dúzia” de amigos que lê esse blog e ainda não foi comprar a revista para ler, lembre-se que também faz parte do meu pacote de imperfeições a vingança e o dramalhão! :-P