segunda-feira, 4 de março de 2013

NÃO VIOLENTA


Está fazendo um ano que eu adotei o budismo como religião. De todas as linhas religiosas, o budismo foi o que eu me reconheci mais. E mesmo dentro do budismo, até encontrar a Ordem Kadampa, de origem tibetana, eu passei por uns lugares que não me senti nada a vontade. Faz parte. Não acredito que exista ideologia perfeita. Exista aquela em que você se reconhece. Até por isso não faço muito alarde. Faço minhas meditações, minha sadhana diária, estudo e apareço no templo quando tenho vontade. Mas isso diz respeito somente a mim. Quando alguém se interessa, respondo às perguntas, até dou o site, mas fico na minha. Duas coisas que aprendi: As pessoas só vão de encontro a alguma religião quando sentem real necessidade, e aquilo que para mim faz sentido, pode não fazer para outra pessoa. Sei que é bem possível que se algum amigo se mostrar interessado na minha ordem e for comigo ao centro, vá achar tudo uma maluquice. Ou não. A verdade é que religião é algo muito pessoal, e por isso cada um encontra a sua. Para mim foi uma das melhores coisas que aconteceu em 2012. Hoje acabo me encontrando em situações muitas vezes que em outros tempos teria reações de muita angústia, tomaria atitudes precipitadas. Mas sinto que estou bem mais calma, centrada e relaxada. Eu sei que devo isso ao budismo. Tenho muitas coisas para trabalhar e conquistar ainda, mas eu me sinto melhor e mais feliz depois que passei a praticar. Claro que isso não muda minha natureza. Eu continua uma pessoa sensível, reclusa. Mas tem sido mais fácil lidar com alguns confrontos do dia a dia. Uma das maiores descobertas foi o sentimento real de não-violência. Ele primeiro foi se manifestando de força mais física, e agora tenho conquistado suas outras acepções. Eu nunca fui uma pessoa violenta, fisicamente. Mas sempre fui bem violenta na maneira de pensar e de opinar. Pensar na não-violência através do vegetarianismo, das influências que recebo, foi fácil. Eu não assisto a lutas na TV, por exemplo. Esses UFC da vida. Não vejo, não gosto. Me faz mal. Hoje não mato nem barata com inseticida. Acho bem fácil praticar a não-violência quando estamos defendendo cachorrinhos fofinhos, mas é um grande exercício respeitar o direito à vida de uma barata nojenta. Eu fico feliz de conseguir seguir a risca aquele ditado “não faz mal a uma mosca”. Agora tenho buscado outras formas de não-violência. A pela palavra é mais difícil. Falamos coisas agressivas o tempo todo e nem nos damos conta disso. É preciso me policiar o tempo todo e geralmente tenho perdido mais do que ganhado. Ainda assim, é com o exercício e a intenção que vou chegar lá. Esse ano me deparei com um novo desafio: a não-violência comigo mesma. Depois de experimentar a dizer “sim” para tudo, comecei a perceber que algumas situações me violentam. Temos uma tendência a suportar mais a dor quando ela é submetida a nós mesmos. Porque tenho mais cuidado com a violência ao outro e me permito ser violenta comigo? Talvez o segredo não seja dizer “sim” ou “não”, mas se permitir viver o que não lhe cause violência. E dizer “não” para qualquer coisa que lhe violente. Nessa horas tem muita gente que vem dizer “ah, deixa disso”, ou “não dê tanta importância”, e normalmente achamos que é por aí mesmo. Não damos tanta importância para a violência que estamos sentindo e continuamos com relações e situações que nos agridem. Para algumas pessoas, um local com música alta, repleto de gente bêbada pode ser muito violento. Relacionamentos protocolares em ambientes cheios de fofoca podem ser muito violentos. Tudo o que vai contra nossa natureza mais íntima, pode ser muito violento. Essa semana fui colocada a prova, em uma situação muito difícil de escolher. Talvez se fosse em outra época da minha vida, minha decisão seria diferente. Talvez quando eu for mais forte e tiver mais prática, eu consiga tomar outra decisão. Nesse momento eu decidi não me violentar. Me preservar. Me retirar. Não por que eu tenha medo, ou rancor. Mas porque eu não vou me submeter a qualquer coisa que possa me causar dor. 

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