sábado, 30 de março de 2013

NA OSTRA



Eu passo longos períodos na ostra. Outro dia um amigo meu até me falou que isso era problema de autoestima. Não é não. Gosto de ficar em casa. Gosto de ficar reclusa, sozinha. Ler, trabalhar, escrever. Elaborar planos mirabolantes. Bundar no sofá vendo besteira na TV. Ficar enroscada com a gata na cama. Fazer roteiros para minha próxima viagem. Às vezes coloco uma música e fico horas olhando pela janela. Outras, abro o aplicativo de algum jogo bobo no celular. Dependendo do que eu esteja estudando, tiro diversos livros de ordem da estante, desço todos para a sala. Vou folheando aleatoriamente. Quando canso, levanto para descascar uma fruta. Fazer um chá. Então me distraio com uma revista ou com um livro de receitas sonhando em realmente um dia fazer todas. Eu realmente gosto muito da minha casa e da minha companhia. Chego às vezes até a ficar irritada se o telefone tocar. Como se alguém estivesse atrapalhando a incrível simbiose minha comigo mesma. Hoje, no final da tarde, resolvi ir à pé até a Livraria Cultura comprar um livro de roteiro que estava faltando para minha pesquisa e um presente de aniversário para o meu sobrinho amanhã. Quem sabe um novo CD com um concerto de Rachmaninov. Pensei em dar um passeio, respirar ar puro depois de dois dias de computador e livros. Tomar um café olhando a rua. Os primeiros minutos foram até revigorantes. Me senti animada em ver as pessoas. Pegar metrô, ouvir conversas. Fiquei pensando comigo mesma como eu deveria me obrigar a sair mais, a fazer mais coisas à pé e na rua. Gosto tanto da cidade e há tanta diversidade. Desci na Paulista e tinha um grupo de bailarinas dançando na ponta para ganhar uns trocados. Mais a frente um senhor tocava clarineta. Ah, que delícia de cidade! Então eu entrei na Livraria Cultura, no final da tarde de um sábado de feriado. E me lembrei porque eu detesto gente. Aquele caos, a cacofonia. Gente aos montes, falando alto, tropeçando, esbarrando no meu ombro. Pessoas que param para conversar no meio da passagem, e outras lerdas que sobem escadas pensando na morte da bezerra. Filas enormes. Crianças chorando. Uma falta de educação coletiva revoltante. E asssim, de repente, foi-se toda minha predisposição em fazer parte do mundo um pouquinho. Corri para o primeiro vendedor que achei, comprei os livros protocolarmente, e desisti do CD ou do café. Já sou ansiosa demais no meu íntimo. Tanta bagunça me deixa nervosa. De volta a ostra me sinto tranquila novamente. Vou ler, fazer algo para comer e quem sabe depois alugar um filme no Now. Sábados são terríveis para sair da ostra. Eu até gosto de fazer parte do mundo, mas fora dos horários comerciais. 

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