sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

BEM LONGE DO ÚLTIMO DIA DO ANO

Meu ano de 2010 começou só em fevereiro. O Reveillon passado foi divertido, passei com família e primos. Muita risada e festa. E depois janeiro foi um ostracismo esperando toda  a emoção que o ano reservava. Mudança, devolução do apartamento, tudo o que eu tinha em um depósito. Malas prontas e, enfim, me joguei na jornada que fiz esse ano. Oito meses com a mochila nas costas. Acho que meu erro foi ter pensado que, ao voltar para São Paulo em outubro, essa jornada estaria terminada. Faz exatos dois meses que voltei, e sinto que São Paulo até agora foi só uma escala. Eu nunca “voltei” para casa. Eu tentei. Vim até com uma tabela de Excel planejadinha com uma rotina e milhões de coisas que eu ia fazer. Passei esses dois meses tropeçando em mim mesma e sem realizar nada. Tentei inutilmente alugar um apartamento e tudo, sempre, misteriosamente se desfazia no momento de assinar o contrato. Hoje às 8h da manhã o caminhão de mudança estacionou novamente no apartamento que eu estava acampada. Fiquei até de madrugada terminando de reencaixotar tudo o que eu tenho na vida. As caixas todas voltaram para o mesmo depósito em que passaram o ano inteiro. Eu? Enquanto todos estiverem embriagados, pulando ondinhas no litoral paulista, eu vou estar em um taxi com a minha mochilona rumo ao aeroporto. Vou ficar um mês na Guatemala fazendo um trabalho voluntário com crianças de uma tribo indígena. Não sei o que estou indo buscar lá. Não faço a mínima idéia de porque escolhi a Guatemala. Ou quais as expectativas que eu deveria ter. Só sei que a minha jornada não terminou. Assim como o meu ano. Quando eu conseguir de verdade encerrar 2010, eu volto para casa. Por hora, eu vou para o exílio. Feliz da vida.  Parto às 2h da madrugada. Meu primeiro reveillon sem contagem regressiva. O primeiro sem usar branco. Calça jeans, roupa de mochileira e minhas botas de hiking. Feliz Ano Novo para vocês, mas para mim, esse ano não ficou tão velho assim.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

VENENO

Sabe que quando uma pessoa é envenenada ela sofre todos os sintomas até que o veneno seja processado pelo organismo. Náuseas, dor de cabeça. Mudança do apetite. Até a coloração da urina muda. Dizem que o ideal é não deixar a vítima se mexer muito. Para o veneno não circular mais rapidamente pela corrente sanguínea. Dor abdominal. Dores de muita formas. Se a vitima estiver inconsciente, não se pode provocar vomito. Seria mais fácil se fosse só enfiar dois dedos na garganta e se livrar de tudo o que entrou no organismo. Após mais de duas horas, nem lavagem estomacal adianta. É preciso correr para o hospital, e ficar em repouso até o organismo processar todo o veneno. Visão turva. Desorientação. Boca seca. Tontura. Fazer qualquer coisa quando se descobre envenenado pode ter conseqüências graves. Corra para o hospital e lide com os sintomas. Cada um que aparece. Eu estou lidando com sintomas. Até que todo o veneno saia. Então eu passo horas chorando quando a dor tá de chorar. Eu como 15 vezes por dia quando bate a fome inexplicável. E tomo vitaminas quando não tenho fome nenhuma. Eu vou largar tudo dentro de um depósito já que não vai dar para mudar esse ano. E estou revendo com calma, cada palavra que me foi dita, cada mentira que eu não vi ser contada. Tentando descobrir quais os tamanhos das conseqüências que podem vir de cada uma dela. Apagando vestígios, bloqueando em comunidades virtuais. Fazendo a faxina. Afinal, só depois de tudo limpo é que vou ter idéia do tamanho da cicatriz. Por enquanto é muito cedo. Ainda tem muito veneno circulando em mim.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

AULA DE ROTEIRO

Ouvi essa agora cedo no Globonews. E isso na véspera de Natal. Os roteiristas da vida não são tão criativos assim. Em teatro esse recurso se chama "Deus ex machina".

http://www.jornalvaledoaco.com.br/novo_site/ler_noticia.php?id=88223

FAZENDO O MELHOR COM O QUE SE TEM

Já pensou que talvez os conceitos de bem e mal sejam pura ilusão? Que talvez todos nós estejamos fazendo o melhor que podemos com o que temos em mão? Às vezes o que temos em mão é um coração gigantesco, uma capacidade de compaixão. Muito amor por tudo. Às vezes o que se tem é um coração de pedra, o cenho carrancudo ou um caráter vagabundo. Eu fico pensando, e se todo mundo merecesse o benefício da dúvida? Sem querer justificar atitude de ninguém, mesmo porque pena e compaixão não são sinônimos. Mas entender que talvez (apenas talvez) o mundo não seja um buraco apocalíptico repleto de pessoas enfiando a mão no teu bolso para roubar sua carteira vazia. Entender que na vida, ninguém entrou pensando em dar o pior. Apenas o melhor. E o “melhor” é algo subjetivo. Entender que quando tudo dá errado não se trata de uma conspiração paranóica do universo contra a gente. Que em vez de desentortar banana, o melhor é descascá-la assim mesmo. Como ela é. Fazer de conta por um minutinho que estressar, ficar irritado, chutar a porta do carro; só faz dos nossos dias mais chatos e pode resultar em um dedão quebrado e uma conta salgada no funileiro. Já pensou que a gente tem o que tem, e assim como todo mundo no mundo, a gente precisa tentar fazer o melhor com o que temos? Pode ser só sintomas do feriado. As luzes de Natal para todos os lados da cidade. A alegria de ver o Sol brilhar na manhã do dia 24. Pode ser só isso. Eu mesma sou PHD em me desesperar e chutar porta de carro. Acabo julgando as pessoas, duvidando de todos. Mas uma coisa que sempre digo aqui, Amar é um exercício. Então eu vou sair agora para comprar os últimos presentes (Sim. Eu também sou procrastinadora. Eu e 19 milhões de habitantes em São Paulo.). Vou passar na casa da Kika (que foi assaltada... longa história!) para colocar um cadeado na janela. Vou me enfiar na rua, tomar um sorvete porque é verão por aqui. E vou exercitar olhar para cada um, para cada situação, com o benefício da dúvida. Talvez pudesse ser melhor. Talvez sim. Talvez desse para ser perfeito e impecável. Mas eu vou aceitar o que se tem. E fazer o melhor com isso. Feliz Natal para todo mundo aqui. Vamos ser feliz gente. (porque ser triste é muito chato!) ;-)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

VERÃO

Hoje às 21h38 o Verão estará começando no Brasil. Verão de verdade, quente, abafado, com Sol de deixar a gente moreninha. Direito à tromba d’água no final do dia. Chinelos Havaianas e sorvete. Adoro verão. Sempre me dá uma nostalgia de adolescência. Dos vinte e poucos anos. De descer para a praia. Noites quentes tomando cerveja na Vila Madalena. Meu carro não tem ar condicionado, então eu acabo amaldiçoando um pouco o universo quando fico presa no trânsito. E todos os anos eu juro por Deus que vou trocar de carro e melhorar as condições de trabalho. Uma coisinha de cada vez. Esse mês acabou o orçamento. Duas mudanças em menos de dois meses. Comprei geladeira, fogão, lavadora Brastemp. Falta a escrivaninha e o sofá-cama. Vou fazer um quarto de hóspedes, aberto ao público. Mas vai todo mundo jantar sentado no chão da sala, com o prato no colo. Mesa e cadeiras ainda vão demorar um pouquinho. Além dos R$70 que sobraram na minha conta no banco, tenho só R$25 na carteira. Mas feliz pra burro! Ando feliz mesmo. Felicidade daquelas que vêem milhões de possibilidades. Cheia de vontade de fazer de 2011 um ano ainda melhor que esse. E esse foi um ano incrível. Embora eu esteja terminando o ano com o coração destroçado. Eu nunca mais toquei nesse assunto, mas é isso. Meu coração está destroçado. Faz parte. Só fica assim quem ama. Eu ainda prefiro destroçar meu coração um milhão de vezes do que parar de amar. Não somos todos assim? Gosto de pensar que sim. Acho que as pessoas são todas iguais. Somos um bando de gente carente só querendo ser amada. Hoje fugi do temporal e vim para casa. Meu celular completamente descarregado de bateria e eu vim trabalhar enquanto ele carregava. Gosto de trabalhar com a televisão ligada. Faz a casa parecer mais cheia. Ouvir vozes de pessoas quando se mora sozinha. Então estava passando “Notting Hill” em um desses canais do cabo. Eu adoro comédias românticas. Eu poderia escrever uma tese sobre elas. Assisto todas. Choro em todas. Amo. “Notting Hill” tem uma coisa em particular. A música “She” no final feliz. Eu sempre disse que queria casar com essa música. Agora já nem sei se quero mais casar... mas toda vez que ouço essa música, imagino alguém olhando para mim como Hugh Grant olha para Julia Roberts naquela cena da press conference final. Não é tudo o que a gente gostaria de verdade na vida? Encontrar alguém que nos olhasse com aqueles olhos? Às vezes sinto que sou muito mal agradecida. Sou uma pessoa tão abençoada com tanto amor na minha vida, e fico falando exatamente daquele amor que falta. Mas então tem aquela cena. Essa cena aqui embaixo.



“Eu sou só uma garota, parada em frente a um cara, pedindo que ele me ame”. Talvez isso defina as coisas um pouco mais. Eu também não passo de uma pessoa carente, querendo ser amada. Às vezes as pessoas não estão dispostas a nos amar. Também faz parte. É um direito delas. Eu vou pegar meu coraçãozinho destroçado, mudar para o meu apartamento novo. Vou comemorar o Natal (que ainda é o meu feriado favorito), vou me despedir do melhor ano da minha vida. Aproveitar o verão que está só começando. Afinal, está só começando. Tanto Sol ainda para brilhar. Vou abrir um sorrisão (o meu não é tão bonito quanto o da Julia Roberts, mas é meu) e se algum dia em 2011 eu me encontrar parada em frente a um garoto novamente... não vou hesitar em pedir que ele me ame.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

LEILÕES E CAIPIRINHAS

Tem aquela filosofia “Noviça Rebelde” que diz: Quando Deus fecha uma porta, em algum lugar ele abre uma janela. No filme eles só não falam que a janela vai custar mais caro do que a porta que foi fechada. Mas eu também não quero vir aqui para ficar reclamando. É tão difícil entender o que é realidade hoje em dia que estou desistindo. Jogando a toalha. Abrindo mão. Piloto automático. Passei quase o dia todo procurando apartamento. Acho que visitei uns 10 só hoje. Tenho mais um tanto agendado para amanhã. Já perdi totalmente a referência de valores. No geral acho tudo astronômico, mas quem sou eu para reclamar. Já decidi que é mais fácil ganhar mais dinheiro do que ficar achando tudo um absurdo. Tudo o que eu quero é resolver isso o mais rápido possível, mudar e poder gastar minha energia em fazer dinheiro entrar. O primeiro ajeitadinho que eu achar, estou batendo o martelo. Vendido para a senhorita de rosa ao fundo! Isso tá valendo para homem também. O primeiro ajeitadinho que chamar para jantar... Vendido para a senhorita de rosa ao fundo! Não adianta desesperar, não é verdade!? Vou fazendo. Uma hora dá certo. A árvore de Natal está montada. Não parece aquelas coisas perfeitas de Shopping Center (como eu até gostaria de fazer), mas tá bonitinha e fui eu quem fez. Então fico feliz. Hoje busquei algumas fotos que havia mandado ampliar na Labtec. Uma fortuna para um lixo de resultado. O efeito do papel metalizado ficou bem estranho em algumas fotos. Mas era exigência da escola. Eu prefiro a foto em papel comum memso. Algumas até no fosco de preferência. Anyway. Paguei uma fortuna por fotos que ficaram esquisitas e muito mais escuras na ampliação do que no tratamento todo que dei no computador. A menina me jurou que eles não mexiam no arquivo. Eu duvido. E estava com preguiça de discutir. Paguei e saí rosnando. Não vai dar para fazer portifólio, mas vou aproveitar algumas. Fazer uma série e colocar na parede. Assim que eu tiver uma parede para colocar. Outro ditado que aprendi: Se a vida te dá um limão, faça uma limonada. Eu gosto mesmo é de fazer caipirinhas, mojitos, limoncello. De qualquer forma, a idéia é deixar a coisa mais divertida. Verdade que não sou a melhor nisso. No geral fico só resmungando. Estou mais para Dramma Queen do que Party Girl. Mas eu tento. Uma hora a janela certa se abre. E daí... Vendido! Para a senhorita de rosa ao fundo...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

BAD HAIR DAY

Acordei hoje às 7h, com a sensação de que deveria ter ficado dormindo. Tem dia que é assim. Melhor mesmo ficar na cama e fingir de morta para não piorar as coisas. Mas não. Eu levantei. Tentei inutilmente meditar para acalmar um pouco o vulcão dentro de mim. Fui flagrada pelo vizinho enquanto descia de pijama para buscar o jornal. Derrubei café no fogão (de novo!). Levantei documentação para a imobiliária do apartamento que finalmente eu ia alugar. Estressei durante meia hora para aceitar que duas das declarações não poderiam ser tiradas porque amanhã é feriado em Caieiras e o meu contador achou que seria legal emendar um feriado assim, no final do ano. Comecei a trabalhar, já recebendo um monte de críticas de um monte de gente de tudo quanto é lado. Minha assistente resolveu que “aviso prévio” significa que ela não precisa trabalhar, então ela não faz relatório, não dá satisfação. Simplesmente faz o que lhe dá na cabeça. Eu passei a manhã toda tentando descobrir o tamanho das pendências que ela está deixando para trás e juntando ao meu tamanho de pendência que já não dá mais para organizar nem em ordem alfabética. Depois tive uma tensa conversa por telefone, tentando me defender de ter cobrado que a inútil da minha assistente fizesse o trabalho para o qual ela foi contratada. Legal! Então eu respondi uma tediosa pesquisa de marketing e tentei inutilmente reaver o pagamento de um trabalho contratado que nunca foi executado. A essa altura do championship recebo uma ligação da minha corretora dizendo que o proprietário do imóvel desistiu da locação. Então assim, de uma hora para outra, uma coisa que estava resolvida na minha vida deixa de estar. Isso significa que eu preciso bater perna novamente, ver pulgueiros novamente, achar algo mezzo mussarela, mezzo calabresa, negociar, fechar contrato e mudar. Tudo até segunda-feira que vem, em tempo de passar festas e me organizar para viajar dia 1. Minha primeira reação foi chorar. E foi exatamente o que eu fiz. Deitei na cama e chorei por cinco minutos. Liguei para minha mãe, porque tem horas que tudo o que a gente quer é chorar no colo da mãe. Mas minha mãe está toda passiva-agressiva e foi a mesma coisa que nada. Depois de 20 segundos eu já tinha me arrependido de ter ligado para ela. Então eu resolvi que era melhor não pensar naquilo e tentar fazer algo bem inútil e fútil até me acalmar. Resolvi montar minha árvore de natal. Eu sei que está em cima da hora, mas eu adoro Natal e adoro árvores de Natal e eu prefiro ter uma árvore de Natal por uns dias do que não ter nenhuma. Abri a caixinha com as lindas bolas que eu comprei ontem. Todas em tons pastel e textura brilhante. Abri o pacote com o laço rosa que era para decorar e descobri que o laço era duro e ficava assutador na árvore. Depois consegui derrubar a caixa de bolas no chão e quebrar metade delas (que, claro! Eram de vidro!). Pensei em tirar o chinelo e pisar em cima dos cacos só para me autopunir. Em vez disso deitei na cama de novo. E chorei. De novo. Só mais cinco minutinhos. Então preparei algo para comer, almocei checando emails e saí atrasada para os exames médicos que eu tinha agendado e que demoraram um mês para eu conseguir conciliar todas as variantes necessárias para realizá-los. Meu carro foi fazendo um barulho estranho no pneu traseiro direito. O laboratório, bem. Esse merecia um capítulo à parte. Depois de eu ter de esperar 15 minutos para um segurança apertar um botão e me dar uma senha. Tive de esperar mais 25 minutos para minha senha ser chamada, 20 para dar entrada no pedido do exame e aprovação do meu plano de saúde e mais 15 minutos para uma enfermeira olhar meu papel, olhar para minha cara e me mandar esperar em outro andar do prédio. A sala de ultrassonografia estava sendo disputada por médicos e instaladores de ar condicionado (que limpavam a poeira que caía do teto em cima da maca com uma vassoura de chão!!!). A médica estava navegando por um site de compras entre um paciente e outro. Pedi para ser atendida em outra sala e com outro médico. Ainda tive de bancar a maluca com TOC para ter certeza de que o aparelho estava higienizado e pedir para eles limparem novamente com álcool na minha frente. Fiquei andando durante uma hora e meia no corredor do laboratório até que minha bexiga estivesse cheia para o ultrassom de vias urinárias e descobri que algo muito sinistro pode estar acontecendo com o meu rim esquerdo (ainda bem que ainda tem o direito!). Com toda a novela no laboratório, acabei pagando R$17 no estacionamento e perdi um teste de casting que era do outro lado de São Paulo até às 17h. Eu tinha decidido nunca mais fazer teste de publicidade ou trabalhar como atriz na minha vida, mas como eu estou precisando de dinheiro desesperadamente (afinal São Paulo resolveu virar a cidade mais cara do mundo enquanto eu estava fora), estou topando vender desinfetante em rede nacional sem fazer um pio. Ainda corri para o shopping para fazer um wire transfer para o projeto que vou participar em janeiro e as duas casas de câmbio que consegui chegar em tempo não faziam esse tipo de serviço. Completamente derrotada, saio do estacionamento sob o dilúvio que caiu no final da tarde em São Paulo. Vidro embaçado. Goteira do lado do passageiro. Está assim desde que roubaram meu carro e entortaram a porta. Fica uma piscininha no chão. (E não. Não tenho dinheiro para mandar arrumar.) Eu só pensava em chorar, parar no farol com um monte de carro buzinando atrás e chorar. Quando eu vi uma loja de artigos de Natal. Resolvi que ia resgatar meu “momento esperança” da manhã. Ia comprar novos enfeites para a árvore, luzinhas, e uma fita decente. Acontece que a loja era uma coisa de dar dó. Haviam enfeites de Natal horrendos, aprisionados em caixas em prateleiras baixas. Todos em pouquíssima quantidade e somente nas cores verde, vermelho e dourado. Nada branco. Nada rosa. Nada azul ou prata. Era a loja de enfeites de Natal mais triste que já entrei na minha vida. Olhei com compaixão para a vendedora e declinei a oferta de um guarda-chuva até o carro. Juro que o carro parecia estar a um pulinho só da porta. Só que com a chuva torrencial (e minhas sandálias de salto alto) eu consegui sentar na direção parecendo um pinto molhado. E me sentindo o ser mais miserável do planeta. Alguns dias são assim. A gente pode encher de mousse. Fazer chapinha. Amarrar em um rabo de cavalo, encher de presilhinha. Pode até fazer um coque, uma trança de raiz. Nada vai resolver. Há dias que nada vai fazer seu cabelo ficar legal. Melhor seria ter ficado dormindo. Mas enquanto eu estava encharcada dentro do meu carro, tentando enxergar alguma coisa pelo vidro embaçado. Esfregando minha mão no parabrisa, parada em um trânsito surreal. Rezando para não ser levada por alguma enxurrada. Enquanto eu estava ali me sentindo a pessoa mais miserável do mundo, a única coisa que eu conseguia pensar era: “Amanhã eu vou acordar mais cedo, e vou levantar, e vou fazer tudo o que eu não fiz hoje. E vou fazer mais. E vou fazer melhor. Vou achar um apartamento e adiantar as matérias. Vou organizar minha agenda. Vou malhar. Vou fazer. Porque eu não sou do tipo de mulher que vira para o lado e volta a dormir.” Talvez existam dias em que seja melhor nem levantar. Mas eu ainda sou daquelas que prefere enfrentar um dia inteiro de coisas dando errado, do que raspar careca só para evitar um cabelo arrepiado. Bad Hair Day a gente resolve assim. Esconde em um gorrinho, enrola uma bandana na cabeça, mas vai pra vida. Todo mundo sabe que tem dias que o cabelo fica horrível, mas há também os dias que (sem que a gente faça nada) ele nos faz divas!

domingo, 12 de dezembro de 2010

DOMINGO

Sabe o que faz um domingo? Acordar inchada de tanto dormir. Depois inundar a casa com cheiro de café fresco e beber a bialetti inteira lendo o jornal, pulando cadernos, recortando as ofertas de eletrodomésticos que te interessam mais. Cozinhar legumes para fazer uma maionese e deixar tudo na geladeira enquanto toma um banho e se arruma para dar uma volta com uma grande amiga. Tomar café (mais, nunca é de mais) e comer um pedação de bolo caseiro, com direito a cobertura e lambuzar os dedos. Então seguir tagarelando para a Etna, para olhar móveis, coisinhas de decoração. Anotar tudo, tirar medida com fita métrica na mão. Imaginar como seria ter uma sala maior para aquele sofá azul florido lindo, ou um pé direito duplo para preencher com aquela estante maravilhosa. Encher de livros. Fazer uma lista de prioridades para, quem sabe um dia, terminar de decorar a casa do jeitinho que a gente quer. Então comprar uma árvore de natal, com enfeites brancos, rosas e azuis. Comprar uma guirlanda com um Papai Noel fofo de ponta cabeça, para colocar na porta e (mesmo mega improvisada, mega acampada) entrar no clima das festas de final de ano. Porque eu adoro as festas, Natal, Ano Novo. Comer cereja e cortar panetone. A delícia de concluir um ano, comemorar, abraçar, sorrir e começar cheia de esperanças um ano novo. E eu tive um ano fantástico, só tenho o que agradecer e comemorar. Depois voltar para casa com sua amiga e bebericar uma cerveja gelada, com espuma de chopp, enquanto se aventura no fogão para fazer uma farofinha bem brasileira, com linguicinha e bacon e cheia de sabor. Almoçar de gula, ouvir elogios sem fim a sua comidinha e capotar na cama depois. Nada de dormir, só coçar a barriga de forma preguiçosa. Pensar na vida. Transpirando com o calor de louco, janelas abertas, ventilador ligado. Terminar o dia tomando uma ducha delícia para refrescar. Ler notícias e livros, bebendo água de coco gelada e baixar o episódio 10 de Grey´s Anatomy, para babar no Scott Foley sorrindo para a câmera. Isso para mim faz um domingo. Uma delícia de domingo. Simples. Sem grandes ambições. Mas de verdade.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Se a gente for pensar, tempo é tempo. 24 horas para cada dia e isso não muda. Completamente democrático. Não importa se você é rico, pobre, gordo, feio, magro ou diva. São 24 horas em um dia e você precisa se virar para tirar o maior proveito desse tempo. No geral eu costumo atropelar. Começo a matar horas de sono, então passo a me alimentar no carro, entre um lugar e outro. Depois a vida social vai pro saco e quando eu vejo estou correndo como uma louca, sem fazer nada de produtivo e com uma lista de pendência kilométrica. O tempo continua o mesmo. Eu tenho plena consciência de que a culpada sou eu. Hoje eu dei reboot. Dormi. O dia todo. Muito. Dormi até meio-dia e meio. Acordei, comi qualquer coisa. Liguei a TV em algum filme e voltei a dormir. Até 16h30. Quando enfim sai para levar a Kika ao aeroporto e voltar para a cama. Agora escrevendo ainda estou com sono. Louca para terminar e voltar a dormir. Quero dormir mais umas doze horas e quando acordar repensar em como organizar a vida. Em como ganhar dinheiro. Em chegar até o final desse mês sem deixar meu saldo negativo. Em todos os textos que preciso escrever e organizar. Em como treinar uma nova assistente. Em tratar fotos no computador. Em organizar documentos para por minha vida em ordem. Em tirar fotos. Em fazer um plano estratégico de trabalho. Em comprar móveis. Em mudar. Em voltar a ter vida social. Em namorar. Em viajar para a Guatemala. Em fazer exames médicos. Em consultar minha dentista. Em comprar presentes de Natal. Em ser mais presente na vida dos meus amigos. Tenho uma “To Do List” gigantesca para resolver, mas nesse momento, eu só quero dormir.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DOIS X

Ando pensando muito em como ser mulher é uma coisa definitiva. Não na questão óbvia e imutável dos dois cromossomos X. Mas em como sua vida está subordinada irremediavelmente a essa condição. Essa semana fiz exames ginecológicos de rotina, mamografia e fiquei menstruada. Isso significa uma série de procedimentos bem invasivos e pouco confortáveis. Meus seios foram achatados e massacrados em um aparelho enquanto eu gritava “Ui! Ui! Ui!”. E homem ainda reclama de exame de próstata. Só porque o médico precisa enfiar um dedo em algum lugar pouco confortável. Em mim enfiaram, além do dedo, um espéculo, dilataram, jogaram líquidos que ardiam, passaram gaze, recolheram secreções, tiraram fotos e filmaram. Depois foi a TPM. Os hormônios todos brincando de ping-pong com o meu humor. Eu comendo todo o chocolate possível e imaginável em um raio de 30Km. E agora vou ter de sangrar por uns dias e fingir que nada está acontecendo. Essas são questões biológicas. Básicas. Imutáveis. Fazem parte dos dois X no meu DNA. Tudo isso é chato mas faz parte. Tem uma função na roda da evolução. Está determinado desde que eu nasci, o médico bateu no meu bumbum, eu comecei a chorar e ele sentenciou “It´s a girl!”. A partir dali todo mundo sabia que seria assim. O que eu tenho pensado é no outro lado de ser mulher. No que não está determinado por cromossomos, mas ainda assim foi sentenciado no mesmo momento do tapa no bumbum. Tenho pensado em como a minha opinião vai ser sempre levemente subjugada por causa do tal cromossomo X. Como vão sempre me olhar com cara de espanto por eu viajar sozinha. Como eu vou sempre ser uma presa mais apetitosa para violência urbana. E as exigências estéticas da sociedade serão muito mais enfáticas. Como as decisões que eu tomar nessa fase da minha vida (casar, não casar. Ter filho, não ter filho. Fazer ginástica, não fazer ginástica. Etc...) são muito mais determinantes do que se eu tivesse um cromossomo Y. Essa semana tive uma reunião com um advogado que acabou de ter seu primeiro filho. Ele pediu para fazermos a reunião no café ao lado da casa dele, e lá estava ele com o bebezinho fofo de tudo enquanto discutíamos os procedimentos legais para a abertura da associação. O bebê chorou durante quase toda a reunião e por diversos momentos tivemos de fazer algumas pausas para ele ninar a criança. Claro que eu acho lindo pessoas com bebês, ainda mais os recém-nascidos. Nas mesas ao lado todo mundo olhava com ternura. Que louvável um homem fazendo papel de pai! Eu fiquei pensando. Se eu tiver um filho, e marcar uma reunião do lado de casa, e levar meu filho para a reunião. As pessoas vão achar louvável também? Será que vão enxergar como sinal de fraqueza? Será que vão achar apropriado? Será que a tolerância das mesas ao lado seria a mesma se meu filho começar a chorar? Não acho que o advogado esteja errado, pelo contrário. Acho que as mulheres deveriam poder fazer as mesmas coisas sem serem julgadas silenciosamente. Sem receberem olhares atravessados. Sem temerem pelos seus empregos. E se eu resolver não ter filhos agora, é algo que vai determinar o resto da minha vida. É uma escolha imutável. Eu não vou poder arrumar um cara de 30 quando eu tiver 56 anos e resolver engravidar. Não funciona do jeito inverso. E se eu ficar careca e barriguda, dificilmente isso será visto como sinal de seriedade e maturidade. As minhas relações românticas serão sempre regradas pela minha capacidade de me fazer levemente menos inteligente do que a pessoa com cromossomo Y que estiver ao meu lado. E mesmo eu sendo mais eficiente e produtiva, ainda será considerado futilidade os sapatos que eu compro. Mesmo que custem muito menos do que a motocicleta, o capacete e outros apetrechos dos hobbies dos cromossomos Y. Essas são apenas algumas coisas que foram determinadas quando o médico me deu um tapa na bunda e que não são naturais. Não são biológicas. Não são como TPM. Mas que é preciso lidar e de preferência de boca fechada. Não quero fazer apologia feminista aqui. Estou apenas refletindo e tentando entender. Porque tem coisas que eu sinto na pele, que nem consigo imaginar como mudar. Tem coisa que é biológica e eu não quero mudar. É como me imaginar sendo oriental ou negra. Não consigo. Mas todas as outras, que não estão em nenhum dos milhões de cromossomos do meu DNA. Essas são difíceis de entender.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

DESLIGAR

Sabe quando o carro está acelerado? Quando a gente anda com ele, pisa no acelerador e parece que vai arrebentar alguma coisa. Quando pára no farol ele fica berrando, fazendo mais barulho do que devia. Todo mundo em volta acaba olhando para o seu carro, parece que o mundo inteiro tapa os ouvidos com medo dos tímpanos estourarem. Às vezes é assim. Parece mesmo que vai estourar. Eu ando uma “bitch”. Tento tirar o pé do acelerador mas o motor berra chamando atenção de todo mundo em volta. Morro de vergonha. Ando dando patada em liquidação. Vendendo baratinho. Parcelinhas Casas Bahia. Hoje consegui até brigar com a coitada do telemarketing da TokStok que só queria agendar a entrega do meu rack. A coitada. Só fazendo o trabalho dela e eu demônia pelo fone de ouvido no carro “Muito bem então. Quero só ver essa entrega. Estou SUPER curiosa para ver essa entrega, mal posso esperar”. Tá cheio de louco no mundo e quando chamam por ordem alfabética eu saio logo de cara. Dei piti com a minha mãe que está no hospital com pneumonia. E com as enfermeiras que demoravam uma eternidade para atender o chamado. Paciência zero. Minha assistente pediu demissão. Passou a tarde chorando. Engraçado é que, se do lado de fora o motor tá berrando, por dentro eu estou transbordando de compaixão pela humanidade. Mas parece que toda essa compaixão está lacrada, selada. Sem ar. Eu não consigo nem meditar. Nem ficar um segundo concentrada. Queria desligar. Por uns dias, algumas horas. Achar uma brecha e reencontrar o centro.