Ano passado, quando tirei férias e fiz uma roadtrip pela Itália, havia prometido ao Alê que passaria na volta por Barcelona para ficar um pouco com ele. Acabei cancelando e voltando antes para o Brasil por causa de alguns problemas de trabalho. Em janeiro havia me programado para uma nova temporada européia, e novamente prometi passar para ficar uns dias com o Alê. Cancelei a viagem por vários motivos, e aumentei meu débito de amiga que promete e não cumpre. Dessa vez cruzei o oceano novamente, mas nem considero uma viagem. Vim para um retiro budista em Sintra e resolvi aproveitar para visitar algumas amigas que tiveram filhos no último ano. Para quitar o grande débito, resolvi que chegaria por Barcelona, para cumprir a promessa e rever essa cidade que não tive a oportunidade de absorver de verdade da outra vez que estive. Acabei ficando uma semana inteira com o Alê, e foi como era quando estávamos saindo da FAAP e passávamos as tardes e noites por São Paulo. Continuamos os mesmo. Envelhecemos, mas continuamos os mesmos. Alê me leu alguns trabalhos lindos que tem escrito. Acho um desperdício tão grande ele não colocar um pouco mais de esforço em produzir e publicar. Alê é de verdade um escritor fantástico, um pós-beatinik com muito mais autenticidade do que todos os posers que tentam ser undergrounds no Brasil. Ele foi uma grande inspiração para mim. Foi por causa do Alê que comecei a pensar a sério em escrever, como profissão, como vida. Na verdade essa é a única coisa que realmente fazemos bem. Somos bons em várias coisas, somos versáteis, mas nossa essência é essa. Nós dois somos pessoas que escrevem. Alê tá levando uma vida ótima em Barcelona. Seu apartamento é espaçoso e confortável, tem até um terraço grande com churrasqueira, onde ele estende uma rede e planta girassóis. De onde também se avista as torres da Sagrada Família. O prédio não tem elevador, e nos primeiros dias senti meu pulmão desafiado para subir os 123 degraus até o sexto andar. Eu contei. Acho gostoso ver essa vida simples, sem extravagâncias que ele está levando. Coisa que nos é quase impossível em São Paulo. Faz quase três anos que eu me restabeleci, só com uma mochila de roupas velhas e surradas, e já acumulo mais coisas do que o Alê em 7 anos fixos em Barcelona. Porque acabamos tão rapidamente como acumuladores inúteis? Mesmo olhando para minha bagagem de não-viagem agora - já que não vim de mochila dessa vez - tenho a certeza de que carrego só o básico, mas o meu básico está excedendo os limites de despacho. Esse é o tal do piloto automático. Ficamos tão acomodados nessa vidinha de rotina e conforto urbano, que vamos afundando no supérfluo sem nem nos darmos conta. Vira areia movediça. O dia que você se pegar assinando contrato de casa em condomínio fechado, e blindando o carro para poder ir ao cinema no shopping, sinto muito! É porque já perdeu o fôlego e nada mais te salva. Quando eu quebrei com tudo e resolvi ir em busca do que me fazia sentir viva, eu achei que era uma coisa definitiva. Que aquela experiência e aquela transformação me pertenciam eternamente, e que eu nunca precisaria me preocupar de estar absorvida no nada novamente. Então eu estava arrumando minha mala ontem, me perguntando como era possível o meu “básico” ser tanto assim, quando me ocorreu que é preciso um trabalho contínuo. Aqui estou eu já afundando novamente, ligando o piloto automático e deixando tudo o que realmente me faz feliz para uma outra hora. É preciso acordar todos os dias, e quebrar essas amarras sociais todos os dias. É preciso partir e buscar o que nos faz vivos todos os dias. Porque quando relaxamos, quando nos acomodamos no que pode ser seguro e certo - ainda que seja a segurança e a certeza de que nos transformamos - a areia movediça nos engole, e passamos nossas semanas entre a rotina de trabalho, a cerveja com os amigos, o programa de TV, a pizza do sábado e a busca nas araras e prateleiras das lojas de uma satisfação que não está ali para vender. Compramos o que nos oferecem para que sirvam como substitutos. Compramos qualquer coisa que esteja ali para vender. Se não nos reinventamos todos os dias, e nos atiramos no mundo com os olhos ávidos pelo novo, pelo maravilhoso todos os dias; se não nos dispomos a experimentar, transgredir, inovar, podemos assassinar nossos talentos, endurecer nossa alma, até o ponto de que nem a memória nos resgate a euforia de sermos nós mesmos. Quando nos perdemos na insatisfação do trânsito, da política, da corrupção, dos impostos, da crise, deixamos de usar essa energia para mudar de lugar, e mudar nossa perspectiva. É preciso estar em constante movimento, constante renascimento. Resgatar nossas essências do lodo desse mundo amortecido, hipnotizado. Deixei meu livro em cima da mesa de centro do Alê. Escrevi na dedicatória: “Senta essa bunda na cadeira e escreva. É só isso que a gente sabe fazer. Te amo. d.”
Entre euforias delirantes de "impeachment" e recalque dos bandeirinhas vermelhas que acham que se o povo não está na rua defendendo a bandeira deles é sinal de que "está sendo manipulado, óbvio"; eu também não faço a menor ideia de onde isso vai dar. Mas vou dizer que fico otimista e esperançosa exatamente por esse movimento não ter uma cara definida. Por ter comunista, capitalista, criança, velhinhos, engravatados, patricinha, estudantes, ciclistas, pacifistas, madames e tudo o mais que você pode imaginar. Isso quer dizer que (para o horror de quem está acostumado com o controle vertical) algo existe que une tantas pessoas diferentes, com tantos históricos diversos. Na minha opinião o que nos une é uma só coisa: somos brasileiros.
Parece que, enfim, as pessoas resolveram levantar a bunda e reclamar sobre as coisas que estão erradas. Lembrar o governo que eles trabalham para a gente, e não para os partidos. Até por isso as bandeiras partidárias estão sendo rechaçadas. Se esses partidos concordam com o que está sendo reinvindicado, ótimo! Pode participar sim! Baixem essas bandeiras e venham reivindicar juntos, como brasileiros, não como partidos. Não adianta ficar ressentido porque o povo "não está manifestando do jeito certo". Afinal, quem disse que o "jeito certo" é o SEU jeito!? Eu não quero fazer parte de uma manifestação, lotar a Paulista, para neguinho depois estender uma bandeirona do próprio partido e usar em campanha política como se a manifestação fosse deles. Se é para estender bandeira, é a do meu país.
Surpreendentemente parece que tem gente que acha mais chocante e perigoso empunhar a bandeira nacional do que a desses partidos, que são todos oportunistas e só querem chegar ao poder, ou se perpetuar no poder. Está tão acostumado a ser gado eleitoral que já nem percebem que abandonam a própria ideologia e acabam votando no Maluf por tabela, por pura fidelidade cega. Tem que ver isso aí! Vale tudo para preservar um partido!?
Espero que essas manifestações levem a uma inversão das prioridades. Que nossos governantes tenham planos de GOVERNO, que realmente mudem nossas vidas, e não planos de PODER, que só visam fortalecer seus partidos. O que está errado não é a falta de foco do movimento, é o governo se ver frente as manifestações e ficar mais preocupado em sentar com "o pessoal do marketing" para minimizar os danos à imagem do partido, do que ter coragem de quebrar todos esses conchavos e começar a apresentar alternativas viáveis e efetivas de mudanças.
A Revolução Francesa começou pelo preço do pão. A gota d'água para um povo que foi vendo a carga tributária subir e sugá-los cada ano mais, apenas para manter uma forma de governo no poder. Até hoje na França o preço da baguete é tabelada. Talvez, se naquela época Luiz XVI tivesse parado com a esbórnia e usado os recursos públicos para melhorar a vida das pessoas, a França fosse uma monarquia até hoje. Se nossos governantes não acordarem e entenderem que trabalham para a gente, e não ao contrário, a coisa pode sim degringolar para algum lugar que ninguém sabe. Mas sou otimista e acredito que essa pressão vai fazer o Brasil mudar.
Citando Leminski, que o gado intelectual tanto gosta: "Repara bem no que não digo". E é isso o que o povo está dizendo quando recusa bandeiras partidárias. Sim, as manifestações não fazem sentido se comparadas com as que tivemos no passado. Mas é porque já não vivemos mais nesse passado. Não entende? Repara bem no que não está sendo dito pelo povo. Os nossos governantes devem fazer bem o trabalho para que são pagos. Não importa o partido, a orientação política. Foram eleitos, não foram!? Então trabalhem direito.
Como diz um cartaz que vi ontem na Paulista "Feliciano, não te esquecemos. É que estamos consertando uma merda de cada vez."
Então vamos lá, como brasileiros, consertar uma merda por vez. Exigir que o governo, nosso subordinado, que trabalha para a gente, e de quem nós pagamos o salário, trabalhe direito.
Anote na agenda:
7o Grande Ato contra o Aumento da tarifa do transporte público
Concorda?
Então venha para a Praça do Ciclista (Paulista com Consolação)
Amanhã dia 20/06 às 17h
ATO CONTRA A APROVAÇÃO DA "CURA GAY" PELA CDH
Concorda?
Então venha para a Praça Rosa (antiga Praça Roosevelt)
6a feira, dia 21/06 às 18h
ATO CONTRA A PEC37
Concorda?
Então venha para o MASP
Sábado, dia 22/06 às 15h
Parece que, enfim, as pessoas resolveram levantar a bunda e reclamar sobre as coisas que estão erradas. Lembrar o governo que eles trabalham para a gente, e não para os partidos. Até por isso as bandeiras partidárias estão sendo rechaçadas. Se esses partidos concordam com o que está sendo reinvindicado, ótimo! Pode participar sim! Baixem essas bandeiras e venham reivindicar juntos, como brasileiros, não como partidos. Não adianta ficar ressentido porque o povo "não está manifestando do jeito certo". Afinal, quem disse que o "jeito certo" é o SEU jeito!? Eu não quero fazer parte de uma manifestação, lotar a Paulista, para neguinho depois estender uma bandeirona do próprio partido e usar em campanha política como se a manifestação fosse deles. Se é para estender bandeira, é a do meu país.
Surpreendentemente parece que tem gente que acha mais chocante e perigoso empunhar a bandeira nacional do que a desses partidos, que são todos oportunistas e só querem chegar ao poder, ou se perpetuar no poder. Está tão acostumado a ser gado eleitoral que já nem percebem que abandonam a própria ideologia e acabam votando no Maluf por tabela, por pura fidelidade cega. Tem que ver isso aí! Vale tudo para preservar um partido!?
Espero que essas manifestações levem a uma inversão das prioridades. Que nossos governantes tenham planos de GOVERNO, que realmente mudem nossas vidas, e não planos de PODER, que só visam fortalecer seus partidos. O que está errado não é a falta de foco do movimento, é o governo se ver frente as manifestações e ficar mais preocupado em sentar com "o pessoal do marketing" para minimizar os danos à imagem do partido, do que ter coragem de quebrar todos esses conchavos e começar a apresentar alternativas viáveis e efetivas de mudanças.
A Revolução Francesa começou pelo preço do pão. A gota d'água para um povo que foi vendo a carga tributária subir e sugá-los cada ano mais, apenas para manter uma forma de governo no poder. Até hoje na França o preço da baguete é tabelada. Talvez, se naquela época Luiz XVI tivesse parado com a esbórnia e usado os recursos públicos para melhorar a vida das pessoas, a França fosse uma monarquia até hoje. Se nossos governantes não acordarem e entenderem que trabalham para a gente, e não ao contrário, a coisa pode sim degringolar para algum lugar que ninguém sabe. Mas sou otimista e acredito que essa pressão vai fazer o Brasil mudar.
Citando Leminski, que o gado intelectual tanto gosta: "Repara bem no que não digo". E é isso o que o povo está dizendo quando recusa bandeiras partidárias. Sim, as manifestações não fazem sentido se comparadas com as que tivemos no passado. Mas é porque já não vivemos mais nesse passado. Não entende? Repara bem no que não está sendo dito pelo povo. Os nossos governantes devem fazer bem o trabalho para que são pagos. Não importa o partido, a orientação política. Foram eleitos, não foram!? Então trabalhem direito.
Como diz um cartaz que vi ontem na Paulista "Feliciano, não te esquecemos. É que estamos consertando uma merda de cada vez."
Então vamos lá, como brasileiros, consertar uma merda por vez. Exigir que o governo, nosso subordinado, que trabalha para a gente, e de quem nós pagamos o salário, trabalhe direito.
Anote na agenda:
7o Grande Ato contra o Aumento da tarifa do transporte público
Concorda?
Então venha para a Praça do Ciclista (Paulista com Consolação)
Amanhã dia 20/06 às 17h
ATO CONTRA A APROVAÇÃO DA "CURA GAY" PELA CDH
Concorda?
Então venha para a Praça Rosa (antiga Praça Roosevelt)
6a feira, dia 21/06 às 18h
ATO CONTRA A PEC37
Concorda?
Então venha para o MASP
Sábado, dia 22/06 às 15h