segunda-feira, 12 de agosto de 2013




Escrever é uma coisa engraçada. Não é o tipo de coisa que dá para encher muita linguiça. Você não consegue disfarçar falta de conteúdo. Ou tem, ou não tem. Você pode ser um ator medíocre, mas ainda assim sair em capa de revista, protagonizar novela das 9 e ganhar muito dinheiro fazendo campanhas publicitárias. Mas você não pode ser um puta escritor, sem ser um puta escritor. Você não pode provocar as pessoas sem ter opinião. Você não vai conseguir prender o leitor no seu texto, surpreender, emocionar, se não souber exatamente o que está fazendo. Se não tiver um bom domínio de seu estilo, se não escolher as palavras certas. É diferente de quando a gente fala. Em uma conversa. Nossa opinião fica diluída no ambiente, nas inflexões usadas, no tom de voz. No histórico que temos com o interlocutor. Se falamos com uma pessoa que gosta da gente, a tendência ao conteúdo do discurso ser bem recebido é maior. Quando alguém manifesta uma opinião contrária a nossa, nos inflamamos e falamos por cima, cortamos o raciocínio, fragmentamos a explicação. Escrever é colocar em público o processo de reflexão que muitas vezes não ousamos partilhar em uma conversa, porém a reação a leitura é muito mais forte do que a da palavra falada. Quando se lê, apropria-se do que está escrito. Ainda que o conteúdo seja pessoal, único e intransferível, há quem se ofenda com as palavras dos outros. Quando escrevo perco o direito às palavras. Aceito a livre interpretação do meu interlocutor. Talvez também por isso eu não responda comentários aqui. Quando comentamos um texto, comentamos mais o reflexo que enxergamos nele, do que as intenções de onde eles saíram. Não seria educado intervir na auto-imagem de ninguém.

Nenhum comentário: