terça-feira, 23 de setembro de 2014

TURISTAS X VIAJANTES

Vira e mexe alguém me pergunta porque eu não faço um blog de viagem, ou viro essas pessoas que viajam e escrevem. 
Por mais apetitosa que a ideia possa soar, tenho autocrítica demais para isso. Acho de um narcisismo absurdo esse povo metido a "travel guru". Viagem é uma coisa tão pessoal. É legal receber dicas e fico felizona de ajudar alguém que está indo para algum lugar onde tive uma experiência legal. Mas cada um faz sua própria viagem. O que foi incrível para mim não será necessariamente incrível para você. Detesto aquele ar de expert que diz "você TEM QUE fazer tal coisa quando estiver em Dubai". Minha gente, quando eu viajo eu não "TENHO QUE" fazer nada. Deus me livre ficar tentando reproduzir viagem dos outros, ou querer que os outros reproduzam minha viagem. E no geral, as pessoas que conheci buscando "se encontrar" em mochiladas eternas, eram perdidas demais para ficar em um mesmo lugar. Ficam iguais zumbis pelos hostels, precisando acreditar desesperadamente que sua vasta coleção de figurinhas no passaporte faz deles pessoas mais especiais do que as outras.
A gente se encontra é na rotina, no dia a dia. A busca espiritual é de cada um. Subir montanha na Patagônia ou encher a cara em Praga não faz de ninguém mais evoluído. Eu sei. Eu já fiz. Você pode encontrar a iluminação em um mosteiro no Nepal, ou na sala de casa, na Vila Mariana. É tudo a mesmíssima coisa. A diferença é que, se você precisa falar para os outros que encontrou a iluminação quando estava no Nepal, volte 5 casas porque não foi iluminação coisa nenhuma. Talvez tenha sido só um barato pela altitude. 
Esse texto resume bem minha relação com essa onda de "vou largar tudo e cair na estrada", e minha vontade sem fim de viajar. 
Amo viajar. Fato. É quem eu sou. 
Mas menos, minha gente. Bem menos. 

http://www.brasilpost.com.br/marjorie-rodrigues/ja-deu-o-turista-x-o-viajante_b_5854010.html

sábado, 20 de setembro de 2014

TODOS 100 HAPPY DAYS


Hoje estou terminando meu projeto de 100 Happy Days. Muita gente não conhece e fica em dúvida de porque tem gente por aí colocando fotos com as hashtags #100HappyDays e contando dias. A proposta é feita por uma fundação que trabalha por um mundo mais feliz. A brincadeira consiste em você se cadastrar no site http://100happydays.com, escolher uma mídia para publicar suas fotos de felicidade e gratidão (pode ser FB, Twitter ou Instagram) e criar uma hashtag para que eles possam acompanhar a sua jornada. Nós demos uma notinha sobre o projeto na edição de julho da Vida Simples. 

Quando conheci o site duas coisas me chamaram a atenção: logo quando você entra, a página diz “Que tal ser feliz por 100 dias? Você não tem tempo para isso, não é mesmo!?”. Quando cliquei, a explicação do projeto dizia que cerca de 71% das pessoas que começavam a jornada não terminavam. Fiquei muito intrigada com essa informação. Achei até meio forçado, afinal, não faz muito sentido. Porque as pessoas vão resistir a serem felizes? Para mim é uma coisa tão incrível! Imagina só, alguém chega para você e diz: 

“Hey, vamos ser feliz por 100 dias!?”. 

Minha resposta é sempre:

“Opa, demorou! 100 dias só!?”

Então eu coloquei um post sobre o projeto nas mídias sociais da Vida Simples, e descobri que a percentagem de 71% de pessoas que fracassam na proposta talvez não seja tão forçada. A maior parte das interações à postagem pelos leitores era negativas, de reclamações ou derrotista. Quando se pergunta para as pessoas “Hey, que tal ser feliz por 100 dias?”, aparentemente isso as deixa meio putas. Li coisas como:

“Nossa, que preguiça!” ou 
“O problema é achar um motivo todos os dias.” e
"Mas tem que tirar fotos todos os dias?"

Li essas coisas um pouco incrédula. Sério mesmo? Sério que você não consegue achar nem uma coisinha, nem um detalhe no seu dia para ser feliz? Um amigo que te liga, um filme passando na TV que você gosta, um momento no trabalho que você deu risada, encontrar alguém que você ama, se surpreender olhando pela janela, comer algo gostoso... uma única coisinha em seu dia que tenha te arrancado um sorriso? Pelo qual você seja grato? Fiquei com um misto de compaixão e aversão por essas pessoas. Compaixão, porque ninguém deveria viver em um limbo como esse, onde não se vislumbra nem mesmo a possibilidade de um sorriso por dia. E aversão porque me reconheci em tantos momentos rabugentos de minha vida, e não quis ser aquela pessoa incapaz de ser feliz. Acho que estamos tão condicionados à reclamações e rabugices que nem mais percebemos quando a felicidade bate na porta. 

Entrei no site, cadastrei minha hashtag #ShineHappyDri e comecei meu desafio no dia 12 de julho de 2014. Eu estava em Portugal para o casamento dos queridos amigos Lícia e Ivan, e peguei um trem escondido para fazer uma visita surpresa para a irmã que a vida me deu no Porto. Foi um dia maravilhoso, porque eu adoro andar de trem, eu fiz a viagem inteira lendo, enquanto admirava a linda paisagem das vilas portuguesas pela janela. Cheguei ao Porto e quase matei a Carol do coração quando me viu de surpresa sentada no café com a melhor amiga dela lá. Fomos para Motosinhos as três e comemos uma mega caldeirada de frutos do mar, regada à vinho verde e depois ficamos até de madrugada no sofá da casa dela com o Viriato conversando e comendo chocolates. Foi um dia tão lindo, tão perfeito, tão cheio de coisas que me fizeram sorrir. Mas eu postei apenas essa foto:



Essa foto foi a síntese da minha felicidade naquele dia. Aliás, foi logo nesse primeiro dia que percebi que talvez a minha dificuldade não seria terminar o projeto, mas escolher apenas uma foto, apenas um momento para registrar. Não demorou muito para eu me habituar a perceber quais eram os momentos felizes do meu dia, e descobrir que na maioria das vezes o que me fazia feliz eram pequenos detalhes do cotidiano, coisas singelas, hábitos diários. Por exemplo: Tenho várias fotos dos meus grupos de literatura nesses 100 dias, e outras tantas de momentos caseiros lendo livros ou assistindo a alguma série.

Outra coisa curiosa foi que eu tenho mais uns 100 Happy Days que não entraram na seleção, mesmo eu tendo extrapolado a regra de 1 foto por dia (posto 3-4 fotos sem dó!). No avião de volta para casa, abri o potinho de frutas do café da manhã e tinha cerejas. É minha fruta favorita, tenho loucura por cerejas. Na hora a única coisa que pensei foi “Olha, meu momento Happy Day!”. Mas meu celular estava desligado no compartimento de malas em cima da minha cabeça e não queria atrapalhar a pessoa ao meu lado, para pegar uma câmera só para tirar foto do meu café da manhã no avião. Esse momento não entrou, mas ficou registrado comigo com felicidade e gratidão. É bobo, eu sei, ficar feliz com cerejas. Mas o que eu posso fazer? Cerejas me deixam feliz! 

Claro que nem tudo nesse processo foram pétalas de rosas. Eu tive dias difíceis. Dias que foram desafios. Dias com notícias terríveis. Dias de doenças e desânimo. Mas eu já tinha criado o hábito. Eu já estava condicionada a perceber quando algo me fazia sorrir e o que eu aprendi é que, mesmo nesses dias negros, existia uma minoria de felicidade. Com o tempo, é só dela que me lembro. 

Durante esses 100 dias também vi outras pessoas embarcando na proposta. Foram pipocando na minha timeline a hashtag #100HappyDays. Alguns percebi que desistiram (que pena!), já vi gente trapaceando também. Gente que começou depois de mim e já terminou. De repente a jornada deles tinha outro caminho, algum atalho que eu perdi. Mas em todos os casos fico felizona quando vejo alguém mais embarcar. Fico feliz pela pessoa. Criar o hábito de perceber a felicidade em minha vida todos os dias me fez tão bem, que fico super feliz quando vejo que alguém também vai ter isso para si. É um negócio contagiante. Quanto mais percebo a felicidade, mais a percepção da felicidade me deixa feliz.

Hoje estou no Rio de Janeiro. Estou desde fevereiro tentando arrumar uma brecha para vir visitar meus amigos aqui. Estou hospedada no meu irmãozinho carioca, e a gente já passou logo a primeira noite pulando e dançando na sala de casa, tomando as cervejas belgas que eu trouxe para ele. Tem bebês para conhecer, um bom tanto de praia. Longo papo sobre a Itália com o Dudu. Exposição do Dalí, chorinho no centro com gente amada, e se sobrar pique, uma festa em algum morro que prometeram ser legal. Muitas dessas coisas vão virar fotos e ganhar a hashtag, mas todas vão virar sorrisos e lembranças como a surpresa de cerejas no meio de um vôo. 

Hoje é o meu dia 100. Confesso que essa semana fiquei triste quando me dei conta que ia acabar. Paradoxal, não é mesmo!? Estou tão acostumada com o projeto, me apeguei tanto à brincadeira de tirar fotos, e colocar as hashtags e reconhecer os sorrisos dos meus dias e ser grata, que sinto uma dorzinha de ter terminado. Como um livro tão bom de se ler que a gente não quer acabar. Sinto uma vontade incontrolável de começar de novo, de fazer o cadastro, e postar novamente #Day1. Mas acho que a proposta da brincadeira é essa mesmo. É como um treinador, um couch de felicidade por 100 dias. Agora já posso tirar as rodinhas da bicicleta e andar por aí sozinha, sendo feliz.  

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Carte de amor ao Gregorio e à São Paulo

Vou confessar, ando com uma quedinha pelo Gregorio Duvivier.
Eu sou uma apaixonada por São Paulo. Acho que no Brasil não tem melhor cidade para se viver. Veja bem, não quer dizer que é uma cidade perfeita e maravilhosa, apenas que, do que temos, é a melhor. E muito melhor do que muita cidade por onde já passei na Europa, por exemplo. Acho um saco gente que reclama da minha cidade. Acho de uma deselegância sem tamanho ficar achando defeito em tudo, apontando só para o que é ruim. Acho cafona pra burro ficar de mimimi e continuar morando aqui. Seja porque é onde se trabalha, seja porque é onde tem dinheiro, seja pelo motivo ou desculpa que for. São Paulo é uma cidade generosa pra caramba. É a Geni das cidades brasileiras. Nos enche de cultura, de gente, de oportunidades, de diversão, de amigos, de milhões de formas de sair da rotina, mas ainda assim só é feita pra apanhar, só é boa de cuspir. Li o texto da outra que também falou mal dos homens paulistanos, e fiquei com uma dó danada da moça. Em uma cidade de 19 milhões de habitantes só saiu com coxinha na vida, que pena, né!? Acho que isso diz mais sobre ela do que sobre a cidade. Sinceramente, acho que gente que detesta São Paulo tem mais é que ficar só com o pior da cidade. Tem que amargar umas horas de trânsito e passar o final de semana de bico no sofá de casa. Tem que ficar resmungando que a cidade é um lixo e liberar os shows no parque para quem gosta; as exposições, o centrão lindo maravilhoso, a variedade de cinemas, as centenas de teatros, a vida noturna, os restaurantes, os cursos, as colônias de imigrantes, a babel de gente de todos os cantos de todas as raças que chamam essa cidade de casa. 

Gregório, pode amar minha cidade, viu! Fique à vontade. Vem, é uma delícia. Te encontro para uma água de coco no parque, guarda lugar na fila daquela mega exposição. Se bater saudades, a gente vai na Praça do Pôr do Sol e também aplaude.


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Dúvida


Fiz 38 na semana passada. Embora o tempo esteja passando cada ano mais rápido, sinto que eu de alguma forma parei em algum lugar. É a grande questão da minha vida hoje: quando foi que eu me perdi? Isso se algum dia me achei. A questão na verdade é que eu não tenho certeza de como eu cheguei onde eu estou, e fica difícil seguir em frente sem saber isso primeiro. Para mim existe uma verdade absoluta na vida. Ela é feita de escolhas, ponto. Fato. Se você fizer suas escolhas com convicção, se você escolher exatamente aquilo que quer para você, eventualmente vai chegar aonde quer na vida. Eu nunca duvidei das minhas escolhas. Todas as que fiz na vida. Mas agora, nesse momento que de alguma forma eu olho para trás, me surgem dúvidas. Me pergunto se de fato aquelas escolhas eram as que eu mais queria para mim, e se eu abri mão de coisas que realmente não queria em minha vida. Eu saí fazendo escolhas como uma louca pela minha vida. Não procrastinei nenhuma - talvez o único campo da minha vida sem procrastinação. Eu fui independente e decidida, e escolhi. Usei a técnica da eliminação. Fui excluindo o que não queria, para ver se sobrava o que eu queria. A lógica funciona. Mas eu não tenho certeza se queria estar exatamente aqui, onde estou. É como se eu descobrisse que estive o tempo todo na estrada certa, mas a estrada não me trouxe para onde eu achava que traria. E eu nem sei na verdade onde é que eu queria que ela chegasse. Estou em dúvida. Não sei qual deveria ser a minha próxima escolha. Não sei se paro de correr, confio na estrada escolhida e construo algo de fato no lugar onde parei; ou se continuo procurando, procurando, procurando... mas o que estou procurando? E será que algum dia vou conseguir parar?