quarta-feira, 17 de julho de 2013

FASES


Essa semana terminei mais uma fase conturbada. Dá uma exaustão encerramento de fase. A gente fica meses respirando fundo, tirando força do útero e dizendo para si mesma que é só uma fase. Ajuda a passar os dias. É como fazer natação. Depois de uma hora na piscina, fazendo uma série interminável, os braços doem, o fôlego some e a gente pensa “só mais uma piscina”. Essa frase acessa uma carga de bateria extra, aquele tanto de gasolina depois que a luzinha no painel acendeu. Eu nado. Consigo dar as braçadas. Mais uma piscina. Mais um dia. Mais uma fase. Depois o cansaço se apossa do corpo. A exaustão toma conta da alma. Sinto necessidade de colo, de silêncio. De ficar dias deitada no sofá até acreditar que passou, que acabou. Que eu sobrevivi. Eu tenho sobrevivido fases desde o começo do ano. Tantas fases que elas começaram a se cornubar. Uma fase em cima da outra. Eu termino uma, mas ainda estou no meio de outra. Não tenho conseguido colocar a cabeça acima da água para respirar. Uma sacanagem já que eu estou vivendo as coisas mais legais que já me aconteceram, e as fases mais tensas ao mesmo tempo. Tremenda sacanagem dos roteiristas da minha vida. Intensificando os conflitos, estabelecendo o clímax do herói. A gente sabe que depois de toda a provação vem a redenção. Mas antes tem mais uma fase. É só uma fase. Mais uma piscina para nadar. Tem mais força aí para arrancar do útero, e você sente até vergonha de estar miguelando com a vida quando descobre todo novo dia que consegue dar mais. Eu dou mais. Mais um dia. Mais uma fase. E for isso? Se a vida toda for só uma fase? E se no final a gente só sobrevive e acaba desfalecida no sofá de casa? E se a calmaria é só uma ilusão que contam para a gente conseguir nadar mais uma piscina? E se essa piscina nunca tiver fim? Não vai existir momento posterior de calma e tranquilidade para viver. Ou eu encontro a força - mais força - para me sobrepor às fases agora, ou vou afogar no meio da raia, sem nunca encontrar a borda. Hoje vou aceitar a vitória de ter sobrevivido mais uma. Com os óculos embaçados e cãimbras na panturrilha, buscar ar na superfície e continuar. Mais uma piscina.

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