quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

EL CALAFATE



Amanhã estou empacotando novamente, dessa vez para Puerto Natales, Patagônia chilena. Foram 4 dias em El Calafate. Dois deles bem estranhos. Calafate é uma frutinha típica aqui da patagônia. Pequena como uma ameixinha, também tem coloração roxa e é bem gostosa. Eles fazem sorvete de calafate e é a sensação entre os turistas. Se for provar aconselho o da Ovejitas de Patagonia, uma loja de chocolates, alfajors e sorvetes da região. Tudo muuuito gostoso. El Calafate também é a cidade que serve de base para uma das entradas do Parque Nacional dos Glaciais, a mais próxima do famoso Glacial de Perito Moreno, e é a cidade do Kirchners!!! Sim! Aqui se apóia a presidente até embaixo do gelo. Também não é por menos. Há cerca de 10 anos El Calafate não tinha mais de 5000 habitantes. Hoje é uma das grandes potências do turismo na Patagônia. Ganhou infra-estrutura, injeção de dinheiro e um aeroporto. Então El Calafate até que é uma cidade fofinha. Tem uma rua principal, onde estão todas as lojas e restaurantes, e é basicamente isso. Cheguei no Natal e encontrei Shamila. Ficamos tomando um vinho no hostel dela e depois fomos para esse bar que parece que oferecia um menu completo de ceia de Natal. O que acabou se tornando o maior engodo. Foi caro, a comida horrível e acabamos fazendo amizade com um casal francês ao nosso lado que também tinha caído no tal menu. Saímos de lá e fomos para um bar tomar drinks e dar risada. Tomei Piña Colada. No domingo de Natal estava tudo fechado. Tudo, eu digo tudo mesmo. Não consegui nem comprar comida. Bateu uma tristezinha de estar longe da família. Passei o dia tentando ligar para minha mãe sem sucesso. Rolou um “snif”. Então eu fui em um restaurante com cara de bacana, pedi um ravióli de espinafre com molho de cogumelos e uma garrafa de vinho, e fiz uma boa refeição. Só percebi os efeitos da garrafa de vinho quando levantei. No dia 26 também tudo fechado. Rá! Como o feriado caiu no domingo, eles esticam para a segunda, vê se pode! Aproveitei para dar uma pausa e reorganizar minha programação, já que o tour de Dientes Navarino não vai rolar. Resolvi ir para Puerto Natales fazer o W da Torres Del Paine e depois para El Chaltén. Porque uma coisa que se descobre bem rápido aqui é que as melhores coisas para se fazer estão em El Chaltén. Tudo bem, aqui tem Perito Moreno, o tal glacial, mas é basicamente só isso. As outras opções de passeio você pode fazer melhor em algum outro ponto da Patagônia. Se a pessoa está só em El Calafate, entendo. Mas para quem vai viajar outras cidade, não tem porque perder tempo e dinheiro fazendo cavalgadas, 4x4, "safaris aquaticos", e etc. Tudo muito caro para o que oferecem. O Minitrekking não. Esse foi espetacular. Conforme o barquinho foi se aproximando daquela maçaroca de gelo, eu só pensava: “Nussa!”. É como um túnel do tempo ao nosso passado. A prova mais concreta da Era do Gelo, ali, imensa, palpável. Perito Moreno agora está encostado na montanha novamente. Em 2008 ele se rompeu, foi um show. Agora encostou novamente e ninguém sabe dizer quando vai se romper. Fico imaginando o poder de uma cratera de gelo sendo implodida pela água. Deve ser assustador. Duranto o tempo que estávamos no trekking, virava e mexia alguma pedra se desprendia e caia no lago. Era uma coisa assustadora. O som ecoava por todo o vale como se fosse uma bomba, e parece que não vai parar. Toda aquela imensidão azul e branca de gelo de repente tão frágil, desmoronando na sua frente. E você não sabe se vai ser dessa vez que o glacial inteiro vai derreter, como torrão de açúcar em chá quente. O Minitrekking é feito por uma região de degelo do glacial. Então é como passear por enormes dunas de gelo, com diversas poças, lagoas, riachinhos azuis celestes, que vão se formando e correndo embaixo dos pés. Demora um tempo para acreditar que estamos caminhando sobre as águas. E quando se entende, aí sim a gente vê o milagre. Depois ainda fomos às passarelas, que são enormes e proporcionam uma visão completa da imensidão do glacial. Eu encostei no parapeito e fiquei um tempão ali refletindo. Não pelo assombro da visão (que é sim um assombro, e é difícil de acreditar que estamos de fato frente a algo real), mas pela nossa insignificância. Um pouco antes lá estava eu, cravando meus crampons em parte do gelo. Perdida em dunas de água e azul. Depois ao longe me enxerguei um verme, achando que dominava algo do gigante indomável da vida. Ficar frente a tamanho assombro torna nossa insiguinicância concreta. Falta tanto para nós! Existem coisas que são absolutas. Que traduzem o sentido de imensidão. Afinal, aquilo tudo é só água. A boa e velha H2O. Ainda assim ela pode acabar com a gente em um estalar de dedos. Esmagar como sem que ao menos possam ouvir o ruido dos nossos ossos quebrando. Só porque o mundo é um lugar grande demais para que o dominemos. Graças à Deus!


Nenhum comentário: