domingo, 17 de outubro de 2010

I AM STERDAM

Eu estou em Utrech com a Lulu e o Pedrón. É bem pertinho de Amsterdam e a Lulu não me deixou ficar em nenhum outro lugar. Eu também não resisti muito porque só a idéia de arrumar a mochila me dá calafrios. Tipo, stress pós-traumático mesmo. Então eu tenho ido todos os dias para Amsterdam e voltado. Praticamente só durmo em Utrech. Primeira coisa é que eu AMO Amsterdam. Isso é fato, inquestionável. E falo de amor, amor. Amor de verdade. Não da euforia da paixão. Amor daqueles que é simplesmente. Daqueles que a gente não precisa sair e berrar. Estou aqui martelando o Tico e o Teco, pensando em uma desculpa para mudar para Amsterdam e virar dutch. Tá difícil, mas eu ainda vou ter uma idéia brilhante. E dito isso, agora podemos fofocar sobre outras coisas. Comprei o I AMsterdam Card de 48h. É um pouco salgadinho (€48), mas te dá livre acesso à todos os museus da cidade, transporte público e desconto em uma infinidade de shows, restaurantes, atrações. E ainda vem incluso um tour de barco pelos canais. Sabe aquelas pessoas que comem até vomitar no rodízio só para fazer valer o que estão pagando? Foi mais ou menos assim meus dois últimos dias. Uma glutona cultural. Fui no Van Gogh, no Rijks, no Rembranthaus, no Museu do Diamante (dizem que são os melhores amigos das garotas...), dois museus de foto IN-CRÍ-VEIS! O Foam e o Marseille. Aproveitei que estava no meio do caminho e fui em um museu que mostra como eram as casas de canais do século XVIII. Fiz o tour nos canais de barquinho e assisti um concerto desbunde. Rachmaninov. Ainda é meu favorito. Hoje tirei o dia para a ressaca. Acordei quase meio-dia, fui encontrar uma amiga de infância com quem não falava há 15 anos. Talvez 14, não importa. A verdade é que eu estava muito nervosa de encontrar com ela. Nossa amizade ficou abalada todos esses anos por um motivo muito dolorido. Coisas que o coração às vezes arma para a gente, e eu nem sei explicar como foi especial encontrá-la hoje, assim, fechando minha jornada. Passamos a tarde conversando como se nunca tivéssemos deixado de nos falar. Sentadas em um Café na beira do Rio Amstel. Comendo nachos com guacamole e suco de maçã. Tomei uma cervejinha, daquelas frutadas que parecem suquinho, mas continuo feliz com a abstinência quase total. Engraçado como a vida vai dando voltas e faz tanta coisa com a gente. Quando eu estava no foyer do teatro, aguardando para assistir o concerto, comecei a lembrar de algumas coisas que tinha lido no Museu Van Gogh. O trecho de uma das cartas dele para o Theo antes de se matar. “Sou um fracasso. Sou um desapontamento.” Dois meses depois, essa alma tão perdida (e já sem uma orelha) deu um tiro no próprio peito e morreu após 5 dias em decorrência dos ferimentos. Ele tinha 37 anos. Morreu sem assistir como seu trabalho genial e sem precedentes inspirou toda uma geração de pintores e deu início à Arte Moderna. Então caiu uma ficha. Uma fichona. Caiu e eu comecei a gargalhar. Gargalhar igual idiota no meio do foyer, segurando o programa da noite e uma xícara de cappuccino. Pela primeira vez na vida eu realmente entendi a frase de Sócrates, “só sei que nada sei”. E a gente não sabe nada mesmo. A gente precisa parar de arrancar a própria orelha e de dar tiro no pé, porque às vezes o que é fracasso e desapontamento se transforma no movimento mais instigante que já vimos na história da arte. (Pelo menos na minha opinião. Não acho que nada foi feito de muito genial depois do Modernismo e todas suas variantes.) Eu sou uma louca. Obcecada por certezas, regras e seguranças. E a única certeza que eu tenho na vida é que não tenho certeza nenhuma. Isso é muito libertador. Ainda não tenho o distanciamento suficiente da minha própria jornada. Eu ainda não coloquei os pés no Brasil. Ainda estou homeless quando voltar para São Paulo. Mas eu consigo ver que durante todo meu caminho eu passei por fracassos e desapontamentos. Um atrás do outro. Surtos um atrás do outro. E no final de tudo a única coisa que foi sempre uma constante é a incerteza. Por mais paradoxal que seja, ter certeza da minha incerteza está me fazendo sentir calma, tranquila e segura como nunca. Não sei se vou virar dutch. Nem se algum dia vou voltar para Amsterdam. Mas não tenho vivido a cidade como se fosse o começo ou um fim. Estou apenas me deixando encaixar aqui. De resto é um dia de cada vez. Uma pincelada a cada hora. Vou pintar milhões de quadros. Posso não vender nenhum. Mas a incerteza. Assim como essa cidade cheia de bicicletas e galerias perdidas entre ruas estreitas e canais. Ambas. Ainda serão minhas.

Um comentário:

Carol Helena disse...

Volto amanhã (19) pra São Paulo. Saudades monstra, quero te ver o mais rápido possível! Beijo.