sexta-feira, 18 de março de 2011

O BODE DA BETHÂNIA

Quando eu estudava no Célia Helena, tive um professor que pediu para colocar o nome da Bethânia nos agradecimentos do programa do exercício de cena que nós íamos apresentar no final do semestre. Eu achei engraçado, afinal a Bethânia não ia ver a apresentação, não ajudou na produção, ela nem sequer sabia de nossa vã existência. Ele alegou que Bethânia era uma entidade divina, uma fonte de inspiração e que sem ela, ele, professor, não seria nada. Já que a coisa estava naquele nível, eu resolvi também que queria agradecer minha mãe, meu pai e a Xuxa. Mas meus colegas de classe não deixaram. Acontece que o tal professor tinha razão. Bethânia é uma entidade divina. Então ela pode fazer esse pastelão de solicitar uma fortuna de dinheiro público (meu e seu, amiguinho!) para fazer um blog. Ah! Mas não é apenas um blog! É um blog que incentiva a poesia e tem um monte de vídeo. Minha pergunta é: E? Eu tô engolindo sapo nesses últimos dias, não apenas pelo absurdo (Tadinha, ainda não acostumou com as novidades nacionais!), mas com a repercussão do causo. Gente que pula na frente e defende. Gente que chama o coleguinha de reacionário (!!!) só porque não tem a mesma opinião que a dele. (E ninguém fala que antes de tudo, Bethânia precisa tingir a raíz!). Eu sei que minha opinião não influi em nada, mas esse blog é meu e aqui eu que mando, então minha opinião é a de que o MINC está certo. De acordo com nossa Lei de Incentivos Fiscais para Políticas Culturais, uma entidade divina pode solicitar liberação de captação de verba pública para fazer um blog inútil. E foi o que ela fez. Absurdo para mim é uma “entidade divina” se prestar a esse papel. Porque se a lei é falha, o caráter da madama devia fazê-la ter bom senso de não se prestar a esse papel. Lei de Incentivo Fiscal foi feita para FOMENTAR a produção cultural, para permitir que pequenos produtores tivessem acesso à verba e criassem uma indústria cultural. E NÃO para que artistas celebrados e estabelecidos enriquecessem ainda mais às custas do Estado. Porque não vamos nos enganar minha gente! Esse dinheiro não vai vir da Petrobrás, do Banco do Brasil ou da Porto Seguro. Esse dinheiro é dinheiro de imposto, que devia estar abastecendo esse país de oportunidades culturais mais efetivas, e não viabilizando projetos que existiriam com ou sem lei de incentivo. Esse dinheiro deveria estar na conta dos meus amigos de Natal, os Clowns de Shakespeare, por exemplo. Que nunca ganharam dinheiro público, mas vêm há anos juntando moeda na carteira para realizar um dos poucos casos de puro lirismo cênico produzido no Brasil hoje. Devia estar na conta das dezenas de grupos de pesquisas, promotores culturais, oficinas de literatura, que pipocam na periferia e no Grande Brasil (esse sim, por vontade divina) e que ficam sem a menor chance na batalha da mesa do Diretor de Marketing das grandes empresas quando precisam disputar com grandes nomes como o da Senhoura Maria Bethânia por um pedaço do bolo fiscal. As Leis de Incentivo deveriam ser um diferencial na captação de recursos, daqueles que não contam com celebridades e fama como diferencial. Ou alguém aqui duvida que o próprio nome da Senhoura Maria Bethânia não é suficiente para ela abrir os bolsos de qualquer empresa para fazer um blog esquisito, cheio de vídeo, de incentivo à poesia? Então eu acho de uma tremenda cara de pau, uma entidade divina, ir roubar leite de criança quando ela podia simplesmente apresentar o mesmo projeto ao mesmo Diretor de Marketing e oferecer uma contrapartida financeira de participação de lucros, em vez de se valer da vergonhosa política cultural de nosso país. O problema não é se ela pode. Mas se ela DEVE. E daí entram valores como caráter, bom senso, hombridade. Coisas que eu sinceramente espero de uma “entidade divina”. De uma profissional capaz de ter pessoas que a idolatrem sem que ela ao menos saiba que elas existem. Não quero saber quanto custa produzir o vídeo, ou qual a abrangência de mídias sociais. Eu sei. Mas é ridículo esse tipo de discussão quando, na minha opinão, o buraco é mais embaixo. Dinheiro de imposto é público. E como cidadã eu tenho direito de opinar se concordo ou não com os fins que são dados a ele (geralmente eu não concordo). Eu sou contra dinheiro de Política Cultural servir para abastecer carreira de cocaína no Leblon e Baixo Gávea. Eu sou contra dinheiro de Política Cultural servir para produzir o que quer que seja de artistas consagrados. Dinheiro de Política Cultural DEVE fomentar uma indústria, criar empregos onde não se tem, criar oportunidade para que novos artistas sejam consagrados e fazer jus ao imenso potencial e talento do meu povo. Não para alimentar uma cadeia de EGOS melindrados preocupados em perpetuar o cenário cultural provinciano que vivemos hoje. Não para encher as contas bancárias da mesma meia dúzia de produtores culturais que estão mamando nas tetas do governo nesses últimos 15 e lá vai anos de Leis de Incentivo. Não tenho nada contra ganhar dinheiro, muito pelo contrário. Eu espero mesmo que muita gente ganhe dinheiro e enriqueça com cultura nesse país. Mas Lei de Incentivo é para ajudar quem ainda não tem como se destacar. É para dar oportunidade de talentos aparecerem. E quem já é consagrado, devia abaixar a cabeça, agradecer a lisonja da aprovação fiscal e ficar quietinho no seu lugar. Vai botar a cara para bater, vai oferecer participação nos lucros do seu projeto, porque o seu nome deveria ser a maior contrapartida que uma empresa poderia ter. Eu tenho dó da empresa que associar sua marca ao Blog da Bethânia. Se a lei é falha, e se a diva não tem caráter; eu por outro lado sou cidadã. Meus amigos gays que me desculpem mas estou lançando a Campanha “Boicote à Bethânia”. Claro que não vai pegar, porque cidadania hoje está fora de moda. Mas só para terminar esse post: #prontofalei.

2 comentários:

Luciana L V Farias disse...

Enquanto isso, muita gente por aí que segue carreira na música ou vive dura ou arruma alguma outra profissão pra poder se sustentar...

É uma beleza...

Beijocas!!!

Anônimo disse...

Na boa... tô dentro, foda-se a moda, o incentivo e a M. Bethânia! Eu gosto de cidadania!