terça-feira, 23 de agosto de 2011

PROCRASTINAÇÃO

Taí uma palavra que quando eu descobri fiquei toda pimpona. Procrastinação. Acho que poderíamos fundar todo um movimento filosófico baseado nessa palavra. Melhor, no verbo. Procrastinar. O famoso “porque fazer agora o que se pode deixar para amanhã”. Acho que é uma coisa de geração. Minha geração é bem procrastinadora. Deixamos para depois a leitura dos clássicos, a arrumação do armário e a procriação. Então não me sinto culpada de me entregar ao frio e ficar enrolando com um monte de tarefinhas menores, quando eu tenho um texto grande de website para entregar. A procrastinação vem diretamente ligada a um pecado capital. A preguiça. De todos os pecados capitais o meu favorito. Tem a gula e a vaidade que eu adoro também. Mas a preguiça, eu acho que deveria ser institucionalizada. Vou escrever para o Papa. Pedir para ele rever os pecados capitais. Absurdo preguiça ser pecado. Voltando à procrastinação, acho que ela é terrivelmente subestimada. Procrastinação na verdade é uma virtude dos otimistas. Só procrastina quem tem certeza do dia seguinte. Quem sabe que vai ter tempo no futuro para realizar o que não está realizando agora. Quem compra um livro e deixa na estante sabendo que vai ter pelo menos uns dois anos pela frente para então abrir e ler. Quem resolve ficar de pijama, tomando café na cama antes de um dia mega atribulado, sabendo que tem prazo para entregar texto. Quem deixa a conta de luz para ser paga no último dia, em vez de colocar no débito automático ou pagar assim que chega. Quem marca compromisso social em véspera de prova importante. Quem compra presente de Natal na 25 no dia 23 de dezembro. E ovo de Páscoa na Sexta-feira Santa. Isso é de um otimismo sem tamanho! Digno de respeito. Afinal, neguinho tem certeza que vai encontrar o concorrido ovo do Ben 10 intacto naquele túnel do Wal-Mart bem na véspera da Páscoa. Diz! Não dá vontade de aplaudir um cara desses? Brincadeiras a parte, às vezes sinto que é como uma prisão. Estou sempre procrastinando. Sempre deixando para depois. Sempre não realizando. Acho que meu maior desafio de vida, mais do que vencer a preguiça, é vencer a procrastinação. Se a gente pensar direito, procrastinar na verdade é abster-se do agora. É deixar para viver no futuro. E isso é muito triste. Um dos motivos que me fez colocar uma mochila nas costas e ficar quase um ano na estrada era a sensação de que minha vida não estava acontecendo. Talvez porque eu estava deixando tudo para fazer amanhã, depois, quando desse. Não é nem uma questão de preguiça, talvez mais de coragem. Deixar de procrastinar é pegar a vida com as duas mãos e dizer “Vem cá. Você é minha e vai acontecer agora.” Afinal, “agora” é a única certeza que temos. É a única coisa que existe de verdade. Eu tento, eu batalho para vencer isso. Nem sempre eu ganho, mas é assim a vida. A gente continua tentando. Então eu devia chegar aqui como uma procrastinadora anônima. Dizer: Oi meu nome é Adriana, e eu não procrastino há 3 dias. (então todo mundo responde: Oiiiii, Adrianaaaaa!!!). Não existem grupos assim. Procrastinar é uma coisa tão comum, tão enraizada no ser humano. Todos meus amigos fazem, como eu disse, minha geração faz. Então não pode ser errado o que é tão coletivo. Só que eu sou das que acredita que a gente constrói um mundo melhor a partir do indivíduo. Eu melhoro o indivíduo para melhorar o mundo. Sendo assim, eu sou uma procrastinadora. Triste. Em recuperação. Eu vou fazer uma lista das minhas prioridades, vou sentar a bunda no computador e me obrigar a cumpri-las. Um dia de cada vez.


Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom.