sábado, 24 de dezembro de 2011

UMA SEMANA DE UMA VEZ


Eu tinha intenção de, pelo menos durante a viagem, manter o blog mais ativo. Acontece que de boas intenções o inferno está cheio, e esse ditado minha vózinha já dizia. Então tentando alcançar o tempo perdido (mesmo que seja uma ilusão alcançar qualquer tempo) aqui vai um mega post com tudo e mais um pouco da minha primeira semana na Patagônia. Segura aí!


Sábado, 17/dez

Juro que tinha isso no aeroporto!


Meu vôo sairia às 7h de Guarulhos. Isso significa que fiz minha irmã acordar às 4h comigo para me levar ao aeroporto. Primeiro veio a notícia de um atraso, depois o vôo foi cancelado, e o que se sucedeu foi uma bizarra jornada de 14 horas presa no aeroporto porque a Aerolíneas Argentinas está tão falida que não queria pagar hotel nem alimentação para a gente. Então acharam que a melhor solução era enrolar todos os passageiros na sala de embarque o máximo que pudessem. Acabei fazendo amizade com metade dos passageiros. Chegou ao ponto de alguém perder o controle e tentar acertar a cabeça do atendente com um desses mastros de demarcar fila. Houve bate boca, palavrão. Tudo muito triste. Então resolveram fazer alguma coisa e nos colocaram em um vôo da Gol que sairia para Buenos Aires às 19h. Quando todos já estavam sem energia, mofando na fila de check in da Gol, eu consegui uma gargalhada geral quando confessei que estava fazendo essa viagem para tratar uma crise de Burnout. Trágico, mas hilário. Dormi em Buenos Aires para pegar a conexão para Ushuaia só no dia seguinte. Um dia a menos de Patagônia.


Domingo, 18/dez

No "cuelo del Mundo".


Tomei café da manhã assistindo aos argentinos vibrando com a lavada do Barcelona sobre o Santos. Dormi quase todo o vôo de 3 horas até Ushuaia e acordei com o anúncio dos procedimentos de pouso. Olhei pela janela e estávamos sobre as nuvens, imagem linda, toda branca como um sonho. Então as nuvens foram lentamente se dissipando e abrindo para revelar uma Cordilheira dos Andes nevada bem aos meus pés. Meu coração disparou. É como pousar no Rio vendo a Baía de Guanabara, ou chegar na Guatemala com um vulcão em erupção. Uma dessas vistas que nos marcam para sempre e fazem um maravilhoso prólogo de uma viagem que está por vir. Se fosse um filme teria uma trilha sonora. Na realidade eu ouvia Bob Dylan no Ipod. A cidade é adorável. Fiquei passeando pela orla do Canal de Beagle e me apaixonei pela minha nova lente 20mm. Comprei um vinho caro e fiz amizades no hostel.


Segunda-feira, 19/dez

Olha a metida velejando no Canal de Beagle.


Acordei pensando em ir ao Parque Nacional da Terra do Fogo, mas mudei de ideia durante o café da manhã e me juntei à Shamilla e Christopher, meus companheiros de quarto, que estavam indo fazer uma navegação pelo Canal de Beagle. Fomos com a empresa Três Marias que é super indicada em todos os guias de viagem. Eles fogem do roteiro convencional e usam veleiros em vez dos horríveis catamarãs. Vendo os catamarãs no porto não tinha como evitar a associação àqueles ônibus turísticos de dois andares que ficam rodeando Roma e Paris. Dá calafrios! Navegação foi incrível. O guia era um garoto adorável e fiquei tomando chimarrão (mas aqui eles chamam de mate) com ele e o piloto (é piloto que se diz? Marinheiro? Comandante? Chefe? Motorista? Humpf!). Pontos altos foram a Isla de Lobos, repleta de leões marinhos. Impressionante e bem inacreditável estar em um lugar em que se pode ter contato com animais em seus habitats naturais. Não cansava de fotografar. (Além de pular e dar gritos como uma criança). Depois fizemos um curto trekking na Isla H, com reservas antropológicas dos Yamanás. Curiosíssimo! Comi alface do mar. Foi gostoso. Ao final, eu e Shamilla almoçamos juntas e fomos no Museu do Presídio. Engraçado como acho fascinante museus de presídios. Algo errado comigo. E depois eu fui comprar uma calça de hiking nova. Dei uma boa engordada e a minha já não estava nada confortável. Lojas de equipamentos aqui estão por todos os lados. Os preços ridiculamente mais baratos do que no Brasil. Voltei para o hostel em tempo de desejar feliz aniversário para a minha irmã e para a MH.


Terça-feira, 20/dez

Ache o castor!


Passei o dia surtando tentando trabalhar. Completamente improdutiva. Sei que não deveria, mas fico toda atrapalhada. Ao final do dia fiz um tour em uma castoreira. Castores não são animais nativos, mas foram trazidos para o Ushuaia para produção de peles. A indústria deu errado e largaram os bichinhos na natureza. Sem predadores naturais, viraram uma praga. Ainda assim são adoráveis de serem vistos, e como são animais noturnos só saem ao entardecer. No tour estavam um dos passageiros do episódio de Cumbica com o filho. Nos divertimos. Fiquei assistindo os bichinhos construindo o dique no rio e tirando fotos, depois voltamos ao Valle Hermoso onde os anfitriões Andreas e Kiti prepararam jantar. Um maravilhoso prato vegetariano para mim. Vinho, lareira e conversa até meia-noite. Noite perfeita.


Quarta-feira, 21/dez

Notem a quantidade de cocô de pinguim na minha roupa.


Chegada do verão e nevou durante a noite. Os Andes a volta da cidade amanheceram completamente brancos. Uma visão de tirar o fôlego Ushuaia com moldura de neve. Fui cedo para o porto encontrar o tour da Piratour para a ilha dos pingüins. A Piratour é a única que efetivamente desembarca na ilha para que se possa andar com eles. Uma viagem um pouco longa e cansativa. O dia estava chuvoso e nublado. Mas assim que chegamos... Inacreditável! Haviam centenas de pingüins na costa. Ainda não consigo acreditar na visão. Tinha vontade de sair correndo e abraçar todos eles como a Felícia do desenho, mas a regra era se mover o mais lentamente possível. Tirei milhões de fotos. Milhões. Deitei nas pedras da praia, troquei lentes. Na região existem duas espécies, os magallanes e os papuas. Mas tivemos sorte porque na ilha havia um pingüim rei perdido. Lindo! Tentando fazer mimetismo entre os amiguinhos. Entre os ninhos podíamos ver os filhotinhos. Os ovos se chocaram há 20 dias e os bebês já saem para pequenas voltas. Retornando ao barco fui atacada por um pingüim. Ele veio pulando na trilha, tentando bicar minha perna. Comprei pingüins de pelúcia para meus sobrinhos.


Quinta-feira, 22/dez

Mim qué!


Acordei bem cedo para fazer um tour de 4x4 pelo parque. No carro um casal basco com o filho de 25 anos e um amigo, e um casal argentino. Todos ótimas pessoas. Paramos em uma estação de esqui no caminho para um café e no período de 2 horas o tempo passou pelas 4 estações do ano. Começou com muito vento, daí nublou, choveu, neve, abriu com Sol, nublou de novo, vento e chuva. Em 2 horas!!! Juro! Tenho congelado de frio. Fizemos a trilha de 4x4 e paramos na beira do Lago Escondido para um picnic. O guia fez churrasco. Para mim assou pepinos (!!!). Duas raposas ficaram rodeando. Lindas! Vinham tão pertinho, tentavam me cheirar. Eram como cachorrinhos fofos. Mais milhares de fotos! Depois fomos andando pela beira do lago até uma estalagem onde pegamos algumas canoas e passamos 1 hora no lago remando e destruindo os músculos do ombro. À noite estava tão exausta que baixei um filme no computador e fiquei assistindo na cama.


Sexta-feira, 23/dez

E esse foi só o começo da trilha.


Resolvi finalmente ir até o Parque Nacional da Terra do Fogo. Levei meu passaporte para carimbar no Correo Del Fin Del Mundo. Eles colocam um carimbo de que você esteve no fim do mundo. É bobo, mas é legal! Mandei postais para meus sobrinhos de lá também. Vão com carimbo de fim do mundo. Hahahah!Fiz a trilha Costanera, linda! Daquelas paisagens que nos fazem lembrar que estamos vivos, que o mundo é um lugar maravilhoso e que Deus existe. Parei em uma encosta para fazer picnic. O frio fazia o azul do céu ficar ainda mais forte. Poderia passar a tarde toda ali. Mas apertei o passo porque queria voltar antes das 17h para a cidade. Queria enviar por correio os pingüins dos meus sobrinhos para aliviar o peso da mochila. Acontece que cheguei em Ushuaia e tudo fechado. Por causa do Natal! Absurdo. Fiquei tão puta que comi dois churros. Com doce de leite. Voltei para o hostel e a empresa que estava reservando a trilha de Dientes Navarino que eu ia fazer semana que vem fez uma confusão danada e queria fazer várias exigências para a reserva. Eu teria que perder um dia de burocracia para resolver tudo. Fiquei puta duas vezes. Cancelei o tour e fui até uma casa de vinhos. Comprei o vinho mais caro que eles tinham e passei a noite tomando o maravilhoso Angelica Zapata e mudando meus planos para a próxima semanal.


Hoje embarco para El Calafate. Shamilla já está lá e disse que arrumou uma ceia de Natal para nós junto com alguns locais. Acho que vai ser divertido. Tive de socar todos os pingüins dentro da mochila. Estou com medo de ser presa no aeroporto por crime ambiental. De qualquer forma, peso extra vou ter de pagar.


Um comentário:

Anônimo disse...

Muita calma nesta hora, lembre do burnout. Não consegue um naviozinho pra fazer parte do Estreito de Magallanes? E pode mandar os pingüins pelo correio na segunda, assim não vai presa. Darling, tá uma delicia, estou adorando, escreva mais. Beijo grande.
Eva.