sábado, 9 de junho de 2012

IN THE JUNGLE


E aqui vamos nós, para a floresta. Ok! Quando eu pensava em fazer um safari eu me imaginava em uma roupa caqui, com chapéu estiloso e acampando em barracas de lona verde oliva. Talvez eu ainda vá fazer um safari complete, desses que você se perde na savana por dias sem voltar para a civilização, mas na Sala VIP da África o melhor Safari que você pode fazer é um pouco diferente. Às 4h20 da manhã o telefone tocou com o motorista gritando que era hora de ir. Escova dente, enfia blusa, pega mochila e reza para a máquina fotográfica estar com bateria. Quando comecei a pesquisar o tipo de tour que eles ofereciam para safari, todos, em sua maioria, falavam de uma reserva chamada Aquila. Meu instinto estava dizendo que era roubada, e só por isso eu não fechei nenhum tour. Safari também é um tour mais caro. Custa em torno de R2000, ou  R$250,00. E já que estava rolando uma decepção de estar na sala VIP, então que pelo menos o Safari fosse bem autêntico. Foi fuçando que eu encontrei o Inverdoorn, uma reserva ambiental que promove Safari e também é um santuário de Cheetahs (que nada mais é do que um leopardo). Só a ideia de que eu poderia chegar perto e colocar a mão em uma cheetah, já me convenceu de que esse era o Safari que eu queria fazer. A Reserva de Inverndoorn é longe, foram 4 horas em uma van até chegarmos lá. Fizemos duas paradas em um frio absurdo para nos abastecer de café e donuts no caminho. Quando chegamos, o lugar também funciona como hotel e é maravilhoso. Ao lado da piscina havia um lounge com sofás e puffs aquecidos nos esperando, e chá, café e bolachinhas. Fiquei lá, me sentindo rica (impressionante como eu tenho o dom da primeira classe!!!), tomando Earl Grey, enquanto aguardávamos o guia que nos levaria. No grupo, um casal gay árabe (Sério! Entraram para o ról das coisa mais bizarras que já vi na vida!), um zimbabwense, um caboense, uma alemã e três brasileiros que vieram na mesma van que eu vim. Ter brasileiros + a que eu já conhecia no grupo significa um tanto a menos  de educação e classe automaticamente. Nada pessoal, vamos deixar claro! Os três eram muito gente boa. Um pouco novinhos demais, dois irmãos e o namorado da menina. Eles eram engraçados e divertidos. O único problema é que geralmente brasileiros se acham engraçados e divertidos demais e acabam perdendo o respeito pelo coletivo, falando muito alto, ignorando os limites. Houve alguns momentos que acabei perdendo explicações sobre o tour porque os 4 (os 3 adolescentes e a Manu) estavam tagarelando como se estivessem em uma cantina italiana. Tudo bem. Faz parte. O guia que dirigiu o Safari, no entanto, era um gato. Sem trocadilho. Um maravilhoso espécime de masculinidade. Queixo quadrado, mas com linhas suaves no rosto. Vegetariano. E quando ele tirou os óculos... Um par de olhos verdes esmeralda de te fazer perder a cabeça. Daqueles que fazem as mulheres em geral trocarem as letras, gaguejarem e uivarem para a Lua. Vou confessar que fiz muitos filminhos com o moço. Eu viria trabalhar na reserva ambiental e nós dois cuidaríamos da preservação das espécies e criaríamos nossas filhinhas ruivas e vegetarianas. Eu até conseguia vê-lo pegando a mais nova no colo e a esticando para alimentar a girafa. Uma linda família feliz! Não preciso dizer que passei o dia fazendo filminho da nossa família feliz enquanto ele nos levava para todos os lugares da reserva. A reserva resgata animais que são vítimas de tráfico ou de maus tratos, e ao mesmo tempo funciona como uma espécie de “banco de esperma”, mantendo machos e fêmeas para doar material genético para pesquisas e garantir a preservação das espécies. Logo de cara vimos um grupo de antílopes que estavam agrupados perto de um lago. Depois fomos para a reserva dos leões, que ficam em uma área separada (por motivos óbvios). Demos a volta em quase toda área antes de encontrar os danadinhos. Duas leoas e um leão, tranquilinhos buscando o Sol da manhã. Fomos orientados a não ficar de pé no carro ou fazer barulho, e o carro se aproximou até 50m dos bichinhos (mas com uma rota de fuga logo a frente). Um leão pode perseguir um animal de interesse (no caso nós, com nosso jipe) em uma velocidade de até 60Km/h por até 3Km. É um bom trecho de oração para que a máquina vença a natureza. Felizmente o leão não estava muito interessado na gente e ficava só olhando e bocejando. Depois do leão, voltamos para a reserva principal onde vimos uma série de viadinhos (da família dos antílopes), búfalos, zebras, hipopótamos, rinocerontes, girafas e tantos outros. O Eugène (meu futuro marido!) ia contando as particularidades de cada animal conforme parávamos para observar e falando de cada um deles com suas personalidades e história. Todos os animais da reserva tem nome. Ele disse que rhinos criam laços emocionais com humanos, e que um rinoceronte é capaz de lembrar de um acontecimento trágico que tenha testemunhado (por exemplo, um bebê rinoceronte que tenha testemunhado sua mãe sendo assassinada vai se lembrar do fato quando adulto) e chorar. Sei lá. Pode ser que eu seja muito bundona, mas não consigo entender como as pessoas continuam comendo carne mesmo depois de saber de uma coisa dessas. Mas como diz o ditado, ema, ema ema. Não vou julgar ninguém. Rinocerontes são muito visados por causa de seus chifres, que não têm valor nenhum e é exibido apenas como trófeu. Tipo, matar um bichinho lindo desses só para colocar um chifre na estante. Gente assim merecia um chifre em outro lugar... Depois do safari, voltamos para a base da reserva, que também funciona como um hotel 5 estrelas. Eles prepararam a sala da lareira com um buffet de almoço. Várias opções para os amiguinhos dos animais, como eu. Quando estava terminando o almoço vejo pela janela uma das voluntárias chegando com uma cheetah na coleira. Meu instinto Felícia foi para o nível 5 e eu voei pela porta tentando me conter para não pular em cima do leopardo e tomar uma unhada na cara. (Gosto muito de você, leopardinho!) Izzie, era o nome da cheetah, tem 9 meses e foi resgatada de uma casa onde ela era mantida como bichinho de estimação e sub-alimentada. Ainda dava para sentir as costelas saltando, mas ela estava feliz no novo lar. Ronronava muito alto. Eu não sabia que outros felinos, além dos gatos, eram capazes de ronronar, e a descoberta me deu vontade de espremer o gatinho, igual eu faço com a Holly. Não era permitido. Saco! Fiquei um tempão brincando com ela, acariciando o pêlo, coçando a barriga e deixando ela lamber minha mão. (Língua de cheetah é áspera igual a de gato. :-)) Tipo de coisa inacreditável que a gente passa. Fiquei flutuando entre o fascínio e a completa descrença de estar brincando com um animal selvagem, assim na minha frente. Sempre que vi imagens ou vídeos de felinos tinha vontade de pegar um no colo. E se a viagem toda para a África do Sul não tivesse valido de nada, só por esse momento eu empatava o jogo. O contato com os animais me desperta uma compaixão ainda maior pela vida, a natureza e o milagre de estar nela. Somos abençoados por viver nesse mundo rico, tão cheio de maravilhas e capaz de nos encantar irremediavelmente a cada segundo. Acho que é uma obrigação tomarmos um papel ativo e responsável na organização da vida. Preservação ambiental, a luta pelo bem estar dos animais, a manutenção das espécies, é muito mais do que um capricho ideológico. Eu enxergo como uma consequência coerente do caráter de cada um. Já dizia o ditado: Você conhece o caráter de uma pessoa pela maneira como ela trata os animais. Geralmente as pessoas consideram apenas os animais domésticos, cachorro, gato, papagaio. Eu, pessoalmente, acho a vida preciosa em todas as suas formas, e tento fazer minha parte com todo tipo de bicho. Sem nenhum juízo de valor. Tem gente que vai achar besteira, outros, pura demagogia. O importante para mim é ser verdadeira comigo. Eu presto contas do meu caráter para mim mesma. Quem sabe, o dia que eu ganhar na MegaSena, eu não me mude para o interior de Cape Town, trabalhe como voluntária em uma reserva, e ensine minhas filhinhas ruivas a alimentar girafas com as mãos. 

Os antílopes na relva.

Meu futuro marid... hum! O guia do safari.

Gosto muito de você, leãozinho.

Búfalos

Rinocerontes lindinhos.

Fiquei "Felícia" correndo atrás das girafas.

Olha a Glória do Madagascar!

Cheetahs em seu santuário.

Eu e a bebê cheetah. Ela ronronava igual a Holly. =)

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