terça-feira, 3 de julho de 2012

CORRENDO ATRÁS DO RABO


Minha gata corre atrás do próprio rabo. Eu acho engraçado, geralmente é um comportamento associado a cachorros. Ela sobe em cima do sofá e, de repente cisma com o rabo e começa a perseguição. A veterinária-tia disse que é normal. Que alguns gatos acabam inclusive destruindo os próprios rabos. Ficam com o rabo careca, peladinho, igual rato. É uma ação estúpida, não é mesmo? Correr atrás do próprio rabo. É engraçado e nos faz enternecer pelo serzinho naquela função inútil. Então por que diabos será que a gente se pega em momentos da vida correndo atrás do próprio rabo. Parada em cima do sofá, andando em círculos tentando alcançar algo que sabemos o que é o onde vai dar? De vez em quando a gente dá um basta. Ou pelo menos tenta. Eu tenho meditado muito sobre desapego. É o tipo de coisa que a gente almeja mas não consegue ter uma noção prática do que é. Desapegar não é apenas não dar valor desnecessário a coisas materiais. Desapegar inclui ideias, vontades, carinho e amor inclusive. Ainda mais quando você está “no sofá” sem fazer nada, sem muita coisa rolando a sua frente, a vontade de virar e correr atrás daquele rabo que está ali, você já conhece, já sabe como é, fica ainda mais tentadora. Não posso dizer que não tenho evoluído. No meu ritmo, do meu jeito, ando muito orgulhosa das minhas conquistas pessoais e espirituais. Mas estou subindo por uma escada em caracóis. De tempos em tempos me pego rodando no mesmo lugar, perseguindo coisas que já tinha abandonado lá atrás. Porque será que a gente faz isso? Medo? Carência? Falta de paciência de esperar? Às vezes é preciso dar um basta de verdade. Para conseguir subir um degrauzinho. Estamos vivendo uma época de culto à felicidade incondicional, do “todo mundo se relaciona com todo mundo”. Eu acho que isso deixa a gente estagnada. Tentando resolver coisas antagônicas simplesmente porque não pega bem abrir mão das coisas, das pessoas. Então somos pessoas incompletas, amigos incompletos, profissionais incompletos. Porque se você “curte” muita coisa, twitta, coloca foto no instagram, faz check in e mantém a popularidade administrada em todas essas novas esferas de relacionamento, é impossível você realmente se relacionar com uma pessoa de verdade. Como diz Brecht, não se come a carne sem matar a vaca. Mas eu sou vegetariana. E isso também é uma escolha. É desapegar de algumas coisas para escolher trilhar um outro caminho de forma mais real e profunda. Mesmo porque eu aprendi que, quando a gente corre muito atrás do próprio rabo, ele acaba mesmo machucado. Peladinho igual rabo de rato. Se foi preciso um chacoalhão para me lembrar que algumas coisas a gente abandona na vida para não doer, pelo menos alguma coisa me fez lembrar que não quero ficar andando em círculos em cima do sofá. Evolução não é tomar decisões e nunca mais se abalar. Eu, pessoalmente, acho que é sempre reencontrar o caminho que escolheu quando escapar. Então lá vou eu novamente. Respirando fundo, virando as costas, sem olhar para trás. Mesmo porque, dá que eu olhe para trás, veja o rabinho balançando e dê uma vontade de correr... de novo.

Um comentário:

Anônimo disse...

É nóis, dear!!!! Campeões!!! Kisses E.B.