quinta-feira, 5 de julho de 2012

DIÁRIO DA FLIP - LIBERTADORES EM PARATY



A primeira FLIP a gente nunca esquece. Dizem. Há anos tenho muita vontade de vir. Às vezes faltava recursos ($), às vezes faltava amigos. Dessa vez uma união cósmica (que só ocorre de 100 em 100 anos e pode ser vista a olho nú na altura do Trópico de Capricórnio) permitiu. Apareceu uma pousadinha conveniente, um pessoal do grupo de escrita começou a agitar, compramos convites para as mesas há um mês atrás, rolou até credencial de imprensa, e ontem às 13h14 eu peguei Domi na casa dela e nos metemos na estrada para Paraty. Primeira observação: porque é mesmo que eu faz tanto tempo que não desço para o litoral paulista? Porque é mesmo que faz 15 anos que não venho para Paraty? Eu havia esquecido como nossas paisagens são maravilhosas. A serra tropical possui mesmo uma aura mais humana, mais de verdade. E eu devia considerar usar alguns dos meus finais de semana procrastinadores para fazer umas trilhas por aqui. Tão lindo e tão perto. Domi é uma querida do meu grupo de escrita, e vai ser nossa anfitriã no upgrade do grupo no segundo semestre. Ela ainda é uma mulher forte, bonita, com sobrenome kilométrico de realeza. Acho fina. A gente tagarelou até chegar em Paraty, o que me deu ate certa dor no maxilar. Chegamos em cima da hora, tempo só de largar a bagagem no hotel e correr para as tendas para assistir à abertura. Eu ainda passei na sala de imprensa, sofri com a internet e peguei a programação de coletivas (vai ser legal demais poder participar das coletivas!!!). A internet está de fato sendo um grande desafio. Eu entendo que, um evento desse porte muitas coisinhas podem acontecer, detalhes e problemas aparecem só quando são colocados em uso mesmo, mas dá para ver que o pessoal da organização também está se matando para dar conta. De tempos em tempos eles precisam dar um reboot no servidor e daí gritam para os jornalistas “salvem seus textos!”, todo mundo salvando o texto e ficamos sem internet por uns 5 minutos até que ela volte. Mas funciona por uns 10 minutos e cai novamente. Acho que é para entrar no clima do tombamento histórico. Internet tombada! Well, well. A palestra de abertura foi quase técnica demais. Luis Fernando Veríssimo estava super nervoso, tremia segurando o papelzinho. Legal ver esses mitos em situação humana. Eu também tremeria igual vara verde no lugar dele, e talvez isso nos faça parecidos em alguma coisa. Pelo menos em alguma coisa. ;-) Depois foi o impecável Silviano Santiago fazendo um resgate da trajetória de Drummond através de uma análise de suas poesias. Lindo. Parecia aula de Literatura. Era, não era? E o Antonio Cicero, que tem aquela cara de mau, aquela voz potente, e esmiuçou alguns poemas com tanto (acho que a palavra certa aqui é “culhão”) que me fez lembrar o tanto que eu amava poesia na minha adolescência e me sentir um pouco culpada por negligenciá-la hoje em minha vida. Nunca mais li poesias. Acho que quando você deixa de ler poesias é porque está abdicando de um tantão de paixão na vida. Aliás, paixão era o que mais dava para sentir na palestra dele. O cara falou com sangue no olho. Desconstruiu a abstração típica em algo concreto, real, tocável. Eu apaixonei. Se você não consegue falar sobre algum assunto na sua vida com aquele sangue no olho, você está fazendo algo errado, meu amigo! Embora a abertura tenha sido um pouco “dura” por ter priorizado a técnica à emoção, eu gosto do que me instiga a pensar e fazer e sentar a bunda e escrever, mais do que o circo. Mesmo porque o circo para mim viria logo depois. Minha grande preocupação era onde ver a Final da Libertadores e o meu Coringão. A programação da FLIP apresentava um show com Lenine para a noite de abertura. Cheguei até a questionar a organização se eles iam atrasar o show ou algo assim. Achei sacanagem colocar o Lenini para competir com o Corinthians. Tadinho do Lenini, gosto dele. Mas competir com final da Libertadores... Isso é bullying. Sinto muito querido Lenini! Eu vou ver meu time ser campeão. Senti falta dos manos, senti falta do bando de loucos. Mas eu, o Edu, a Lu e algumas amigas dela sentamos em uma chopperia quase na periferia de Paraty (as mano as it gets) e roemos as unhas, comemos batatas fritas frias e vimos o meu time amado acabar com a piada favorita dos anti. Fiquei triste pela piada. Tenho vários amigos que gostavam de usá-la contra mim. Acho que estava acontecendo uma conjunção astral rara mesmo. De repente as coisas acontecem tão calmas e tranquilamente quanto nunca. Eu dou um ponta pé no passado, finalmente realizo coisas que nunca realizei antes, meu time ganha a Libertadores, e eu ainda tenho 4 dias de literatura pela frente. Agora, vou correr aqui. Me enfiar na coletiva do Enrique Vila-Matas. Ficar quietinha e ouvir. Coisa que também eu quase nunca faço. Deve ser a tal conjunção astral. 

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