sábado, 14 de fevereiro de 2015

50 TONS DE VERDE


San Andres não cansa de me surpreender. Pedalei a ilha inteira e, mesmo a bike que aluguei sendo motorizada, tenho usado o pedal mesmo. A bike motorizada é um barato. Quando pego um trecho com muito vento, e fica difícil pedalar, é só mudar uma chave e a bike se transforma em uma mobilete. Bem divertido. Em três horas pedalando, rodei a ilha inteira. Tem uma estrada que faz a volta completa na ilha. Pedalei só para ver onde ia dar. As paisagens são inacreditáveis. Um verdadeiro clichê de tudo o que se imagina de Caribe, ilhas paradisíacas e lugares exóticos com areia branca e mar transparente. 

O mar, aliás, é uma dessas coisas que a gente demora para entender. Ele se desdobra em dezenas de tons diferentes de azul e verde. Não é brincadeira. Parece pintado à mão. Por isso o mergulho é algo ainda mais especial. Água quente, tão quente que tenho mergulhado de biquini apenas. Muita vida. Visibilidade à perder de vista. Só o vento que atrapalha. Mar batido, a gente enjoa muito no barco. Do jeito que estava hoje não dava nem para tentar entrar pela praia. E mesmo na embarcação, uma correnteza forte na superfície, exigia muita atenção para entrar e sair da água. Ainda assim, um pequeno detalhe para os dois mergulhos maravilhosos que fiz hoje cedo. Cardumes lindos, uma tartaruga que dava até para pegar no colo de tão pacífica (mas não pode! Colocar a mão, ainda mais em tartaruga que é super delicada, destrói o ambiente e pode matar os bichinhos.), e vi a maior moréia da minha vida. Uma verde enorme, fora da toca, que passou nadando entre a gente como se não estivesse nem aí para a nossa presença. Tirei fotos como uma louca com a GoPro, mas estava no contraluz e ficaram um pouco avermelhadas por causa do filtro. Ainda assim, dá para ver aquela serpente gigante entre os corais. Linda! 

Tenho feito os mergulhos com Mo, o dono da pousada, e a namorada dele, Rain. Apesar do nome super hippie, Rain até que é normal. Uma americana que estava passando pela ilha no ano passado, se apaixonou e mudou a vida por causa disso. Ela tem minha idade, só que é a cara da Elle Macpherson. Acabamos ficando amigas, e depois do mergulho e da siesta, fomos os três tomar uns “coco locos”  no centro. (Coco Loco é o drink típico por aqui. Consiste em basicamente colocar tudo o que tiver na prateleira de bebidas dentro de um liquidificador, acrescentar leite de coco, lícor de cereja e bater. Delicioso e mortal!). Sentamos em um bar na praia e ficamos assistindo um dos 3 casamentos que estavam montados na areia. Cena de cinema, aquelas cadeiras, a tenda e o mar coalhado de verde ao fundo. Chorei como uma boba!

Para fechar a noite, Rain me arrastou para um girls night out de Valentine’s Day. Mo estava trabalhando e ela ia sair com algumas amigas para um cinema e drinks. A ilha é bem calma, sem grande agitos. Existem duas baladas, que ficam na mesma rua, uma de frente para a outra. Todo o agito, mesmo em alta temporada, parece o de uma quinta-feira  em cidade de interior paulista. Mesmo eu não sendo uma entusiasta de baladas e DJs, gosto da ideia de cinema, drinks e girls night out. 

Mais uma surpresa? A ilha conta com dois cinemas! O que fomos ficava no 8º andar de um hotel. Sério. E uma garçonete passou o filme inteiro trazendo nachos, sanduiches e hamburgueres para as pessoas na plateia, como se estivéssmos em um drive-in. Lá pelas tantas os lugares estavam lotados, e a atendente entrou com algumas cadeiras de plástico e colocou na frente da tela para acomodar os retardatários. Muito barulho, muita conversa e interatividade com o que se passava na tela. 

O filme? Bem, o que se pode ver para um girls night out em uma ilha no Caribe? “50 Tons de Cinza” em espanhol. Não tinha lido o livro, mas pelo enredo fiquei surpresa mais uma vez. Não apenas pelo livro ter feito tanto sucesso, mas por terem resolvido fazer um filme dessa história. Em uma palavra? Vanilla. 

Com a gente, um grupo de 6 mulheres locais, cada uma de um estilo diferente da outra. A melhor de todas, e aniversariante da noite, era Janice. Uma colombiana grande. Não gorda - pelo contrário, ela tinha um super corpo - mas grande. Bem perua. Estava com um aplique com mechas platinadas no cabelo, usava um top bufante, com a barriga a mostra, os botões de cima abertos e um shorts todo de paetês em cima de saltos meia-pata azul cerúlio. Altíssimos. Exageradamente bronzeada e maquiada. Devia estar fazendo uns 48-50 anos. Não perguntei. Se a suspeita é dessa idade, nunca é uma boa ideia perguntar. 

Depois do filme, a caminho do clube no carro de Janice, ela falava com um inglês carregado sobre o filme que vimos. 
“Como é que alguém diz que esse é o melhor filme já feito na história? Esse não é o melhor filme já feito na história. O melhor filme é ‘Frozen’. Todo mundo sabe disso. Ou ‘Encontrando Nemo’...”
Rain corrigiu: “Procurando Nemo”
“...Isso! “Procurando Nemo”. Esse é um bom filme. Esse é um filme bem feito. Eu gosto do mar, então gostei do Nemo. Agora esse filme aí...”

Então entendi um pouco mais sobre essa ilha. Um lugar onde as pessoas estão vivendo. Sem drama, sem loucuras. Apenas construindo suas vidas da melhor forma que podem. Se relacionam com pessoas que não são iguais a elas, porque não estão procurando uma segregação em nichos, grupos, aptdições. Estão pouco se lixando para os parâmetros adequados de moda, para as opiniões da crítica especializada em cinema, para as pequenas ambições. 


Acho que quando você tem um mar com tantos tons de verde todos os dias na sua frente, não faz sentido mesmo seguir o senso comum de um universo que cada vez mais se apoia em tons de cinza. Sabe de uma coisa? Eu também gosto de mar, e pensando bem... Nemo é de fato um grande filme. ;-)

Nenhum comentário: