sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

UM CARNAVAL NÃO PLANEJADO


Há alguns meses eu fui para o Peru fazer uma viagem que era um dos sonhos da minha vida. Foi muito planejada. Daquelas viagens que o guia fica até desfolhado de tanto ser manuseado. Escrevi aqui sobre como arrumar a mochila, organizar reservas. Tudo perfeito, e que acabou sendo uma das melhores da minha vida. Como boa virginiana, sou uma entusiasta da organização. 

Agora no Carnaval resolvi fazer algo diferente. Eu moro no meio da concentração de metade dos blocos de rua de São Paulo. Três anos atrás minha casa era um oásis de paz e tranquilidade no feriado. Usava o Carnaval para assistir séries no sofá, gabaritar os filmes do Oscar no cinema. Era uma época em que Carnaval era sinônimo de cidade vazia, sossego e silêncio. Isso mudou. Com o resgate do carnaval de rua em SP, ficou impossível ficar na cidade, morando onde eu moro. As ruas travam, o barulho é infernal e non-stop, e episódios de vandalismo acontecem em toda vizinhança. A solução tem sido fazer as malas e sumir.

Como se isso fosse um castigo para mim!

Eu queria uma viagem que cumprisse dois propósitos: fosse um destino de mergulho e me desse uma nova figurinha na coleção de carimbos do passaporte. Claro, que também coubesse no meu bolso!

Depois de pesquisar pacotes, conversar com amigos, resolvi que iria para San Andres. Vi um pacote legal de mergulho para ilha colombiana que tem caído cada dia mais no gosto dos brasileiros. Mas o pacote fazia apenas San Andres. Como era minha primeira vez na Colombia, não queria deixar de conhecer Cartagena de las Indias também. A cidade histórica onde Gabo morava e inspirou tantos cenários de seu realismo fantástico. Negociei, conversei. Decidi que ia fazer a viagem self-tailored. Convidei alguns amigos para embarcar no programa, minha dupla de Bonaire no ano passado... Então o dólar disparou. 

Os amigos desistiram da viagem, a dupla desapareceu, o preço da passagem dobrou, e eu já estava fazendo estoque de água e comida em casa para sobreviver a um carnaval ilhada no meu apartamento, com risco de ser atacada pelo elenco de Walking Dead. Quando minha teimosia habitual falou: “Vai, Adriana! Vai de qualquer jeito!”. Liguei para minha agente de viagens que conseguiu uma passagem com o preço antigo saindo por Viracopos, algumas escalas e emiti na hora. 

Depois disso resolvi que ia deixar a viagem acontecer como ela quisesse. Não comprei um guia da Colômbia, não li nada a respeito dos destinos. Reservei um hotel que achei simpático longe do agito do centro da ilha, outro em Cartagena, peguei meu cartão de crédito, meu passaporte, joguei algumas roupas dentro da mala com o equipamento e entrei no avião sem nenhuma expectativa do que pudesse acontecer. 

Acredito que a vida é generosa quando confiamos nela. Ela nos abre oportunidades e fica feliz em poder nos surpreender. Logo de cara minha experiência tem sido fantástica. Cheguei ontem em San Andres com minha grande mala de equipamentos de mergulho, e descobri que o hotel que reservei tem uma loja de mergulho integrada. Ou seja: as operações de mergulho vão sair do meu quintal! Super! Outra surpresa? Um dos melhores pontos de mergulho da ilha, com um naufrágio, fica do outro lado da rua. Vou sair equipada do quarto e ir andando para o mar. Super 2!

O hotel é uma grande casa, com um jardim gigantesco. Uma piscina nos fundos cercada por um bungalô com redes e imagens de Buda. Os chuveiros ficam ao lado da casa, ao ar livre, em uma construção sem teto, cheia de pedras. Meu quarto tem uma grande porta de vidro que dá para uma varanda, onde estou escrevendo agora e olhando o mar. 

Aluguei uma bicicleta ontem. A ilha toda pode ser explorada pedalando. Os turistas alugam carrinhos de golfe que se vê para todos os lados. Eu preferi a ideia de pedalar acenando para os locais em suas casas, sentindo o vento dobrar os coqueiros e ouvindo as ondas quebrando nas pedras ao meu lado. Ontem, no final da tarde, estava pedalando até um restaurante cerca de 2Km daqui e o Sol se punha na baía a minha frente. Era como estar em um filme. Como aquelas cenas em que a personagem resolve largar tudo e buscar uma vida simples e rústica em algum lugar exótico, e de repente, a vida dá um jeito de lhe maravilhar. Um daqueles raros momentos em que a gente se sente tão viva que tudo faz sentido. 

Nem sempre viagens são feitas desses momentos de comunhão e perfeição. Não é o tempo todo que as grandes experiências acontecem. Mas é só viajando, é só quando saímos da zona de conforto, que o extraordinário acontece. Eu viajo para me maravilhar. É uma caça ao tesouro. Saio para a vida disponível para o que ela pode oferecer. 


E nada disso foi planejado. :-)


O Por do Sol que eu ganhei de presente na minha chegada à San Andres.

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