segunda-feira, 23 de agosto de 2010

DUBROVNIK 2

Se você tem a minha idade, provavelmente teve de estudar e ler nos jornais sobre a Guerra dos Balcãs para prestar vestibular. A coisa estava fresca quando eu prestei. Um par de países se formando, outros sumindo. Dubrovnik sempre foi uma cidade visada. Invadida um milhão de vezes ao longo da sua história. Foi dominada pelo o império romano (AH! Quem não foi?), foi um dos mais importantes portos da Europa, destruída por um terremoto, reconstruída e murada, foi invadida por Napoleão (novamente, quem não foi?) e dada de presente para a Aústria. Até o começo do século passado era parte do Império Austro-Húngaro. Foi nessa época que desenvolveram o turismo por aqui. Então virou Iuguslávia e, há pouco mais de 15 anos eu estudava sobre o surgimento desse novo país chamado Croácia. Ouvindo histórias de quem também se apaixonou pela cidade (mas resolveu ficar) a guerra foi muito mais terrível do que a gente leu nos jornais (sempre são). E na vida real dessas pessoas se arrastou por mais dois anos além do fim oficial em 1993. Olhando com calma e atenção para as pessoas a gente descobre que eles estão escondendo alguma coisa. Algo que eles não querem falar, não querem lembrar talvez. Coisas que só quem chegou ao ponto de não ter nada a perder e viu o marido e os filhos se jogarem em 300 barquinhos de pescadores e enfrentarem o bloqueeio. Estenderem o peito e gritarem “Somos civis, mas atirem. Podem atirar porque nós vamos passar.”. Existe sempre o dedo de um americano destruíndo a vida das pessoas. Dubrovnik é uma cidade tentando se encontrar. Coincidência eu ter me sentido tão bem aqui? As ruas de mármore da cidade antiga são fascinantes. O contraste com o branco da pedra faz saltar aos olhos o que é importante para mim. O que eu quero. Pode ser o fim do inferno astral, ou só porque o astral está me mandando tudo o que sempre pedi. Não importa. Seja o que seja, tem uma pontinha de arrependimento por eu ter os 10 dias todos planejados na Croácia. Reservas em hotéis e planejamento com a Kika. Só por isso vou sair daqui amanhã para Split. Só por isso talvez eu vá sair daqui. E de toda a saudade que sinto de casa, dos amigos e da família; dói também pensar que são apenas mais dois meses. Não é mais quase nada. Na verdade eu sei que eu nunca vou voltar para casa. Como Dubrovnik. Vou virar diversos países, ser invadida e conquistada; mas o tempo todo nunca deixou de ser Dubrovnik. E continua tentando se encontrar.

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