sexta-feira, 1 de março de 2013

O QUE APRENDI QUANDO ESCREVI SOBRE O QUE APRENDI POR AÍ


Nasceu. Saiu semana passada meu primeiro texto em uma revista. O processo foi um tanto doloroso. Primeiro, porque não sou jornalista. E respeito muito a profissão de jornalista. Então sentia um medo danado de escrever algo que não estava a altura dos profissionais que geralmente escrevem nessa mídia. Segundo porque era sobre um tema pessoal. Verdade que só sei escrever sobre meu umbigo. Sou capaz de uma abertura em texto que não tenho na vida real. Mas uma coisa é me abrir aqui no meu blog, onde só meia dúzia de amigos entram de vez em quando. Outra coisa é se abrir com uma tiragem de mais de 50 mil exemplares. Ainda tenho muito medo de pagar mico. Não sou tão desprendida assim. Quando a Ana Holanda me pediu para escrever sobre minha experiência de voluntariado na Guatemala, levei um susto. Eu tenho muita sorte de trabalhar para a Vida Simples, e lógico que intimamente sonhava em escrever para a revista, mas até a coisa concreta... Aflora em mim toda minha insegurança de bichinho do mato. Pois é. Sou uma pessoa imperfeita. Tenho medos, angústias, e inseguranças. Hoje em dia não tenho mais problema nenhum em manifestá-los. O que eu fiz na verdade foi enrolar a Ana por três longos meses até sentar minha bunda no computador e escrever. Quando terminei, enviei o arquivo tremendo por email, acompanhando de uma carta explicativa pedindo “desculpas por qualquer coisa”. Para minha surpresa a Ana me ligou 15 minutos depois dizendo que tinha amado o texto e que estava emocionada. Emocionada é bom, embora eu sempre tenha receio de ficar piegas com essa do povo sair se emocionando com meus textos. Então veio a segunda parte mais difícil. Como sou prolixa e superlativa, meu texto tinha 20 mil toques. Eu tinha o desafio editorial de cortar pela metade. Uma semana de sofrimento e 8 mil toques a menos, devolvi o texto para a Ana e falei “fiz o que consegui, pode cortar o que quiser”. Primeira conquista que escrever um texto para um veículo de massa me trouxe: desapego! É bem difícil exercitar o desapego com trabalhos intelectuais, ainda mais com relatos pessoais. Nessa hora entrou minha voz interior pedindo a mim mesma para ter confiança nos outros. Foi. Ana me retornou com o texto editado algumas semanas depois, lindamente. Tanto que eu quase não percebia as edições. Não é a toa que ela tem o cargo que tem, e é tão boa no que faz. A Ana é, antes de tudo, uma pessoa gentil e generosa, e isso é muito bom para bichinhos ressabiados e ariscos como eu. Então o texto entrou na pauta da edição de março. Continuei com a minha vida. No fechamento, Ana estava de férias e era a Jeanne quem estava revisando a edição final. Ela me mandou um email com duas dúvidas sobre meu texto e sugeriu uma alteração. Alterações são coisas que me deixam alterada. De imediato não recebi muito bem, acho que nem fui muito legal com a coitada que só estava querendo me ajudar. Mas depois pensei com calma, lembrei de aprender a confiar. Lembrei que precisava aprender a desapegar, e afinal de contas, a Jeanne é jornalista, tem muito mais experiência do que eu, está naquela revista desde sempre. Se ela sugere uma alteração é óbvio que vai ficar melhor. No dia seguinte fui lá, mandar um email pedindo desculpas e dizendo que confiava nela. Eu acho importante às vezes nomearmos as coisas. Hoje em dia fica tudo subentendido. Dizemos em alto e bom som tudo que odiamos, mas achamos que emoticons dão conta dos sentimentos positivos. Eu sou a prova viva de que, por mais que a casca de fora aparente segurança e auto-confiança, no fundo precisamos ouvir coisas boas a nosso respeito. Dizer com todas as letras “confio em você”, “você é bom no que faz”, “sinto orgulho de você”, “eu te amo” pode mudar o dia de alguém. E Jeanne me respondeu para eu ficar tranquila, que a matéria ficaria legal. Ela tinha razão. Ficou. Ainda ganhei de presente algumas ilustrações lindas da Lydia Megune e voilá! Estreei lindamente com um texto para revista. Melhor, ganhei uma consciência mais completa de como funcionam esses veículos de massa. Como o resultado é sempre um esforço entre escritores desapegados e editores generosos. Certamente se eu fosse mais arrogante e cabeça dura do que sou, não teria ficado tão perfeita. Então é isso. Estou pimpona. Estou aliviada de ter dado certo. Eu sei que para muitas pessoas isso nem é grande coisa, e não merece atenção de grande feito. Mas, dentro na minha nova proposta de ser generosa comigo mesma, eu comemoro a superação das minhas fraquezas. O entendimento de que, mesmo tão avessa e imperfeita, ainda dá para fazer alguma coisa certa. 

PS.: se você é um dos meus “meia dúzia” de amigos que lê esse blog e ainda não foi comprar a revista para ler, lembre-se que também faz parte do meu pacote de imperfeições a vingança e o dramalhão! :-P

Um comentário:

Elis Batina disse...

Adorei esse "making off". Através do Twitter elogiei a sua estréia, e saber de todo esse processo deixou ela ainda mais interessante.
Mais uma vez te desejo sucesso Adriana. ;)