Embora eu viaje mais do que o Lula na época do governo, estou no meio das minhas férias oficiais. Minha ânsia por conhecer o mundo antes de morrer queria carimbar o passaporte com outros países inéditos no álbum de figurinha, mas daí entre conversas com a Keka, planos de visitar a Carol no Porto, acabei pegando as milhagens guardadas e investindo tudo em uma volta ao Velho Mundo. Passei uma semana em Portugal revendo amigos e embarquei de volta a Roma, um dos lugares onde fui mais feliz durante meu ano sabático. Existe uma coisa curiosa quando você revisita um lugar que lhe é importante. Nos damos conta do tempo, da jornada. De tudo o que eu buscava quando estive na Itália pela primeira vez. A Itália foi um lugar em que eu amei. Amei em toda complexidade do verbo. Amei lugares, amei prazeres, amei amigas, amei um garoto. Mas uma das coisas que eu havia esquecido, é que foi na Itália que eu mais me amei. Foi um pouco chocante voltar e descobrir em mim como tem escapado tudo o que eu fui em busca e conquistei. Como eu deixei a vida me engolir novamente e me perdendo de mim mesma. Verdade que encontrei muitas outras coisas. Algumas de forma dolorida, outras alentadoras. Eu engordei. Perdi tantos amigos. Mas voltei ao vegetarianismo com uma propriedade enorme, e encontrei o budismo. Virei mãe de uma gata. E descobri que posso ser boa profissionalmente em tantas coisas. Fui capaz de reconstruir uma rotina e montar uma vida. Só que não é exatamente a vida que eu queria. Não estou reclamando. Tenho uma vida muito boa. Mas será que depois de ter ido tão longe, abdicado de tanta coisa, era essa a vida que eu buscava. Eu tive a sorte de ganhar um bilhete em branco, para ser o que eu quisesse. E é isso que eu estou fazendo com ele? Porque é tão fácil se perder de nós mesmos? Sempre achei que o mais difícil era largar tudo e pular. Porque então eu insisto em voltar para o mesmo lugar? Eu penso se talvez nossas frustrações pessoais não venham exatamente do medo de se reinventar de verdade. E se não agora, quando? Se existe um lugar no mundo onde eu me sinto inteira é na Itália. Talvez porque ela vá sempre permanecer. Talvez porque entre a bagunça e o barulhos dessas cidades, as pessoas vivem. Eles falam, gritam, brigam, comem. Mas de todas as pessoas no mundo, os italianos são os únicos que estão inteiros no momento. É o “dolce far niente”. A capacidade de aproveitar o momento com calma, de absorver a vida com tudo o que ela tem. Mesmo carregando o peso de toda a história da civilização ocidental, as coisas são no momento. Nunca deixaram de ser. Por isso a Itália vai permanecer. Mesmo com a crise, mesmo que o Euro quebre semana que vem. A Itália é um país eterno. E se você não é capaz de ser inteira aqui, não será em nenhum lugar. Nós descemos de Nápoles pela Costa Amalfitana, comemos kilos de pizzas, risotos e pasta. Tomamos vinhos, graniti di limone, gelato todos os dias. Como se cada dia fosse o único que nos sobrasse. No budismo acredita-se que você deve meditar sobre a morte. Sobre a possiblidade da morte. Somente sentindo verdadeiramente que a morte pode acontecer a qualquer momento, daremos o valor e a importância que o dia de hoje tem. A vida é uma benção. Não é glamurosa, nem extraordinária. Não vem repleta de aventuras mirabolantes como filme hollywoodiano. Mas é uma benção e acontece em um só momento: agora. Por isso é pouco passar os dias sendo quem você não quer ser. E se não agora, quando?
Um comentário:
Por que é tão fácil nos perdermos de nós mesmos? Quando tiver a resposta, me conte, por favor!
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