Sr. Hiroji e a desesperadora situação das linhas da minha mão.
Esses dias hospedei o querido Dudu aqui em casa. O Dudu é uma dessas pessoas super agregadoras, super coração, que eu herdei de um outro amigo que fiz na vida. Eu adoro herdar amigos de amigos. Vira turma, cria história. Então, Dudu passou uma semana em SP e veio acampar aqui no sofá, já que eu não tenho ainda um quarto de hóspedes. Eu adoro ser anfitriã de São Paulo. Amo tanto essa cidade e adoro levar as pessoas para verem o que eu vejo nela. Em uma dessas, lá fomos nós almoçar na Liberdade no meu restaurante japonês favorito. Um trânsito chato de sábado, paramos o carro alguns quarteirões antes e subimos à pé até o Sushi Yassu olhando lojinhas e amando as calçadas. Foi quando eu vi um senhorzinho sentado em uma mesa de metal, na porta de uma galeria, com uma placa escrito “Leitula da vida”. Sim. Assim. Igual ao Cebolinha. Quer coisa mais adorável!? Como é que a gente pode resistir. Tirei R$20 do bolso, sentei na cadeira e estiquei minhas mãos. Houve um tempo em que eu fui mais crente, em que eu precisava acreditar na segurança de que as coisas estavam por vir. Já fui em cartomantes, tarólogas. Fazia até mapa astral todos os anos. Hoje acredito que essas visões são um pouco simplistas perto das possibilidades da vida. Mas ainda vejo com ternura um senhorzinho imigrante, sentado com um caderninho no colo, esticando uma lupa sobre a palma da minha mão. Tenho certeza que ele crê que aquilo pode ajudar as pessoas. E fico feliz de saber que algumas pessoas encontrem naquilo algum alento. Sr. Hiroji esticou minhas mãos e logo de cara me perguntou: “Você namorado com 34 anos?”. Respondi que sim. Que eu estava namorando quando tinha 34 anos. “Agora, não mais namorado.” Respondi novamente que sim. “Aquele namorado era casamento. Você não casou. Pedeu.” Cuma!??? “Perdeu. Cabô.” Que velhinho sacana! Como assim? Perdeu playboy? É isso? “Agora não casar mais.” Hein!? “Você, boca muito grande. Falar muito.” Quem te contou!? “Falar muito. Homem procurar mulher mais carinhosa.” Tá de sacanagem! “Você, fechar boca.” E só para encerrar a “leitula”, ainda repetiu: “Cabô. Perdeu.” Pois é! Não se fazem mais videntes como antigamente. Foi-se o tempo em que todos viam que eu seria famosa, casar com uma cara rico e viajar para o exterior. Hoje a coisa é mais PCC: Perdeu, playboy! Claro, que rimos muito disso. Ainda mais porque em seguida o velhinho disse que eu teria 3 filhos. Mas, tirando a brincadeira toda, fiquei pensando muito nessas fórmulas e ideais todos. É como o médico da academia que me sugeriu congelar os óvulos (vide Um, dois, três indiozinhos...). Nessa carência gigante que nos faz buscar respostas nas linhas das mãos ou em cartas jogadas sobre panos indianos. Como se houvesse uma fórmula para ser feliz. Como se o segredo fosse esse mesmo. “Mulher fala muito. Falei pouco e encontrará o amor.” Então eu vejo hordas de meninas desesperadas, se espremendo em ideais que se auto-impõe, simplesmente porque querem ser aceitas. Vão minguando por dentro, assassinando o que possuem de mais lindo e precioso, para se sentirem dignas das projeções inventadas de futuro. Como é que pode haver felicidade se você mata o que faz de você, você? Como é que pode haver amor, se o que te move são os padrões de uma sociedade que você nem sabe se correspondem às suas vontades? Eu sou uma romântica. Sou mesmo, incorrigível. Eu acredito naquele amor absoluto. Poderoso. Naquele amor que abala estruturas e faz o ar faltar. Acredito no amor que faz com que duas pessoas façam sentido na vida. No amor “não-sei-como-vivia-sem-você-antes”. E exatamente por acreditar nisso que não acredito na “sorte” das previsões. Geralmente, as pessoas que conheço e seguem previsões de cartomantes, são mulheres tão inseguras e desesperadas que são capazes de fazer qualquer coisa para se enquadrarem àquela expectativa de felicidade. Inclusive serem infelizes. Se prendem em relacionamentos fracassados. Pior. Geralmente são mulheres que se sentem tão indignas de um grande amor que tratam o parceiro como se ele lhes estivesse fazendo um favor. Tornam-se submissas, ignoram suas vontades. Vivem uma imagem de felicidade fina, tal qual casca de ovo. Acabam solitárias, em seus ideias de vida perfeita. Eu sei que eu sou uma pessoa intensa. O velhinho tem razão, eu falo muito. Geralmente ofusco. Sou para iniciados. Mas se eu for acreditar que isso faz de mim um fracasso... Se eu for acreditar que minha autenticidade destruiu as únicas possibilidades de amor, isso seria negar o próprio amor. Porque eu acredito que a melhor coisa que se pode oferecer a outro é nós mesmos. Inteiros. Sem edição. E se alguém se “assusta”, é porque não era para ser. Não era seu amor. Não era sua alma gêmea. Na verdade, editar-se para outro é desonesto. Você o priva de te ter por completo. Portanto, com toda ternura que o Sr. Hiroji me despertou - e tenho certeza, ele só queria meu bem - não acredito que acabou, que todas minhas possibilidades de amor se foram. Não posso ser menos, nem mais do que sou. E, se o próximo moço não aguentar... Perdeu. Cabô. ;-)
3 comentários:
Lindo! Também acho que ninguém merece "se economizar" pra poder "fazer dar certo" um relacionamento. Se falo muito, preciso de alguém que aguente o tranco, oras! Difícil encontrar. Mas eu (ainda) acredito. Beijo!
Gostei do texto. Cabô meu comment. rs
Acredita que só vi esse texto hoje ..
Adoro seus escritos. beijo!
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