quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

AMADA

Eu talvez seja a pessoa mais carente do mundo. E a que menos dá pinta disso. Não sei se é o dia, o momento, a contagem regressiva. A cama vazia. O terapeuta que está tão empenhado em me fazer chorar. Não sei o que é. Mas estou hoje com a sensação de que não fui amada o suficiente na vida.
É meio triste isso, pode parecer. Mas na verdade não é. Triste seria não estar carente pela falta desse amor. Peço perdão aos amigos incríveis, que desde já me enchem de carinho, adiantam saudades, e certamente vão fazer muita falta nos meus dias nos próximos meses. Vocês me amam, eu sei, eu sou grata, eu amo de volta. Ainda assim não sou amada. Entendam que o "ser amada" ao qual me refiro é aquele sentimento de completude que buscamos sentir pelo menos uma vez na vida. Aquele amor de abalar estruturas. Amor entre duas pessoas, incondicional, arrebatador, indomável, enlouquecedor. De tirar o fôlego, arrancar os pés do chão. Aquele amor que é seguro, e está certo de que é. E faz com que o mundo se modifique em cores saturadas, sons de violinos e cabelos que se espalham em câmera lenta. Esse amor nos permite enxergar com clareza. É aquele que justifica a vida, transforma a percepção de nós. Amor que fertiliza.  Desse amor que é capaz de fazer sumir os limites entre céu e terra, esse amor eu nunca tive. Os meus amores foram primários. Foram amores café-com-leite. Mesmo aquele, que me roubou dois meses de noites aos prantos quando se foi, mesmo aquele, se foi. E o amor do qual estou falando, esse não consegue partir. É incapaz de abandonar. Então, por mais que houvesse amor, não foi amor suficiente. Dentro da minha republiqueta latino-americana particular, eu me nomeio ditadora, e como ditadora eu determino que deve haver mais amor que me mereça. Um amor tarja preta. Repleto de efeitos colaterais. Ou que não haja amor nenhum.

2 comentários:

MH disse...

E de repente, quando menos se espera, ele aparece. Sempre. Pelo menos é nisso que eu acredito!

Carol Helena disse...

Foda. Amei o texto!