quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Farmville nos Jardins

Já faz quase dois anos que eu moro nesse apartamento nos Jardins. Vira e mexe ouço um grito na vizinhança. Algo esganiçado, aleatório no meio do dia ou da noite. “AHHHHHH! AHHHHHH!” Resolvi atribuir o grito a algum adolescente bobo fazendo gracinha para os amigos. Me parecia a explicação mais plausível. O grito reverbera entre os prédios, então não dá para ter muita idéia de onde ele vem. Sempre imaginei que viesse de algum prédio para os lados da Alameda Campinas ou Lorena. E não tem um horário específico. De manhã, às tardes. Meio da madrugada. Quando eu namorava com MM, ele costumava dizer que o grito era de um pavão. Eu ria secretamente da cara dele. Pobre garoto! Onde já se viu um pavão no meio dos Jardins? “Imagina, bobo! De onde você tirou que isso é um pavão?”. Bom, MM é passado, mas os gritos continuam. Até parei de “escutá-los”, passaram a fazer parte da cacofonia do bairro. Já nem noto.
Domingo Kallel passou aqui para a gente jantar. Ele estava afim de comer um japonês e fomos de rodízio no Sushimar aqui ao lado. No meio da nossa saladinha de entrada o grito soou, praticamente nas nossas cabeças. “AHHHHHHHHHHH!”. Kallel impassível:
- Um pavão.
- Você também? MM tinha mania de falar que isso era um pavão para me encher, olha que bobo.
- Dri, isso é um pavão.
Então o garçon entra na conversa.
- O dentista aqui do lado cria um casal de pavões. Ele tá lá no telhado.
- Vocês estão brincando comigo.
E o casal gay da mesa ao lado também entra na conversa.
- Verdade, é um pavão.
- Eles estão aí há milênios. Minha vó mora aqui em cima e eu lembro que quando eu era criança esse dentista já tinha esses pavões.
- “AHHHHHHHHHHHHHHHHHH!”
- Olha lá! Gritou de novo.
Como assim? Era de domínio público que um dentista cria um casal de pavões no quintal de seu consultório no meio da Alameda Campinas e ninguém me conta? E que tipo de infância essas pessoas tiveram que identificam o grito de um pavão assim que o ouvem? Isso me lembrava mais a Priscila C. imitando uma gralha na piscina do acampamento quando a gente estava no Colegial do que um animal que eu tinha certeza de que você precisasse de uma autorização do IBAMA para comprar.
- Ah, esse dentista já teve de pintar o muro várias vezes porque o povo picha “Fora Pavão!”.
- Não estou acreditando! (absolutamente incrédula!!!)
- Ele está aqui no telhado. Dá para ver lá da calçada.
Então eu e as duas senhoras que também estavam ouvindo a conversa, corremos para a calçada e lá estava. Empoleirada em cima do telhado e de cauda baixa a tal da pavoa. A bicha estava na boa, olhando o trânsito. As luzes do farol mudarem de cor. Como ela não queria descer, o macho ficava gritando embaixo: “AHHHHHHHHHHHH! AHHHHHHHHHHH!”. Simples assim.
Coisas que eu adoro nesse bairro. Embora o Ibira esteja a um pulinho, nunca se sabe que tipo de fauna seu vizinho guarda no quintal.

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