quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A BARATA

Hoje resolvi dar uma mega geral no closet. O resultado são 8 sacos de lixo GG repletos de roupas e sapatos que vão para doação, reciclagem, ou qualquer coisa parecida. O importante é fazer a energia fluir. Separei em gavetas as roupas que vão para a Europa. Arrumei minha mochilona que vou levar para a Ilha do Cardoso agora no Carnaval e sair sexta cedinho. Minha geladeira só tem água, manteiga e chá verde. Comprei uma lasanha congelada que fiz agora à pouco, depois da meia-noite, quando já estava sentindo tonturas da hipoglicemia e do calor. Para variar, sentei de volta em frente ao computador para trabalhar em um texto que preciso entregar amanhã. Estou comendo, digitando e me abanando quando noto no meu campo de visão algo se movendo. Sempre tive delírios de que pessoas invadiam minha casa. Quando eu era pequena imaginava que uma segunda família habitava nossa casa secretamente quando saíamos. Já tive pesadelos apavorantes (daqueles que você tenta gritar mas sua voz não sai) aqui nesse apartamento, onde pessoas andavam pelo meu quarto e me observavam dormindo. Então quando senti que algo REALMENTE se movia no mesmo cômodo que eu, tive certeza de que meus delírios se confirmavam. Me virei para o ponto de onde vinha o movimento e me deparei com uma barata. Gigante. Daquelas voadoras. Antenas kilometricas. No meu quarto. Andando pela porta do armário e parando empinada na frente da TV. Eu queria gritar. Queria gritar muito, mas quando se mora sozinha, não há muitas pessoas para quem gritar. Principalmente às 3h da manhã. O problema é que eu tenho pavor de baratas. Verdadeiro pavor. E eu sabia que estava em uma situação em que eu precisava confrontá-la. Quando Julie era viva, ela perseguia e matava as baratas para mim. Julie fazia questão de me proteger. Todavia essa baratona era tão grande, que até ela, como gata e lady que era, ficaria em pânico na frente dela. Desci até a cozinha, nada de inseticida. Voltei com um copo vazio de Nutella. Imaginei que pudesse prendê-la dentro do copo com a tampa, e deixá-la lá até ela perder o fôlego e jogar na lixeira depois. Quando voltei, a barata estava atrás da TV. Fiquei com medo de enfiar a cara e ela pular no meu rosto. ARRRRGHHH! Me arrepia só de imaginar. Quando ela veio para frente ensaiei dar o bote com o copo, mas não tive coragem. Aquela barata era mil vezes maior do que eu, e naquele momento eu sentia que tinha o menor braço do mundo. Nessa altura do championship eu estava chorando, pulando e dando gritinhos baixinhos (porque eu tenho vergonha dos vizinhos), a barata desceu correndo e se escondeu no meio dos meus sacos de roupas que estão no chão. Então eu comecei a tremer. Tremi tanto, de medo, pavor, nojo, impotência. Pensei em ligar para alguém, acordar o zelador. Dormir na casa do Kallel. Qualquer coisa que me tirasse do mesmo lugar onde aquele ser estava entocado. Você deve se perguntar: Porque você não deu uma chinelada na barata? E eu respondo: Porque eu não consigo. Nunca consegui. Morro de medo dela espirrar em mim. Medo dela não morrer. Sou absolutamente incapaz perante uma barata. Mas eu estava sozinha. E não ia dormir com aquela barata zanzando em cima de mim durante a noite (ou o que resta dela). Então peguei um par de chinelos velhos, sentei na beira da cama chorando e fiquei esperando a bicha reaparecer. Ela apareceu. Subiu correndo pela porta do armário. Aquela baratona castanha e cascuda, contrastando com a porta branca. Balançando as antenas com força, cada passada com força. Era a maior barata de São Paulo. Ela voou até o quinto andar, passou pela varanda, entrou pela porta da sala. Deve ter passeado pela beira do sofá, e voou de novo até o segundo andar do loft onde está meu quarto. Ela sabe que, com a temperatura tão elevada, ela é senhora absoluta. Era a barata mais atrevida de São Paulo subindo a porta do meu armário. Eu chorava. Me chacoalhava inteira. Fechei os olhos, lembrei dos treinos de handbol no Colegial. Mirei o chinelo, tomei distância e atirei. Bem em cima da barata. Um golpe apenas. Ela espatifou na superfície branca. Borrou de uma meleca castanha e branca o ponto da porta em que eu a interrompi. Caiu no chão, entre os sacos de roupa, de pernas para cima, totalmente imóvel. As antenas estáticas. Eu a acertei de primeira. Depois de remover o corpo para um funeral dígno na privada e dar descarga. Depois de ficar pulando e gritando (agora de verdade, para os vizinhos ouvirem) até meu corpo parar de arrepiar. Depois de ter lavado as mãos e os punhos até minha pele escamar. Depois de tudo, fui limpar a borra da barata no armário. A gosma que havia se esparramado. Lembrei de Clarice e sua G.H. Lembrei daquela mulher que se completa comendo a barata que escapa do armário da empregada. Pensei que, talvez, eu fosse ter uma epifania. Eu, no meio dos restos da minha vida ensacados no chão. Eu me encontrando perdida em um closet vazio que só guarda agora o que vai para minha vida daqui pra frente. Eu, de malas prontas. A assassina de baratas. Poderia ter uma epifania e comer sua gosma. Sua falta de alma. Foi então que me dei conta, olhando para os restos da barata a minha frente. Clarice estava louca. Completamente perturbada. O que G.H. teve não foi uma epifania. Foi um surto injustificável. Comer uma barata? Nem epifania pra explicar. Nem morta! Passei um papel descartável. Espirrei Veja, álcool, até limpa vidros. Lavei mais umas quinhentas vezes as mãos e os pulsos. O chinelo, achei melhor nem tentar colocar para doação. Foi direto para o lixo.

Um comentário:

Cachaçadas G.S.G. disse...

Adoreiiiiiiiiiiiii, me fez lembrar o dia que ataquei uma barata no meu quarto com uma rede de limpar piscina, acabei com ela, com o piso de madeira e os cães estavam quase invadindo a casa para saber pq gritava tanto rsrs.
Agora, ja ta passando da hora de arrumar outra gata, vou adorar rsrs
binho
Lê (prima)