sábado, 27 de fevereiro de 2010

PARADA EM MADRID

Embarquei. Foi meio uma correria em Guarulhos. Check in, troquei mais uns Euros, retirei carteira de vacinação na ANVISA e comi um lanche rápido com minha mãe e minha avó. Uma bela de uma fila na Polícia Federal. Melhor assim. Acredito que se tivéssemos mais 15 minutos, tinha rolado uma cena de choradeira na despedida. E eu consegui evitar esse tipo de coisa em todas as despedidas que fiz. Difícil virar as costas vendo os olhos marejados da minha mãe. Mais difícil ainda foi abraçar minha sobrinha à tarde. Os bracinhos finos dela me segurando por um tempão e ela dizendo no meu ouvido “Vou sentir muitas saudades, Tia Dri.”. Deu vontade de jogar tudo pra cima só para impedir o que aqueles olhinhos me diziam. Ela me olhava um pouco confusa, como se quisesse registrar cada traço do meu rosto para não se esquecer. Como se fosse ficar sem me ver para sempre. E escrevendo isso agora eu choro pela primeira vez. “Porque você quer viajar por tanto tempo, Tia Dri?”. Não sei, Bia. Não faço a mínima idéia. Como em tudo na minha vida. Vou tentar descobrir. O vôo da Iberia atrasou uma hora. A programação de conexão era de apenas uma hora em Madrid, para alfândega e troca de avião. Imaginei que haveria algum problema chegando aqui. Mas as coisas sempre se resolvem, então não estresso. O avião e a tripulação regulavam em idade e tempo de serviço. Aqueles aviões que ainda reservam área de fumantes, assentos extremamente estreitos. Os comissários com idades de serem meus pais. Eu estava tão exausta que dormi. Nem vi o avião decolar. Dormia e acordava em prestações pelas 9h30 que durou o vôo. Acordando de vez em quando por causa da posição desconfortável, ou com os berros de uma passageira ao lado (“Juarez!!! Esse é o melhor chá do mundo.” “Juarez!!! Quero te ter como meu convidado no meu aniversário no Porto”, “Ah Juarez! Não olha assim para mim.”, “Tem gente que encontra sua alma gêmea no avião. Você Juarez, é minha alma oposta!”). Várias pessoas no vôo também fariam a conexão em Madrid para o Porto. Todo mundo correndo quando o avião pousou. Minha bagagem de mão é quase que só livros e o laptop. Apertei o passo e espero ter definido alguns músculos com o carregamento de peso. O aeroporto de Madrid é gigante. Do tamanho de algumas cidades do interior em que já estive. O atraso acabou se tornando um grande aliado. Eu estava bem temerosa em fazer a imigração na Espanha (por causa das histórias que temos ouvido de brasileiros sendo deportados a torto e a direito), mas como eu estava em uma conexão atrasada, ganhei prioridade na fila dos cidadãos da Comunidade Européia, o cara da alfândega mal olhou meu passaporte, carimbou e me liberou. Nem foi preciso as toneladas de documentos que eu havia preparado para comprovar que eu não era uma pé-rapada tentando imigrar para lavar pratos. Depois de um trem, algumas escadas rolantes e muuuitos corredores, cheguei ao portão K , junto com um bando esbaforido que junto comigo descobriu o portão de embarque para o vôo para o Porto recém encerrado. Fui até o balcão de informações e ganhei um novo cartão de embarque para as 15h45. Três horas e meia de espera no aeroporto para seguir viagem. Minha maior preocupação era com a Carol e o Viriato, que deviam estar no aeroporto me esperando. Quando vi que o vôo atrasaria no Brasil, enviei um sms para Carol, mas não tinha certeza se havia chegado. Perdi uns 15 minutos me estapeando com o telefone público para tentar fazer uma ligação internacional. Inutilmente. Então resolvi tomar um espresso, comprar uma água e alguns itens de toilette para me recuperar. O espanhol é uma língua bem estranha para mim. Já fiz algumas aulas, já convivi com espanhóis quando morava em LA, mas nunca entendo nada do que eles falam. Sei da proximidade com o português, claro, mas geralmente quando esse povo abre a boca eu sinto como se estivesse ouvindo malaio, russo ou grego. Então passeei por umas cinco lojas diferentes tentando descobrir como comprar a tal da “tarjeta de telefono”, que foi o que eu havia entendido depois de falar com uns três operadores do orelhão (tentar falar, né). Ao final acabei descobrindo que poderia fazer a ligação com meu cartão de crédito, e fiquei aliviada em avisar Carol que só chegaria no meio da tarde por lá. Agora estou parada em Madrid. Aguardando o vôo para o Porto, que vai partir em uma hora e meia (Espero!). O tempo está fechado. Garoava quando aterrissamos, e olhando lá fora a pista está molhada. Mesmo aqui dentro faz frio. Uma hora e meia, todinha à toa, bem de frente para uma loja do Duty Free. Estou fazendo exercícios de meditação zen para manter meus Euros dentro da carteira.

Um comentário:

MH disse...

hahaha
resistiu?

Não compara espanhol com malaio não, te garanto por experiência que malaio é impossível! :0P