quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ando completamente relapsa com o blog. Sei disso. Recebi cobranças também. Desculpe. Hoje entrei em uma loja de celular no meio de Évora e comprei um desses minimodens portáteis. Agora posso acessar com mais tranquilidade, até de dentro do ônibus. Mas não vou me esconder atrás dessa desculpa. Não foi apenas a falta de net. Estava em Lisboa e tinha tanta coisa para fazer. Depois voltávamos para casa e, minha nova prima e eu ficávamos até horas falando, e falando. Muito papo mulherzinha, que eu amo. E a última coisa que eu pensava era em vir aqui escrever. Só confirmando minhas suspeitas de que blog é coisa de quem não tem mais o que fazer (e umbiguistas assumidas como eu).
Ok, de onde eu parei? Eu estava em Lisboa com amigos tão amados e ganhei uma prima nova.
Além disso preciso registrar que havia esquecido de como os portugueses são grossos quando querem. AFE!!! Às vezes tenho a sensação de estar participando de alguma pegadinha, que horror!!! Lóóógico que recebo manifestações deliciosas de gentileza (e que, de acordo com a "Lei do Bom Retiro"*, essas manifestações tornam-se ainda mais carinhosas com a falta de cortesia que reina absoluta nesse país), mas no geral o português é grosso. Eu é que não vou criar caso com isso e estragar meu dia, então já acostumei, dou risada e guardo no diário para se tornarem ótimas histórias de viagem.
Essa semana fui um pouco de Lisboa e resolvi dar uma voltinha pelo Alentejo. Fui para Évora. Agora estou em Reguengos de Monsaraz (fala isso rapidinho, três vezes!). Évora é uma fofura de cidade, tombada pela UNESCO e blábláblá, mas só chove esses dias e tudo o que se há para fazer é ao ar livre. Então vim para Reguengos procurar vinículas para visitar. Ah, essas cidaddes são cheias delas! Fui em uma hoje em Évora. Me falaram que era perto, que dava para ir andando. Eu com a mochilona nas costas. Atravesso a muralha (já que Évora é uma cidade muralhada) e sigo pela estrada. Anda, anda. Anda mais. Chove. Eu com o meu guarda-chuvinha de poá preto e branco e barra pink comprado na Renner e com a resitência daquelas sombrinhas de papel vegetal que vendem na Liberdade. Carros buzinado ao meu lado na estradinha da largura de um corredor. Sério. Se passa carro, nem bicicleta cabe ao lado. Se for um SUV então, eu sou obrigada a pular no meio do mato. Mas tudo bem, super adventure. Meu cabelo que está parecendo palha de tão ressecado, depois de tomar chuva e secar o dia inteiro parecia a peruca do Bozo. Cheio de personalidade. Calça molhada. Mas cheguei até a Vinicula. E depois de fazera visita, voltei. À pé. E achei a Rodoviária sozinha, sem ajuda de mapa. Toda orgulhosa de mim. De ter explorado a Zona Rural de Évora (hahahah). Estava quase desistindo de vir para cá, quase voltando para Lisboa (porque Kika é uma linda e fica me ligando para dizer que está com saudades, e que me adora, e que minha estadia na casa dela fez muito bem a ela. Eu fico feliz, faço de tudo para colocar meus amigos para cima. Às vezes não dá certo, mas é muito legal quando funciona. Então ela grita no telemóvel "Vê logo o que tem para ver aí e volta pra cá, Gordaaaaa!". Kika adora chamar todo mudno de gorda.), mas chegando à rodoviária o ônibus para Reguengos de Monsaraz está pronto para sair. Então eu pulo dentro e venho para aqui. Cheguei na rodoviária, sentei na guia da calçada para atachar minha mochila de ataque na mochilona e me dou conta de que são 20h. Ainda estava claro, mas estou em uma cidade de 11mil habitantes. As ruas estão desertas. A rodoviária nada mais é do que uma garagem com um teto de cimento, e aparentemente estou completamente sozinha ali (todos os outros passageiros e o motorista desapareceram misteriosamente). Eu estou sozinha, em uma cidade deserta e que eu não conheço, com um endereço de um hotelzinho barato que eu não faço idéia de onde fica (ou se eu serei a única coisa respirando no quarto), molhada, totalmente descabelada, sentada na guia. E eu penso em como eu devo agradecer ao astral por tudo isso. Como eu sou sortuda, e abençoada, e feliz, e plena; eu penso em como eu tenho uma vida perfeita e conquisto tudo, exatamente como eu quero. Chega a me dar frio na barriga, certa angústia, porque como toda brasileira eu sou programada genéticamente para reclamar de tudo, a sempre esperar o pior, a diminuir meus méritos, e a achar que se algo bom me acontece, ele tem prazo de validade. Mas não. Não é assim. Engulo o calafrio e agradeço porque eu estou vivendo todas as experiêcias que eu queria. Joguei a mochila nas costas, sai andando pelas ruas embaixo de chuva e, como tudo está sendo perfeito, óbvio e natural, ando duas quadras e acho o hotelzinho que estou. Assim. Sem mais nem menos. Porque as coisas devem ser assim. O quarto uma graça. Cama confortável. Chuveiro quentinho. Horas abusando da minha internet, agendando detalhes dos próximos destinos, conversando com minha mãe. Cuidando da minha "quinta" no Farmville. Parabenizando o meu sobrinho lindo que faz aniversário. Sempre que eu acho que o caos se instala, a vida me inunda. Me enche de água até o nariz. Eu gosto de fazer bolhinhas. Só para garantir uma cereja no bolo, vou dormir bem tarde, depois de falar meia hora com meus sobrinhos. Eles receberam hoje meus postais de Dublin e ficam me contando tudo o que fazem. Antes de desligar, Bia me fala "Muitas saudades, Tia Dri. Eu não consigo viver sem você.". Eu também não, Bibi. Eu também não. Sorte nossa que temos uma à outra.

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