Eu deixei a Holanda por último. Não foi planejado, mas foi perfeito. Eu sei que para muita gente a Holanda é sinônimo de loucura e piração. Maconha liberada, cogumelos em cada esquina. Só que eu sou careta. De tudo. Não uso, não gosto, não me importo. Os holandeses são detentores da menor taxa de consumo de drogas da Europa. Como diz o ditado, “uma vez em Roma...”. Se eu não fazia em casa, e se os holandeses não fazer, para que diabos eu vou perder meu tempo e meu rico dinheirinho fumando maconha em coffee shop. Então não. Eu não provei maconha. Nem comi space cake. Nem tentei os cogumelos. Pelo contrário, mal tenho bebido. E beber eu gosto. Andei tomando umas tacinhas de vinho nas refeições com a Erna e a Lu. Arriscamos um prosseco no domingo porque a Rachna estava milagrosamente de passagem por 3 horas no país e a gente almoçou juntas. Delícia de domingo. Ensolarado, lindo. À beira de um parque em Rotterdam. Fora isso ando à base de suco e Coca Zero. Adorando ficar básica. A Holanda tem essa atmosfera calma, muita qualidade de vida. Gente bonita, inteligente, bem educada e culta. Um jeito de levar a vida muito lânguido, desencanado. Que me agrada muito. Bicicletas para todos os lados. Isso é verdade, e isso os holandeses todos fazem. As garotas se montam, botam o salto alto, e vão pedalando para a balada. Acho um charme. E nada de 18 marchas e quadro de alumínio. Quer andar no dutch style tem de ser bicicletão de ferro, marcha simples e freio no pé. Isso mesmo. Freio no pé. Pedala para trás, parou! Eu fiquei meio insegura no começo, porque nunca usei freio no pé. Mas se não sabe brincar, não desce no play. Lá fui eu correndo atrás da Erna pelas ruelinhas e canais de Amsterdam. Ela que é original de fábrica e apenas se joga nos quilometros de ciclovia, olhava de tempos em tempos para trás e gritava “Ciao Bella! Don´t fall in any canal!”. Eu tentei. Consegui. A gente ainda deu uma explorada maravilhosa pelas cidadezinhas. Algumas eu não vou conseguir soletrar, mas fui ver os famosos moinhos de vento. Fofos de tudo. Tiramos milhares de fotos e até fizemos um amigo. Um senhorzinho japonês que estava sozinho no meio do campo desenhando os moinhos em um caderno de rascunho. Super bucólico. (Eu acho!) Depois fomos para Den Haag, que é a capital da Holanda, (Eu jurava que era Rotterdam!), passamos uma tarde na praia (que não era nada especial, mas é bem especial pensar que se mora em um país onde se chega à praia em no máximo 2 horas, não importa onde você more), eu comi haring (o tal do peixe cru cheio de cebolas que faz a gente lembrar dele por dois dias consecutivos), fomos para Haarlen e Delft. Delft, aliás, é uma gracinha de cidade! Vontade de embrulhar e levar para casa. Ontem ela me deixou em Utrech onde a Lu e o Pedro estão morando desde final de agosto. Invejinha dos dois. Morar nesse país, com toda essa calma, essa tranquilidade. Verdade que começo de imigração é perrengue. Mas ainda assim. Invejinha dos dois. Amanhã vou novamente para Amsterdam. Quando fui com a Erna fomos com agenda planejada. Fui visitar um projeto assitencial na periferia de uma amiga dela que conheci aqui. Trocamos figurinhas e estreitamos contato para o projeto que vou montar quando voltar para o Brasil (está no quadro de conquistas que estou levando na minha bagagem de volta). Depois almoçamos com uma outra amiga dela. Estilosérrima e dona de uma invejável coleção de 250 sapatos (OHHHHH, Deus! Porque dai tanto a uns e tão pouco a outros???). Me fez pensar em como foi que eu consegui sobreviver todos esses meses com apenas 3 pares de sapato (um tênis, uma sapatilha e uma havainas). E em como eu quero muito corrigir isso assim que pisar em São Paulo. Terminamos o dia destruidas no Anne Frank Haus. Triste, triste, triste. Para fechar todo o resgate Holocausto da viagem. Foi um pacotinho de lenços de papel para conseguir passar por todos os cômodos e chegar do lado de fora. Essa é, sob uma ótica, minha última semana de jornada. Quarta-feira que vem volto para Portugal. Juntar minha bagagem, beijar minha família européia e embarcar de vez. Com a Holanda eu fecho todos os países que eu queria conhecer. Cumpro tudo o que tinha me proposto. “Me concentrar na Europa Ocidental (Portugal, Espanha, França, Itália, Suíça, Bélgia, Alemanha, Holanda, Inglaterra, Irlanda e Escócia). Aprender uma nova língua. Voltar para o casamento da minha prima.” Marrocos, Croácia e República Tcheca vieram de brinde. Milhões de outras coisas vieram de brinde. Eu quase não tenho mais forças para carregar a mochila. A única coisa que consigo pensar é que agora só preciso empacotar mais uma vez para chegar em Lisboa e depois empacotar tudo de vez. Eu cavei até o osso. Não sobrou nada. Segui juntado cada pedacinho de mim pelo caminho. Vou jogar tudo dentro das malas que estão há meses me esperando em Portugal e voltar para casa. Vou precisar de muito tempo para montar o quebra-cabeças de novo. Por isso é simplesmente perfeito essa calma. Esse país pequenino que parece a sala de casa. É simplesmente perfeito olhar o outono se firmar (mais uma estação passando no meu nariz). Perfeito não fazer planos nenhum aqui, não ter agenda, não ter celular (o meu foi perdido na Escócia, só para registro), não ter compromisso, não ter roteiro. É simplesmente perfeito apenas me jogar, aceitar tudo o que vem. O quem vem com os amigos. O que vem com as cidade. O que vem cada dia. Poder apenas ser. Nem que seja “ser” por uma tarde inteira, sentada em um café, olhando as bicicletas passarem e refletirem na água escura dos canais.
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