Cheguei em Colônia ontem num mal-humor. Nada de muito grave não. Só que foram 4h30 de trem desde Berlin. E os preços das passagens de trem aqui na Alemanha são obscenos. Muito. Daí ainda desci na estação errada, tiver de pegar um outro trem para chegar na estação central e depois me bati por longos minutos (longos porque a mochila estava nas costas e estava pesada) para descobrir como funcionava a rede de metrôs... resultado que cheguei no hostel só no final da tarde, faminta, mal-humorada e sem saco para muito papo. Saí para procurar internet e algo para comer e não fui muito com a cara da cidade. Tudo comercial demais. Meio feia, meio suja. Sentei em um Starbucks e fiquei trabalhando até ser expulsa de lá. A menina apagou a luz na minha cara e eu achei que era melhor ir embora. Estou trabalhando na minha volta. Estou tão empolgada, cheia de planos. Eu estava tão confusa porque, como eu havia dito, eu me preparei para tudo nessa viagem. Me preparei para os dias ruins, para os dias bons. Para ficar triste, sentir saudades, doença, falta de dinheiro, passaporte roubado, deportação, guerra, manifestação, catástrofe natural. Me preparei mesmo. Eu sabia tudo o que podia me acontecer. Graças à Deus os efeitos colaterais foram mínimos. E é lógico que o fato de eu ter me preparado não quer dizer que não tenha sentido na pele. Só que eu me dei conta há algumas semanas que eu não tinha me preparado para voltar. Então foi duro. Passou. Respirei. Meditei. Sentei no meu computador e escrevi. Tudo o que me vinha na cabeça, tudo o que eu estou descobrindo de mim. Tudo o que eu descobri que gosto. Ainda estou trabalhando. Ainda estou escrevendo. Mas esse vai ser o mapa da minha vida de volta. Os carimbos no meu passaporte emocional. Estou bem empolgada. Ainda mais que agora não vai comigo nenhuma pendência. Tudo resolvido. Ah, sim. Colônia. Então minha chegada foi meio bicuda. Mas isso foi ontem. Hoje é outro dia. E eu não tenho do que reclamar. Saí pelas mesmas ruas de ontem, só que hoje resolvi sorrir. Andei achando tudo lindo. Tudo charmoso. Tudo incrível. Andei feliz pra burro de estar aqui. Lá pelo meio dia começou a chover. Garôa chata, para estragar minha vontade de bater perna e tirar foto na rua. Não me dei por vencida. Se na rua estava chovendo, entrei em uma loja e fui fazer compras! Quer coisa para deixar a gente mais feliz do que fazer compras? Fiquei horas olhando as araras, experimentando roupas, enrolando encharpes no pescoço. Saí toda pimpona quando o estômago roncou e a chuva parou. Fiquei babando no gigantismo da catedral. Faz a gente se sentir pequenininha, como criança em frente de castelo de areia. Eu não sou muito de religião. Acho que é legal quem tem e segue. E acho que se você tem, deve mesmo seguir. Só acho que não funciona para mim. Cada um, cada um. Mas a minha família é bem católica. Praticam direitinho e são muito apegados a fé. Acho legal isso. E acho legal também que ninguém fica tentando me converter. Então como eu respeito a fé deles, e eles respeitam a minha, hoje eu resolvi rezar. Do meu jeito, mas no templo deles. Sentei em um dos bancos da catedral e pedi por cada um da minha família. Até por aqueles que vão nascer daqui umas semanas. Pedi e agradeci por todos eles. Porque minha mãe acredita que quando a gente faz uma oração em uma igreja, essas pessoas se fazem presentes. Então hoje à tarde, depois da chuva, rolou uma mega reunião com a italianada na Catedral de Colônia. Eu fiquei feliz de ter feito isso. Já que estava um clima “almoço de família”, pedi também pelos meus amigos. Por todos aqueles que eu amo, e que durante todos esses meses me deram tanto, mas tanto amor. Pedi e agradeci por tê-los todos na minha vida (inclusive por aquela que vai nascer daqui algumas semanas). Sem ter visto quase nada da cidade, sem me cobrar de “descobrir” a cidade, me jogar, me divertir, sem nada. Fiquei zanzando no meio das pessoas na praça, só para ajudar o fluxo. Fiquei assitindo as pessoas na vida, as pessoas sorrindo, as pessoas trabalhando, as pessoas falando, as pessoas correndo, as pessoas dormindo, as pessoas pedindo, as pessoas atendendo celulares. Então eu pedi também, por todas aquelas pessoas. Eu sempre digo que amor é um exercício. Tem dia que dá preguiça de ir na academia, mas a gente sempre fica feliz quando vê os músculos aparecendo. Hoje foi assim. Foi um dia tão feliz.
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