segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

BAD HAIR DAY

Acordei hoje às 7h, com a sensação de que deveria ter ficado dormindo. Tem dia que é assim. Melhor mesmo ficar na cama e fingir de morta para não piorar as coisas. Mas não. Eu levantei. Tentei inutilmente meditar para acalmar um pouco o vulcão dentro de mim. Fui flagrada pelo vizinho enquanto descia de pijama para buscar o jornal. Derrubei café no fogão (de novo!). Levantei documentação para a imobiliária do apartamento que finalmente eu ia alugar. Estressei durante meia hora para aceitar que duas das declarações não poderiam ser tiradas porque amanhã é feriado em Caieiras e o meu contador achou que seria legal emendar um feriado assim, no final do ano. Comecei a trabalhar, já recebendo um monte de críticas de um monte de gente de tudo quanto é lado. Minha assistente resolveu que “aviso prévio” significa que ela não precisa trabalhar, então ela não faz relatório, não dá satisfação. Simplesmente faz o que lhe dá na cabeça. Eu passei a manhã toda tentando descobrir o tamanho das pendências que ela está deixando para trás e juntando ao meu tamanho de pendência que já não dá mais para organizar nem em ordem alfabética. Depois tive uma tensa conversa por telefone, tentando me defender de ter cobrado que a inútil da minha assistente fizesse o trabalho para o qual ela foi contratada. Legal! Então eu respondi uma tediosa pesquisa de marketing e tentei inutilmente reaver o pagamento de um trabalho contratado que nunca foi executado. A essa altura do championship recebo uma ligação da minha corretora dizendo que o proprietário do imóvel desistiu da locação. Então assim, de uma hora para outra, uma coisa que estava resolvida na minha vida deixa de estar. Isso significa que eu preciso bater perna novamente, ver pulgueiros novamente, achar algo mezzo mussarela, mezzo calabresa, negociar, fechar contrato e mudar. Tudo até segunda-feira que vem, em tempo de passar festas e me organizar para viajar dia 1. Minha primeira reação foi chorar. E foi exatamente o que eu fiz. Deitei na cama e chorei por cinco minutos. Liguei para minha mãe, porque tem horas que tudo o que a gente quer é chorar no colo da mãe. Mas minha mãe está toda passiva-agressiva e foi a mesma coisa que nada. Depois de 20 segundos eu já tinha me arrependido de ter ligado para ela. Então eu resolvi que era melhor não pensar naquilo e tentar fazer algo bem inútil e fútil até me acalmar. Resolvi montar minha árvore de natal. Eu sei que está em cima da hora, mas eu adoro Natal e adoro árvores de Natal e eu prefiro ter uma árvore de Natal por uns dias do que não ter nenhuma. Abri a caixinha com as lindas bolas que eu comprei ontem. Todas em tons pastel e textura brilhante. Abri o pacote com o laço rosa que era para decorar e descobri que o laço era duro e ficava assutador na árvore. Depois consegui derrubar a caixa de bolas no chão e quebrar metade delas (que, claro! Eram de vidro!). Pensei em tirar o chinelo e pisar em cima dos cacos só para me autopunir. Em vez disso deitei na cama de novo. E chorei. De novo. Só mais cinco minutinhos. Então preparei algo para comer, almocei checando emails e saí atrasada para os exames médicos que eu tinha agendado e que demoraram um mês para eu conseguir conciliar todas as variantes necessárias para realizá-los. Meu carro foi fazendo um barulho estranho no pneu traseiro direito. O laboratório, bem. Esse merecia um capítulo à parte. Depois de eu ter de esperar 15 minutos para um segurança apertar um botão e me dar uma senha. Tive de esperar mais 25 minutos para minha senha ser chamada, 20 para dar entrada no pedido do exame e aprovação do meu plano de saúde e mais 15 minutos para uma enfermeira olhar meu papel, olhar para minha cara e me mandar esperar em outro andar do prédio. A sala de ultrassonografia estava sendo disputada por médicos e instaladores de ar condicionado (que limpavam a poeira que caía do teto em cima da maca com uma vassoura de chão!!!). A médica estava navegando por um site de compras entre um paciente e outro. Pedi para ser atendida em outra sala e com outro médico. Ainda tive de bancar a maluca com TOC para ter certeza de que o aparelho estava higienizado e pedir para eles limparem novamente com álcool na minha frente. Fiquei andando durante uma hora e meia no corredor do laboratório até que minha bexiga estivesse cheia para o ultrassom de vias urinárias e descobri que algo muito sinistro pode estar acontecendo com o meu rim esquerdo (ainda bem que ainda tem o direito!). Com toda a novela no laboratório, acabei pagando R$17 no estacionamento e perdi um teste de casting que era do outro lado de São Paulo até às 17h. Eu tinha decidido nunca mais fazer teste de publicidade ou trabalhar como atriz na minha vida, mas como eu estou precisando de dinheiro desesperadamente (afinal São Paulo resolveu virar a cidade mais cara do mundo enquanto eu estava fora), estou topando vender desinfetante em rede nacional sem fazer um pio. Ainda corri para o shopping para fazer um wire transfer para o projeto que vou participar em janeiro e as duas casas de câmbio que consegui chegar em tempo não faziam esse tipo de serviço. Completamente derrotada, saio do estacionamento sob o dilúvio que caiu no final da tarde em São Paulo. Vidro embaçado. Goteira do lado do passageiro. Está assim desde que roubaram meu carro e entortaram a porta. Fica uma piscininha no chão. (E não. Não tenho dinheiro para mandar arrumar.) Eu só pensava em chorar, parar no farol com um monte de carro buzinando atrás e chorar. Quando eu vi uma loja de artigos de Natal. Resolvi que ia resgatar meu “momento esperança” da manhã. Ia comprar novos enfeites para a árvore, luzinhas, e uma fita decente. Acontece que a loja era uma coisa de dar dó. Haviam enfeites de Natal horrendos, aprisionados em caixas em prateleiras baixas. Todos em pouquíssima quantidade e somente nas cores verde, vermelho e dourado. Nada branco. Nada rosa. Nada azul ou prata. Era a loja de enfeites de Natal mais triste que já entrei na minha vida. Olhei com compaixão para a vendedora e declinei a oferta de um guarda-chuva até o carro. Juro que o carro parecia estar a um pulinho só da porta. Só que com a chuva torrencial (e minhas sandálias de salto alto) eu consegui sentar na direção parecendo um pinto molhado. E me sentindo o ser mais miserável do planeta. Alguns dias são assim. A gente pode encher de mousse. Fazer chapinha. Amarrar em um rabo de cavalo, encher de presilhinha. Pode até fazer um coque, uma trança de raiz. Nada vai resolver. Há dias que nada vai fazer seu cabelo ficar legal. Melhor seria ter ficado dormindo. Mas enquanto eu estava encharcada dentro do meu carro, tentando enxergar alguma coisa pelo vidro embaçado. Esfregando minha mão no parabrisa, parada em um trânsito surreal. Rezando para não ser levada por alguma enxurrada. Enquanto eu estava ali me sentindo a pessoa mais miserável do mundo, a única coisa que eu conseguia pensar era: “Amanhã eu vou acordar mais cedo, e vou levantar, e vou fazer tudo o que eu não fiz hoje. E vou fazer mais. E vou fazer melhor. Vou achar um apartamento e adiantar as matérias. Vou organizar minha agenda. Vou malhar. Vou fazer. Porque eu não sou do tipo de mulher que vira para o lado e volta a dormir.” Talvez existam dias em que seja melhor nem levantar. Mas eu ainda sou daquelas que prefere enfrentar um dia inteiro de coisas dando errado, do que raspar careca só para evitar um cabelo arrepiado. Bad Hair Day a gente resolve assim. Esconde em um gorrinho, enrola uma bandana na cabeça, mas vai pra vida. Todo mundo sabe que tem dias que o cabelo fica horrível, mas há também os dias que (sem que a gente faça nada) ele nos faz divas!

2 comentários:

thaís disse...

tem dias que é melhor ficar na cama, mas se não levantamos, não vivemos né? cabelo é detalhe.. hehe

Anônimo disse...

Vixe... isso foi um dia de 72 horas, o que possivelmente quer dizer que nada de muito errado deve acontecer até quinta-feira! Nessas horas, se eu estivesse por perto, te dava um abraço. Se tivesse um quarto sobrando, abria as portas pra você ficar até se ajeitar. Se tivesse grana, te dava uma casa. Mas tenho só essas palavras, e sei que um dia nunca é igual a outro. Um dia, os nós desatam. E, de qualquer forma, como disse o Keith Richards: "Problemas? Estou esperando o próximo..."