Voltei para São Paulo e para minha situação homeless forever. Eu tenho provavelmente os piores corretores da cidade. Fui visitar alguns apartamentos. Um maravilhoso, com vista para as torres da Paulista. Um luxo paulistano. Só que o maluco do Sr. Patrocínio desapareceu e nem me passou os valores para o aluguel. O Sr. Patrocínio é o meu corretor maluco que desapareceu antes do Natal e desapareceu antes do Reveillon e me deixou completamente na mão com os documentos todos entregues, quase na assinatura do contrato de um outro apartamento que eu tinha adorado (até parece que quem ganha dinheiro com isso sou eu!!!). E resultou em todas minhas coisas mais uma vez encaixotadas e largadas em um depósito enquanto eu carregava minha mochila para o aeroporto mais uma vez. Eu acho que esse apartamento que eu vi ontem vai ficar mais caro do que pode o meu orçamento. De qualquer forma a nova regra do ano é “Neuras Zero”. Não esquento mais a cabeça. Não adianta mesmo. Vou esperar a semana começar, ver o que aparece. Esperar respostas de alguns corretores, e se der certo deu. Mudo. Se não der certo eu vou continuar procurando até achar algo que funcione. Continuo morando na mochila. Não é nada muito diferente do que foi os meus últimos 12 meses. A semana passei na casa da minha irmã. Festa completa para os meus sobrinhos. Eu adoro como a lógica infantil é simples. “Tia Dri. Já que você está sem apartamento, fica morando com a gente para sempre.” Eu estou adorando os dias. O negócio é entrar na rotina deles. Nove da noite todo mundo na cama. Acordar cedo para ir para a escola, uniforme, lição de casa. Eles tem uma rotina toda certinha. Cardápio equilibrado, horários de lição e lazer. Fui buscar minha sobrinha no colégio. Ela está quase uma adolescente, é bonito de ver. Ele é tão inteligente e espontânea. Anda com o apetite dobrado por causa da idade e está aprendendo espanhol. Sozinha. Fica me pedindo para falar em espanhol com ela e repete as palavras que não conhece. Me fez milhares de perguntas sobre a Guatemala e depois ficou quieta com o cenho franzido. Deprimida com a situação das crianças que eu ensinava lá. Levei-a a tarde no salão para fazer as unhas comigo. Parecia uma mocinha sentada com a coluna reta, pintando as unhas de rosa. Os meninos, deixo brincarem na minha Farmville (embora eles tenham “acidentalmente” vendido um castelo que eu tinha e que me deixou muito infeliz). Tem sido uma experiência muito boa viver um pouco da vida de uma parte da minha família. Minha irmã tem muita certeza da vida que tem e que escolheu. É tão oposta a minha. Esses dias só tive mais certeza que não estou preparada para essa vida família ainda. Talvez nunca seja minha escolha e se algum dia eu tiver uma família com casa-carro-cachorro-marido-crianças, dessas como manda o figurino, de comercial de margarina. Se algum dia eu escolher ter família assim, com certeza não vai ter cara de margarina. Não deixa de ser bonito, porque eu acho que beleza está na autenticidade das coisas. Quando as coisas são carregadas de certezas. E isso a minha irmã tem, eu não. Eu tenho certeza da minha mochila. E ela continua jogada no chão de um quarto completamente solta na vida. No final de semana vim ficar na casa da Kika. A gente foi em uma festinha ontem, só para passar a noite toda bocejando e descobrir que estamos velhas. E conversamos por horas já que não conversamos direito desde que voltei da Europa. Em seguida ela foi para a Alemanha e quando voltou eu estava na Guatemala. Daquelas belezas da amizade. Não importa a distância, a gente se pertence. A mãe dela mora com ela agora. Ficou muito doente no ano passado enquanto eu estava fora. Uma barra que eu me sinto culpada por não ter estado perto para ajudá-la. Conheci a mãe dela alguns anos atrás. Sempre foi uma mulher excepcional. Vibrante, cheia de vida, independente. Agora a doença lhe roubou todos os anos do rosto, a força física, a agilidade de movimentos. Está completamente dependente da filha. É bonito ver a paciência e o amor com que Kika vive o dia em função dela. Eu estou aqui só de expectadora. Mas emocionada. Ela tira a espinha do peixe, pede para a mãe passar batom. Controla os medicamentos, passa creme antirrugas no rosto. E a mãe dela é completamente vidrada nela. Toneladas de amor no ar. Ontem falei para minha amiga, enquanto a gente estava no quintal fumando um cigarro. “É bonito o que você está fazendo pela sua mãe. É muito bonito.”. A vida é cheia de coisas imperfeitas, mal planejadas. É tudo, menos ideal. Mas como é bonita. Tão cheia de beleza.
6 comentários:
Emocionada agora! Pois é, nunca entendi familia maridoo-cachorro-filhos. Depois que comecei a cuidar da minha mãe, entendi. Formar família e se dedicar a ela é colocar o amor no lugar certo! Bem, por fim, só posso competir com a sua sobrinha: "“Tia Dri. Já que você está sem apartamento, fica morando com a gente para sempre.”
O negócio está na autenticidade. Se for assim, é bonito, ainda que mais-que-imperfeito.
E é bonito você em meio ao caos da sua vida reparar na beleza das diversas relações...
beijos
Re
e eu continuo acreditando que a beleza está na imperfeição dos momento sinceros e intensos.
ops, momentoS
Nada más. Muy bueno. Quien no tiene nada, nada tiene. Qué lo haga si mismo. No?
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