Essa semana me sugeriram tomar um banho de sal grosso. De verdade, não como figura de linguagem. Existe um tempo normal das coisas acontecerem. E, quando você muda sua vida completamente, quando você se desfaz de tudo o que tem, quando você fica meses absorvendo o mundo, conhecendo gente e fazendo coisas que você só sonhava em fazer; existe um tempo dilatado para se encaixar em uma vida novamente. O contrato do apartamento nunca sai. O carro nunca é entregue pela concessionária. Todos os problemas do mundo aparecem para você ter de trabalhar mais em coisas que você não necessariamente gostaria. Você nunca consegue ver seus amigos. Ainda tive de viajar à trabalho. Belém do Pará.Passei três dias entre cartórios, escritórios, taxis e o quarto do meu hotel trabalhando no computador. No geral eu não gosto de Belém. Estranha, feia, suja e úmida demais. O calor infernal. Sempre me transmite uma sensação de insegurança. De que a qualquer momento vão me assaltar ou bagunçar meu cabelo. Mas existem os momentos que me deleitam, então eu escolho o que eu acho que os lugares possuem de melhor. No quarto dia, (ou seja, hoje), antes de ir para o aeroporto, peguei o taxi e fui até o mercado. Eu acho que ninguém vai a Belém de verdade sem dar um pulinho que seja no Ver o Peso. O Ver o Peso sempre, com sua cacofonia, cores, risos, gente. A vontade de sair correndo provando tudo, conversando com todo mundo. Eu sou da opinião que a vida é mais intensa em mercados públicos. Existe mais emoção, mais autenticidade. É vida integral, não desnatada. Eu gosto. Passeei sem a câmera hoje. Senti que estava perdendo as fotos mais maravilhosas do mundo. Mas não deixa de ser também um exercício de olhar. Sentei sozinha em um dos boxes. Pedi pirarucu com açaí e farinha de tapioca. Que aprendi a comer com a Carol H. Amo! E foi a Carol H. também quem me sugeriu o Remanso do Peixe. Um restaurante que fica escondido nos fundos de uma vila. Desci do taxi e por um segundo juro que achei que fosse pegadinha. As senhoras sentadinhas nas portas das suas casas, olhando a noite quente e conversando. Tive daquelas refeições de sair flutuando. Tacacá, Moqueca Paraense com arroz e pirão, Escondidinho de banana no creme de castanha do Pará. Flutuando. Ontem almocei no Brasileirinho (também indicação dela. É tão bom ter amiga chef!). Eu não sou expert, mas que delícia. Um arroz de pato no tucupi impecável. Pastelzinho de vatapá e torta de cupuaçu com sorvete de Tapioca. Flutuando. Eu tenho passado por alguns bocados para me adaptar a vida de volta da mochila. Acho que o banho de sal grosso vai sim ser uma boa idéia. Estou encarando algumas mudanças definitivas em tudo o que eu sempre quis para minha vida. De tudo que eu tenho aprendido no furacão que eu estou agora, a melhor é que sempre existem prazeres nos detalhes. Que a gente nunca devia achar empecilhos para uma bela refeição. Que por mais que seja mágico viajar o mundo, a vida fora da mochila é mais concreta e exige muito mais entrega da gente. Não conheci uma só pessoa na estrada que não estivesse fugindo de algo. Todo mundo está sempre fugindo. Chega uma hora que a gente pára e encara. Não dá para fugir para sempre.
Um comentário:
Thanks, I think.
E.
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