Por que? Por que eu deliberadamente escolhi desligar meu celular hoje? Deitar no sofá de roupa? Abrir uma garrafa de Chardonnay decidida a beber inteirinha sozinha? Por que eu tenho predileção aos filmes do TC Cult? Por que minhas relações pessoais estão cada vez mais no Twitter e no Skype do que na vida real? Por que eu aprecio cada vez mais o silêncio e a reclusão? Nem sempre eu fui uma pessoa caseira. Juro que saí na balada de segunda à segunda. Já emendei 72 horas non-stop com direito de ir trabalhar com a roupa da pista. Foram auros tempos. Principalmente na minha capacidade de não dormir e no meu metabolismo abençoado. Faz tanto tempo que nem me lembro de ser eu. Hoje eu sinto uma falta física de ficar em casa. Sozinha em casa. Gosto do acolhimento. Da sensação de fechar a porta e então, finalmente, poder começar a pensar e ser eu. Adoro a acústica da música clássica reverberando pela sala. De afofar as almofadas. Ir até a geladeira para encher o copo de vinho. Gosto de deitar na cama cedo e ficar lendo um livro até cair no sono. Depois de acordar e permanecer acordada na cama. Sentindo a textura dos lençóis. Ouvindo as notícias na TV. Gosto de café na cama. De ler o jornal ainda de pijama. Depois descer e esticar meu mat na sala, e meditar até sentir câimbras. Gosto de descobrir coisas que só fazem sentido para mim. E ir buscar no escritório alguma explicação. Me perder em notas até esquecer o que mesmo eu procurava. Gosto de calça de moleton. Salada de salmão defumado feita de improviso. De deixar o fogão respingado de café. Gosto de desistir de qualquer programa que me obrigue a sair de casa. Eu sei. É horrível. Mas eu gosto. Adoro pular fora na última hora. Andei por muito tempo por aí para saber que não existe nada de muito incrível na rua acontecendo que não pudesse estar acontecendo dentro de mim mesma. Acho que o segredo é que eu gosto da minha própria companhia, então ficar sozinha para mim é um grande prazer. Não que eu despreze a companhia dos meus amigos. Sou uma garota de sorte, cheia de amigos muito legais. Mas a maravilha e a completude de estar consigo, é insuperável na minha opinião. A segurança de se saber completa, inteira. Autônoma. São todas palavras tão lindas. Eu gosto. Eu sei que eu devia aproveitar a vida, aproveitar a cidade maravilhosa em que eu moro. Eu sei que eu devia um monte de coisas. Mas no final do dia não importa muito o que eu devia fazer, e sim o que eu gosto. Então acho que essa seja a resposta. Abri um Chardonnay e fiz questão de silêncio. Porque eu gosto. E esse é o tipo de motivo para o qual não temos argumentos.
2 comentários:
adoro o seu blog! bjs
Se puder limpar as gotas de café do fogão... o resto sou eu.
Obrigada pelo lindo espelho. Amei.
bj da Ligia
Postar um comentário