domingo, 9 de outubro de 2011

MAIS ESTRANHO DO QUE A FICÇÃO

Já pensaram em quanto tempo passamos tentando ser alguma coisa? Tentando encaixar, fazer parte. Tentando sermos amados. Ou sou só eu?


Acho que é a pior conseqüência de não ter certezas. Tentamos nos agarrar naquelas que a vida parece ter. Aprendemos tantas coisas. Testamos tantas outras. Depois de um tempo nosso dia começa e termina, e já não temos muita ideia do que estamos fazendo entre uma coisa e outra. Lutamos por coisas que não queremos realmente ter. Nos magoamos com situações que não gostaríamos necessariamente de estar. Nos agarramos a relacionamentos que não fazem nossos corações pularem, ou o friozinho na barriga acontecer. É tão fácil nos perder de nós mesmos. Eu acordei hoje sem o despertador. Um luxo na minha rotina atual. Levantei às 9h, passei arrumando tudo o que eu via na frente até deixar meu quarto impecável. Tomei banho, hidratei o cabelo. Então eu desci, deixei a cozinha impecável. Fiz um brunch reforçado com direito a torradas, salada de frutas, ovo quente, café espresso e uma taça de mimosa. Porque todo mundo sabe que um brunch só é caracterizado brunch quando há champagne envolvido de alguma forma. Li o jornal. Meditei. Agora pensando, eu não consigo dizer o que eu fiz porque sou eu, ou porque me agarrei à certeza que me convencionou. O café, a champagne e a meditação eu gosto. São coisas que me completam de alguma forma irracional Mas não tenho certeza se gosto de ler o jornal de manhã. Não tenho certeza se gosto de torrada integral ou se só como isso porque minha percepção do tamanho da minha bunda é de que ela está grande demais. Não sei o que na verdade me move. Nunca mais tive aquela vontade incontrolável de algo. Aquela ânsia de realizar algo. Nunca mais me apaixonei. E eu quero tanto me apaixonar que saí me agarrando a milhões de coisas. Entupi meu tempo de tudo quanto é coisa possível e imaginável. Cursos, trabalho, compromissos. Hoje no final do dia eu estava fumando um cigarro, que eu não sei se eu queria fumar, na varanda de casa. E me ocorreu. Eu estou usando todo o tempo da minha vida e em nenhum minuto eu escrevo para mim. Eu não escrevo aqui. Eu não escrevo as histórias que estão me angustiando. Talvez porque quando a gente falha nas certezas da vida é mais fácil ter apoio do mundo. Quando a gente falha nas certezas que são nossas, temos a sensação de que não nos sobra mais nada. Então procrastinamos sem realizar o que nos é caro para não correr o risco do fracasso. É preciso coragem para fazer o que se ama. Mais coragem ainda para se fazer coisas com paixão. Hoje eu parei na varanda de casa com a ideia estúpida de que eu precisava casar, ter uma família ou um cachorro. Que era a única coisa que me faltava. Porque a convenção de felicidade inclui determinadas coisas para pessoas da minha idade. Então eu descobri que não me falta tanta coisa assim. Apenas uma. Não o cachorro ou o companheiro. Mas a escrita. Aquela que é minha, não dos outros. Aquela que não tem ninguém esperando para ler. Aquela que não está programada. Era a capacidade de me perder de mim mesma no teclado do computador. De criar as frases e me perder por horas tentando achar a palavra certa. Esquecer da vida, da comida, dos horários e fazer algo que realmente me satisfaz. Não se pode amar sem viver amor. Eu faço muitas coisas. Em algumas sou boa. Muito poucas eu amo. Eu escrevo, mesmo quando não escrevo. E eu escrevo sobre amor. De uma forma metalingüística, praticamente. Hora de fazer.

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