Aqui em casa eu tenho um sistema para disciplinar as duas gatas. Na verdade o sistema foi criado com a Holly, e a Sabrina veio para ajudar a aliviar a tensão da irmã que já estava me enlouquecendo. Bom, é algo simples. Na primeira eu falo “não”. Forte e firme, para deixar bem claro que estão fazendo coisas erradas. Geralmente não é suficiente, então eu tenho que repetir “não” mais algumas vezes e ameaçar a levantar. Daí sim funciona. Outras, mesmo isso, beirando ao grito, não é suficiente. Então eu uso o borrifador. Minha prima veterinária que indicou. Borrifar água quando elas estivessem fazendo algo errado, ou subindo em algum lugar onde não deviam. Teoricamente o jato de água deveria ser traumatizante e elas parariam de repetir o comportamento depois de algumas vezes. Certo. Gatas normais fariam isso. Holly desenvolveu uma teimosia tão sofisticada (para quem será que ela puxou!???) que nos dias em que está mais atacada ela enfrenta o borrifador, fecha os olhos e encara o jato de água como se fosse uma refrescante água termal Vichy. Quando elas enlouquecem, destróem meus enfeites, quebram copos ou derrubam garrafas de vinho no sofá claro, daí eu faço um escândalo. Dou bronca, corro atrás, e coloco de castigo na varanda. É eficiente. Holly sempre sabe porque está sendo castigada, e aceita com dignidade a vergonha e humilhação. Bom, eu sou uma pessoa virginiana. Gosto de organização, harmonia de cores, padronização de formas. Ter gatos faz com que eu me sinta constantemente descabelada. Ou eu aceito que minha casa nunca mais vai ficar perfeita, ou vou passar o dia aos nervos, gritando com elas o tempo todo. Na maior parte do tempo elas dormem. Dormem muito, enroladas uma na outra. Mas à noite... É como se ligasse um bando de crianças de 5 anos, em véspera de excursão, abastecidas com café e muita açúcar. Ficam enlouquecidas. Pulam, miam, se agarram. Rasgam as unhas nas cortinas, jogam almofadas no chão. Passam voando pela minha cabeça, em cima do computador e apagam coisas importantes. Só ouço os sininhos dos pescoços fazendo as 500 milhas de Indianápolis no meu apartamento. Ainda assim, Sabrina é bem mais suscetível às técnicas disciplinadoras do que Holly. Sabrina responde aos “nãos”, e não pode nem me ver colocar as mãos no borrifador. É a irmã mais nova que tem medo de entrar em encrenca. Hoje cedo Holly ficou de castigo. Passei ontem a tarde com minha mãe e minha tia procurando um vasinho solitário para colocar uma rosa que ganhei do florista. Achei um fofo, no formato de uma garrafa, em vidro jateado verde. Coloquei junto com uma caixinha de música em formato de carrossel, no meu cantinho de leitura. Claro que algo que fica em pé, cheio de água, é o tipo de coisa que Holly acha divertidíssimo derrumar. Passou a manhã se equilibrando na mesinha, tentando acertar a pata na rosa, se esgueirando pelo vão da escada, até que derrubou o vaso, a rosa e encharcou a caminha delas (onde elas nunca dormem, óbvio!). Foi um caos! Corri, escorreguei, puxei a gata pelo rabo debaixo do sofá da sala e coloquei de castigo na varanda. Sabrina ficou em pânico e passou o tempo todo do castigo miando para a porta de vidro. Mas de uns tempos para cá, Sabrina tem colocado as garras para fora - e nas poltronas também! - como toda irmã caçula que se preze, está aprendendo direitinho como enfrentar a disciplina. Agora à noite eu estava trabalhando. Cansada e estressada, naquele momento que o cérebro está quase dando tilt, quando a bateria do computador ficou no vermelho. Puxei o carregador e conectei em uma tomada atrás do puff. Tirei a tela que comprei em Cuba (e está alguns meses esperando ser pendurada) e apoiei no buffet, na frente da minha coleção dos gatos de cerâmica que trago de minhas viagens (cada país que vou, compro um gato. Tenho gatos do mundo inteiro). Quem tem gatos sabe que nada é mais atraente para eles do que novas coisas na casa, mudanças de móveis ou objetos de posição. Um quadro, perto de uma infinidade de bichinhos que podem ser empurrados no chão... Claro que ela achou a coisa mais divertida do mundo empurrar minha coleção de gatos, quebrar alguns e descer com as unhas de fora, escorregando pela tela cubana. Falei o “não”, os vários “nãos”, joguei água e, por fim, cacei Sabrina por toda a casa, com grande estardalhaço, para colocá-la de castigo. Seu primeiro castigo na vida. Coloquei a gata na varanda, expliquei o que ela tinha feito de errado, e fechei a porta de vidro. Holly, que já está cansada de saber como a coisa funciona, subiu para o quarto e ficou bem longe para não levar de tabela. Sabrina miou, miou mais um pouco, e por fim ficou quieta. Quieta até demais. Depois de uns 10 minutos, o tempo habitual que costumo deixar Holly de castigo, fui abrir a porta para deixar Sabrina voltar para casa. Quando Holly fica na varanda, geralmente ela está sentadinha em um canto, quieta e envergonhada, aguardando a permissão de voltar para dentro. Sabrina, por sua vez, estava pendurada na tela, abrindo o segundo buraco, planejando uma fuga para o vizinho. Dizem que com filho é a mesma coisa, né!? Os caçulas aprimoram as técnicas dos mais velhos.
"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
terça-feira, 29 de julho de 2014
DISCIPLINA FELINA
Aqui em casa eu tenho um sistema para disciplinar as duas gatas. Na verdade o sistema foi criado com a Holly, e a Sabrina veio para ajudar a aliviar a tensão da irmã que já estava me enlouquecendo. Bom, é algo simples. Na primeira eu falo “não”. Forte e firme, para deixar bem claro que estão fazendo coisas erradas. Geralmente não é suficiente, então eu tenho que repetir “não” mais algumas vezes e ameaçar a levantar. Daí sim funciona. Outras, mesmo isso, beirando ao grito, não é suficiente. Então eu uso o borrifador. Minha prima veterinária que indicou. Borrifar água quando elas estivessem fazendo algo errado, ou subindo em algum lugar onde não deviam. Teoricamente o jato de água deveria ser traumatizante e elas parariam de repetir o comportamento depois de algumas vezes. Certo. Gatas normais fariam isso. Holly desenvolveu uma teimosia tão sofisticada (para quem será que ela puxou!???) que nos dias em que está mais atacada ela enfrenta o borrifador, fecha os olhos e encara o jato de água como se fosse uma refrescante água termal Vichy. Quando elas enlouquecem, destróem meus enfeites, quebram copos ou derrubam garrafas de vinho no sofá claro, daí eu faço um escândalo. Dou bronca, corro atrás, e coloco de castigo na varanda. É eficiente. Holly sempre sabe porque está sendo castigada, e aceita com dignidade a vergonha e humilhação. Bom, eu sou uma pessoa virginiana. Gosto de organização, harmonia de cores, padronização de formas. Ter gatos faz com que eu me sinta constantemente descabelada. Ou eu aceito que minha casa nunca mais vai ficar perfeita, ou vou passar o dia aos nervos, gritando com elas o tempo todo. Na maior parte do tempo elas dormem. Dormem muito, enroladas uma na outra. Mas à noite... É como se ligasse um bando de crianças de 5 anos, em véspera de excursão, abastecidas com café e muita açúcar. Ficam enlouquecidas. Pulam, miam, se agarram. Rasgam as unhas nas cortinas, jogam almofadas no chão. Passam voando pela minha cabeça, em cima do computador e apagam coisas importantes. Só ouço os sininhos dos pescoços fazendo as 500 milhas de Indianápolis no meu apartamento. Ainda assim, Sabrina é bem mais suscetível às técnicas disciplinadoras do que Holly. Sabrina responde aos “nãos”, e não pode nem me ver colocar as mãos no borrifador. É a irmã mais nova que tem medo de entrar em encrenca. Hoje cedo Holly ficou de castigo. Passei ontem a tarde com minha mãe e minha tia procurando um vasinho solitário para colocar uma rosa que ganhei do florista. Achei um fofo, no formato de uma garrafa, em vidro jateado verde. Coloquei junto com uma caixinha de música em formato de carrossel, no meu cantinho de leitura. Claro que algo que fica em pé, cheio de água, é o tipo de coisa que Holly acha divertidíssimo derrumar. Passou a manhã se equilibrando na mesinha, tentando acertar a pata na rosa, se esgueirando pelo vão da escada, até que derrubou o vaso, a rosa e encharcou a caminha delas (onde elas nunca dormem, óbvio!). Foi um caos! Corri, escorreguei, puxei a gata pelo rabo debaixo do sofá da sala e coloquei de castigo na varanda. Sabrina ficou em pânico e passou o tempo todo do castigo miando para a porta de vidro. Mas de uns tempos para cá, Sabrina tem colocado as garras para fora - e nas poltronas também! - como toda irmã caçula que se preze, está aprendendo direitinho como enfrentar a disciplina. Agora à noite eu estava trabalhando. Cansada e estressada, naquele momento que o cérebro está quase dando tilt, quando a bateria do computador ficou no vermelho. Puxei o carregador e conectei em uma tomada atrás do puff. Tirei a tela que comprei em Cuba (e está alguns meses esperando ser pendurada) e apoiei no buffet, na frente da minha coleção dos gatos de cerâmica que trago de minhas viagens (cada país que vou, compro um gato. Tenho gatos do mundo inteiro). Quem tem gatos sabe que nada é mais atraente para eles do que novas coisas na casa, mudanças de móveis ou objetos de posição. Um quadro, perto de uma infinidade de bichinhos que podem ser empurrados no chão... Claro que ela achou a coisa mais divertida do mundo empurrar minha coleção de gatos, quebrar alguns e descer com as unhas de fora, escorregando pela tela cubana. Falei o “não”, os vários “nãos”, joguei água e, por fim, cacei Sabrina por toda a casa, com grande estardalhaço, para colocá-la de castigo. Seu primeiro castigo na vida. Coloquei a gata na varanda, expliquei o que ela tinha feito de errado, e fechei a porta de vidro. Holly, que já está cansada de saber como a coisa funciona, subiu para o quarto e ficou bem longe para não levar de tabela. Sabrina miou, miou mais um pouco, e por fim ficou quieta. Quieta até demais. Depois de uns 10 minutos, o tempo habitual que costumo deixar Holly de castigo, fui abrir a porta para deixar Sabrina voltar para casa. Quando Holly fica na varanda, geralmente ela está sentadinha em um canto, quieta e envergonhada, aguardando a permissão de voltar para dentro. Sabrina, por sua vez, estava pendurada na tela, abrindo o segundo buraco, planejando uma fuga para o vizinho. Dizem que com filho é a mesma coisa, né!? Os caçulas aprimoram as técnicas dos mais velhos.
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