domingo, 16 de novembro de 2014

CUSCO


Cheguei em Cusco no sábado. Não precisa ser muito inteligente para saber que Lima é uma bolha no Peru, e o verdadeiro país iria se mostrar conforme eu fosse me afastando da capital. Cusco é isso. Tudo o que se imagina de Peru e mais um pouco. Muito turística, obviamente, mas logo se nota porque essa cidade há 3.600m de altura era considerada pelos Incas o umbigo do mundo. Dá mesmo a sensação de estar no topo dele. A cidade vive do turismo, e por isso é bem segura. Claro que batedores de carteira podem se aproveitar de turistas desavisados, mas a cidade é bem segura para circular, andar com a câmera pendurada no pescoço, fazer cara de gringa pelas esquinas tentando se localizar no mapa. À noite também uma paz. Circulei bastante sozinha, virando esquinas só para ver onde dava e a sensação de segurança pode ser cortada com uma faca. 

A cidade gira em torno da Plaza de Armas. Uma pequena jóia cercada por duas igrejas estonteantes, e de onde se pode ver subir ao horizonte o contorno das montanhas coalhadas de casas, torres e um céu lindo. Tudo tem cara de estar pedindo uma foto. Como toda cidade turística, o assédio é exaustivo. Nas ruas mais movimentadas tentam te vender de tudo. Pinturas, massagens, tours para Machu Picchu, passeios à cavalo, aulas de espanhol, câmbio de dólares, city tour, restaurantes. Há também quechuas paramentadas com roupas típicas, carregando filhotes de lhamas e alpacas e pedindo trocados para tirar fotos. Os filhotes de alpacas são as coisas mais fofas do mundo. Juro que se fosse permitido, levava uma para casa. As melhores agências não são as oferecidas em hotéis, ou nas casas ao redor da Plaza (que vendem ponchos, botas de hiking, Inka Cola, selos postais, câmbio de dólares, revelações de fotos e pacotes turísticos. Tudo ao mesmo tempo agora.)

É legal pesquisar na internet as empresas com tratamento ético de guias antes de sair fechando pacote com o primeiro que aparece. Existe muita exploração dos guias e portadores na região. Acho legal assumir a parcela de responsabilidade sobre o impacto da sua visita ao lugar. O roteiro da trilha Inca que vou fazer fechei no começo do ano depois de pesquisar umas 5 empresas diferentes, todas certificadas. A trilha clássica é controlada e é impossível fazer na última hora. São 4 dias de caminhada, subindo e descendo as montanhas, para ser presenteada ao final com Machu Picchu e um joelho detonado. 

A empresa que contratei foi a Peru Treks. Até agora, impecáveis. O briefing e a preparação que fazem é super detalhista e perfeccionista. No sábado fui até o escritório deles, conheci os guias, recebi um briefing completo dos quatro dias e orientação sobre a preparação. Depois tirei esses dias para descansar, me habituar à altitude e preparar os últimos detalhes para a trilha. Água, snacks, baterias, sistema de purificação de água e remédios para altitude e diarréia. Normalmente não tenho problemas com intoxicação alimentar, mas a água no Peru é um problema, e mesmo purificando, nunca se sabe. 

O pacote contratado inclui cozinheiro e alimentação em todo o percurso, tickets de entrada em Machu Pichu, trem de volta para Águas Calientes e transfer de ida e volta para Cusco. Passei o dia hoje tentando trocar dinheiro para levar. Troco é uma dificuldade  no Peru. Algumas vezes as pessoas preferiam não fazer a venda por não ter como fazer troco. Para a trilha, aconselha-se levar cerca de S/300-400, que serve para tudo. Gorjetas dos guias e portadores, compra de água, snacks, café da manhã em Ollantaytambo antes de começar a trilha, almoço no último dia, souvenirs e até uma massagem ao final da trilha em Águas Calientes para se recuperar. 

Vou confessar que ver o tanto de coisas que tem para se fazer nas redondezas em deu uma vontade danada de sair igual a uma louca, fazendo trilhas, SUP, yoga, andando de quadriciclos, cavalos, mountain bike. É muita coisa para se fazer. Mas é preciso ter foco. De nada adianta tentar fazer tudo e depois não conseguir terminar a trilha, meu grande sonho. Então peguei leve. Muito tempo descansando. Passeios leves. Muitas fotos. Nenhuma invenção gastronômica. Hoje à noite fiquei no hotel. Tomei um longo banho de banheira, assisti um filme na TV, arrumei a mochila. Afinal, vão ser 4 dias sem banho, sem cama e de muito esforço físico. 


O hotel que escolhi é ótimo. Estou bem feliz com a escolha. É uma rede peruana chamada Tierra Viva. Quarto espaçoso, confortável. Lençóis e toalhas macios e impecáveis. O serviço é super atencioso. E eles começam a servir o café da manhã às 5h! O que significa que eu vou ter uma “última refeição” bem servida amanhã cedinho, antes de partir às 5h20. É isso. Amanhã às 5h20 começo a famosa Trilha Inca. Durante 4 dias vou percorrer 44Km, chegando à 4600m de altura. Nada de computador, nada de internet, obviamente. Dizem que é a experiência de uma vida. Não vejo a hora de começar. 

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