sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O DRAMA DA HOSPEDAGEM


Às vezes as pessoas acham que eu tiro de letra organizar viagens. Sim. Eu também acho isso às vezes. Mas daí sempre aparece um desafio, um obstáculo novo e eu me vejo naquela situação de sempre, de ter de lidar com algo pela primeira vez. A verdade é que cada destino é único, e não pode ser tratado como algo habitual, que se tira de letra. Claro que a experiência de estrada me ajuda a prevenir roubadas. Fico mais atenta em detalhes que passariam em branco para turistas leigos. Tenho maior facilidade de organizar um plano B e sou mais flexível quando as coisas dão errado. As coisas sempre estão sujeitas a darem errado. Não adianta se apegar ao erro. Desvia e segue em frente, ou você pode perder a viagem. 

Mas isso não é um dom divino que eu tenha e outras pessoas não. É só que eu tive mais tentativas e erros e fiquei calejada. Tem gente com muito mais tempo de estrada e que é ninja nesse negócio de organizar viagem. Outras ainda estão construindo seus caminhos. É assim que funciona. Eu, por exemplo, ando até um tanto relapsa com o conforto que a experiência tem me trazido. Já faz algumas viagens que largo tudo para a última hora, faço as malas 30 minutos antes de ir para o aeroporto, e ignoro algumas informações. Secretamente acho que meu inconsciente quer um pouco de desafio, e faz de propósito para ter mais emoção. Mas esse não é um hábito legal de se criar. Excesso de confiança te coloca em risco. Então estou fazendo tudo “by the book” nessa trip. Mesmo assim me deparei com um desafio que nunca imaginava que passaria: que tipo de hospedagem ficar. 

Hospedagem para mim nunca foi algo que eu gastasse mais do que 15 minutos pensando. Durante o sabático meu foco era óbvio. Precisava de hospedagens baratas para poder viabilizar tanto tempo na estrada. Basicamente eu procurava nos sites de hostels, verificava as reviews de outros viajantes e fazia a reserva. Sem dor, sem pena, sem olhar para trás. Poucas vezes o hostel era uma roubada e tive que sair pela cidade procurando outro lugar para ficar. Algumas vezes as condições eram bem diferentes do que o esperado, mas eu sempre penso no custo-benefício da situação. Se vou ficar pouco tempo na cidade, se a localização é boa e o preço baixo, não me importo em fugir da zona de conforto e continuar curtindo minha viagem. Hospedagem é para dormir, basicamente. Sou daquelas que madruga cedinho, passa o dia batendo perna pela cidade e só volta à noite para desmaiar na cama. Então, pouco importa se o lugar tem um mega café da manhã, se a área de lazer deixa a desejar, ou se os lençóis não são de algodão egípcio de 1600 fios. Para mim, se os banheiros forem limpos, o quarto arejado, e o lugar seguro, está ótimo. 

Isso foi assim, até recentemente. Na Patagônia, me peguei questionando porque diabos eu estava em um hostel, vendo 3 adolescentes cozinharem miojo no meio da sala, de meias e um chulé terrível, enquanto eu tentava terminar meu vinho e meu livro em paz. Podem colocar a culpa na idade, mas o fato é, se a sua viagem não vai durar um ano inteiro ao redor do mundo, será mesmo que o custo de alguns trocados economizados vale tanto assim o benefício do conforto? 

Particularmente não sou muito fã de hotéis. Acho muito impessoais. (A menos que sejam resorts, mega luxuosos e cheios de mordomia... daí, até eu que sou boba também quero!) Nas minhas últimas viagens tenho optado por B&B e o meu novo amor da vida: AirBnB! 

Os B&B são excelentes opções, dependendo do destino. Tem a vantagem de você se hospedar na casa de algum local, com privacidade e atenção. Acho um charme! Mas precisa ver bem o destino. É um charme se hospedar em um B&B nas Highlands escocesas. Não é um charme tentar se hospedar em um B&B na Bolívia.

O AirBnB é a nova (não tão nova assim) sensação entre viajantes. Você pode alugar quartos, ou mesmo um apartamento inteiro, direto com os proprietários, pelo período que vai ficar. Acho perfeito para quem não gosta de experiências muito turísticas (como eu!), daquelas com cara de pacote de CVC. Ficando em um apartamento "civíl", você dá um pulo no supermercado, abastece a geladeira para sua estadia. Compra jornal na banca da esquina e toma café no bairro como se fosse um morador da cidade. Mesmo que por poucos dias, consegue ter uma experiência mais autêntica da cidade que você visita. E costumava ser bem mais barato do que um hotel. 

Mas a onda parece que já está passando. Nessa viagem, as pesquisas que fiz no AirBnB apareceram com preços tão altos, que eu podia ficar hospedada em hotéis de 4-5 estrelas pelo mesmo valor. As opções mais acessíveis eram bem mais afastadas. Às vezes eu até curto fazer uma estadia fora do centro, mas é preciso estar no clima. Ficar em uma localização não tão central implica em depender obrigatoriamente de ônibus ou metrô para se locomover, perder bastante tempo de locomoção todos os dias de estadia, que poderiam ser usados para explorar mais a cidade. E, invariavelmente, segurança mais frágil. 


Eu tive um trabalho danado para definir minhas hospedagens nessa viagem para o Peru. Em Lima vou ficar em um B&B. Em Cusco e Puno optei por hotéis mesmo. As opções de hostels não me pareceram ruins. Vi vários que, acredito, seriam excelentes estadias, e certamente cortariam os custos da viagem em 1/3 (Hostels são bem baratos no Peru). Mas como eu tenho 42Km para encarar no meio da floresta, à 4215m de altura, o quesito conforto é um benefício demasiadamente necessário. E nisso, vou botar a culpa na idade. ;-)

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