Estou deixando essa cidade, mas não sem antes falar das duas grandes paixões de Roma. Gelatti e a vespa.
Il Gelatto
Cada lugar que tenho passado estou criando um vício e carregando comigo. Em Portugal foram as “natas” que, embora eu não tenha acesso em outros lugares, traduzi pelo maravilhoso hábito de sentar em uma pastisserie e comer um doce e um espresso no meio da tarde. Um respiro e uma qualidade de vida que realmente muda seu dia. Em Dublin foi o hábito de sorrir e ser gentil. Tudo bem que isso não é um vício, mas é um hábito que eu tento praticar todos os dias, mesmo quando estou rabugenta e mal-humorada. Londres, a capacidade de “olhar” a vida. Foi a cidade que despertou novamente minha curiosidade... mas eu não posso falar de Londres ainda. É um assunto desconfortável. Espanha foi a cultura de tapas. Maravilhosa! Isso devia ser sancionado pela ONU e adotado em todos países do mundo. Petiscar pequenas porções de comida enquanto se toma uma cerveja gelada e conversa-se com os amigos. Acho um mega hábito saudável. Marrocos foi insano. Ainda não me recuperei de Marrocos. De lá trouxe o cheiro do chá de hortelã, que roubou o posto do Earl Grey como meu favorito, e o suco de laranja. Quase todo dia me pego correndo atrás de um copo de suco de laranja fresco e espremido na hora. E em Roma, a grande obsessão pelos sorvetes. Tem mais sorveteria aqui do que padaria em São Paulo. E todos (TODOS!!!) são divinos. Aveludados quando chegam a boca, de explodir o paladar. Eu fiz uma pesquisa intensiva de gelatti por aqui. Todos os dias tomava pelo menos um. Sagrado. Como escovar os dentes ou passar rímel. Meus favoritos de longe: Tiramissú, Panna Cota, Pistacchio e o (preparem-se porque isso faz gritar até a mais controlada das mulheres) Nuttella! Ahhhh! Acho que o gelatto é o elemento gastronômico mais presente na vida dos romanos. Mais do que a pizza, a pasta, o vinho, ou qualquer outra coisa que a gente tem como referência. As sorveterias vivem apinhadas, em todos os bairros. Crianças, velhos, casais adolescentes, executivos, emos, metaleiros, freiras, famílias, gays, estudantes e escritoras brasileiras perdidas por Roma. Todo mundo sai pelas ruas lambendo cones de sorvete. Depois de um tempo você começa até a sentir que o seu dia não está completo se não tomou um gelatto ainda. Até por isso acho que as sorveterias ficam abertas dia e noite. Super comum ver baladeiros de plantão no meio da madrugada de Trastevere fazendo fila para comprar um gelatto. Eu tive uma chefe que, sempre que eu surtava com o trabalho (o que era bem frenquente já que eu surto sempre e por tantos motivos) virava para mim e dizia: “Adriana, vai dar uma volta, tomar um sorvete, depois você resolve isso.” E sempre funcionava. Fazer uma pausa no dia, lamber aquela maravilha gelada, deixar escorrer pela mão e melecar os dedos como criança. Comer a casquinha depois ouvindo o “crunch”. São coisas que sempre nos remetem a um tempo de infância em que tudo era fácil e as certezas muitas. Um sorvete por dia, e a gente começa a entender porque os italianos têm tanta fama de saber aproveitar a vida. Não esqueça de pedir o seu com “panna” em cima (chantilly caseiro). Quando se pára para tomar um sorvete, tem-se direito à tudo.
La Vespa
Verdadeira obsessão, Roma é toda movida a elas. Gosto muito daquele filme do Nanni Moretti, “Caro Diário” (ai! Quem nunca viu esse filme, pega no final de semana e sinta por duas horas o que é Roma!). No filme ele fica passeando o tempo todo por Roma com sua vespa. É a maior tradução da liberdade, do savoir vivre e do péssimo sistema de transporte público da cidade. As vespas são abundantes, baratas e pode-se comprar até nas agências do correio. Todo romano tem um capacete em seu kit de sobrevivência básico. Mesmo aqueles que não têm vespa. Se não têm vespa, estão sempre de carona com alguém que tenha. Elas dominam os espaços de estacionamento, ocupam quase todas as faixas das ruas. E, diferente de São Paulo em que a gente deseja a morte dos motoboys toda vez que desce a Rebouças, respeitam muito o trânsito. Adoro ficar vendo as pessoas em suas vespas paradas no farol. Mulheres elegantíssimas, de salto alto e capacete, dirigindo suas lambretinhas espertas. Homens de negócio, jovens, senhores e senhoras em um estágio bem avançado da terceira idade. Alguns tem até um protetor que vai por cima da perna e evita que suas roupas de grife fiquem sujas da poluição da cidade. Uma curiosidade que faz tudo mais charmoso ainda é que as vespas não possuem marcha. É só ligar e acelerar. Mesmo as maiores. Sem marcha. Tipo, minha sobrinha de 10 anos é capaz. Nada de complicação, nada de drama. Suba em uma vespa e aproveite a viagem. Existem vários lugares que alugam vespas para turistas, por hora ou pelo dia. Claro que eu tive oportunidade de dar uma volta. De garupa, porque continuo sem carta de motorista por causa da minha obscena pontuação no trânsito de São Paulo. Marianna, uma amiga de Ivan aqui em Roma, me levou uma noite para uma volta. Vou contar que, dar uma volta de vespa por Roma à noite é uma experiência obrigatória. Essa cidade (Que já é um desbunde!) fica indescritível toda iluminada. A Piazza Venezia surgindo atrás de uma esquina foi um dos momentos de maior maravilha que vivi até agora. Tipo de coisa que faz a gente abrir os braços e gritar “La vita è bella!”. Vou contar um segredo: Ela é mesmo. Prá caramba!
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