sábado, 10 de julho de 2010

HEAT

Eu reclamo da temperatura o tempo todo. Ou porque está muito frio, ou muito calor. A única coisa que tenho vontade de fazer hoje é ficar parada, pelada, com a janela aberta. Hoje não está dando nem para reclamar. A voz não sai. Pelo menos no Brasil a gente tem aquela típica chuvinha de verão para dar uma refrescada no fim do dia. Aqui o tormento se arrasta até 21h30, quando ainda tem luz de dia. Paris é romântica, mas não tem dado para tocar um no outro. Os dois derretendo. Uma pena, porque tem algumas coisas que eu gostaria de fazer pela cidade antes de ir embora. Adoraria bater perna pelo Marais, me perder mais pela cidade, andar de bicicleta. Mas não dá. É completamente inviável. A gente leva uma garrafa de água para a rua e em meia hora ela já está morna. Morna de verdade. Outro dia S até jogou uns saquinhos de chá dentro da garrafa e deu certo. Para ajudar ontem a gente foi no Pub Crawl. Também é um tour organizado nas principais cidades européias. Basicamente um bando de molecada de 20 e poucos anos, seguindo uns guias loucos de bar em bar. Em cada bar a gente tomava um pint e ganhava um shot. Lógico que isso não é uma boa idéia, e é lógico que a gente ficou muito bêbado. Loucura mesmo foram as coincidências da noite. Reencontramos um australiano que tínhamos conhecido no hostel em Nice. Uma garota me reconheceu de Veneza (Bizarro! Ela disse que lembrava de mim, compenetrada, torcendo para o Brasil no Pub... Isso foi há quase um mês atrás, no exato dia que eu e S nos encontramos em Veneza...). E a única brasileira que também estava no grupo, era a garota que deixou Florence na roubada no Carnaval na Ilha do Cardoso. (Isso foi ainda mais bizarro!!!) Mas apesar de tantas coincidências a gente acabou ficando a noite inteira com um casal de dinamarqueses da nossa idade, e fofos até dizer chega. Nos demos tão bem que acabamos abandonando o Pub Crawl na última casa noturna e sentando em um bar para bebermos mais irresponsavelmente o resto da noite. Estou colecionando amigos pelo caminho. Acabo conhecendo um monte de gente, mas tem sempre algumas pessoas que a amizade bate mais forte. A gente acaba cultivando e mantendo o vínculo depois. Eles, com certeza, vão ser um desses. Uma hora que os dois estavam comprando bebidas no balcão, S me disse que ele ia pedí-la em casamento. Quer coisa mais fofa? Fofo mesmo foi a realidade batendo na cara da gente de manhã. Um dia de ressaca e uma sensação muito forte de estarmos velhos. Fomos visitar o túmulo do Jim Morrisson. Não consegui encontrar o da Piaf, porque o cemitério parecia um labirinto e a gente não tinha um pingo de força física. O metrô é uma tortura. Cheio, velho. Bem fedorento. Parece que ninguém toma banho nessa cidade. Punk! Verdade que é prático e te leva para exatamente qualquer lugar da cidade. Mas precisa estar preparado. Atravessar a cidade dentro daquelas caixas de metal abafadas, sem ventilação. Será, certamente, um dos piores tormentos que você vai experimentar na vida. Agora estou deitada, pelada e não entra nem um ventinho pela janela. Para variar sem conexão de internet. Ainda tenho de fazer reserva em algum lugar para dormir em Londres. Comprei minha passagem do Eurostar hoje cedo. Uma fortuna, doeu no bolso. Domingo eu vou para Londres. S vai para Dublin. Fim do Test Drive. Estou evitando pensar nisso. Acho que vai ser muito bom para nós dois ficarmos um tempo longe depois dessa overdose um do outro. Vai ser bom sentir saudades. Eu resolvi pular de cabeça só agora. Só depois de quase um mês. Parece bobeira, mas não é. Estou calma. Algo me diz que está tudo certo. Tudo perfeito. Vai ser o fim do Test Drive, mas o começo de uma outra coisa. Vai ser triste não ter ele por perto todos os dias. E para falar a verdade não conversamos muito sobre “depois de domingo”. A gente sabe que vai se encontrar denovo. Não sei onde, nem exatamente quando. Mas vamos nos encontrar. Sinto que agora já nos pertencemos. Um ao outro. E quando é assim, a distância não muda nada.

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