"...estou procurando, estou procurando. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi." (Clarice Lispector - Paixão Segundo GH)
sexta-feira, 30 de julho de 2010
MINHA REDE DE PROTEÇÃO
Agora eu tenho companhia aqui na vida de fazenda. Chegaram dois outros Helpx essa semana. Um canadense e um espanhol. O espanhol é um catalão de 18 anos que ainda não entendi porque ele veio se enfiar aqui. Meio mala, fica tentando puxar conversa quando eu estou escrevendo à tarde. Eu dou umas “chuchadas” nele (CHIIIIIUUU!!!). Tadinho, está só entediado, eu entendo. Mas eu ando Tolerância Zero para algumas coisas. Aprendendo a me impor um pouco. Nas refeições o moleque faz muuuito barulho para comer. Muuuito mesmo. E toda vez que ele bebe, qualquer coisa, rola um GlubGlubGblub muito alto. Tenho vontade de matar. Está sendo uma novidade. Não sabia que esse tipo de coisa me incomodava tanto. O canadense deve ter uns 40 anos, muito gente boa. É o terceiro ano que ele vem para cá e ajuda na colheita. E ele só faz isso da vida. Helpx. Cada época do ano ele ajuda em um lugar diferente. Acabou de vir da França. A colheita aqui vai ser só no final de setembro, mas ele vai ficar até outubro. Três meses nesse lugar... eu acho que eu me matava. Resolvi ficar três semanas, mas estou no final da segunda já achando que deu. Vou passar o final de semana em London até, só para desestressar dessa vida no campo. Bom, mas o canadense, gente boa. Muito tranquilo. Assiste TV tomando café de manhã. Faz perguntas interessantes sobre o Brasil e a América do Sul, e acabou tornando os dias mais legais. Porque rola um clima entre o Steve e a Penny, e estava meio chato ficar assistindo no meio. A gente nem conversa muito, mas tem uma cumplicidade rolando. Eu, que gosto de inventar histórias e tenho imaginação de criança de seis anos e meio, acho que ele passou por uma enorme decepção amorosa. Teve o coração esmigalhado em vários pedacinhos. Então resolveu se enfiar nessa vida de Helpx pelo mundo. Talvez ele tenha sido abandonado no altar, e agora seu coração endureceu e se fechou para sempre para o amor. Enquanto a gente podava as parreiras, eu ficava ouvindo ABBA no meu Ipod e cantando baixinho. Depois ele vinha comentar sobre as músicas comigo. Aliás, ontem e hoje a gente só podou as vinhas. No começo super divertido. Me sentia o “Edward Scissors Hands”. Depois de uma hora começou a ficar chato. Na hora do almoço eu tinha duas bolhas nos dedos, as costas doloridas e uma sensação nos ombros que deve ser o estágio seguinte da dor. Porque dor por si só é muito pouco. A boa notícia é que estou emagrecendo horrores. Outra vez. Compensar os kilinhos que ganhei na França. Subi em uma balança aqui pela primeira vez em meses. 54Kg e descendo. Quase um recorde! Sinto minhas costelas no colchão na hora de dormir. Faz muiiiitos anos que não sinto isso. Faz muitos anos que não sinto uma porção de coisas que eu não sentia. De qualquer forma, correspondendo ou não às expectativas, tenho mais uma semana na Farmville e têm servido para colocar ordem em um monte de coisas. Não estou lendo, nem escrevendo o tanto que eu gostaria. Mas deu para organizar muito trabalho. Ganhar fôlego para a última parte da jornada. Resgatar uma porção de gente que estava em stand by. Lembrar que eu tenho uma rede de segurança gigante e poderosa. Não importao quanto meu coração se encolha, ele se encolhe por no máximo um par de horas. Até que tenha alguém conectado ou seja um horário conveniente para ligar para o Brasil. Meus amigos são lindos, amados, soberanos. Não se cansam de estender a mão, de me segurar. De passar a mão na minha cabeça e me tranquilizar. De ouvir a mesma coisa milhões de vezes. Eu sou uma pessoa que processa as coisas falando. Talvez por ter feito terapia a vida inteira. Talvez por ser prolixa mesmo. A questão é que eu preciso falar. E eles me ouvem. Quantas vezes por dia for preciso. Pelo tempo que eu precisar. Eles puxam minha orelha, me pegam no colo. Às vezes só me explicam o que a minha cabecinha complicada custa a complicar mais. Mas em todas as vezes me ouvem. Me ouvem muito. E salvam minha vida um milhão de vezes por minuto. Eu amo cada um deles. Com minha vida. Eu sei que eu nunca vou ficar abandonada. Nem vou precisar fugir para uma vida de Helpx permanente. Já disse isso aqui antes e repito. Tenho uma rede de proteção do tamanho do mundo. É o item mais valioso de toda minha bagagem.
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2 comentários:
É por estas redes que vc pode deitar e se deixar ninar! Que bom Dri! Continue aproveitando cada mergulho dentro de si...
bjs
Quantas palavras e sentimentos lindos!!! bj!
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