Eu escrevo. É a coisa que mais gosto de fazer, o que me dá
mais prazer. Não estou falando de textos para internet ou posts para blogs. Eu
escrevo literatura. Sei que para muita gente isso soa arrogante, um pouco
pomposo. Existe um certo glamour na ideia de escritores, criações. Talvez
porque somos obrigados a ler clássicos na escola, e (muitos de nós) descobrimos
uns tantos outros na vida adulta. Existe mesmo uma reverência à pessoa capaz de
nos hipnotizar ao longo de um livro. Por aquele capaz de construir um universo
tão rico e fascinante apenas com palavras. Talvez venha daí a sensação de pretensão
quando alguém diz que escreve. Eu vejo como um ofício. Um objetivo na vida. É a
minha cenorinha a frente do cavalo. Quando eu fecho os olhos e derreto tudo o
que está a minha volta, onde me vejo é escrevendo. Não sei como vou chegar lá.
Eu tenho uma porção de outras coisas que também são importantes para mim. Eu
tenho um padrão de vida (do qual eu não abro mão de jeito nenhum). Tenho minha
família. Tenho meu sonho de conhecer o mundo. Então a literatura fica encaixada
no meio de tudo esperando o momento de virar protagonista. É muito fácil ela
virar coadjuvante. Às vezes até figurante. Talvez meu maior esforço de 28 dias,
é ser constante na literatura. Além de bonita e com uma bunda legal, eu quero
chegar aos 40 anos escritora. Porque tem também a vaidade. Não a de ego, a
física mesmo. Mas enfim, eu escrevo. E um dia eu vou trocar todos os “ex” que
me descrevem nesse blog por uma única palavra: “escritora”. Só não troco porque
ainda não sou. E porque ainda não me sinto uma. Porque isso é sério e é
importante para mim, eu estudo. Eu leio. Eu apanho da gramática. Eu tento fazer
a lição de casa com o que eu tenho em mãos. Há alguns anos descobri a Noemi, e
seu curso de escrita criativa. Descobri por acaso, lendo um caderno de domingo
no jornal. Me inscrevi e ganhei uma família. Fiz uma série dos cursos que ela
ministra na Casa do Saber com um mesmo grupo de pessoas, que se tornaram amigos
(e são hoje basicamente toda minha vida social). No começo desse ano ela fez
pela primeira vez um módulo “avançado” do curso, exclusivo para esse pessoal
que está há um tempo na estrada com ela. E o formato do curso foi completamente
diferente do que fazíamos até então. Tem sido um processo mais intenso, mais
exigente. Tem me deixado muito mais exposta e fragilizada. Mas acho que é assim
mesmo quando você começa a sair da zona de conforto do puro hobby (aquele quando
sua mãe fala para as visitas que você escreve bem), para perseguir uma
tridimensionalidade maior de técnica, de estilo e conteúdo. Esse final de
semana terminei um conto. Não foi o primeiro conto que escrevi. Já escrevi
vários. Algumas vezes partilhei com alguns amigos buscando ouvir sobre ele. Mas
o retorno (sempre bem intencionado, obviamente) foi o mesmo da minha mãe. Dessa
vez terminei um conto dentro de um processo mais profissional. Terminei um
conto de verdade. Não foi a melhor coisa que já escrevi na minha vida, mas foi
uma das que mais me arrisquei. Foi dolorido e maravilhoso. Então agora estou
voltada ao meu livro novamente. Aquele que se retarda por ser terminado há
tanto tempo. Ideia para livros tenho aos montes. Ideias de clássicos já foram
enterradas com seus donos à baciada. No final do dia a única literatura que
existiu é a que se realizou. A que foi escrita. Um ofício a gente faz todo dia.
A gente acorda, escova os dentes, toma café e realiza. O resto é papo furado.
Não é nada, não é nada. Não é nada mesmo. É um ofício solitário. Muito
solitário. Não é a vida uma danada? Fez desmoronar todas minhas muletas até que
sobraram somente eu e a literatura. Eu sempre achei que tinha uma rede de
segurança. No final do ano, durante um dos piores infernos que enfrentei, não
tinha ninguém lá. Agora o caminho que se abre é solitário. É para que eu faça
sozinha. Mas por ironia, vem com essa rede de proteção maravilhosa, que não vai
deixar minha escrita cair. Eu andei tanto para chegar até aqui e é isso. Eu
precisava descobrir. Eu escrevo.
Um comentário:
Verdade esse grupo é a nossa familia de escritores. Adoro vocês. Dominique Girard
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